fare thee well escrita por socordia


Capítulo 1
único


Notas iniciais do capítulo

terminei minha primeira playthrough de 'dragon age: origins' hoje. essa fic simplesmente PRECISAVA sair de mim.



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único

Minhas mãos tremem ao redor do meu cajado conforme Riordan fala. Eu aperto meus dedos contra o cabo, sentindo o osso de dragão liso e sem falhas debaixo de minha pele, e o frio que emana constantemente da ponta de minha arma quase parece me atingir. Sinto o olhar de Leliana em cima de mim com a mesma precisão de suas flechas, mas não olho em sua direção, mantendo minha atenção firme e presa no Guardião mais velho, meu superior.

Riordan parece exausto, mas não é como se qualquer membro de meu grupo tenha tido noites completas e revigorantes de sono no passado recente. Bem, talvez à exceção de Shale, que eu não tenho certeza se sequer dorme, e de Bebê, que, estou convencida, acredita que a totalidade da Podridão é um grande dia de diversões caóticas diversas, com muitos ossos para roer. Respiro fundo, sentindo o cheiro de carne corrompida dos cadáveres da prolenegra que matamos até alcançar os portões de Denerim. Os corpos rapidamente se esvaem, debaixo do céu negro de fumaça, deixando apenas ossos bizarramente brilhantes no meio dos escombros, mas o odor rascante gruda-se em minha garganta de maneira que devo me controlar para não pigarrear o tempo todo.

Deveria estar acostumada com o fedor da morte seguindo-me, acumulando-se por todos os meus lados, mas talvez isto seja uma daquelas coisas com as quais é impossível se acostumar. Meus pés doem, da marcha incessante de Redcliffe até aqui, e só de pensar que este é apenas o princípio, que temos que desbravar a capital inteira atrás do arquidemônio e de sua horda, meu estômago embrulha e se retorce dentro de mim. Meu coração, partido em milhões de fragmentos afiados que me cortam toda vez que me mexo, também não me dá trégua, batendo surdamente toda vez que Alistair entra em meu campo de visão.

Ele será rei, é o que digo a mim mesma, de novo e de novo. Ao lado de Anora. A filha do traidor de quem arranquei a cabeça nem uma onzena atrás. Anora, educada e delicada Anora, com olhos em brasa e astúcia em cada um de seus sorrisos calculados. Sua beleza me atingiu como a um raio na primeira vez em que a vi, e seu desejo implacável por um futuro melhor para Ferelden o quê me persuadiu a apoiar seu clame ao trono. Os dois merecem ser felizes, depois disto tudo.

Convenientemente me omito do futuro que imagino para Ferelden. Basta, para mim, saber que meu país terá governantes que possuem o apoio do povo; posso não confiar plenamente em Anora, mas confio em Alistair. Ele pode não fazer ideia do quê é necessário para governar, mas aprenderá. Seu bom coração será um bom contrapeso ao pragmatismo inescrutável de Anora. Seu senso moral certamente me ajudou, em mais de uma ocasião.

Riordan termina de dar os detalhes sobre a movimentação da prolenegra para lá dos portões de Denerim. O arquidemônio já está na cidade, diz ele, e Riordan o atrairá para o ponto mais alto da capital, o Forte Drakon. Alistair e eu trocamos olhares diante da localização mencionada e vejo-o apertando os lábios numa linha fina — claramente evitando rir, já que gargalhar quando estamos prestes a enfrentar um Deus Antigo corrompido não é nada apropriado. Eu rolo os olhos em resposta, mas não consigo impedir que os cantos de meus lábios formem um sorriso discreto, me perguntando se os guardas sentiram falta dos uniformes e armas que roubamos quando estávamos lá dentro e precisamos nos disfarçar para fugirmos.

— O arquidemônio tem dois generais, Solona, e talvez seja sábio dar cabo deles antes de enfrentar o dragão.

Alistair e eu concordamos com a cabeça em uníssono, e tenho que me controlar para não me encolher diante do sincronismo fácil e natural entre nós dois. Trinco a mandíbula e aperto ainda mais meu cajado, que dispara flocos de neve mais alto do que o usual. Sei que todos ao meu redor acompanham o movimento estranho com os olhares, mas fingem não entender o quê esse pequeno descontrole significa.

