Fascinação escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 7
Ato 6: O anseio que vence a prudência.


Notas iniciais do capítulo

Como sempre uma demora gigantesca para atualizar (o capítulo ta pronto a quase um mês, mas ainda não tinha conseguido pensar num bom título. Sim, esta sou eu, quebrando todos os meus limites e records de escritora com bloqueio criativo. q)

Façam uma boa leitura. ♥



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Salazar dissera a si mesmo, várias e várias vezes, que sua mãe tinha razão, já que ela podia prever o futuro, e suas decisões levavam em conta o bem-estar dele. Era o que ela própria dizia, e que outros membros do circo repetiam, então apesar de certa resistência por parte dele, sempre acabava cedendo a essa verdade.

Entretanto, quando a proibição que já estava esperando chegou, não conseguiu evitar de se sentir irritado. Ele era uma criança e não havia muitas pessoas da idade dele ali dentro, e os dois indivíduos que se igualavam nessa questão estavam fora do círculo social que ele podia manter.

Pela primeira vez ele não acatou a ordem, e sabendo que as palavras não seriam suficientes, fugiu da presença de Artemísia. Ouviu a voz dela chamando-o de volta, cada vez mais longe, mas não parou e nem olhou para trás. Salazar precisava de distância, precisava de uma certa liberdade, e era difícil encontrá-la com o Circo em movimento. Haviam muitos locais nos quais poderia se esconder, claro, mas eles eram finitos. Se Artemísia inicia-se uma busca, ela acabaria encontrando-o.

Ele afastou os pensamentos pessimistas enquanto corria. Precisava encontrar Tray, ele saberia o que fazer. Não sabia porque tinha essa sensação, talvez porque passara a ver o garoto como alguém mais independente do que parecia. Talvez fosse pela sua inteligência ou sagacidade… apesar de ambos parecerem ter a mesma idade, Tray possuía algo diferente.

Salazar ainda não entendia muito bem o que era malícia, mas se soubesse do que se tratava, teria palavras para definir essa diferença.

Ele saltou sobre algumas coisas que estavam no caminho, causando protestos do grupo de teatro, e corrigindo sua rota em meio a corrida para a tenda de Kron. Lembrava-se do amigo gostar de ficar nas suas imediações, mesmo que tenham ficado juntos por poucos dias era sempre por ali que podia encontrar Tray quando o procurava. Felizmente, não houve decepções quanto àquilo, enquanto se aproximava da maior tenda de todo o Circo lá estava ele, sentado tranquilamente sobre alguns caixotes e mastigando algo que parecia ser um palitinho de dente.

Em outra situação ele teria perguntado de imediato por que ele estava com aquilo na boca, mas qualquer ideia mais ordinária foi lançada as favas junto com o seu bom senso e ele logo achegou-se mais perto de Tray, cortando imediatamente as boas vindas dele e olhando desesperadamente ao redor, na esperança de achar um lugar para se esconder.

— Eu preciso de um esconderijo… na verdade, você precisa. Não, nós dois precisamos!

— Eu não to entendendo muito bem o que você está fazendo, é alguma brincadeira nova?

Salazar negou tão fortemente com a cabeça que sentiu uma tontura após fazê-lo. Após levar uma das mãos para o local na esperança vã de fazer aquilo passar, ele apoiou as mãos nos joelhos quase a beira das lágrimas.

— Nós precisamos de um lugar!

Tray chegou a encará-lo por mais algum templo, claramente não entendendo muito bem o que estava rolando, mas segurou o pulso de Salazar e levou uma das mãos a frente dos lábios, indicando que deveria fazer silêncio. Ele passou seus olhos ao redor, verificando se não havia ninguém olhando, e puxou-o na direção à Tenda das Feras. A movimentação não passou despercebida por Salazar, que quase de imediato começou a se debater para puxá-lo de volta, mas Tray franziu o cenho e fez um sinal baixo de silêncio.

