The Baby Sitter escrita por Mrs Ridgeway


Capítulo 35
34. Agradeça-me depois


Notas iniciais do capítulo

relou



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/764812/chapter/35

Já havia um bom tempo que o salão comunal não recebia uma revoada de corujas num início de tarde de sábado. As aves jogaram as rimas de papeis em duas mesas diferentes. Na primeira delas, animado, Hugo rasgou o envelope que caiu a sua frente.

— É do Teddy! – disse o garoto ruivo. 

James soltou uma gargalhada do outro lado da mesa. Também olhava o texto escrito.

— Hahaha, a Vic enfim conseguiu! – exclamou.

— Até que já estava na hora. – Fred completou enquanto lia o pergaminho.

Alheios aos comentários dos garotos, Scorpius e Anthony permaneciam de testa franzida. Também haviam recebido as cartas.

— O que significa isso? – Zabini agitou o pergaminho entre os dedos compridos.

Hugo foi o único que pareceu se importar com a pergunta.

— Ah, é um convite. – o garoto respondeu. – De casamento. 

Malfoy tocou o envelope delicadamente. Não sabia o motivo, mas estava interessado em ler o convite. Talvez porque o Teddy Lupin sempre fora muito legal com ele nas férias que passaram na casa dos Potters, com suas brincadeiras capazes de deixar até mesmo a mãe de Albus de cabelo em pé.

Algo que não era nada, mas nada fácil mesmo.

Ou talvez fosse porque apesar de Victoire Weasley ter uma beleza hipnotizante, a garota sempre chamara mais a atenção do loiro por ser tão maluca e frenética quanto o namorado.

Scorpius gostava do casal. Provavelmente eles também gostavam de Malfoy, visto que o enviaram um convite. 

Ele abriu pergaminho.

 

“Às vezes, se apaixonar é a atitude mais corajosa que alguém pode ter”.

 

Edward e Victoire

É com muito carinho que convidamos você para o nosso casamento!

 

O loiro leu os detalhes adicionais onde continham a data e o horário da celebração. No final do convite, o casal deixara um recado particular.

Ps.: Soubemos do acidente. Esperamos que esteja bem o suficiente para se encher de hidromel na nossa festa. 

O garoto sorriu. Do seu lado, Anthony continuava a fazer careta. Scorpius se esticou por cima do ombro do amigo e o que viu na carta o fez soltar uma gargalhada.

— O que eles quiseram dizer com isso? – o sonserino indagou.

— Bom... – Scorpius ainda ria. – Acho que eles foram bem diretos, não?

Na carta de Anthony, o recado não fora sutil.

ps.: Aproveite a festa para deixar de ser devagar.

Mesmo sem querer, o próprio Anthony riu.



...

 

 

Enquanto caminhava para a segunda mesa, Rose Weasley acenou rapidamente. Scorpius balançou a mão com a carta e ela sorriu ao ver que ele também havia sido convidado. A ruiva se sentou ao lado de Dominique.

— Uh, girls time! – disse Lily, sorridente.

— Um milagre. – comentou Violet, rabugenta. – A Rose não desgruda mais do Malfoy. 

Rose rolou os olhos. – Deixe de ser dramática, Vi. Nós duas passamos quase o dia inteiro juntas, todos os dias.

— Por causa das aulas.

— Também por causa das aulas.

Violet fez um muxoxo inconformado. As outras meninas riram. 

— Animadas para o casamento? – Rose perguntou. 

— Está tão perto! – Dominique exclamou. – A Vic me pegou de surpresa. Não imaginei que ela fosse aceitar o pedido de casamento do Teddy dessa vez.

— Calma, VOCÊ SABIA?! – Roxanne apoiou as mãos na mesa quando a prima acenou positivo. – E não nos falou nada?! Que traíra!

— Eu não imaginava que seria na real, ué. – Domi se defendeu.

— Como não seria? – Lily questionou.

— Já tem um tempo que o Teddy pede e a Vic ignora. – Rose explicou. – Os meninos acham que ela estava tentando dobrá-lo de alguma forma.

— Por falar em meninos, acho que o Malfoy e o Zabini também receberam convites. – disse Roxanne. – As corujas jogaram envelopes iguais na direção deles.

— DO ANTHONY?!

Violet arregalou os olhos. – Por que o Anthony?!

— Por que a minha irmã e o Teddy adoram criar situações inconvenientes? – Dominique cochichou no ouvido de Rose, que sorriu com a mão na frente da boca.

— Eu ouvi, Dominique. – Lily falou. 