— Mas alguém deve ficar responsável pela defesa dos portões — Riordan continua, embora seus olhos estejam no meu cajado e não no meu rosto. — Meu conselho é que você leve um grupo pequeno para dentro das muralhas e chame ajuda se necessário. Não mais que três pessoas, excluindo você, é claro.

Murmuro minha concordância, ignorando o fato de que tenho todos os meus movimentos minuciosamente analisados por todos ao meu redor. Gostaria que Morrigan estivesse aqui — seus feitiços ofensivos seriam muito bem-vindos dentro de Denerim. Pensar em Morrigan é pensar em sua proposta, e nas consequências da minha recusa: minha cabeça nada em si mesma e eu respiro fundo para impedir que a espiral de pensamentos avance.

— Levarei Wynne. — Olho para a outra maga, que apenas sorri, determinada. Prometi que Wynne seria útil em seus últimos dias, e estou empenhada em cumprir minha promessa. — Além de Leliana. — As feições suaves de Leliana estão mascaradas por fuligem, mas o brilho em seus olhos é inconfundível. Ela flexiona os dedos e põe uma mão espalmada em cima do peito, num gesto de respeito, e sinto vontade de abraçá-la.

Preciso pausar e respirar fundo antes de continuar. Alistair já tem a mão no punho da espada e está prestes a se pôr ao meu lado, como incontáveis vezes antes, quando finalmente anuncio minha terceira escolha.

— E Shale.

O silêncio que instala-se entre nós é ainda mais pesado por sua obviedade, já que ouvem-se indícios de batalha a pouca distância. Consigo ouvir Alistair exalando pesadamente, não muito longe de mim, mas não procuro seu rosto com o olhar. Não posso deixar de apreciar uma espécie de prazer mesquinho em poder negar-lhe a tarefa de aniquilar o arquidemônio, como uma represália por ter me machucado mais profundamente que qualquer ferimento causado por uma prolenegra.

— Muito bem. — É Riordan que rompe o silêncio, finalmente, juntando suas mãos e passando os olhos por cada um de nós como um professor que avalia o comportamento dos pupilos. Resolvemos a questão de quem ficará guardando os portões da cidade em seguida, e logo depois Riordan prepara-se para partir. — Boa sorte, Guardiã Amell.

— Nos veremos no Forte, Riordan.

Seguro seu antebraço ao mesmo tempo em que ele segura o meu, num gesto de despedida. Ele confere suas espadas e parte para dentro da cidade, andando confiante, sem olhar para trás. Observo-o partir, engolindo em seco quando perco-o de vista e os ganidos lamuriosos de Bebê atingem meus ouvidos.

O enorme mabari olha para mim com seus gigantescos olhos escuros, como quem faz uma pergunta. Eu sorrio, embora minha garganta ameace entrar em colapso, e me ajoelho diante de seu rosto coberto de sangue.

— Seja um bom garoto, tá bom? — sussurro enquanto acaricio violentamente suas orelhas. Ele rosna suavemente em resposta e eu encontro um pedaço razoavelmente limpo de pelo para depositar um beijo barulhento. — E cuide do Alistair por mim.

Diante do meu tom de voz, Bebê para de agitar sua cauda e me encara, pensativo. Depois de alguns segundos, ele põe a língua para fora da boca e vai sentar-se ao lado de Shale, as luzes dos cristais coloridos do golem refletindo-se nas manchas em seu pelo.

Quando me viro, Oghren está me esperando, sua barba gloriosa, que havia sido recém-trançada para a batalha, completamente desalinhada. Uma de suas mãos está no cantil em seu cinto, e a visão me entretém. É claro que Oghren não enfrentaria uma horda de prolenegra completamente sóbrio — ele precisa de sua coragem líquida.

— Então, é isso. — Sua voz parece cheia de expectativa e... pesar? Inclino minha cabeça a fim de avaliar Oghren melhor.

— Foi uma honra lutar ao seu lado, Oghren — declaro, pondo uma mão em seu ombro.

