9 Zonas escrita por Cas Hunt


Capítulo 48
Sem chances




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Korra senta-se na minha frente.

—Tem ideia de como diabos eu tô cansado? — ele suspira fazendo careta ao estralar as costas — Duas semanas de buscas, Alya. Duas. Chego e a primeira coisa que eu vejo é a Anna gritando comigo.

—Desculpe.

Ele não reclama mais. Para, observando-me. Parece ser um costume das pessoas daqui. Ergo minha visão para ele. Ele em si está sujo, tanto na pele quanto nas roupas. O pouco cabelo parece chamuscado em alguns pontos e bolsas roxas se penduram debaixo dos olhos.

—O que aconteceu com você?

Ergo as sobrancelhas.

—Esperava que pudesse me falar.

Korra parece tão confuso quanto eu.

—Espera, o quê? Você perdeu a memória?

—Não perdi. Só estão muito confusas — toco a lateral da cabeça — Como se alguém tivesse chacoalhado meu cérebro.

—Ah. Não entendi.

Suspiro.

—Só me diz bem resumidamente o que aconteceu.

—Hum... Minha versão ou sua versão?

—Misture-as e conte a história no geral.

Korra ergue as sobrancelhas espeças.

—Sim senhora. — ele cruza os braços sobre o peito — Olha, basicamente a gente chegou e estava rolando um ataque. Nos separamos, você salvou um grupo e eu salvei seu amigo. Ah, você também pegou o remédio pro Trev. Mas levou uma surra de uma coisa humanoide esquisita. Te deixou só os farrapos.

—Carl tá bem?

—Tá sim. Ele se misturou bem com os daqui.

Assinto.

—Ah! Quase esqueci — Korra se levanta — Preciso ir tomar um banho. Seguinte, também encontrou o Jugen Baratheon, vocês brigaram, ele te trouxe e blá blá blá.

Não consigo me surpreender. Apenas concordo com a cabeça. Korra estranha o movimento, parando onde está.

—Ele te velou por alguns dias. Não saia do seu lado.

Massageio a têmpora, entendendo agora o “ele está na expedição” vindo de Anna. Se referia a Jugen. Suspiro alto.

—O que esse idiota tá fazendo aqui?

—Atrás de você, ao que parece — ele olha na direção da saída. —Particularmente não confio nele.

—Nem eu.

Isso parece surpreendê-lo e Korra se volta a mim outra vez.

—Por que?

—Como se não soubesse — desvio o olhar para a parede — Jugen ainda tem a mãe e o irmão.

—Fala como se fosse decepcionante.

—Não é decepcionante. É mais... Uma razão. Ele pode tranquilamente a qualquer segundo decidir que quer voltar a ser o futuro ditador.

—Quanta falta de confiança.

—Se fosse você traído entenderia.

—Mas o garoto veio todo o caminho da Zona 1 pra cá, só pra te ver.

Quase solto uma risada.

—Que tivesse feito isso antes do meu próprio povo me torturar.

Korra parece entender. O silêncio se estabelece entre nós dois de novo e não consigo parar de pensar em como Jugen aqui é uma imensa dor de cabeça. Ignoro qualquer outro sentimento que venha tendo por ele e entrego-me ao rancor e desconfiança sombreando algo de positivo na sua presença.

—Seu pai também está aqui.

—Ah. E minha mãe?

—Ninguém sabe.

Assinto, sem muita emoção. Tenho uma certeza assustadora de que ela está viva planejando o próximo ataque ao ditador. Mal deve sentir falta do marido. Ou percebe sua ausência.

—Quer que eu chame alguém?

Nego com a cabeça. Korra respira fundo.

—Vai ficar escutando ás escondidas até quando? — questiono sem olhar a porta, sentindo claramente a presença extra atrás das cortinas.

Korra sai silenciosamente sem querer chamar mais atenção conforme o espião desliza para dentro do cômodo. Seguro um lado das costelas doloridas. Começam a quase ranger conforme Jugen se põe sentado no banquinho. O rosto e corpo manchados de sujeira, grama e alguns arranhões.

Suspiro, demorando a passar os olhos para ele. Ao fazê-lo, encaro como ele parece nervoso, mãos nervosamente juntas e inquietas, o pomo de adão subindo e descendo. Vejo-o abrir a boca algumas vezes, procurando palavras sem tê-las.

—Seu lugar não é aqui — cuspo —Volte pra Zona 1.

Ele fica em silêncio, absorvendo cuidadosamente minhas palavras. Vejo-o novamente na beirada da minha cama, mumurando um "eu te amo" quase como uma canção de ninar enquanto segura minha mão e meu estômago embrulha. Como pude deixar essa situação piorar tanto? O que tem de errado comigo? Quero acabar com tudo isso, quero descansar. Por que diabos não morri de uma vez?

Jugen parece ter uma expressão magoada mediante minhas palavras tanto rudes quanto secas. Soam impessoais, como se apontasse a um desconhecido ser melhor sair da chuva antes de pegar um resfriado.

—O que deu em você?

Semicerro os olhos. Jugen também encontra o caminho para conseguir me encarar.

—Achava que eu ia acordar e me jogar nos seus braços?

Jugen parece morder a língua.

—Não, mas... Aquilo, quando prometi que não ia sair do seu lado...

—Eu estava quase inconsciente de tanta dor. Acha mesmo que alguma coisa do que eu falasse ou fizesse iria soar consciente?

Ele pisca, quase perplexo.

—Não... Isso...

—Vai logo embora, Jugen. Diz que te sequestraram.Te obrigaram. Ameaçaram até mesmo a sua mãe.

—Eu não quero voltar.

—E eu não te quero aqui.

Passo a mão pelo queixo. A situação em si está ficando cada vez mais desconfortável.

—Eu me apaixonei por você sem saber nada de verdade — desvio minha atenção para a parede — Eu menti sobre quem era e mesmo assim, você sabia tudo. Nem dá pra acreditar que o tempo todo a pessoa sendo enganada era eu.

Volto os olhos para ele, o rosto baixo.

—Não sabia que tinha matado tantos do meu povo. Nem que tinha armado aquela emboscada com o soro. Acredita que eu confiei tão cegamente que jurava... Jurava que você estava do meu lado — suspiro alto — Eu não conseguiria dormir do seu lado sem achar que seria morta no meio da noite.

—Eu nunca fiz mal a você!

—Mas tudo o que fez impactou em mim! Eu perdi minha família! Perdi meu povo! Tudo o que tinha por defender uma pessoa que nunca foi real!

—Eu fui real!

—Quer mesmo mentir agora?

—Não é mentira!

—Não é mentira. Claro. Mesmo que seja ou não, o que sair da sua boca, eu não vou conseguir confiar. Entende isso?

Jug está com as mãos trêmulas.

—Posso... Posso...

—Não pode. Entende? É o que acontece quando se quebra a confiança de alguém. Eu... Te amava.

Jugen ergue o rosto, uma tela pintada de arrependimento e mágoa.

—Então tem uma chance.

Quase solto o riso de escarnio preso na garganta.

—Não, não — inclino a cabeça na sua direção — Não tem.


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