Quando chegamos em casa não conversamos muito com Charlie, Bella foi direto para seu quarto, com a alegação de que estava sem fome e que iria fazer dever de casa. Eu podia ver que minha irmã estava tão nervosa quanto eu. Aquela história não podia ser mais do que isso, uma história. Mas ainda sim, eu não podia negar que havia algo estranho com aquela família.

Andei até a cozinha colocando a água para esquentar enquanto procurava por um remédio para dor de cabeça. Charlie me entregou uma caixinha de Tylenol e sorriu.

—Como foi o passeio? –ele perguntou

—Tudo bem, pai. Passamos o dia na praia, comemos e caminhamos, foi bem legal. Encontramos o Jacob, o filho do Billy. Conversamos com ele por um tempo, ele é legal.

—Jacob? Ele é um ótimo garoto. Fico feliz que vocês tenham visto ele. –ele disse assentindo.

Meu pai não falou mais nada, apenas foi para a sala e eu terminei de preparar meu chá e subi para meu quarto. Estava torcendo para que Emmett não estivesse lá e minhas preces foram atendidas. Peguei meus pijamas e uma toalha e fui até o banheiro tomando um longo banho para me livrar dos pensamentos e da areia em meu corpo. Deixei que o cheiro de baunilha que o shampoo exalava tomasse conta de mim e me deixasse mais calma. Assim que terminei eu vesti a lingerie e a calça de moletom preta, penteei meus cabelos e vesti a regata cinza antes de escovar os dentes. Percebi que estava me ocupando o máximo possível para não pensar em nada do que Jake havia dito.

Quando não havia mais nada para que eu fizesse eu voltei para meu quarto e tomei o remédio e o chá. A chuva estava forte agora, eu liguei o aquecedor do quarto e fechei as janelas. Virei-me olhando para o meu quarto e respirei fundo sentindo minhas mãos tremerem levemente. As histórias que Jacob contou ecoavam em minha cabeça.

—É impossível. –eu sussurrei para mim mesma.

Eu me recusei a fazer qualquer coisa. Apenas me deitei e fechei os olhos cantando músicas em minha cabeça até que eu adormecesse. Naquela noite eu tive um pesadelo.

Eu abri meus olhos e fitei os de Emmett, os olhos negros me observavam com intensidade e desejo. Minhas costas estavam tão prensadas na parede que chegava a doer, eu não conseguia respirar ou me mover, apenas olhar em seus olhos da mesma maneira que ele olhava para mim. Ele aproximou sua boca da minha e me beijou fazendo-me fechar os olhos. O beijo era intenso e o gosto de sangue em minha boca ficou mais forte quando ele mordeu meus lábios, eu não conti o pequeno gemido de dor e ele tirou sua boca da minha, passando-os para meu pescoço.

—Emmett...

Ele riu baixo e os dentes perfuraram meu pescoço fazendo-me gritar. Sentei na cama com pressa e coloquei minha mão no lugar onde ele havia me mordido no sonho. Eu estava suada e meu coração estava tão acelerado que eu achava que ele poderia sair do meu peito a qualquer momento.

Olhei para meu relógio e percebi que era pouco mais de duas horas da tarde. Eu havia dormido muito mais do que estava acostumada. Levantei-me com dificuldade e tomei um banho longo, provavelmente muito mais longo do que o da noite anterior. Assim que saí do banho eu vesti uma calça preta e minha blusa de mangas azul escura, coloquei meus tênis e desci as escadas enquanto prendia meu cabelo em um rabo no alto da cabeça. Peguei uma maça e a comi em silencio.

Pelo pequeno bilhete na geladeira, Charlie havia ido pescar e Bella deveria estar em seu quarto. Terminei de comer e voltei para o meu, em silencio e respirando com dificuldade a cada passo. Assim que fechei a porta atrás de mim eu olhei ao meu redor, como para me assegurar de que estava sozinha. Ignorei a pequena decepção de estar e respirei fundo novamente. O que eu queria? Que ele estivesse ali? Qual seria minha reação se ele estivesse? Minha cabeça se voltou para o sonho e para as histórias de Jacob novamente, deixando-me com raiva.