— Honra? — ele dispensa minha fala com um riso amargo. — Faz muito tempo desde que alguém olhou para mim e viu honra, Guardiã.

Ele me agradece por nossa jornada, por ter dado a ele uma nova chance no amor, por tê-lo resgatado dos anos nublados pelo álcool que passou em Orzammar. Eu tenho que pressionar meus lábios um contra o outro, porque sinto meus olhos arderem e me recuso a chorar. Não agora, na frente de Oghren, que apesar de tudo está com um brilho divertido no olhar; não quando ainda tenho meus outros companheiros de quem me despedir.

— Eu devo muito a você, Solona. — Ele diz, e eu sinto o peso de sua gratidão na boca do meu estômago. Estou prestes a replicar que ele não me deve nada, que já fez o bastante por mim, mas ele continua. — Eu considero morrer pela sua causa, e por você, uma grande honra.

— A honra é toda minha, meu amigo. — Respondo, fungando logo em seguida. — Mas vamos evitar essa conversa de “morte”, pode ser?

Ele ri de sua maneira grave, as ondas de riso agitando seus ombros, e concorda com a cabeça. Promete ser um guerreiro valoroso, que me dará orgulho, e eu me abaixo para depositar um beijo em sua bochecha. Mesmo com a sujeira da batalha, vejo Oghren enrubescer enquanto se afasta, acenando um adeus, e indo se certificar que todas as suas peças de armadura continuam no lugar.

— Você está pronta? — O trovão que é a voz de Sten faz com que eu desvie minha atenção de Oghren para o qunari, tão mais alto que eu, parecendo apavorante em sua armadura coberta de vísceras, Asala na bainha em suas costas. — Finalmente alcançamos o campo de batalha.

Não estou pronta. Sequer é possível preparar-se para morrer?

Respondo de outra maneira, esperando que Sten ainda não tenha se acostumado aos maneirismos humanos para ver o quê escondo por detrás de minhas palavras.

— Obrigada por toda sua ajuda, Sten.

Ele estreita os olhos para mim.

— Não fiz nada. Foi você que nos trouxe até aqui. Não duvide disto.

E ele se vai, suas pernas cobertas de metal tintilando conforme esmagam o chão destruído em que pisam. Fecho os olhos por alguns segundos, sentindo uma onda de medo e nostalgia ameaçando engolir-me por inteira, e respiro fundo, lutando contra a sensação, fincando meus pés e mente no presente e na realidade, por mais pavorosa que seja.

Sinto alguém tocar meus ombros e o cheiro inconfundível de conhaque antivano me enche as narinas.

— Zevran — cumprimento, ainda de olhos fechados. Consigo sentir o seu sorriso conforme suas mãos abraçam minha cintura e eu descanso minha cabeça em seus ombros. É uma posição ridícula, porque Zevran é mais baixo que eu, mas procuro conforto onde posso, e, nesse momento, é neste abraço atrapalhado que o encontrarei.

— Indo matar dragões sem mim, hm? — Ele arranca um risinho de mim e sinto seus lábios em meus cabelos. — Tudo bem, mas pelo menos diga ‘olá’ ao arquidemônio por mim. Ele não escreve mais, estou ficando preocupado.

Os risinhos jorram de mim de forma descontrolada, quase histérica, e tenho que usar minhas duas mãos para cobrir minha boca, numa tentativa de controlar o medo borbulhante que ameaça fugir de mim. Abro os olhos e percebo que Zevran está me olhando com humor, sim, mas também preocupação e afeto. Me viro de maneira que fico à sua frente e ele pega meu rosto nas mãos calejadas.

— E... tome conta de si mesma. Não seja devorada. — Meu coração pula em meu peito diante da perspectiva, mas Zevran só dá de ombros, como se essa possibilidade fosse real, mas desimportante. — A não ser que você ache que ser devorada é muito importante, é claro.

— Destruir o arquidemônio por dentro — murmuro, ao redor dos seus dedos. — Você é um estrategista brilhante, Zevran.

Ele sorri, mas há algo sombrio em seus olhos conforme ele segura meu rosto, para que eu seja forçada a encará-lo. Não pela primeira vez, me pergunto como será o futuro de Zevran se eu não sobreviver a essa batalha; será que sua dívida com os Corvos será considerada paga e ele poderá voltar a Antiva?

