9 Zonas escrita por Cas Hunt


Capítulo 20
Conversa


Notas iniciais do capítulo

Sim, já é a terceira vez que mudo o nome da história kkkkkk
to muito indecisa com ele, necessito de heeeelp
ps: e com a capa tbm



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Jaspen inclina-se para frente pelo projetor de hologramas exibindo uma série de televisão dramática qualquer com atores da Zona 2.

—Você e o Jug são muito próximos?

Jugen enrubesce.

—Éramos.

—O que mudou?

—Pergunte a ele.

Jaspen se vira para o irmão com a sobrancelha erguida.

—Ela me contou que era uma espiã.

—Quando?

—Ontem.

Ele ainda parece desconfiado de alguma coisa. Recuso-me a olhar diretamente para Jug. Ver seus olhos cheios de compaixão ou desprezo iriam me doer mais do que as bolhas por radiação.

—Me perdoe, qual seu nome? — Jaspen se inclina na minha direção outra vez.

—Alay Vutte.

—Não. Esse é o nome que meu irmão inventou pra você, vi nos registros dos seguranças dele. Qual seu real nome?

Dou de ombros.

—Pode me chamar de Ally.

Vejo seus olhos ficando semicerrados, ainda analisando tudo com sua expressão neutra na maior parte do tempo.

—Ally. Então Ally, já transou com meu irmão?

—Jaspen!

—Não — respondo sem me alterar trincando os dentes para não praticar minha mira de tiro no corpo dele. — Sequer tivemos uma aproximação física.

Jugen dá uma cotovelada nas costelas do irmão.

—Pode parar de interrogar ela?

—Por que?

—É desconfortável! Para!

—Já te meti em situações piores, Jug.

—Jaspen...

—Senhorita Ally, tem noção de quem nós somos?

Concordo com a cabeça respirando fundo e contando até cem mentalmente.

—Jugen e Jaspen Baratheon, gêmeos filhos do ditador.

Ele assente, satisfeito com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos juntas na sua frente.

—E sabe que meu irmão é o herdeiro?

—Sim.

—Jaspen, onde quer chegar? — Jug quase grunhe.

—Cala a boca, Jug. Ally, já esteve em muitas batalhas?

—Algumas.

—Quantas?

—O suficiente para não querer voltar.

Não vou dizer que foram em quase todas. Quando escutam isso me olham como se eu fosse algum tipo de fantasma ou ser mítico. Não fiz nada além de recuar no momento certo ou avançar em pontos fracos. Só sobrevivi.

—Meu irmão esteve em todos os avanços contra a resistência, matou milhares dos seus — Jaspen fala esperando que eu fique em choque ou perca o controle. Quase sorrio por ele não conseguir — Não te incomoda gostar de alguém assim?

Deixo os braços relaxados.

—Também matei muitos dos seus.

Ele me afetou, com certeza. Saber dessa parte de Jugen, o Jugen doce que aguenta todas as minhas explosões de temperamento e xingamentos abusivos. É estranho saber que ele já entrou em batalha e até mesmo matou alguns Exilados. Muito difícil de se imaginar.

—Qual seu posto na rebelião? — Jaspen continua perguntando.

Pisco para sair dos meus pensamentos e agradeço silenciosamente por não ter aceitado a promoção que meus pais me ofereceram. Caso o fizesse todos imaginariam que teria sido por ser filha deles, poucos sabem em quantas batalhas já me infiltrei fosse por vontade própria ou a mando da general. Sem medo algum, respondo sua pergunta.

—Cabo.

—E como te chamam? Cabo Ally?

—Trottel. Cabo Trottel.

—Seu sobrenome é Trottel?

—Significa idiota em alemão.

Sorrio com a confusão em seu rosto. Parece bastar para silencia-lo já que Jaspen deve imaginar que estou mentindo ou brincando com sua cara, sem ter ideia de que realmente me chamam de Trottel. As horas passam devagar comigo imaginado Jugen em uma das batalhas que estive.

Sangue para todo lado, morte, diversos corpos espalhados de ambos os adversários e eu inocente achando que Jug nunca havia visto um corpo antes. Forço-me a imaginar Jugen passando os corpos com uma arma em mãos atirando nos rebeldes sem nem ver seus rostos ao certo. Talvez ele tenha me acertado alguma vez. Talvez uma das minhas feridas de bala sejam dele. Muito pouco provável.

Algo chama minha atenção no noticiário. A voz animada e cheia de estática da apresentadora em um helicóptero moderno com seu câmera apontando para uma depressão entre duas montanhas, uma nebulosa e a outra com paredes de metal altas cheias de pregos do tamanho do meu braço. Seu exterior parece manchado e enferrujado, alguns pontos com buracos.

É a parede da Zona 9. Meu cenho se franze e presto mais atenção ao que ela está falando, mas a transmissão está instável. Posso ver um amontoado de pessoas do lado de fora dos muros, batendo e gritando. Essa não é a parte estranha e sim a porção de corpos ao lado deles, alguns em decomposição e outros esqueléticos. Cortam a transmissão da apresentadora.

Sem comentários, deixo de prestar atenção e continuo observando Jaspen. Mal noto que Jugen estava me encarando o tempo todo. Assim que Foley desce para trocar de lugar comigo e me dar algumas horas de descanso ergo-me do sofá entregando a arma pra ele.

—Gesabel está no primeiro quarto junto com o Lion. Tem outro no final do corredor se...

—Tudo bem — ponho a mão em seu ombro — Obrigado, Foley. Ah, e se eu gritar, não precisa se preocupar. São pesadelos.

Ele acena com a cabeça mostrando um sorriso amarelo de compreensão. Subo as escadas massageando meu pescoço pensando em pegar alguns analgésicos para a maldita lança do sentinela que me atingiu. Me recuso. Isso significaria vício quase instantâneo.

Passo pelo corredor dando uma leve espiada no quarto de Gesabel. Ela está na cama larga junto com Lion, ambos desacordados. Prossigo até o lugar que Foley contara fechando a porta atrás de mim.

A luz fraca deixa á vista a cama espaçosa com lençóis de seda roxos e uma porção extra de almofadas, as paredes limpas da cor de branco neve, duas longas janelas escurecidas, um pequeno frigobar e uma porta para onde deve ser o banheiro.

Tiro a jaqueta e os coturnos sentando-me na cama com a cabeça entre as mãos. Me sinto enjoada, a situação toda parece tosca. Deixar Jugen para trás junto com tudo o que sinto por ele para então conseguir mata-lo em batalha. É isso o que vai acontecer.

Claro, caso eu não seja executada por traição. Me filiei ao filho do ditador, desenvolvi compaixão e ainda o salvei sem conseguir a informação que vale ouro. Tudo está de cabeça pra baixo, principalmente agora que sei que Jug não é tão doce quanto imaginava.

Isso altera em alguma coisa? Bom, escondi dele minha vida e ele escondeu a dele. Em parte, faz sentido. Não confiávamos tanto um no outro. Ignoro a pontinha de traição e o enjoo de ter que acabar tudo assim, ele sabendo sobre minha queda por ele e eu tendo plena noção da sua apesar de não ter expressado em palavras.

Deito na cama amarrando meu cabelo no alto da cabeça. Sei que as próximas horas vão ser desagradáveis.


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