Seus ombros estavam mais encolhidos do que há segundos antes.

— E concordo com a Vi. Não existem motivos para o Zabini ter sido convidado. 

— Sério isso, Lily? – Rose ergueu as sobrancelhas. – Todo mundo já percebeu que ele é a fim de você. 

— E a minha opinião não conta?

— Você não quer?

Lily não respondeu de imediato. Ela usou o garfo para remexer os ovos dispostos na tigela de metal.

— Essa não é a questão. – disse.

Seu olhar estava distraído, como se estivesse muito longe dali. – Mesmo que eu o quisesse, o Anthony nunca estaria disposto a ser o garoto que eu esperei para mim. Ele nunca me daria a atenção que eu preciso. 

Rose sabia o quanto a prima sonhara, desde criança, com o príncipe das suas fantasias. Ela, no entanto, temia que a menina se perdesse dentro dos seus próprios sonhos e perdesse aquilo que a realidade estava a lhe trazer. 

Afinal, todos eles eram jovens. E essa fase não retornaria mais.

Dominique rolou os olhos.

— São só uns amassos, Lily. Você não precisa casar-se com ele.

Lily e as outras meninas riram.

— De fato, sinto falta de uns amassos. – a ruiva mais nova admitiu. 

— Quem mandou dispensar o Lorcan! – Roxx alfinetou.

— Ei!

— Admita que temos um ponto!

— Foi necessário.

— O colégio inteiro é afim de você, Lily. Basta o Albus não ficar sabendo. – comentou Violet com um sorrisinho.

— Ele poderia se preocupar mais com o Malfoy do que comigo. – Lily parecia contrariada.

— O Malfoy tem a Rose para cuidar dele direitinho. – Dominique satirizou.

Rose ficou vermelha até os dedos dos pés.

— Parem com isso.

— Ah, vai dizer que não?

— Depende do que você encare como “cuidar dele direitinho”. – Violet tirava algumas lascas de pão, devagar. – Ela reclama da Lily, mas se mantem tão pura quanto. 

Rose se ajeitou no assento do banco.

— Não é bem assim. – a ruiva disse, sem jeito. – Não é como se eu nunca tivesse transado antes...

— NÃOO?

Absolutamente todas as meninas disseram, em uníssono. Rose só queria se enfiar debaixo da mesa.

— Rose Weasley, você e o Malfoy já...?! – Dominique exclamou.

— Não! – Rose exclamou rapidamente. – Não com Scorpius...

Demorou alguns segundos até que Violet dissesse algo.

— O Hector?

Rose afirmou com a cabeça.

— O Carter é mais sonso do que eu imaginei.

O comentário de Roxx fez todas rirem. Rose aproveitou o clima mais ameno para falar um pouco mais.

— Não rolaram muitas vezes... – disse. – Na verdade foram só três. 

— Foi legal? – Lily indagou.

— Sim. – ela respondeu. – Quer dizer, eu acho que sim. Nós dois queríamos, mas, não sabíamos muito bem o que fazer.

— O tempo ajuda nesse quesito. – Dominique comentou. – Você vai sentir isso com o Malfoy. 

— Não sei...

— Como não? Ele não quer?

— Não, ele quer muito. Eu que não me sinto confiante. – Rose assumiu. – Eu sinto que com o Scor é diferente. Tenho medo de, sei lá, decepcioná-lo…

Talvez não necessariamente pelo sexo, Rose pensou. Ela ocultou essa informação.

Domi deu batidinhas no ombro da prima.

— Seu corpo vai te dizer quando for a hora certa, Rosie. Apenas o escute.

Rose assentiu. Ela pensou em dizer mais alguma coisa, quando mais atrás, do outro lado da última mesa, uma sextanista da Sonserina levantou-se correndo do banco. Ela foi seguida por mais algumas pessoas. 

Do lado oposto, Roxanne franziu a testa quando viu Scorpius, James e Fred também se levantarem rapidamente. 

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo?! – bradou Violet, confusa.

Na mesa, algo pareceu estranho para Rose. Ela viu, devagar, os grandes pratos de café da manhã tremeluzirem. 

— A sexta prova. – disse lentamente.

Scorpius, apressado, parou logo atrás da garota.

— Temos que ir. – falou.

Rose o acompanhou de imediato.



...

 

 

Acompanhados por Hagrid, dezoito alunos subiram a montanha além do ginásio de quadribol. O inverno estava quase no fim, no entanto, era possível ver montantes de neve em alguns pontos do caminho. O vento também era frio.

