9 Zonas escrita por Cas Hunt


Capítulo 41
Inconsciente




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Sinto tudo. Sinto meu braço quebrado, o ombro latejando da bala, minhas costelas pressionando perigosamente os órgãos. Posso sentir cada musculo tenso, talvez por isso maior parte do meu tronco se encolhe conforme lanço minhas pernas trêmulas para a frente.

Arde. Cada passo parece doer em um ponto específico na base da minha coluna, provável que tenha machucado alguma vértebra. Paro apoiando um ombro bom contra a parede da torre de observação. Entro pela porta segurando com o braço não quebrado apoiando-me apesar de sentir que posso cair mesmo com tal apoio.

Quero respirar fundo mas sei que o movimento é perigoso. Estou me dirigindo para o elevador quando sinto o ar escapar dos meus pulmões de novo. Dessa vez ninguém me empurra, não tropeço ou nada do tipo, só a gravidade que fica forte demais no meu corpo sem equilíbrio.

Caio por cima do braço quebrado olhando para a porta aberta e iluminada do elevador. O salão onde estou é pouco iluminado e tem uma abertura para as escadas, mas duvido que conseguiria chegar até ali.

O impacto com o chão me faz soltar um gemido baixo. Meu braço esquerdo protesta com a pressão dolorosa em si. Engulo o seco vendo pontos pretos aumentarem na minha visão, tal como o sangue. Bati a cabeça de novo?

A sala está ficando escura. O salão por onde passei várias vezes para observar e vigiar o acampamento, as paredes azuladas que enjoei de escutar Danny reclamando delas. Acho que cumpri tudo que devia cumprir.

Minha mãe vai ter protegido meu pai. Lion vai ter fugido. Jug vai ter voltado pra casa. Trevor está com o remédio. Sinto, apesar da dor perturbadora, meu corpo relaxar e puxar minha mente para dentro do escuro.

***

Escuto alguém gritando. Sou eu? Não, a voz é grave demais e minha garganta parece seca o suficiente para que caso minhas cordas vocais sejam colocadas a prova eu acabe por rasga-las de atrito.

Não parece ser um grito de dor. Está mais para um pedido de ajuda desesperado. Alguém precisa de mim? Não, não faria nada além de atrasar. Espero que quem quer que seja consiga a ajuda que aguarda.

O tempo parece insignificante. Me sinto mergulhada até o pescoço em uma água escura sem luz alguma de onde estou. Tudo é escuro. Não consigo ver nada. Por um segundo minha mão direita parece ser acariciada, mas desconfio que seja da água.

Acho que estou em paz. Não sei quem eu sou, nem que problemas tenho apesar de sentir que são muitos. Também imagino que meu corpo tenha sofrido bastante para não conseguir senti-lo por completo.

Minhas pernas... Será se não posso mais andar? Lembro de ter machucado a coluna em algum ponto antes de vir parar aqui... Não sei. Melhor deixar isso pra lá. Balanço os braços ao redor da água, sinto-a acariciando meus cabelos quase como se fosse uma mão macia em contato comigo.

A sensação me lembra o toque de alguém. Eu devia ter falado alguma coisa pra essa pessoa, não era? Sinto que tinha algo de importante pra dizer mas não tive tempo. Será se morri? É aqui onde vou ficar pelo resto da eternidade?

Houve uma época em que acreditava em vida após a morte mas a ideia de estar viva para sempre me perturbou. O que eu faria? Com quem? Como seria isso? Uma eternidade significa um tempo infinito pra pensar e repensar, tédio e erros sendo cometidos repetidas vezes.

Ela está muito mal — a voz feminina parece baixa, quase sussurrada pelas águas. — Fiz o que pude, mas o resto é com ela. Se a Ally quiser...

Um terremoto passa por todo meu mundo, a água estremece e quase sou engolida por ela. Volto o rosto para a superfície de novo. Escutar aquele nome parece ser desconfortável nesse lugar, como se tentasse me empurrar para o mais profundo das águas.

Alya.

O mundo todo estremece. Sinto como se o teto estivesse desabando e causando ondulações anormais na água.

Al?

Tudo para. Dessa vez é meu peito que parece estar estremecendo. A água se acalmou, não tem sinal algum de perturbações, como se tudo sempre tivesse sido assim.

Eu vou ficar aqui. Com você... Então, por favor, não me deixa.

—Jug — sussurro.

A água me puxa pra baixo com toda força.

***

Minha visão está embaçada e não tenho certeza se vou ficar acordada por muito tempo. Foco o teto de concreto, a sala quadrada e sinto a rigidez do meu colchão na cela do Bloco C. Tem algo quente e pesado na minha mão.

Parece que estou tentando ver através de um copo de um lago. Pisco tentando focalizar. Os cabelos pretos espalhados que chegam a pousarem na lateral direita do meu corpo. Meus olhos quase se arregalam quando encontro meu braço engessado. Eu o quebrei?

Foley o quebrou. Mas aquela criatura não era ele de verdade, certo? Aquilo só devia parecer bastante, não é como se tivesse sido o verdadeiro.

Engulo o seco. Maior parte do meu corpo está enfaixada e extremamente dolorida. Ergo a mão boa e pouso nos cabelos de Jugen Baratheon. Ele está sentado com a cabeça deitada numa pequena porção da minha cama bem ao meu lado. O que senti quente é a sua própria mão segurando a minha.

Acaricio seus cachos escuros antes de voltar para as águas escuras.

***

Entendo agora. Estou flutuando na inconsciência. As poucas coisas que passam pela minha cabeça concentram-se mais em uma pessoa. Jugen Baratheon. Começo a pensar que posso estar obcecada com o coitado.

Em todas as piores situações ainda continuei a lembrar dele, mantê-lo vívido na minha mente. Isso não é saudável. Nem um pouco. Posso sentir o que for, mas a razão deve se sobrepor a qualquer descuido com minha saúde ou a das pessoas ao meu redor. Não posso enlouquecer pelo filho do ditador.

Quando acordar, preciso ir embora. Já chega de Jugen Baratheon emaranhando-se na minha mente e vida. Preciso encontrar meus pais, pedir desculpas e voltar para a única família que tive. Todas as minhas responsabilidades já foram resolvidas, não há mais nada que eu possa ou deva fazer.

Isso ou... Posso ficar aqui. Não há surpresas desagradáveis ou situações comprometedoras aqui. Esse lugar é onde encontro e estabilizo um pouco de paz. Olhando por esse lado, a opção é muito tentadora... E talvez eu...


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