— Ter de te assassinar foi a melhor coisa que me aconteceu, Solona — ele diz, de maneira suave, inclinando-se para beijar minha bochecha. — Fico feliz em poder ajudá-la.

— Digo o mesmo, meu amigo. — Aperto suas mãos entre as minhas e dou-lhe o melhor sorriso que consigo, embora ele seja trêmulo e instável nas pontas.

Zevran apenas olha para mim, como quem consegue ver todos os segredos que escondi diligentemente debaixo de piadas e sarcasmo, que não ouso revelar nem para mim mesma, e sorri. Ele beija minhas duas mãos e se vai, sua voz erguendo-se na direção de Oghren, provocando o anão a dar-lhe um pouco de cerveja.

Sorrio diante da cena familiar, ouvindo as palavras ‘inimizade estereotipada entre anões e elfos’ na voz de Zevran e rindo baixinho diante da provocação. Sten está no meio dos dois, observando-os com curiosidade clínica, sem dúvida guardando a cena na memória para reporta-la de volta aos seus superiores no Qun. Gostaria de ter tido mais oportunidades para conversar com Sten sobre sua vida fora de Ferelden, aprender mais sobre sua cultura, entender mais sobre esse povo tão diferente do meu. Vejo Zevran oferecer a Sten um gole de seu cantil e ser recebido por um olhar impassível, arrancando gargalhadas de Oghren.

Consegui arrancar de Zevran muitos dos segredos dos Corvos, mas às vezes sinto que ele se escondeu demais por detrás de uma muralha de galanteios e histórias fantásticas para me impressionar e divertir. Desejo ser capaz de tê-lo ajudado mais, embora eu ache que tê-lo livrado dos Corvos é o que estava dentro das minhas capacidades de ter-lhe dado alguma perspectiva de futuro.

Já Oghren... é só lembrar de suas palavras que lágrimas me enchem os olhos. Abraço a mim mesma, observando meus amigos interagindo entre si com o companheirismo que só existe entre pessoas que enfrentaram a morte juntos. Nunca fui devota, mas neste momento rezo e peço à Andraste que me guie, pelo bem das pessoas que levo comigo, e que os conforte nos dias vindouros.

— Eu não estou indo com você. — A voz de Alistair soa, atrás de mim, e eu me encolho como se tivesse sido esbofeteada. Tinha esperança de que estava apenas imaginando a forma com a qual ele me seguia com atenção afiada enquanto me despedia dos demais, mas deveria saber que meus instintos não me trairiam assim.

Respiro fundo, reunindo os fiapos de coragem que me escaparam, e dou-lhe a atenção que é demandada de mim. Terei de matar um arquidemônio antes do fim da noite, e é essa conversa que me aterroriza.

— Posso saber o motivo? — quer saber Alistair, num tom tão ácido que faz minha língua arder.

— Preciso de você aqui para avisar os outros Guardiões, caso eu... falhe.

A última palavra sai de mim num sopro de respiração, quase inaudível. Não consigo desviar meus olhos do rosto de Alistair, numa tentativa desesperada de memorizar suas feições nesses últimos segundos. É por isso que vejo sua mandíbula tensionar e seus olhos escurecerem, perdendo um pouco da revolta que os marcou quando me confrontou. Ele flexiona os dedos e não sei se é apenas minha imaginação ou se essa é realmente a maneira que tem de se conter para não me tocar.

— E eu pensando que você gostaria de me ter ao seu lado, como seu... parceiro em armas. — Suas palavras são marcadas por amargura e enfiam agulhas por debaixo das minhas unhas. Abro a boca para contradizê-lo, mas ele prossegue. — Ainda assim, não vou discutir com você sobre isso. Só... tenha cuidado lá dentro, certo? Eu não quero perder outro Guardião Cinzento, muito menos outra... amiga.

Eu bufo.

— É isso que somos agora? — pergunto, baixinho, que é o mais alto que ouso. — Amigos?

— Solona...

