Chuva de Novembro escrita por Iasmin Guimarães


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Escrevi essa história um tempinho atrás e essa semana resolvi que iria terminar. Foi inspirada numa música do Projota, espero que gostem. Também disponível no link https://www.wattpad.com/story/156641425-chuva-de-novembro



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Lucas acordou e mesmo sem abrir os olhos se viu passando as mãos sobre os lençóis de sua cama, procurando algo ao seu lado num movimento quase rotineiro. Não demorou muitos segundos para ele perceber o que de fato ele procurava. Ou melhor: Quem.
Ele esfregou os olhos tentando afastar de sua mente todas as imagens e sons do dia anterior, mas agora aquilo parecia algo quase impossível de ser feito. Nada apagava os gritos e a confusão de sua mente, nem mesmo o som alto que ele colocou em seu quarto logo em seguida. Todas as músicas que ele costumava ouvir pareciam ter sido feitas exatamente para a pessoa que mais atormentava sua mente naquele momento: Diana.
Desligando a música, decidiu que iria arranjar algo mais útil para fazer ali. Olhando ao seu redor, percebeu a bagunça que aquilo se encontrava. Oh, Deus, se Diana visse aquilo... Mas ela não iria ver. Lucas logo se repreendeu pelo pensamento que teve e voltou sua atenção para seu quarto. Roupas que deveriam estar devidamente guardadas se encontravam jogadas ao chão naquele momento, sem contar na quantidade de louça que tinha ali. Afinal, aquilo era realmente um quarto? Porque naquele momento, de fato, não parecia.
Revirando os olhos, ele se moveu até seu banheiro. Com uma risada sem graça, percebeu que aquilo ali estava mais arrumado do que o cômodo anterior. É, ele tinha que dar um jeito naquilo e começaria naquele momento mesmo se seu estômago não resolvesse reclamar de fome insistentemente.
Já sabendo que não encontraria nada comestível por ali, resolveu sair de casa a procura de qualquer coisa que pudesse digerir. Lucas morava no subúrbio do Rio de Janeiro, então aquele era -de longe- um dos seus menores problemas.
Já na esquina de sua rua, pode ver uma lanchonete que sempre o tirava da fome quando a preguiça o invadia. Como a maioria das lanchonetes por ali, aquela era uma típica: Repleta de salgados que ele adorava.
Enquanto fazia seu pedido, percebeu que o local começava a encher e logo desejou sair dali o mais rápido possível, não querendo muito a obrigação de ser social. O que era, no mínimo, estranho. Lucas era o típico garoto extrovertido, falava com praticamente todos daquela região e todos o conheciam, e ele sempre achara aquilo ótimo, e de fato era. Quer dizer, não naquele dia. Naquele dia nada parecia ótimo.


Se o dia não começou bem para Diana, ela não achava que aquilo iria melhorar com o tempo. E de fato não melhorou. Desde que acordara, ela não parava de conferir o celular e mesmo que houvesse alguma mensagem ou alguma notificação, nada parecia a satisfazer. Ela tentava de todas as formas esconder aquilo, mas sabia o que tanto esperava e almejar tanto aquilo só a deixava pior do que já estava. Ela não precisava daquilo, não mesmo.
Decidida, desligou o telefone e resolveu fazer a primeira coisa que veio em sua mente: Ler. Os livros a acalmavam de uma forma que quase ninguém além dela entendia. Ela pegara o primeiro livro que vira em sua estante e mesmo após horas de leitura não saia do capítulo três, percebendo com pesar que não fazia a mínima ideia do que o livro se tratava. Desistindo daquilo, bufou e resolveu sair de casa, mesmo sem ter nenhuma direção em mente.
Já na rua e com o celular novamente ligado, se sentiu desconfortável ao perceber o quanto toda aquela cidade parecia estranha agora para ela. Todas as ruas que tanto visitara algum tempo atrás pareciam tão mortas, tão... Vazias. Diana tinha plena consciência que nada mudara ali -além dela própria, é claro- mas mesmo assim nada tirava aquela sensação de estranheza que a mesma sentia.
Ela foi tirada de seus devaneios quando sentiu algo vibrar em sua bolsa, seu celular. Achando que era alguma de suas amigas, rapidamente o retirou da bolsa e leu a tal mensagem, o que preferia não ter feito, principalmente quando viu seu destinatário e sentiu que aquela era a notificação que tanto esperara e evitara o dia inteiro.
"Baixei aquele filme que você disse que era bom e vi que nada é tão bom quando você não está aqui."
Mesmo sem querer, sentiu seu coração palpitar sobre seu peito e rapidamente o repreendeu. Lembrava-se muito bem do filme que indicara e lembrava-se muito bem também de Lucas repreendendo o título do filme com o olhar. Ela havia rido e falado seu famoso “Eu juro que é bom!”, para logo depois ele prometer a ela que veria, mas apenas se a menina visse com ele. Pelo visto, seus planos haviam mudado.

