The Melting Snow escrita por honeychurch


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

por favor, me desculpem os erros, eu devia estar dormindo :)
espero que gostem



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Era noite quando a minúscula comitiva de lady Olenna chegou na ancestral fortaleza Tyrell, mas Sansa não se importava que não pudesse ver nada de Jardim de Cima além de uma silhueta negra, ainda era o lugar mais lindo onde já estivera. Em um segundo todo o horror de Porto Real parecia o pálido resquício de outra vida, uma vida para a qual ela não precisaria voltar.

                O quarto que deram para ela era grande, bonito e confortável. As paredes eram cobertas por painéis de madeira entalhada com padrões imitando videiras. Havia macios tapetes de Myr no chão, e uma imensa tapeçaria na parede, mais colorida e exuberante do que qualquer uma que Sansa já tivesse visto. A cama era um belíssimo trabalho de marcenaria, com dóceis altos, por onde rosas douradas e metálicas subiam, e de onde uma torrente de musselina branca descia para formar as cortinas.

                Tinha tanto para ser visto, Sansa poderia ter passado a noite toda observando seu novo quarto, tateando a mobília e observando os mais delicados objetos que adornavam o lugar, mas no momento em que entrou ela descobriu o quanto estava cansada. A viagem tinha sido longa, é verdade, e eles quase não fizeram paradas, mas não era por isso que estava exausta. Desde que seu pai tinha sido ferido nas ruas da capital, ela não tivera uma boa noite de descanso, ou paz de qualquer tipo, os dias só se tornaram pior, uma interminável sucessão de catástrofes. Quase não podia se lembrar de como era dormir tranquila e protegida entre as paredes de Winterfell.

                Mas não havia mais Winterfell para onde voltar, e nem família que ela pudesse reencontrar. Sansa esperava que pudesse fazer de Jardim de Cima seu novo lar.

                — Esse é o mesmo quarto onde fiquei na véspera do meu casamento, e também durante meus primeiros anos como senhora da Campina. Espero que seja do seu agrado, minha querida

                A rainha dos espinhos disse com a voz bem fraca, e Sansa respondeu com um sorriso de  satisfação. Aquele seria seu novo refúgio, ela pensou, e ninguém poderia lhe fazer mal. Ou ao menos não enquanto permanecesse nas graças dos Tyrell.

                Sansa deixou que a aprontassem para a noite, e finalmente pôde substituir o vestido de Porto Real por uma camisola de linho. As joias foram embora, e Sansa desejou nunca mais vê-las. O vestido podia ser queimado, e todos os adornos, inclusive a rede com ametistas que usara no cabelo, podiam ser arremessados em um rio sem que ela se importasse. Deslizou para os lençóis da cama, e dormiu com uma tranquilidade que já lhe era desconhecida.         

...

                No dia seguinte Sansa foi desperta pelo suave som de uma colherzinha de metal mexendo dentro de uma xicara de porcelana. Ela piscou os olhos algumas vezes antes de abri-los, e se espreguiçar no colchão. Ali a cama parecia mais macia, e os lençóis mais cheirosos. Sansa podia passar o dia inteiro bem ali, admirando seu novo quarto agora banhado pela luz do Sol, mas havia muito a ser feito, e muito mais a ser visto, ela não queria perder nem mais um segundo de sua recém adquirida liberdade.

                Se levantou rápido, procurando pelo barulhinho de metal contra porcelana, e para sua agradável surpresa ela não só encontrou seu dejejum já servido, como também uma tina de cobre pronta para um banho.

                Sansa não precisou nem de um segundo para decidir o que queria fazer primeiro. Ainda havia poeira da capital nela, vestígios de uma cidade terrível que tinham se fixado em sua pele, e se emaranhado em seus cabelos, mas a água de Jardim de Cima a deixaria limpa, então Sansa passou a camisola que tinha sido dada a ela pela cabeça, e afundou todo corpo na água quente. Quando voltou a submergir, ela abriu os olhos se sentindo tão pura quanto a neve de Winterfell.