O guarda-caças acenou para os professores que os esperavam mais à frente. Neville acenou de volta. Os garotos se aproximaram. Em cima de uma grande mesa de pedra haviam nove instrumentos apoiados. Gotículas opacas de orvalho faziam a luz da tarde tremeluzir nas superfícies.

— Fico feliz que vocês tenham vindo preparados para a escalada. – disse o professor.

— Belo look, Malfoy. – Fred esticou-se e sussurrou, enquanto analisava o casaco preto engomado que Scorpius usava.

— O pequeno lorde. – Rose completou a brincadeira, também em um sussurro.

— Vão a merda vocês dois. – Scorpius respondeu.

Os primos riram. Neville continuou a falar mais à frente.

— As duplas, por favor, escolham um representante para vir até a mesa. 

De imediato alguns alunos andaram até a frente. Rose e Fred seguiram os colegas. Lorcan Scamander foi o último a se aproximar do professor. Neville ergueu um saco de tecido amarronzado e estendeu na direção de uma das meninas da corvinal. A jovem inseriu a mão dentro da bolsa e puxou de lá uma pequena réplica de uma capa comprida. 

Ela franziu a testa. Neville apontou para mesa. Uma capa esverdeada descansava em uma das laterais. A corvina se esticou para pegá-la e logo em seguida retornou para o lado da sua dupla. Aos poucos, cada representante foi tirando os seus itens.

Rose foi a última. Quando ela puxou a miniatura de dentro do saco, já sabia o que havia sobrado para ela. Ainda assim, a garota achou bonitinho o pequeno arco-e-flechas na palma da sua mão. Ela agradeceu a professor e retirou o último item de cima da mesa de pedra.  

Quando todas as duplas já estavam com os seus pertences, Minerva McGonagall falou pela primeira vez desde o momento que chegara ali. 

— Olá a todos os competidores. – os saudou. – Espero que estejam todos bem nesta manhã.

Alguns alunos assentiram com a cabeça.

— A jornada de vocês na disputa acadêmica está muito perto do fim. Chegamos a penúltima prova. Muito daqueles que começaram, ficaram para trás. Vocês persistiram. Tenho certeza de que, a essa altura, todos os que estão aqui já foram testados em diversos quesitos.

Scorpius bem poderia confirmar isso.

A diretora seguiu. – Contudo, também tenho certeza de que vocês não foram testados o suficiente. E essa prova vai exigir um pouco mais de vocês.

Minerva fez um sinal para Neville.

— Os representantes que sortearam os instrumentos, entreguem a varinha ao Hagrid, por favor. 

O clima ficou estranho por alguns segundos. Rose e Scorpius se olharam brevemente, ambos apreensivos. A garota, junto com Fred e os outros, levaram as suas varinhas até Hagrid. O guarda-caças sorriu, amável como sempre, enquanto as recebia. 

— Bom, as regras são simples. – continuou Neville.

No topo dessa montanha existem quatro chaves. Apenas um integrante da dupla pode ficar com a sua varinha. O outro, ficará com o objeto sorteado. Existirão obstáculos pelo caminho e esse objeto pode ser usado da forma que vocês quiserem, a favor de vocês. Nenhum de nós estará os fiscalizando. Nenhum de nós estará atrás de nenhuma das duplas. O que acontecer na montanha, fica na montanha.”

— A chave somente será liberada quando os dois integrantes da dupla a puxar da pedra. As primeiras quatro duplas que chegarem até o topo e pegar as chaves, estarão classificadas para a prova final.

Scorpius refletiu sobre o discurso do professor. Algo o dizia que as maiores adversidades encontradas no caminho seriam os próprios competidores. Rose parecia inquieta ao seu lado. Malfoy segurou a sua mão livre.

— Vai dar tudo certo. – ele falou.

— Eu espero que sim. – a ruiva respondeu. – É tão estranho estar sem a minha varinha. 

O professor Longbottom suspirou brevemente. – Então, alguém possui alguma dúvida?

Fred ergueu uma pequena bolsa de couro que havia sido sorteada por ele. 

— O que é isso? – inquiriu. 

— Isso é areia, Sr. Weasley. – respondeu McGonagall. 

— Areia? Vocês me deram areia?!

— Na verdade foi o senhor que a sorteou.

— Vocês estão brincando comigo, né?

As expressões faciais totalmente indignadas do garoto fez os presentes soltarem gargalhadas. Até mesmo a diretora deu um sorrisinho de canto. 