— Confie em mim, não vão nos encontrar aqui. Não por enquanto, pelo menos. - disse, e então passou pela entrada. Kron não estava a vista, era possível que estivesse trabalhando em outras coisas no momento. Acreditando que Tray era inteligente o suficiente para não levá-los para uma situação perigosa ou problemática, e sem qualquer outra ideia em mente para evitar aquilo, Salazar acabou seguindo-o.

Eles não adentraram muito profundamente na tenda, para o alívio do garoto. Mesmo assim, estar ali sem Kron presente era errado. Todos os poros dele pareciam gritar para que saíssem dali novamente, a ideia de ser pego por sua mãe era muito mais agradável. Pálido, ele engoliu em seco e olhou em volta, para a selva que havia ali dentro, algo possível apenas por meio de magia. Salazar procurava por olhos ou vultos na mata, algo que indicasse que seus donos estavam por perto. Não viu nada.

— Tray, aqui é perigoso, se algum dos animais de Kron nos pegar…

— Eles não vão se aproximar. Kron os alimentou a pouco tempo. E eles respeitam a entrada.

— Por que…?

Tray deu de ombros num movimento bastante tranquilo, como quem diz que poderia ser qualquer coisa. Talvez fosse uma reação instintiva a chegada do mestre deles. Condicionamento. Mas parecia haver bem mais que isso também, mesmo que Salazar não tivesse juntado coragem para questionar sobre de novo.

Tray pedira para que confiasse nele, então confiaria.

Era uma decisão bastante estúpida mas, considerando toda a sua vida até então, não havia razões para Salazar duvidar. Tirando o fato de que sua mãe dissera-lhe justamente para que ficasse longe dele. Ela falava a mesma coisa de Flamie, e nunca ocorrera nada demais. A raiva por conta da proibição veio novamente, e ele assentiu com a cabeça, sentando-se ao lado de Tray, que havia acabado de acomodar-se perto de uma árvore ali perto.

— E então… o que aconteceu?

— É…

— É?

Salazar encarou-o e enterrou o rosto nas mãos quase que imediatamente, corando de vergonha. Ele acabara de perceber que a razão pela qual fizera aquilo tudo e agira de maneira intempestiva era meio… sem sentido, talvez.

— Bem… minha mãe, ela… ela não quer que nós andemos mais juntos.

— Ah é? Por que? — Tray questionou de uma maneira quase surpresa.

— Ela acha… — Salazar ergueu um pouco a cabeça para olhá-lo e apoiou-a de novo, dessa vez nos braços. — Não fique chateado com o que eu vou dizer! Não é o que eu acho…

— Bem, eu prometo que não vou, se é assim. — o garoto garantiu, erguendo uma sobrancelha com aquela atitude inusual do amigo. — O que foi que ela disse?

— Hum… ela disse que você era alguém potencialmente perigoso para se juntar, e que de qualquer forma quando chegarmos a Capital vamos deixá-lo aos cuidados da família real, portanto era melhor que eu deixasse de andar contigo antes que a separação se tornasse pior.

— Oh…

Antes que Tray pudesse dizer algo sobre isso, Salazar já estava erguendo as mãos a cabeça e bagunçando os próprios cabelos por nervosismo.

— É estúpido não é? Quer dizer… eu amo a minha mãe e a respeito muito, mas ela não deveria fazer essas coisas, sabe? É o mesmo com Flamie, eu não posso chegar nem próximo dela que começam os sermões sobre ela ser perigosa para mim e tudo o mais. E isso não é justo, nem ela nem você fizeram coisa alguma para ela me proibir de vê-los!

O garoto segurou levemente seus ombros numa tentativa de acalmá-lo.

— Bem… isso tudo é bem triste e injusto, mas ela é sua mãe não é? Não é como se você tivesse outra opção além de ouvi-la…

— Se eu não morasse no circo, estaria livre. Livre para fazer o que eu quiser, quando eu quiser, e falar com quem eu quiser! — ele bateu as mãos contra os joelhos e subitamente inspirou. — Nós vamos fugir!