                — Lady Olenna achou que a senhora fosse gostar — Uma das criadas disse exibindo um frasquinho de vidro colorido — São essências de Essos, e deixam a pele com a textura de uma pétala de rosa.

                A criada era uma criatura sorridente com um considerável espaço entre os dentes da frente, e cabelos castanhos que ficavam cobertos por um toucado branco. A outra moça, já era mais tímida, nunca olhava diretamente para Sansa, e seus cabelos loiros e encaracolados pareciam querer desesperadamente fugir da touca. Sansa quis muito que as duas gostassem dela.

                — Se lady Olenna acha que vou gostar, então tenho certeza de que vou.

                Esse foi o seu sim para as essências. Ela então teve suas costas esfregadas, seu cabelo perfumado, e pétalas de rosa jogadas em seu banho. Quando chegou a hora de ser vestida, Sansa temeu que lhe enfiassem o vestido de porto real, mas para a sua felicidade, as criadas lhe trouxeram um novo vestido. Era tão bonito, feito de seda em tons de lavanda, e decorado com bordados de pérolas no busto e nas mangas. Ela poderia ter rodopiado pelo quarto, exibindo um pouco da mais nova gentileza que os Tyrell lhes demonstravam, mas Sansa se conteve. Seu maior erro em Porto Real foi mostrar para todos o quão ingênua ela era, e se permanecia ingênua ali em Jardim de Cima, ela esperava pelo menos disfarçar o quanto pudesse.

                As criadas fizeram o que puderam com o cabelo molhado dela, e no fim prenderam nele um véu branco feito do mais delicado e leve tecido. O propósito do véu foi um mistério até que  lhe dissessem que Lady Olenna queria que Sansa a acompanhasse no Septo. Mas a grande surpresa veio quando ela abriu a porta e encontrou alguém esperando por ela com um sorriso embaraçosamente entusiasmado.

                Era o mesmo gêmeo Redwyne que ajudara lady Olenna quando ela resolveu deixar Porto Real. Sansa não podia dizer qual era o nome dele, Horas ou Hobber, ela nunca deu importância o suficiente aos dois a ponto de buscar algo que os identificasse.

                As bochechas dela adquiriram um leve rubor, ele estava ali, trocando o peso do corpo de um pé para o outro, sorrindo em antecipação e Sansa nem ou menos sabia o nome dele.

                — Ser... Redwyne! Eu não esperava encontra-lo.

                — Vovó pediu que eu te mostrasse o caminho até o Septo.

                E então simplesmente ele ofereceu o braço, e Sansa não viu opção que não fosse aceitar.

                — A senhora está muito bonita, na verdade a senhora é bonita, e cheira bem também.

                Era impressionante para ela que aquele tal Ser Redwyne fosse filho de uma casa tão importante, pois não havia graça alguma nem em seus modos, nem em sua aparência. Os elogios que ele lhe fez, ainda que Sansa acreditasse que fossem sinceros, eram tão simples e pouco comovidos. Bonita e cheirosa? Ele poderia muito bem ter dito o mesmo sobre uma torta recém assada. 

                — Obrigada, milorde é muito gentil.

                Sansa disse de qualquer maneira, ela não estava em posição de esnobar qualquer tipo de cortesia, por mais fraca que esta pudesse ser. O cavaleiro ao lado dela parecia contente o suficiente com a própria atuação, e por algum motivo começou a contar em detalhes como seus cavalos de justa tinham sido treinados. Ocasionalmente ela tinha de sorrir e dizer qualquer coisa que expressasse algum interesse no que ele tinha a dizer, o que não era fácil quando tudo em Jardim de Cima chamava mais sua atenção do que a conversa entediante de seu companheiro.

                Quando eles saíram do castelo principal, Sansa pôde ter um deslumbre da imensa fortaleza. A construção de onde ela tinha saído era imensa, mas não ocupava um terço de todo o círculo delimitado pelas altas muralhas.

