Arte não é para gnomos escrita por queijo e uvas passas


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, cupcakes!



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“Arte não é para gnomos.” Beatriz ouvira essa frase incontáveis vezes. Era muito raro outras espécies além de fadas alcançarem sucesso no mundo artístico. Diretores de cinema, atores e atrizes, escritores, dançarinos, cantores, pintores, escultores eram, em grande maioria, fadas. As criaturas não costumavam admirar obras e manifestações artísticas de outros seres senão fadas, o que desencoraja vários amantes da arte a deixarem de tentar e se afastarem desse mundo logo cedo e, aos poucos, perderem o interesse. Contudo com Beatriz isso não aconteceu. Ela nunca viu ser gnomo como um problema. Ela pintava, desenhava, escrevia, dançava e cantava sempre que podia, o mundo artístico a envolvendo e presente em sua vida cada vez mais. Se ouvia críticas por ser gnomo, ela apenas fechava seus ouvidos, ignorando completamente as frases feitas do preconceito dos outros.
Beatriz aos poucos venceu a resistência da família para as artes, convencendo seus pais a matricularem-na em cursos de desenho, de balé, de jazz, de pintura, de canto e de violão. De maneira gradativa, Beatriz percebeu que não conseguia fazer tudo que imaginava. Era mais difícil do que ela pensava cantar e tocar violão. Também era muito complicado pintar e desenhar profissionalmente. com a dança houve uma grande conexão e identificação. No decorrer de dois meses, o jazz e o balé eram os únicos cursos que ela não tinha abandonado.
Os anos passaram-se e Beatriz largou o jazz, embora sua paixão pelo balé continuasse firme e forte. Nesse meio tempo, ouviu de tudo: “Você é muito desengonçada para dançar balé”, “Você não é tão delicada quanto uma fada, nunca dançará balé com graça” e pior de todos eles “Por que você não tenta outra coisa ao invés do balé?”. Só de pensar na possibilidade de ter que parar de dançar, Beatriz passava mal. Para ela, era quase que como se deixasse de beber água.
Com sua paixão pelo balé aflorando cada vez mais, Beatriz tomou a decisão de seguir carreira artística. Resolveu fazer audições para tentar entrar em companhias de balé.
— Quanto mais reconhecida a companhia for, melhor!
— Tem certeza disso, Beatriz? Que quer tentar algo tão grande logo de início? — Sua mãe estava apreensiva com a decisão da filha, que, ao contrário, estava muito segura de sua escolha. — Não é melhor começar pequeno?
— É claro que não! Pra que me contentar com uma companhia pequena se posso conquistar uma grande companhia com meu talento?

•••

Beatriz enfim encerrou sua apresentação. Dedicara muito tempo treinando-a e esperava que fosse suficiente para ser admitida na Companhia de Balé de Papillons Drôles. Era a melhor, a maior, a mais antiga companhia do país, e Beatriz queria muito mesmo fazer parte dela.
— Seu nome é Beatriz, certo? – questionou uma das avaliadoras, a Madame Madeleine, atual coordenadora da Companhia.
— Sim, senhora.
— Pois bem, querida, sendo sincera, você é muito talentosa e tem muito potencial de melhorar sua técnica. Mas veja bem, nossa companhia é... Complicado... — Ela pausou sua fala, como que pensando no que dizer. — Você é um gnomo. Nossa companhia trabalha com fadas, então tenho certo receio de passar você. Entende, querida?
— Ser gnomo não faz da minha arte menos valorosa. Ser ou não uma fada não interfere no processo artístico de criação e manifestação. — Beatriz estava farta de todos lembrando-a que ela era um gnomo. Ela provaria que poderia dançar mesmo não sendo fada, custasse o que custasse.
Surpresa, madame Madeleine pediu para que Beatriz se retirasse. Muito desapontada, ela saiu do palco e caminhou até a saída do auditório.
— Cuidado!
Sem querer ela esbarrou com uma das fadas que estava do lado de fora do auditório observando as apresentações.
— Me desculpe por isso, estava distraída.
— Imagine! Também foi minha culpa. — A moça com quem Beatriz tinha trombado era uma fada muito bonita. Cabelo cacheado, pele vermelha e olhos castanhos.
— Seu sorriso é lindo, quer dizer, sim, quer dizer... Você está bem? Não te machuquei.
A moça olhava-a curiosa.
— Sim, estou. Mas você parece não estar tão bem assim. Está nervosa?
— Sim, acabei de fazer minha audição e as coisas não parecem ter ido muito bem...
— Eu também estava assim quando fiz meu teste, mas se acalma! Nem tudo está perdido, eles podem conversar e reconsiderar. E pelo que vi daqui de fora você é muito talentosa.
— Obrigada! Espere um pouco, você dança também? — “Por favor, diga que sim, pra termos assunto pra conversar.”
— Não, eu sou violinista. Fiz teste para compor a orquestra da Companhia.
— Incrível! — Beatriz passará toda a conversa juntando coragem para enfim perguntar: — Qual o seu nome?
— Meu nome é Catarina. E o seu?
— Beatriz.
— Que nome lindo... — e baixinho murmurou: — Assim como você.
— O que você disse? Desculpe, não ouvi.
— Você quer ir tomar um sorvete comigo? Para comemorar sua admissão?
Beatriz riu.
— Nem sei se fui admitida.
— Claro que foi! Vamos, venha comigo!
— Okay, tudo bem, vamos tomar sorvete.