— Nós vamos…?

— Sim! — Salazar havia se erguido. Então pensou melhor e deixou-se cair sentado de novo. — Não vai dar certo, né?

Tray, por sua vez, soltou-o para que se movimentasse melhor, e acabou levando a mão ao queixo numa expressão que parecia pensativa, absolutamente inusual para uma criança da sua idade. As vezes ele fazia isso, e nelas Salazar tendia a observá-lo, esperando que surgisse alguma ideia.

— Talvez dê. — ele fitou-o longamente. — Você quer vir comigo?

Salazar engoliu em seco com a pergunta, mas depois de pensar um pouco, por muito menos tempo que Tray, assentiu com a cabeça. — Eu quero continuar sendo seu amigo.

— Nesse caso… precisamos fazer com que Esdras abra a Tenda Mestra.

— Hum… ele provavelmente abriria se visse que há algo errado aqui dentro! — dizendo isso, o garoto olhou ao redor. Teve a ideia de soltar algum dos animais dali para causar uma confusão, mas como Kron era o único que conseguia lidar com eles, temeu que alguém poderia sair ferido dessa situação. Além disso, eles permaneciam distantes da entrada, era como se realmente temessem passar daquela linha. Seria impossível para eles atraírem-nos para fora.

— E se usássemos Flamie? Ela é geniosa, como você disse. Se a provocarmos um pouquinho, podemos fazer com que faça um espetáculo, e Esdras seria obrigado a parar.

Uma sensação ruim passou pela mente de Salazar, mas ele afastou-a. Seria apenas uma provocação, e eles conseguiriam se libertar do Circo e fugir em meio a bagunça. Ele só precisaria tomar cuidado para não ir longe demais, mas era um bom garoto bem no seu fundo. Não era de sua natureza espezinhar nem passar dos limites.

Pelo menos não deveria ser.

Assentindo brevemente com a cabeça, ele levantou-se de novo e apoiou uma das mãos no ombro de Tray, repetindo o gesto que o outro acabara de lhe fazer.

— Vamos. Vai dar tudo certo. Eu estou com meu baralho da sorte no bolso!

— Baralho da sorte?

— Sim! Eu deveria usá-lo para treinar adivinhação, mas sou bem ruim nisso. Mesmo assim sempre trago-o junto comigo. — ele calou-se novamente. — Além disso, quando irmos embora, eu quero ter algo que lembre minha família.

— Você tem certeza disso? Talvez se falássemos com sua mãe, nós dois…

Salazar negou com a cabeça.

— Ela não vai ouvir, nunca ouve. Ela vai dizer que assim é melhor, e pronto. — ele coçou a parte de trás da cabeça e sorriu de uma maneira um pouco triste. — Não quero brigar com ela também. É mais fácil assim.

Era visível que ele tinha receio de enfrentar a mãe. Ou meramente tinha respeito. Ou uma mistura de ambos. Salazar sabia que era incapaz de convencer Artemísia e preferira fugir. Enfrentar o mundo lá fora… o mundo que seu pai conhecera. De certa forma, não era apenas uma fuga por medo, era algo mais ligado a sua curiosidade pelo desconhecido, também.

A criança loira não disse nada, limitando-se a sorrir para ele por um tempo. Um sorriso angelical, puro como água que jorra das nascentes dos rios.

— O que foi?

— É isso que eu gosto em você, Sala. Vamos… vamos até Flamie.


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Notas finais do capítulo

Bem pessoal... segurem firme em seus assentos, porque agora a montanha russa está prestes a descer. :p
Aguardem pelo que está por vir (e tenham um pouquinho de paciência porque eu sou uma negação pra escrever as coisas rápido, infelizmente).

Kisses kisses e até a próxima. ♥



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