‘’Se você me dissesse para chorar por você, eu poderia
Se você me dissesse para morrer por você, eu faria
Olhe para o meu rosto
Não há preço que eu não pague
Para dizer estas palavras a você’’

—Always, Bom Jovi.

William

Todos tinham embarcado no Vingança, inclusive Katherine. Faltava apenas o capitão, que esperava seu último pirata descer para o barco.

Assim que William iria descer as escadas feita de cordas, James se aproximou com as mãos no bolso da calça.

—Posso ir com você?

O irmão mais velho do pirata o olhou e sorriu ironicamente.

—Nossa, claro.

—Qual é, Will... Eu sei que o que eu fiz foi errado, mas deu tudo certo, não é? Você conseguiu ficar com a garota e seu filho está a salvo.

—Quer que eu te agradeça?

—Não. Só quero que talvez você considere que se não fosse por mim, a princesa não saberia que é filha de um deus, seu filho iria continuar se escondendo e você teria que deixar a mulher que ama em Sunrise.

—Isso só aconteceu porque ela é filha de Aegir, James. Se fosse por você ela já estaria morta e talvez até meu filho —William o olhou rispidamente.

—Só fiz o que seria melhor pra nossa família.

—Você chama isso de família? —o Thatch riu. —Um pai que agrediu a vida inteira nossa mãe, que iria me matar se a maldição fosse quebrada. Ah, além do meu irmão que me traiu. Isso é família pra você?

James abaixou a cabeça.

—Não quero ficar no Death, William. Eu posso ajudar você.

—Você vai me ajudar mantendo distância —o pirata desceu as escadas e entrou no barco.

—Eu protegi Thomas enquanto você estava recebendo chibatas! Eu protegi seu filho! —James gritou se apoiando na amurada na tentativa de convencer o irmão.

—Depois da merda que você fez, isso não significa porra nenhuma —William olhou para o pirata e seus homens que o esperavam começaram a remar para o Vingança.

Sua tripulação estava a todo vapor, alguns limpavam o chão e retiravam os corpos da batalha que ainda estavam no convés, outros consertavam buracos na amurada feitos por balas de canhão e desfaziam nós para soltar as velas.

Em meio a todo aquele movimento, William não conseguia encontrar a princesa. Ele então subiu na popa e um de seus homens, o Lyns, se aproximou, estendendo sua capa, chapéu e espada.

O capitão sorriu fraco para o rapaz e vestiu o que ele entregou. O Vingança ainda estava preso por cordas ao Death, mas seus homens já se incumbiam de cortá-las.

—Viu a princesa? —William perguntou ao arrumar o coldre na roupa.

—Ela estava na proa, escrevendo uma carta.

O capitão então desceu e foi andando para encontrar a garota. O que ele mais queria era tê-la em seus braços.

William viu a menina sentada na amurada e seu coração já começou a bater mais rápido. Ela colocava uma carta em uma garrafa, e fechando com uma rolha, a lançou no mar.

—Decide se casar comigo e nem me convida para um jantar antes —ele sorriu se aproximando.

Katherine o olhou e se levantou sorrindo.

—Desculpa não ter falado antes com você, eu não planej…

William não esperou a princesa acabar de falar e a abraçou, passando as mãos em seus cabelos e cheirando seu pescoço.

—Achei que tivesse te perdido —ele suspirou tocando o rosto da menina.

—Tá tudo bem, Will —ela sorriu passando os braços pela nuca do rapaz.

—Como descobriu ser filha de Aegir?

—Os tubarões não me atacaram. Eles me levaram até meu pai —Katherine acariciou os cabelos de William. —E parece que alguém aqui ficou arrasado.

—Que nada. Foi emoção por não ter mais um ponto fraco —ele brincou. —Escuta… Eu não quero que a gente seja apenas um acordo para você ter um exército.

—O que quer dizer com isso?

—Quero dizer que eu… Quero fazer do jeito certo com você —ele sorriu de canto, estava sem jeito em falar, já que nunca havia feito isso. —Tipo… Um encontro, sabe?

—Um encontro —Katherine riu.

—Você aceita?

—Hum... —ela fingiu pensar. —Sua sorte é que eu não tenho nada de interessante pra fazer hoje.

—Já que a mademoiselle concorda, ao anoitecer venha para o convés... Até lá, não saia da cabine —William sorriu.

—Você não manda em mim —Katherine beijou a bochecha do pirata que se arrepiou. —Farei isso porque eu quero —ela piscou e foi até a cabine, enquanto William a olhava.

(...)

Katherine

A princesa dormiu o resto da tarde, ela estava exausta. Depois de um banho, Katherine encontrou o vestido que ela usava quando foi sequestrada por William. Ela resolveu o vestir, matava um pouco a saudade que sentia de sua casa. Se olhando no espelho, ela fez um penteado semipreso com tranças nas laterais. Depois de suspirar, resolveu sair da cabine.

—Ual —Katherine sorriu olhando para o convés.

Várias lâmpadas presas em fios dourados estavam presas desde o mastro do tombadilho até o último mastro perto da proa.  Havia sido colocada uma mesa de madeira circular no centro do convés e perto da amurada do lado direito, cerca de seis piratas, três com violões, dois com gaitas, outro com um violino.