O filme que Diana indicara não era de todo ruim, Lucas tinha que admitir, mas definitivamente não fazia o tipo dele. Não tinha muita ação e as coisas demoravam muito para acontecer, e, claro, ainda tinha que adicionar o fato de que nada tirava a menina da cabeça dele. Ele tinha mandado uma mensagem para ela alguns minutos atrás e após não receber nenhuma resposta, se arrependeu do feito. Ainda assim, não sentia raiva alguma de Diana, pelo contrário, ele entendia o motivo dela querer ficar sozinha nesse momento. Após todas as coisas que ele tinha dito... O que mais ela poderia querer? Ele se arrependia tanto de tudo que disse que desejava apenas voltar no tempo e apagar aquele dia, mas toda a discussão repassava em sua cabeça repetidas vezes. Ele lembrava nitidamente dela reclamar de como ele era imaturo demais, sobre como precisava ter mais responsabilidade, e lembrava-se também dele dizendo no fim da discussão que não a queria mais. O que ele tinha na cabeça ao dizer aquilo? É claro que ele a queria, ele sempre iria querer!
Mesmo sem ter certeza se estava fazendo a coisa certa, Lucas decidiu ligar para Diana.
—Alô? –Ela disse após atender a ligação. –O que você quer, Lucas?
—Eu estava pensando na nossa briga de ontem... –Ele diz com pesar. –Não acha que podemos esquecer isso tudo e voltarmos?
—Eu nem estou mais no Rio, Lucas... Eu vim pra casa dos meus pais em São Paulo.
—O quê? Quando?
—Ontem de noite... –Ela responde com uma voz triste e fica algum tempo em silêncio, para logo depois retornar a falar. –Eu não acho que seja uma boa ideia a gente voltar.
—Mas a gente se dá tão bem, Diana! –Ele exclama. –Não podemos jogar tudo pro alto só por causa de uma briga!
—Não foi só uma briga, Lucas. Você sabe disso. São diversas outras coisas. –Diana diz. –Eu não quero ficar em um relacionamento onde eu não vejo futuro.
—E por que você não vê futuro? –Lucas pergunta, ainda que doesse pensar na resposta.
—Você ainda é um menino, Lucas, nem consegue sustentar um lar... Se continuar assim, nunca será bom o suficiente pra eu casar.
—Mas eu posso provar que não sou mais um menino, Diana!
—Então está na hora de provar isso. –E dizendo essas palavras ela desliga, sem ao menos se despedir.
Ela tinha total razão em reclamar, ele sabia, apesar de doer o fato de tudo o que ela disse ser verdade. Quer dizer, Lucas já tinha vinte e cinco anos e nem a faculdade começara, além de estar desempregado... Que futuro ele poderia dar para ela?  Decidido em mudar aquela situação, ligou para um colega próximo que havia lhe oferecido um emprego nas semanas anteriores e ele havia recusado por ser em um escritório. Lucas não era o tipo de cara que gostava de trabalhar em locais fechados, em empregos monótonos... Mas ele iria se esforçar por Diana. Não só por ela, inclusive, mas por ele também. Com um emprego, ele poderia finalmente pagar seu aluguel sem atraso e poderia até mesmo começar a faculdade que estava adiando há tanto tempo. Pensando nisso, aceitou o emprego que ainda estava disponível. Ele iria começar na semana seguinte.

