9 Zonas escrita por Cas Hunt


Capítulo 46
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Alay melhora devagar. Muito devagar. Continua me dando ansiedade. A médica prefere deixa-la desacordada devido a dor que deve sentir e não protesto. Parece o melhor. Cheguei a monitorá-la por dias a fim até Korra baixar sua mão pesadamente em minhas costas, arrastando-me ao pátio. Diferentemente dos Exilados, estes se sentam em círculo deixando-me como parte e um holograma pairando no centro com minha imagem do discurso sendo apresentada, mas sem o som.

Um cara de cabelo espetado e olhos azuis me fuzila com o olhar bem na minha direita. A mulher loira, médica, está na minha frente e outra de pele escura está na sua esquerda segurando sua mão e de expressão limpa, encarando-me. Um homem esguio de pele escura está perto da menina que me deu um soco fuzilando-me ao lado de um baixinho de 14 ou 15 anos. Por fim, a criança gigante sentada atrás de Korra na esquerda, todos, tirando o brutamontes, parecem ter algo contra mim.

E lá vamos nós. Viro-me e encontro Lion me observando ao longe afiando uma faca estranha. Pressiono os lábios e respiro fundo voltando-me para eles.

—E então?

—Korra você já conhece — a médica fala — Sou Anna. Esta é Robin.

—Vole — a garota do soco resmunga e aponta para o cara ao seu lado — Ilao e Asle.

—Ranna — diz a menina de óculos perto do cara me fuzilando.

—Trevor. — ele cospe.

—Te trouxe aqui pra ajudar a gente a decidir se vamos ou não te deixar ficar.

Assinto.

—Compreensível.

—Se chama Jugen Baratheon? — Anna questiona.

—Isso.

—Tem um irmão gêmeo chamado Jaspen?

—Exato.

—Filho do atual ditador Cailorn Baratheon?

Concordo mais uma vez com a cabeça.

—Por que veio pra cá? — Korra questiona, apesar de saber a resposta.

—Porque Alya está aqui.

—É seu único motivo?

Pisco. Já havia pensado sobre e realmente Al não era a única razão de finalmente ter escapado do meu pai e irmão.

—Me sinto cansado disso tudo. Já vi demais, fiz demais e tudo isso é inútil. Só estamos nos matando pra deixar algum idiota no poder. É sem sentido. E cansei de obedecer ordens que vão matar inocentes.

—Tem noção de que isso é traição?

Assinto. Pouco me importa.

—Tem algum rastreador? —Anna questiona e Robin, ao seu lado, levanta-se vindo na minha direção.

Por uns bons vinte minutos me bombardeiam com perguntas, Robin vasculha cada parte do meu corpo e constrangedoramente sou exposto sobre todos os meus sentimentos com relação a Al. Eles dissecam cada molécula do que penso sobre ela desconfiando-se quando admito que a admiro e sem nem um pouco de surpresa ao falar que me sinto irremediavelmente atraído por ela.

Assistem vídeos do meu discurso questionando minhas mínimas expressões em alguns momentos e explico, utilizando-me apenas da verdade. Ao final me sinto violado, envergonhado e parece que perdi toda a minha dignidade.

***

—Eles te aceitaram bem fácil, não acha? — Lion questiona.

—Você acha?

Ando de um lado para o outro, ainda desconfortável por ter sentido tantas mãos apalpando meu corpo só pra confirmar que não venho trazendo algum rastreador ou coisa do tipo. Nem mesmo Lion tomou a liberdade de fazer isso.

—E como vai ser? — ele pergunta usando a faca para limpar debaixo das unhas.

—Me deram um quarto ao lado da Al. Exijam que eu ajude com alguma parte se não quiser ser expulso. Não aceitam hóspedes e querem abastecer o mais rápido possível agora que os Exilados chegaram.

—Eles já tinham pouco?

—Acha que eu sei?

—Idiota.

—Vou numa expedição com o Korra em alguns dias, até lá ajudo na horta com a tal de Ranna —encaro o local só com uma beliche maltrapilha e faço uma careta — Quem mais vai dormir aqui?

—Eu, é claro.

—E quando essa perseguição vai acabar?

—Bom, minha irmã e minha sobrinha foram aceitas aqui. Enquanto precisarem de mim vou ficar te vigiando.

—E os outros?

—Howe quer se juntar com alguns aliados na Zona 3. Reagrupar, recuperar e só depois pensar no que fazer.

Assinto. Parece o mais lógico.