— Não acho que exista uma palavra para o quê somos, Alistair. — Continuo, erguendo meu queixo em desafio. — Nem uma para o quê poderíamos ser. Certamente você entende que amigos não é suficiente para descrever-nos.

Ele aperta o punho de sua espada até seus dedos ficarem brancos, não muito diferente da maneira a qual seguro meu cajado. Vê-lo desconcertado diante de minha fúria suaviza alguma coisa dentro de mim, e eu me permito ser ousada: alcanço seus dedos com os meus, massageando-os e liberando-os do metal frio da espada. Levo sua mão na altura dos meus lábios e sopro seus dedos com um pouco de magia, aquecendo-os na noite fria.

— Desculpe — ele murmura, e sua outra mão livre cobre a minha. — Não quero encher seus ouvidos com palavras de ódio antes de...

O futuro próximo pesa entre nós, enchendo nossos pulmões com água, congelando-nos no lugar, e a respiração tem que ser forçada para dentro de meu peito.

Ficar tão próxima assim de Alistair não deveria ser tão fácil, principalmente depois de termos decidido que o melhor para Ferelden é nos mantermos separados, mesmo às custas de nossos corações. Mas é. Meu espaço pessoal mescla-se com o dele, nossas respirações se embaralham e minha mente não consegue deixar de notar que esta pode ser a última vez que nos vemos. Tem de ser significativo. Tem de ser memorável.

— Sei que falamos sobre isso, e eu prometi a mim mesmo que não desonraria Anora — o nome dela saindo da boca dele faz com que eu feche os olhos por alguns segundos, para manter-me sob controle —, mas amo você, Solona. E amarei para sempre.

— Não faça promessas que você não sabe se poderá cumprir, Alistair — sussurro em resposta, mas não há represália em minha voz, apenas afeto. Sorrio, apesar de tudo, mesmo que tenha vontade de chorar. — Mas amo você.

Fico na ponta dos pés e beijo a sua bochecha, sentindo sua barba arranhando meus lábios. Nossa marcha até a capital foi tão implacável que os soldados nem tiveram oportunidade de se barbearem, e meu instinto é acariciar o rosto de Alistair, geralmente sempre liso, com meus dedos. Mas me controlo.

— Tome cuidado — ele pede, e tento não perceber sua súplica, porque se reconhecê-la, desmoronarei a sua frente.

— Você também. — Aperto sua mão e beijo seus dedos. — Ame seu país. Honre sua esposa. Governe com dignidade e compaixão. — Ele desvia o rosto e eu ponho minha mão em sua bochecha, forçando-o a me encarar. Preciso dizer essas palavras que ameaçam me sufocar se permanecerem em minha garganta. — Não se perca no terreno incerto de Denerim, Alistair. Você é uma boa pessoa, um líder competente. Faça com que vejam o quê eu vejo, e você ficará bem.

Por trêmulos instantes, acredito que Alistair encerrará a distância entre nós e me beijará; mas ele acena a cabeça em concordância, num gesto forçado, quebradiço, e eu retribuo o gesto, como retribuiria seu beijo, se ele viesse. Quando estou prestes a deixar minha mão cair ao lado do meu corpo e seguir para as entranhas da capital, ele pressiona minha palma contra a pele do seu rosto, e beija meus dedos, um por um, e o meu pulso em seguida.

Respiro súbita e agudamente, fechando os olhos para aproveitar os últimos momentos de seu calor perto de mim. Quando os abro, nosso momento se estilhaça, e sei que tenho de ir.

Caminho na direção de Leliana e Wynne com pernas bambas, aceitando o braço de Leliana em minha cintura, a sombra dos lábios de Wynne em minha têmpora. Shale ergue-se  sobre nós como uma torre, emitindo sons curiosos, como quem não entende a minha necessidade de procurar conforto.

Respiro fundo e olho para as mulheres — e golem — a quem confio que concluirão nossa missão e encerrarão esta Podridão antes que ela sequer comece realmente. Leliana deixa que eu me apoie em meus próprios pés, e eu encaro a cidade em chamas à minha frente.

— Vamos. Nosso destino nos espera.


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Notas finais do capítulo

meninas que escrevem fic pra se livrarem da angst que trabalhos de ficção deixam em si mesmas me add



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