Diana estava arrasada. Doía nela ser tão dura com Lucas, mas o que mais ela poderia fazer? Ela ficara meses com ele e nada mudara... Ele sempre irresponsável, pagando as contas em atraso, recusando ofertas de emprego, sem pensar no futuro. Ela não precisava do dinheiro dele pra nada, esse não era o problema, mas como iria viver com um cara que nem ao menos conseguia ser responsável? Como iria ser o futuro dos dois assim? Seria impossível a convivência assim e ele precisava tomar uma atitude, se não fosse por bem, então por mal.
Além de sofrer com saudades do Lucas, ela ainda tinha que escutar todo o sermão de seus pais a respeito de como foi a melhor decisão do mundo ter terminado com ele, sobre como ela merecia algo melhor e alguém com perspectiva, e que ele era apenas um acomodado e não acrescentaria nada em sua vida. Ela estava zangada com Lucas, mas ouvir seus pais falarem assim dele lhe deixava incomodada. É claro, ele era de fato irresponsável e ainda tinha muito que amadurecer, mas também era uma pessoa incrível e com muito potencial. Além disso, sempre a tratou bem. E apesar de nunca ter dito isso em voz alta, ela realmente sentia que amava muito aquele menino.

Passara-se um dia e Lucas estava decidido: Iria viajar até São Paulo para pedir a mão de Diana em casamento. Ele pensara a respeito e percebera que era aquilo mesmo que ele queria. Ele não estava aguentando ficar um dia sem ela, quem dirá uma semana, um mês? Ele queria viver o resto da vida dele ao lado dela e ninguém iria mudar sua decisão a respeito disso.
Ele acordou cedo no dia seguinte e comprou a aliança para Diana, torcendo para que tenha escolhido o tamanho certo, mesmo não tendo tido dinheiro para escolher o melhor modelo. Ele procurara em todo seu quarto por um anel dela na noite anterior e apenas conseguiu encontrar um, que foi o que ele levou a joalheria para comparação de tamanho. Ele torcia em seu interior para que ela gostasse e aceitasse.
Logo após sair da joalheria, Lucas foi pra casa, comprou a passagem de ônibus pela internet para 21h00min e colocou sua melhor roupa. Antes de sair, pegou uma mochila e colocou nela alguns biscoitos e dois refrigerantes para se alimentar na viagem até São Paulo. Ele iria provar para Diana que poderia fazê-la feliz!
A caminho da estação, Lucas parou para comprar uma rosa e um cartão para Diana. E assim ficou: Com a mochila nas costas, uma rosa na mão esquerda e um cartão com desenho na direita. Não demorou muito até que começasse a chover, o que já era esperado, já que em novembro sempre chove á tarde. O que o surpreendeu foi o fato de começar a chover tanto! Agradecendo mentalmente por já estar perto da estação, sentou-se em sua poltrona no ônibus e fez sua oração a Deus, pedindo para que tudo desse certo.
Sentado com a cabeça apoiada na janela enquanto olhava as montanhas que passavam por seu caminho, Lucas ficou pensando em como achava que aquela chuva era o reflexo do estado do seu corpo e em como ele esperava que aquela chuva parasse quando ele encontrasse com Diana. Quer dizer, talvez aquilo fosse impossível e ele estivesse sendo sonhador demais, mas quem poderia dizer? Ninguém conseguiria entender tamanha dor que ele sentia, tamanha saudade... Era como uma necessidade de tê-la por perto. E ele esperava tanto que tudo aquilo que ela dissera antes fosse mentira, sobre ele não ser homem o suficiente pra ela e sobre como os dois não dariam certo. Ele sabia no fundo de seu coração que eles poderiam dar certo sim. E pensando nisso ligou novamente para Diana.
—Oi, Lucas. –Ela atende.
—Oi, amor. Eu tô a caminho daí, tá?
—Como assim, Lucas? –Ela responde sem entender. –Eu tô indo dormir.
—Te liguei pra você ir me buscar na estação.
—Lucas, eu tô indo dormir, não consigo lidar com isso agora. –Ela diz com pesar. –Boa noite pra você. –E dizendo isso desliga a ligação.
—Tudo bem, dorme bem, amor. Eu te amo. –Ele diz, mesmo sabendo que ela já tinha desligado a ligação e não iria ouvir sua resposta. Sabendo também que, mesmo se ouvisse, não diria um “Eu te amo” de volta. Ele nunca tinha a ouvido dizer que lhe amava, mas esperava que isso acontecesse quando chegasse lá.