—E como vão chegar até lá?

—Acha que vou te contar? Exilados tem seu jeito. Fico na de cima.

Semicerro os olhos. Vejo-o passar por mim pulando ao usar do colchão de baixo para se lançar ao seu. Sento-me no de baixo, pensando no que vinha acontecendo nos últimos dias. Jaspen deve estar furioso.

Lembro-me de simplesmente ter discutido com ele sobre Rose ter se enfiado no meu quarto com sua ajuda, de brigamos e eu acusa-lo em alto e bom som na frente da nossa mãe o quão cafajeste ele era. Jaspen não falou comigo, nossa mãe se recusou a vê-lo e estressado com tudo, disse a ela que amava a rebelde no noticiário. É incrível o quanto a mulher foi compreensiva me mandando ir logo atrás dela.

Achar Lion, brigar com Lion, salvar parte de seu povo. Encontrar Al. Ver ela depois de tanto tempo foi um choque e um êxtase. Me fez lembrar de quando a encontrei no meio da rua com um disfarce mal feito de maltrapilha brigando incansavelmente com outros. Eles claramente não gostavam dela, mas pouco parecia importar. Ela não se incomodava com tamanho, atacava sem piedade e recebia cada golpe esperando para ter a oportunidade de devolvê-lo. Era fascinante.

Não a identifiquei de imediato, pedi que Buk fosse separar, mas travei. Eu mesmo fui lá, sentindo que de alguma forma o semblante dela não me era estranho. Vi seu rosto. Por dois longos segundos, minha mente virou um branco. Não pensei, não senti, só a olhei. Admirei e reconheci a face da garota quieta da Zona 6. Ou era 7. Não me lembro ao certo.

Era a garota quem eu observava. A com roupas de pobre, isolada na arquibancada assistindo os outros brincarem quando ela mesma agarrava-se ao pouco que conseguia para comer. Parecia exausta, mas continuava. Ninguém gostava dela, mas continuava. O que a impulsionava a frente? Me matava não poder perguntar, não conseguir falar com ela. Os olhos desconfiados deixavam qualquer um distante.

Lembrei seu nome. Levei-a para casa. Enquanto a médica cuidava dos seus ferimentos fiz uma pesquisa sobre ela encontrando múltiplos vídeos de suas ações em batalha. Camuflava-se bem, usava pessoas ou escudos para conseguir chegar a frente e coordenava uma equipe de ataque pequena. Pequena e destrutiva. Explosões, facas e alguns tiros eram o suficiente para fazê-la vencer. Algumas, por mais que tivesse mais pessoas ao identificar algum fator estranho, recuava imediatamente. Inteligente. Perceptiva. Queria que ela lutasse ao meu lado.

Quando propus o beijo imaginaria o misto de nojo e desgosto que teria no seu rosto. Diferentemente, ela aceitou, os olhos faiscando em determinação. Ela sabia quem eu era. Achei que seria interessante ver até onde a máscara poderia ser sustentada... Mas não percebi quando tudo mudou.

Não notei quando era gentil com ela por querer, quando minhas mãos involuntariamente colocavam o cabelo dela atrás da orelha, quando passei a querer ver mais dela. O quão natural parecia tê-la ao meu lado. Em questão de semanas. Seu rosto preocupado, seus cuidados, seu afeto.

A imagem de Al sorrindo aparece na minha mente, pouco antes de dormir no dia em que saímos do Complexo. Deitada na cama, um emaranhado de braços e pernas. Ela ficava muito bonita de cabelo solto, volumoso e arrepiado. Parecia querer tocar meu rosto constantemente e eu deixava. Não lembro de pegar no sono, mas de acordar sentindo a cama fria.

Encaro o colchão, perguntando-me se tudo o que ela sofreu, o que eu vi, não poderia ter sido evitado se estivéssemos juntos a mais tempo. E se eu tivesse nos aproximado no Ensino Básico?

Não, Jaspen não deixaria. Talvez se tivéssemos nos aproximado antes ela já estaria morta a muito tempo. Não foi algo controlado. Encarando a realidade, aqui estamos. Ela ferida a beira da morte e eu um traidor, renegado por todos os lados.  Pensando nisso, lembro-me da mulher armário na gravação na Zona 9.

—Ei Lion.

—O quê?

—Cadê a mãe da Al?

—Ah. Não sei. Provavelmente morta. Por que?

—É melhor que esteja. Se sobrevivesse meu pai faria questão de ver ela pessoalmente.


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