— Cada item tem a sua função, Sr. Weasley. Tenho certeza de que o senhor descobrirá como utilizá-la. – disse Minerva.

Fred permanecia revoltado, ainda que escolhesse não argumentar mais com a mulher. Ao ver que todos os competidores estavam prontos, Neville deu a largada. As duplas seguiram em direção ao topo da montanha, cada uma por um caminho específico. Enquanto se afastavam, Rose ouviu Fred voltar a resmungar diante dos comentários sarcásticos de James.

— Por Merlin, Jay. Cale essa boca ou a única função dessa areia vai ser eu enfiá-la no seu...

Antes que o primo terminasse de falar, ela e Scorpius caíram na risada. 

 

 

...

 

 

Malfoy puxou um galho fino de árvore para o lado enquanto atravessava a trilha em passos largos. A sua frente, Rose segurava o arco com as duas mãos. Nas suas costas, o bornal com as flechas quase não se mexia. O objeto parecia pesado, embora a garota seguisse sem reclamar. 

— Você está calada desde quando saímos de lá. – disse Scorpius. – O que houve?

— Apenas estou preocupada com a prova. – Rose respondeu.

Rose permanecia pensativa, entretida no seu caminhar e nos seus próprios pensamentos. Sua cabeça estava uma verdadeira bagunça há algumas semanas.

Ou meses, ela diria.

Quem sabe há anos.

Instintivamente, ela puxou uma das flechas que estava às suas costas e a encaixou na saliência do arco. Fez uma nota mental sobre agradecer ao Tio Charlie na próxima vez que o encontrasse. Ele havia  a ensinado a empunhá-lo durante algumas tardes de brincadeiras ao longo das férias no quarto ano.

— Ah, eu recebi outra coruja hoje mais cedo. – continuou o loiro. – Uma carta. 

— De quem?

— Alicia Spinnet. 

A garota engoliu a seco.

— Era sobre o feitiço. – Malfoy completou.

Os centímetros entre os dois foi o suficiente para que Scorpius não visse a reação de Rose.

— O que dizia? – indagou ela.

— Parece que estão bem perto de ter alguma resposta sobre o que aconteceu de errado com a poção. Ainda essa semana a Srª Spinnet deve entrar novamente em contato comigo.

— Hum...

Rose não conseguiu disfarçar o seu incômodo com a informação. Ela queria muito que a cura para o Scorpius fosse encontrada, mas não era isso que estava sob julgamento. Seu medo era de que a resposta final para o erro da poção fosse a mesma que ela conjecturava nos seus pensamentos ultimamente. 

A resposta de que fora ela realmente a culpada.

Scorpius adiantou-se e puxou mais uma sequência de cipós que obstruíam a saída da trilha. A dupla deu de cara com uma pequena clareira. O sol de fim de tarde batia em direção ao centro vazio do espaço. Ao fundo, o local onde as novas árvores cresciam parecia bem mais escuro.

O casal andou alguns metros para dentro da área. Rose arrepiou-se enquanto analisava o lugar. Ela teve a estranha sensação de estar sendo observada pela vegetação ao redor.

Estariam eles em uma emboscada? Pensou. 

Rose quase gritou quando Scorpius tocou o seu ombro. 

— Está tudo bem?

— Claro que sim, Scor.

— Ruiva, eu te conheço.

Malfoy olhou diretamente para os olhos da namorada. – Você não me pareceu muito contente com a notícia…

Ele ainda se referia a carta de Alicia.

— É óbvio que eu fiquei feliz. – retrucou a garota. – É só que...

Mil palavras vieram a sua garganta, mas Rose não conseguiu prosseguir com a resposta. O mundo ficou em silêncio na sua cabeça.

— É só que…?!

Ela não respondeu. As sobrancelhas vermelhas franzidas formavam rugas no centro da sua testa e margeavam olhos frenéticos, que observavam o ar de um lado para o outro.

O loiro pareceu chateado demais para observar ao redor. Ele repetiu com certa impaciência. – Rose, é só o que o q…

As mãos de Rose se moveram agilmente. A garota ergueu o punho e puxou a corda de metal do arco. A flecha passou a centímetros do rosto de Scorpius.  O garoto virou-se rapidamente. Ele viu um animal amarronzado tombar no chão. 

A ruiva foi a primeira a correr até o centro da clareira. Malfoy a seguiu.

— Ele está morto?

— Não.  – disse a menina. – Ele parece estar… desmaiado…

Ela não tinha certeza.

— Rápido, me ajude.