                Verdade fosse dita, ela ficava fascinada por cada detalhe por onde passavam, uma fonte encantadora, um pátio convidativo, ou a entrada para um pequeno bosque, era tudo lindíssimo, mas ainda assim, em seus sonhos o castelo era diferente, todo banhado em música, dança, e sorrisos. Ali todo o movimento que ela via era de um castelo como qualquer outro. Era quase como o cotidiano de Winterfell, com criadas passando com água, um cavalariço indo por feno fresco nos estábulos, e um pequeno grupo de construtores reparando uma fissura.

                Mas Sansa decidiu que isso não a chateava, era reconfortante voltar a ter uma vida distante das vaidades da corte. O espírito doméstico era familiar e agradável, e parte dela desejou ouvir o som da risada de garotinhos, como um dia Winterfell teve o som das risadas de Bran e Rickon.

                — Você não acha?

                O rapaz ao lado dela perguntou, e ela o olhou constrangida, percebendo que tinha se tornado surda para a voz dele por um minuto.

                — Eu... Eu acho que o senhor está certo.

                Ele sorriu satisfeito mais uma vez, e Sansa começou a vê-lo de maneira ainda mais desfavorável. Havia qualquer coisa nos modos dele que expressavam que ele já tinha a afeição dela como garantida, e o que mais a irritava era saber que isso não era de todo errado pois ainda que não gostasse da companhia dele ela ainda era obrigada a se esforçar para demonstrar o contrário.

                — Pois eu sempre digo isso para minha irmã, mas Desmera tem um coração mole. Ao menos tinha, e imagino que ainda tenha. Parecem séculos desde que a vi.

                — O senhor não sente saudades?

                Pela primeira vez ela tomou genuíno interesse na conversa.

                — Bem... Desmera nunca teve nada sobre o que conversar. Ela não é como você, é tão boba, tem um desejo infantil de contrariar em qualquer conversa ainda que não tenha cabeça para conversas inteligentes. É bem mais agradável conversar com uma dama afável como a senhora.

                Sansa temeu descobrir o que ele achava que eram conversas inteligentes, mas continuou afável e sorriu mais uma vez, sussurrando um tímido agradecimento.

                — Ouça, você vai achar isso engraçado! Sabe para quem meu pai tinha intenções de oferecer a mão de Desmera antes da guerra? Seu irmão! Verdade seja dita, o senhor meu pai teve de dobrar os joelhos para o seu, e sempre guardou certo ressentimento disso. Mas o antigo rei nunca esqueceu que papai cercou Ponta Tempestade, então meu pai achou que seria uma boa coisa casar a filha dele com o filho do melhor amigo do rei. Não seria um acordo ruim, minha irmã tem um dote considerável, mas quando papai finalmente achou apropriado fazer uma proposta seu pai se tornou mão do rei, e depois disso tudo aconteceu tão rápido!

                O que era o tudo? Sansa pensou amarga. A morte de seu pai, de seus irmãos, de sua mãe, a destruição de seu lar? Era isso o tudo ao qual ele se referia? Ela não encontrou nem força nem motivação para continuar sendo amável.

                — Desmera teria sido rainha do Norte, ela teria gostado disso. Mas quem sabe... talvez nossas casas ainda possam se unir.

                Deuses! Ela sentiu um imenso alívio ao ver a figura delicada de Lady Olenna. 

— Olhe para você — A velha senhora disse sorridente quando Sansa a encontrou na porta do Septo — Uma verdadeira joia! Espero que tenha gostado do vestido, era de Alerie. Está um pouco fora de moda é verdade, mas ainda é muito bonito, você não acha?

— É belíssimo milday, mas eu poderia ter usado algo mais simples para o Septo.

— Bobagem! — A rainha dos espinhos afastou a sugestão com um aceno da mão enrugada — Hobber, vai se juntar a nós no Septo?

— Mamãe diz que as senhoras não gostam de companhia masculina quando vão ao Septo...

— Sua mãe está certa.

 Lady Olenna disse em tom definitivo e puxou Sansa pelo braço para dentro do templo.