O dia tinha sido cansativo para Diana. Além de não ter recebido notícias de Lucas o dia todo, toda sua família resolvera aparecer na casa de seus pais para algum tipo de confraternização. E como tinha sido exaustivo conversar com toda aquela gente! Muitas perguntas foram feitas e em poucas dela Diana se sentiu confortável em responder. Além disso, seus pais colocaram na cabeça deles que ela tinha que se mudar definitivamente para São Paulo e isso não era o que Diana queria, ela gostava de morar no Rio de Janeiro! Já tinha sua faculdade lá, seu trabalho, seu apartamento (mesmo que ainda estivesse pagando por ele)... Não tinha motivos para sair de lá e tentar estabilidade em outro estado. Pra ser honesta, ela nunca foi muito fã de São Paulo. Ela gostava do calor do Rio, das praias, do sol... De Lucas, principalmente, ela acabou pensando. Que droga, por que ela gostava tanto daquele garoto? Seria tão mais fácil se ela simplesmente desgostasse...
Quando estava se preparando para ir dormir, recebeu uma ligação e ficou surpresa ao ler que era da pessoa que atormentara seus pensamentos o dia todo. Por um momento, pensou se devia ou não atender, mas acabou se rendendo e atendeu. Diana, por ser pega de surpresa com a notícia que Lucas estava indo visita-la, acabou sendo seca e um pouco grossa com o rapaz. Foi só desligar o telefonema para o arrependimento bater. Ela não entendia por que ficava tão nervosa quando o assunto era ele, mas agora estava curiosa com o que ele pretendia indo até ela na casa de seus pais. Quer dizer, só acabaria piorando tudo com mais discussões e desentendimentos, ainda mais se seus pais soubessem disso. Seria melhor para ele apenas espera-la voltar para o Rio. Agora que ele já estava a caminho, ela não sabia o que fazer. Ficou alguns minutos pensando e decidiu que não o deixaria esperando sozinho naquela estação, não sabendo que ele veio apenas para vê-la... Mas ela nem ao menos perguntara que estação ele estaria, muito menos o horário. Decidida a descobrir, ela começou a digitar uma mensagem de texto para Lucas.
“Oi, Lucas. Qual estação você vai ficar? Eu vou te buscar. Desculpa ter sido grossa.”
Ela enviou e se arrumou, esperando a resposta, mas se passou uma hora e a resposta ainda não tinha chego. Preocupada, resolveu ligar, mas o celular chamou e ninguém atendeu. O que será que poderia ter acontecido, afinal?

Lucas percebia que a cada minuto a chuva aumentava ainda mais e, já sem conseguir dormir, tentava olhar pela janela que se encontrava embaçada. Ele não parava de pensar em Diana e em como faria o pedido de casamento, em como esperava que tudo desse certo e ela entendesse que mesmo sendo um pouco irresponsável, ele poderia fazê-la feliz.
Ele, entretanto, fora interrompido de seus pensamentos por um barulho vindo do ônibus, junto com uma enorme gritaria. O que estava acontecendo, afinal? Fora tudo muito rápido. Ele só conseguia sentir tudo girando, a aliança caindo de seu bolso e muito barulho: de pneu, da chuva, de pessoas desesperadas. Tudo parecia estar balançado de forma agressiva e então tudo se tornou uma enorme escuridão. Tentou-se lembrar do rosto de Diana ou chamar seu nome, mas nem isso conseguiu: Sua boca não abria e já não conseguia mais raciocinar direito. Instintivamente, agarrou forte a rosa que ainda estava em sua mão e perguntou-se o que seria dele a partir dali. Ainda acordado, ouviu tocar seu celular e soube que era mensagem de Diana, mas preso nas ferragens sem conseguir se mexer, fechou os olhos sem saber o que ela queria dizer. E em um último pensamento, percebeu que, menino ou homem, ele partiu sem ouvi-la dizer que o amava.


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