Um grande cervo jazia com uma flecha cravada perto da clavícula. Rose abaixou-se rapidamente. Ela afagou com cuidado a cabeça do animal antes de dizer, pesarosa:

— Me desculpe. Isso vai doer um pouco.

A garota puxou a flecha de uma vez. O cervo abriu os olhos e emitiu um berro alto e gutural. Com a mesma rapidez da namorada, Scorpius agitou a varinha na direção do animal e o buraco do seu ferimento fechou. O veado levantou em um rompante assustado que quase atingiu os adolescentes com o seu chifre frondoso, e correu cambaleante para dentro da floresta. 

Scorpius coçou a cabeça. Sua outra mão apertava a varinha com força.

— Que porra é essa… – disse baixinho, em um tom quase agudo.

Rose ainda estava ajoelhada no chão, de costas para ele.

— Você está certo. – ela continuou sem encará-lo. – Eu não estou muito bem. Acho que precisamos conversar.

—  Certo, ruiva.– o garoto pigarreou.– Daqui a pouco a gente… hum… a gente faz isso.

Malfoy deu lentos passos para trás. Sua voz permanecia baixa.

— Porque agora eu acho melhor a gente dar o fora daqui.

Confusa, Rose virou a cabeça em sua direção. No entanto, a sua confusão passou no exato momento que ela viu, cerca de 20 metros adiante, na margem escura da clareira,  alguns pares de olhos vermelhos a observá-los.

E a sombra ficava cada vez mais alta.

— Agora! – gritou o loiro quando a criatura avançou.

 

 

 

Aparentemente nenhum feitiço funcionava de maneira eficiente contra o monstro. Scorpius tentou cortar, algumas vezes seguidas, as cabeças que saiam do tronco da criatura. No lugar delas, no entanto, apareciam o dobro das estruturas. Juntas, as cabeças se dispunham em uma configuração de uma gigantesca flor-de-lótus.

Rose descobriu que as flechas conseguiam colocar as cabeças para dormir quando atingidas em cheio. O que, por sinal, não era uma tarefa muito fácil. Por sorte, a garota estava desempenhando a tarefa da melhor forma possível. O problema agora era que o bornal estava quase vazio. As flechas estavam no fim.

E a cabeça principal continuava bem acordada.

— Eu tenho uma ideia. – bradou Malfoy.

Os dois corriam por dentro da floresta. Atrás deles, o monstro rugia em seu curso. Seu corpo robusto e os seus movimentos descontrolados envergavam algumas árvores durante a sua passagem. Scorpius viu um tronco ser arrancado pela raiz enquanto as cabeças desfalecidas se arrastavam pelo caminho.

— Scorpius, não! – gritou Rose de volta. – Eu só tenho três flechas.

Mas se o loiro escutou, resolveu ignorar. 

— Ei, feioso! – ele chamou atenção das cabeças quando usou a varinha para conjurar faíscas em sua direção. Quando as fagulhas atingiram a criatura, ela berrou ainda mais alto, enraivecida. 

Scorpius desceu a ribanceira em direção ao córrego com o monstro em seu encalço. Suas roupas estavam empapadas de suor e os seus pés doíam da corrida no solo pontiagudo. Gotículas de saliva atingiram os seus braços e a sua nuca. O garoto achou que seria pego no momento que sentiu a baforada quente da criatura nas suas costas.

Um zunido irrompeu o ar e a flecha atingiu a cabeça central bem entre os olhos. O monstro levantou as patas dianteiras, em meio aos gritos, contudo cambaleou logo depois, dobrando os joelhos. Seu corpo caiu de vez sobre o córrego. 

Assim que viu a criatura adormecida, o Scorpius jogou-se no chão. A água gelada molhou os seus cabelos e escoou através do casaco brunido.

Rose desceu o talude, derrapando levemente nas pedras, e andou até o namorado.

— Você ficou louco? – apesar da pergunta ela sorria. – Vem,  levanta.

— Deixe-me desmaiar junto com ele. – respondeu o garoto. 

O monstro bufou em seu sono.

— Tem certeza?– insistiu Rose.

Malfoy levantou rapidamente.



 

 

O casal andava há muitos minutos em silêncio. Minutos esse, seja dito de passagem, de paz. O sol estava prestes a se pôr quando eles chegaram ao topo da montanha. Ao tempo que se aproximavam, o som de discussão ficava cada vez mais alto.

James Potter estava amarrado próximo à beirada do penhasco. Rose reconheceu a corda como um dos itens que estavam em cima da mesa de pedra no momento do sorteio. 