Seu pai tinha construído um Septo para a senhora sua mãe, mas como tudo em Winterfell, era uma construção simples, sólida, prática, e não muito charmosa. Já o Septo de Jardim de Cima era menor que o Grande Septo de Baelor, mas na opinião de Sansa, duas vezes mais bonito. Feito todo de pedra branca, assim como o castelo principal, o Septo também tinha vitrais coloridos nas grandes janelas que pintavam o interior com sete diferentes cores.

Olenna a conduziu até a estátua da donzela, e enquanto a velha senhora acendia algumas velas, Sansa foi capaz de admirar a bela figura feita de mármore branco. Diferente de muitas outras, as imagens ali eram vestidas com tecido de verdade. A donzela estava enrolada em fina seda cor de esmeralda, bordada com rosas feitas de fio de ouro, e coroada com uma guirlanda de flores douradas em sua cabeça.

Ajoelhada e com as mãos juntas em prece ela recebeu com gratidão a luz que entrava pelas janelas, e o doce cheiro de mel. Ela queria muito poder fazer suas orações com total dedicação, e agradecer pelo lugar onde estava, mas tão logo Lady Olenna se ajoelhou ao seu lado e fechou os olhos enrugados, Sansa começou a vasculhar o Septo com os olhos.

Finalmente,  uma pergunta escapou dos lábios dela como se fosse um suspiro.

— Lorde Willas não costuma vir ao septo?

A rainha dos espinhos sorriu ainda de olhos fechados, mas Sansa, ainda que se sentindo um pouco tola,  não se arrependeu. Lady Olenna não mencionara o neto em nenhum momento da longa viagem, e nem mesmo ali ela tivera qualquer relance de lorde Willas.

 “Ele não pode se casar comigo, não enquanto já estou casada, mas ainda pode vir a gostar de mim, e todos protegem as coisas das quais gostam”

— Willas vem todos os dias, meu neto é um rapaz muito pio. No entanto, ele sempre faz suas preces nas primeiras horas da manhã.    

— Isso parece requerer muita disciplina.

— Sim, ele é disciplinado sem dúvida. Acho que WIllas foi o único garoto que fez todas as leituras determinadas pelos Septões, e o fazia com absurda atenção. Hoje ele pode citar a Estrela de Sete Pontas toda vez que lhe convém. Me diga querida, você já leu a Estrela de Sete Pontas?

— Apenas os textos que Septã achava adequados — Ela admitiu se sentindo um pouco envergonhada — A maioria eram do livro da Donzela e da Mãe mas...

—Ah! O livro da Donzela, eu imagino que septã tenha sido generosa o bastante para apenas recomendar os textos sobre conduta, e nada de todas as tediosas leis.

— Leis?

— Mas é claro! O que os deuses mais deixaram foram leis. Por exemplo, o casamento de uma mulher, em especial de uma donzela é algo sacro, e como tal deve ser feito de maneira correta. As leis da Donzela dizem que se uma das partes não tomou o compromisso com o coração livre, então o compromisso não teve valia. É difícil provar o que há, ou havia, no coração de alguém, existem tantas outras coisas mais simples.

Sansa olhou de soslaio para lady Olenna  — que ainda tinha os olhos fechados, e as palmas das mãos unidas — e depois ergueu seu olhar para o rosto de mármore branco da Donzela, tão liso e plácido, um rosto que poderia saber o que estava no coração dele agora, e o que estava no seu coração antes.

    —Meu coração não era livre naquele dia.

A frase saiu como um suspiro, e ela própria se surpreendeu quando as palavras alcançaram seus ouvidos.

 A velha senhora Tyrell abriu os olhos.

— O que é isso agora criança? Você me pareceu muito afeiçoada ao seu marido.

— Eu tentei ser boa esposa, mas quem pode acreditar que eu teria escolhido tal marido?

— Que abominável! Você o odeia? Imagino que o odeie muito.

— Não! Eu não acho que algum dia possa vir a amar lorde Tyrion, mas odiá-lo seria injusto.

— Minha criança — Agora a rainha dos espinhos separou as palmas e agarrou a mão de Sansa — Eu entendo que tenha um bom coração, mas como poderia não odiar alguém acusado de matar seu rei?