•••

— Não creio que você não gosta de sorvete com creme de avelã, Bea!
— E você não gosta de sorvete com granola! Não pode mudar julgar, Catarina!
— Posso sim, comer sorvete com granola definitivamente não é normal!
— É sim!
Beatriz estava muito feliz. Ela e Catarina passaram a tarde juntas, se divertindo muito. Tomaram sorvete, fizeram compras e agora estavam à procura de um lugar para jantar. Quem visse acharia que as duas eram melhores amigas de infância.
— Ei, Catarina, estava pensando em irmos jantar naquele restaurante, o Facilier. Nunca comi lá, mas dizem que é muito bom.
— Pode ser, Bea — concordou enquanto mexia nos cachos dos seus cabelos. “Como são bonitos...”
Elas caminharam até o restaurante Facilier. No caminho conversaram sobre pôneis, aviação e direito penal. Quando chegaram ao restaurante, conversaram com a atendente para ver quais eram as opções de mesas vagas.
A balconista levou-as até as mesas vagas, mostrando-as uma por uma. Juntas optaram por uma mesa perto do terraço, de onde poderiam observar o pôr do sol, que já começava, e o surgimento das estrelas no céu. Cinco minutos depois de se sentarem, apareceu um garçom com dois menus. As moças agradeceram a ele e se puseram a ler as opções de cardápio. Decidiram comer salmão com molho e de bebida suco de abacaxi para Catarina e vinho tinto para Beatriz. Rapidamente a comida foi entregue.
— O que você acha sobre a guerra biscoito versus bolacha? — perguntou Catarina à Beatriz.
— Eu acho que comida é comida e que se comprou você chama do jeito que quiser, de biscoito, de bolacha, até mesmo de Florisvaldo, a comida é sua.
— Pois eu acho que é biscoito e deu. — A cara que Catarina fez foi tão engraçada que Beatriz começou a rir. As suas risadas contagiaram Catarina que logo também já estava rindo. Elas riram muito, chamando a atenção do restaurante inteiro para si, até, finalmente, conseguirem se acalmar.
Depois de algumas horas, saíram do restaurante. Passearam pelas ruas, pelas lojas, pelos shoppings ali da região. Comeram balas e doces. Estavam muito, muito felizes. Conversando, descobriram que a casa delas era perto uma da outra, mais ou menos a 5 quadras de distância. Na direção em que estavam indo, ao voltar para casa, a casa de Beatriz estava mais perto, por isso Catarina resolveu levá-la para casa.
Pararam as duas na frente da casa. O céu estava estrelado e muito bonito, sem nuvens.
— Então, acho que nosso dia de aventuras acaba por aqui... — Catarina parecia realmente muito triste em ter que deixar Beatriz para trás, e o sentimento era recíproco.
— Bem, pelo menos nos divertimos bastante!
As moças ficaram se encarando por algum tempo. Beatriz não podia deixar de admirar a beleza de Catarina. Era a fada mais bonita que já vira na vista.
Lentamente, Catarina se aproximou de Beatriz e a beijou.

•••

Três semanas depois uma carta endereçada à Beatriz tinha chego em sua casa. Era da Companhia de balé. Beatriz não se animou, já sabia da resposta. Pegou a carta do correio-cogumelo da sua casa e andou até o parque, onde havia combinado de encontrar Catarina.
Assim que chegou no parque, avistou a namorada perto da plantação de margaridas. Foi até ela e cumprimentou-a com um selinho.
— O que é isso, amor?
— É a carta da Companhia. Chegou depois de três semanas. Tenho certeza que não fui admitida.
— Ora, não pense assim! Abra a carta! Pode acabar tendo uma surpresa — afirmou com um enorme sorriso no rosto.
— Tudo bem, vou abrir.
Elas foram até um dos bancos e sentaram-se. Com desânimo, Beatriz abriu a carta, já ciente da negação. Mas não teria problema, conseguiria em outras companhias, havia feito outras adições e se saído muito bem, tinha certeza de que conseguiria. Ao abrir a carta, para sua surpresa, leu escrito logo acima de um grande texto em letras garrafais e douradas “Aprovada na Companhia de Balé de Papillons Drôles″. Afinal artearte era para gnomos.

 


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Notas finais do capítulo

Qualquer erro de gramática ou falta de coesão, me comuniquem aqui nós comentários, por favor!



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