Fred xingava um garoto de cabelos castanhos.

— Corbey? – chamou Scorpius.

O torço do lufano parecia uma armadura e Rose arriscaria dizer que ele possuía duas vezes da sua altura. Christian Corbey mudou o alvo para a direção de Malfoy. Esse apontou a varinha de volta.

— Malfoy. – o garoto olhou para o lado. – Weasley.

— Essa varinha não é sua. – disse Rose. – Você sorteou o objeto. – ela sinalizou para a corda que prendia James.

— Isso não é da sua conta.

— Talvez seja.

Christian ameaçou agitar a varinha, porém, ele pareceu desistir. 

Temporariamente.

Ainda sem perder contato visual com a dupla, o garoto voltou a apontar a varinha para James.

— Se vocês fizerem alguma coisa, ele cai. – avisou.

James se debatia, tentando se soltar da amarra.

— Você não vai conseguir pegar a chave, Corbey. Pelo menos não até o seu amiguinho acordar. – falou Fred.

Do outro lado da grande távola de pedra onde estavam as duas últimas chaves, dois pés descansavam horizontalmente na grama molhada. O outro integrante havia sido estuporado por James. 

— Não tem problema. Eu posso esperar. – respondeu Christian.

— Vocês não precisavam ter nos atacado. – gritou Jay.

— E por quê eu perderia essa chance?

Apenas Rose viu quando o outro integrante, o que fora nocauteado, moveu-se lentamente, arrastando-se para mais perto da mesa. Devagar, a ruiva puxou uma das flechas que estava às suas costas. 

— Rosie… – Malfoy a olhava de canto. – No que você está pensando…?

— Só seja rápido. – disse ela.

Rose brandiu o arco.

— Nah, Weasley… – repreendeu Corbey. – Você não vai fazer isso.

— Ah, eu vou sim.

 A flecha seguiu reta. Diferentemente do esperado pelos garotos, Rose atingiu o braço do corvino que acabara de se levantar, fazendo-o apagar mais uma vez. Uma grande confusão ss formou logo depois. Completamente em cólera ao ver sua dupla novamente ao chão, Corbey cumpriu a sua ameaça .

— Estupefaça!

A luz vermelha do feitiço atingiu em cheio o peito de James. O garoto cambaleou para trás, tentando não deixar que o peso do seu corpo o empurrasse para o abismo. No entanto, mesmo com todos os esforços, isso não foi possível. Scorpius correu em sua direção. 

Enquanto isso, Rose desviou de outro feitiço lançado por Corbey. A ruiva conseguiu pegar a última flecha do bornal, mas escorregou quando o garoto quase a atingiu com um feitiço paralisante. Desajeitada, Rose atirou mesmo assim. A flecha passou a centímetros de Christian, entretanto, não o atingiu.

Esse momento, porém, foi o suficiente para desestabilizá-lo. Ainda que por alguns segundos. Fred não perdeu nem mesmo um segundo a mais. O ruivo avançou na direção de Corbey,  lançando a areia em seus olhos. Corbey urrou de dor e deixou cair a varinha no chão. 

Ele apertava os olhos. – Malditos, Weasleys!

Foi a última coisa que ele disse antes de Fred atingi-lo com um soco.

Na beira do penhasco, James permanecia pendurado pelas cordas que até pouco tempo atrás foram o seu martírio. As fibras se engancharam nas lascas da rocha, dando-lhe alguns minutos a mais. Malfoy esticou-se pelas pedras para puxá-lo. O loiro conseguiu arrastá-lo por alguns centímetros, até alcançar a base das cordas. James segurou-se em alguns cipós de vegetações próximas, o que facilitou para Scorpius soltá-lo. 

Os dois se rastejaram para longe da margem do abismo.

— Obrigado. – falou James.

Sua voz rouca quase não saia da garganta. James tinha marcas vermelhas pelo rosto, pescoço e mãos.  Várias partes da roupa estavam rasgadas e o sangue jorrava copiosamente do seu nariz, o que indicava que ele deveria tê-lo quebrado na hora que bateu o rosto na quina da rocha, durante  a queda.

Ofegante, Scorpius foi o primeiro a levantar. Ele ofereceu, outra vez, a mão para James.

— Me agradeça quando pegar a chave. – disse com a respiração acelerada.

James sorriu e concordou em silêncio  antes de aceitar a ajuda para levantar.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Me deixe saber que essa nossa história também não morreu.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Baby Sitter" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.