Ela não tinha nada que não fosse perplexidade em seu rosto, e Lady Olenna certamente era capaz de encontrar algum tipo de divertimento naquilo, caso contrário não teria contorcido as pregas do rosto em um sorriso.

— Vê? Homens sempre surpreendem a nós, pobres mulheres com sua maldade.

— Ele não teria feito isso, eu o conheci e não há nada de maléfico nele.

— Todos guardam algo de maléfico dentro de si — Lady Olenna alcançou uma mecha do cabelo acobreado de Sansa — Mas é medonho que pensem que você possa ter tão terrível.

— Eu?

— Meu bem, o mundo não é justo, e poucas vezes os crimes do marido não respingam na esposa.

— Estão me acusando? Lady Olenna eu...

Algo nela estava prestes a se levantar e correr, mas isso não foi nada além de um burburinho dentro do peito, pois seu corpo continuou estático.

— Criança! Abaixe o seu tom, ainda estamos dentro do Speto — Lady Olenna riu — Não pense que eu levo isso a sério. O luto nos leva a fazer todo tipo de acusação absurda, mas aqui nós podemos ver com clareza. Não vamos deixar que você sofra.

Sansa retomou a consciência de que lady Olenna segurava sua mão como tinha feito em Perto Real. Sansa desejou que lady Olenna a levasse para algum lugar ainda mais distante de qualquer Lannister.

— Você vai dizer ao septão oque me disse aqui hoje, que foi obrigada a se casar. Vamos anular seu casamento, e deixar claro que é inocente de qualquer crime. E depois, quando você estiver limpa de tudo isso,  nós poderemos até mesmo lhe arranjar um marido. Vê? No final você será feliz, não importa o quanto os Lannisters tenham se esforçado na posição oposta. E eu lhe garanto, meu neto será um bom marido, ele será como argila nas suas belas mãos.

— Sim — Ela tremeu tanto de medo quanto de ansiedade ao responder. Queria todas as promessas de lady Olenna cumpridas de uma vez — Eu serei uma boa esposa para Sor. Willas, juro que serei.

— Willas? Minha querida quem falou qualquer coisa sobre Willas?

...

Hobber! Um dos pavorosos e oblíquos gêmeos Redwyne, era ele o pretendente que lady Olenna tinha em mente para ela! Como poderia ser tirada um casamento inconveniente apenas para ser jogada em outro? Quem poderia dizer que o coração dela estava livre caso um dia recebesse o manto da casa Redwyne em seus ombros?

Ela queria Willas, sempre o quis — ou ao menos desde o dia em que percebeu que não poderia ter Loras. Ele faria dela senhora da Campina, e ela lhe daria adoráveis herdeiros. Mas Willas era um plano apenas possível no passado, ou assim lady Olenna afirmara, ainda que não lhe oferecesse qualquer argumento.

Sansa se debruçou sob o parapeito de uma de suas janelas, e observou o labirinto lá embaixo com suas paredes verdes embaraçadas e imaginou que ele se parecia com as intenções de um Tyrell. Era injusto da parte dela pensar daquele modo? Não seria muita crueldade considerar seus ditos amigos como perversos apenas por não receber o noivo que ela queria? Sansa sacudiu a cabeça tentando se convencer que não valia a pena pensar nisso. Seus amigos Tyrell podiam não ser o sonho que ela sonhou mas ela não estava em posição de reclamar.

Hobber poderia ser um bom marido? Com sua aparência e modos bruscos? Ele poderia talvez ser como argila nas mãos dela? Moldado e polido até se tornar adequado?

Eu não quero argila, quero um homem feito.”

E apenas uma vez seria bom receber um homem do qual ela gostasse, e que fosse capaz de retribuir sua afeição. Quantas vezes não tinha sonhado que Willas seria esse homem, e que seria para ele uma boa e fiel esposa? Em seu coração era um desejo tão simples, e tão fácil de ser atendido. Se ao menos ele viesse a gostar dela então nunca teria de trocar seu nome para  Redwyne.