—Gostou? —William disse descendo as escadas do tombadilho. Ele vestia uma camisa vermelha escura um pouco aberta e um sobretudo preto. Katherine suspirou o olhando e não respondeu. —A princesa ainda sabe falar? —ele riu com a reação da menina.

—Anh... Onde você conseguiu tudo isso? —ela disse ainda o observando.

—Minha tripulação saqueia muitas coisas desnecessárias —ele sorriu. —Mas agora algumas tiveram uma função.

—William, isso está... Maravilhoso. Até me lembra um palácio.

—Essa é a intenção —ele estendeu o braço e Katherine o segurou rindo.

—O que está tentando fazer?

—Me parecer um príncipe —William disse parando quando chegaram na mesa e puxou a cadeira para Katherine. —Estou conseguindo?

—Creio que sim, meu senhor —ela estendeu um pouco o vestido, fazendo uma reverência.

William fez um sinal para os piratas que começaram a tocar uma música chamada Vivir Sin Aire, muito comum entre eles.

—Desde quando piratas fazem isso? —Katherine disse olhando os homens.

—Não somos tão brutos igual você costumava ouvir, majestade —o capitão sentou-se na cadeira a frente.

—Okay... E então, sobre o que o ''príncipe’’ quer falar —ela sorriu.

—Sobre nós —ele a olhou e um outro pirata se aproximou servindo vinho. —Eu estive pensando, em tudo que acontece com meu corpo quando você me toca... E acho que tenho uma explicação.

—Diga.

—Bem, a maldição que um ancestral seu jogou em minha família, me faz ser ligado ao mar. E como você é filha do deus que o criou, talvez isso me faça ser ligado a você.

—Acertou —Katherine sorriu. —Meu pai me disse que eu sou uma extensão do mar, que ele corre em minhas veias. Então, acho que você está certo.

—Sabia que tinha uma explicação.

O mesmo pirata que serviu o vinho, se aproximava com uma bandeja de saladas e frutos do mar. Os dois começaram a comer e Katherine ficou pensativa.

—Will, você acha que vamos ganhar a guerra?

—Vejamos... Sua única estratégia é os piratas?

—Sim.

—Vai ser mais difícil, mas a gente ganha —William disse como se fosse óbvio.

—Como pode falar com tanta certeza?

—Kate, os piratas jogam sujo. A gente não faz uma luta limpa igual os militares. Vai ser moleza.

—Eu espero… Minha família depende disso. —ela ficou um pouco triste ao pensar no que Sunrise estaria passando.

—Então —William notou a princesa ficar um pouco abatida. — É assim que se corteja uma princesa?

—Will, você sabe que eu sou prometida a alguém desde pequena —Katherine disse dando um gole na bebida. —Eu nunca fui cortejada.

—Tá, já sei que você tinha uma vida bem triste. —ele sorriu a olhando.

—Tirando as regras, não era tão triste assim.

—Qualquer coisa que envolva viver preso em um palácio me parece horrível —William disse se encostando na cadeira.

—Bem, você vai se casar comigo... —Katherine sorriu de canto e William olhou para o chão. —Não pensou nessa parte, né? Que você terá que ser rei.

—Nunca pensei que deixaria o mar —o pirata suspirou bebendo o vinho.

—Se quiser eu tento outro acordo com seu pai…

—Nem pensar —William a olhou. —Agora que consegui ter você, não há nada que me faça abrir mão disso —Katherine ao escutar aquilo, sorriu um pouco envergonhada. —Vi você escrever uma carta, era pro Oliver?

—Avisei ele que estamos bem e que em sete dias chegaremos com um exército —Katherine disse e olhou para a lua. —Estou com medo, Will.

—Pode parar —William se levantou e foi até ela estendendo a mão quando os piratas começaram a tocar Always —Vem cá. —Katherine o olhou e a segurou, se levantando.

Eles se afastaram um pouco do centro e William aproximou seus corpos. Os dois se olhavam enquanto o Filho do Oceano conduzia a dança lentamente, no ritmo da música. Depois de um tempo, a princesa quebrou o silêncio.

—Eu tenho que pedir perdão —Katherine colocou sua cabeça no peito do pirata. —Por toda dor que você passou enquanto seu pai lhe açoitava por minha causa.

—Aquilo não foi nada comparado ao que eu senti quando pensei que tivesse te perdido —William beijou sua cabeça. —Só os deuses sabem a tortura que foi ver você cair no mar... —ele disse —A verdade é que... Eu estou sempre me arrastando de volta para você, alteza. —William parou a dança e se ajoelhou olhando nos olhos da princesa. —Estive ocupado demais sendo seu, e eu quero continuar pro resto da minha vida... Então eu te pergunto, Katherine Lecerf —o Thatch sorriu, tirando do bolso uma caixinha de joia e a abrindo —Você me quer arrastando de volta para você?

Katherine não tinha reação. A surpresa e felicidade da menina em ver William a pedindo em casamento dessa forma a invadia e toda a ansiedade e preocupação com a futura guerra sumira de sua mente. A princesa observou o anel, em que o aro era todo cravejado por diamantes brancos, e um único e solitário cristal com formato de gota brilhava nas mãos do pirata. Katherine olhou para William que sorria para ela, esperando uma resposta

—Sim! —a princesa disse eufórica. —Sim, sim, sim! —ela repetiu com lágrimas nos olhos.

O pirata o colocou em seu dedo e assim que se levantou, Katherine pulou em seus braços, o beijando.