Sansa olhou em seu quarto procurando pelo véu que tinha usado naquela manhã, ela o apanhou e o prendeu em seus cabelos com um grampo. Queria ir ao septo mais uma vez, queria olhar o rosto consolador de mármore da donzela, e sentir o cheiro de incenso. Ela queria que o septão lhe desse uma boa cópia da Estrela de Sete Pontas para que pudesse decorar cada palavra.

Não havia ninguém nos corredores quando ela deixou seu quarto, e se não fosse pelo barulho de pássaros e gente que vinha lá de baixo, Sansa poderia ter acreditado estar em um castelo encantado. Ela acelerou o passo, tentando se lembrar do caminho que tinha feito com Hobber horas antes. Mas então o véu se soltou de soltou de seu grampo e voou fugindo dela.

Com um suspiro Sansa foi atrás do véu fugitivo e rezou que ele não tivesse se rasgado. Seria no mínimo constrangedor ter de explicar para sua anfitriã que tinha estragado um de seus presentes tão rápido.

Quando Sansa o apanhou ela examinou a delicada trama para se certificar que não haviam danos, mas sua inspeção foi interrompida por uma companhia inesperada. Um lindo cão veio até ela, ele se sentou no chão e a observou com olhos curiosos. Sansa podia dizer que era um cão de caça, mas não havia nada nele que não fosse languido, delicado e dócil. Em aparência era tão diferente de Lady, mas em natureza parecia ser tão semelhante. Ela esticou a mão oferecendo um carinho e ficou contente quando o animal aceitou o afago de bom grado.

— Maris!

Uma voz chamou perto o suficiente para ser ouvida, mas não tão perto que Sansa pudesse ver seu dono.   

Ela tratou de prender o véu em sua cabeça mais uma vez e parecer apresentar, mas o cão — que ela acreditava se chamava Maris  — continuava pedindo por mais carinho, e Sansa não sentiu outra vontade que não fosse conceder tal desejo.

Maris estava de olhos fechados enquanto sua cabeça era acariciada, mas assim que o dono da voz apareceu e chamou “Maris” mais uma vez, ela esqueceu completamente de Sansa e correu até ele, ágil como uma flecha.

Já quando Sansa o viu, ela não teve dúvidas de quem era, já que não deviam haver em Jardim de Cima muitos homens que se vestissem tão bem e que ao mesmo tempo tivessem de ser auxiliados por uma bengala.

— Milorde!

Foi o melhor no que ela pôde pensar ao se afundar em uma mesura. Devia haver algo de inteligente e charmoso para se dizer naquela situação, mas ela não conseguiu pensar em nada. Margaery teria pensado.

— Milady — ele respondeu ainda de onde estava e, para alívio e desespero de Sansa, parecia tão constrangido quanto ela — Acredito que não tenhamos sido apresentados.

— Sansa Stark

Havia algo no peito dela que queria completar a frase dizendo “filha de lorde Eddard Stark, de Winterfell”, ela queria se sentir mais uma vez como aquela antiga Sansa que tinha tudo. Mas mesmo ali, longe do ouvido dos Lannisters, ela temeu que acusassem sua família de traição, por isso era melhor guardar o bom nome de seu pai para si.

— Lady Sansa... Me perdoe, eu não sabia que estaria conosco — Ele nem ao menos se apresentou, ela foi incapaz de não notar — Acredito que lhe tenham sido oferecidos bons aposentos.

— Sim, e sou muito grata. Lady Olenna tem sido extremamente generosa comigo.

— Me arisco a dizer que milady achou os aposentos do seu agrado. Há algo neles que possa ser melhorado?

— Não, de maneira alguma, eles são perfeitos.

Willas, ao menos ela supunha se tratar de Willas, balançou fez um leve maneio com a cabeça. Seus modos pareciam terrivelmente tímidos, ou extremamente frios, mas Sansa não saberia dizer ao certo.

— Se é esse o caso — ele disse — Milady deveria permanecer neles.

— Nos meus aposentos?

Ela perguntou estupidamente incrédula.

—Sim, nos seus aposentos.   


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