Eu andei até minha mesa abrindo o notebook e olhei para a ferramenta de pesquisa. Discriminei-me algumas vezes antes de conseguir escrever a palavra e clicar em buscar. A maioria eram sites de filmes ou séries. Os outros sites falavam sobre a mitologia e coisas que me faziam arrepiar ainda mais. “Demônios bebedores de sangue”, dizia o título de um deles. Eu respirei fundo algumas vezes antes de sair daquele. Pesquisei sobre as lendas quileutes e observei um pequeno livro que tinha ali, demorei algumas horas, mas consegui encontrar uma cópia online do livro.

Li algumas páginas e me fixei nas características prendendo minha respiração cada vez em que eu lia uma palavra diferente. “bebedores de sangue”, “imortais”, “força extrema”. Fechei o notebook com pressa e respirei fundo sentindo minhas mãos tremerem ainda mais. Olhei para a janela e percebi que a chuva havia parado. O vento batia nas árvores, fazendo as folhas uivarem e eu me arrepiar.

Não havia muita coisa que batia com as histórias, mas em minha mente eu fiz uma pequena lista, analisando cada um dos Cullen e comparando com o que eu havia lido. Todos eles eram extremamente lindos, a pele gelada parecia estar presente em todos, eles eram muito rápidos e silenciosos, Emmett conseguiu entrar no meu quarto pela janela, eu nunca havia visto nenhum deles no sol e pelo o que Jéssica havia dito, ninguém mais viu. Os Quileutes não permitiam a entrada deles na reserva. Edward havia sido forte e rápido o suficiente para tirar minha irmã da frente da van sem nenhum arranhão.

“Ficar perto de mim não é seguro para você”.

A voz de Emmett ecoou em minha cabeça e eu respirei fundo sentindo a mistura de medo e incredulidade tomarem conta de mim. Seria possível?

“Não é seguro para os humanos ficarem perto deles. Nunca se sabe quando a fome é grande demais”.

A voz de Jacob agora parecia mais um agouro do que uma lembrança. O que eu faço? Em que acredito? Olhei para a janela e bufei me levantando e saindo do quarto novamente. Andei até a porta dos fundos da casa e sai em direção à floresta. Aos poucos os passos rápidos se transformaram em uma corrida e eu segui pela trilha o mais longe que meus pulmões deixaram. Assim que parei e olhei para trás, eu não podia mais vez minha casa. As arvores ao meu redor eram altas e cheias, ainda um pouco molhadas por causa da chuva da noite passada e os pássaros estavam silenciosos. Eu olhei para o enorme tronco no chão e me sentei colocando a cabeça entre as mãos. Repassei cada um dos meus momentos com Emmett em minha cabeça e toda a história que Jacob me contou. Aquilo era loucura, eu estava ficando louca.

Levantei-me andando novamente, eu não sabia mais o quão longe de casa eu estava, encostei minha mão no tronco da árvore, onde havia uma estranha marca que se encaixava perfeitamente no formato de uma mão, como se alguém tivesse a apertado até deixar marca. Ali entre as arvores era muito mais fácil acreditar em tudo o que eu havia lido, pensado e escutado. Eu respirei fundo afugentando esse pensamento e me virei encarando a trilha que me levaria de volta para casa. Não parecia faltar muito para escurecer. Voltei a caminhar de volta enquanto pensava em Emmett. E a cada passo uma coisa ficava clara para mim. Eu estava apaixonada por ele. E eu tinha medo que isso me matasse.

Para mim estava óbvio que eles não eram humanos... poderiam até não ser vampiros como Jacob alegava, mas eles eram alguma coisa. Mas se eles fossem, o que eu faria? Eu não conseguiria ficar longe dele, eu não queria estar longe dele.

Eu tentei parar de pensar nisso enquanto caminhava mais rápido para casa. Parei assim que cheguei no quintal e Bella estava sentada nos degraus da escada. Ela se levantou e eu corri em sua direção a abraçando. Minha irmã retribuiu o abraço e nós ficamos assim por um tempo.

—Estou com medo. –eu sussurrei para ela.

Me separei dela e ela me olhou segurando minhas mãos.

—Estamos juntas nessa. E está tudo bem, eles não vão nos machucar. –ela disse baixo.

—Como você pode ter tanta certeza disso? Bella eles são vampiros! –eu disse incrédula entrando em casa. O desespero de dizer a palavra fazendo meu coração acelerar. –Vampiros se alimentam de sangue, sangue de humanos, o nosso sangue!

—Jacob disse que eles não se alimentam...

—Ele também disse que nunca se sabe quando a fome deles é grande demais para eles resistirem! –eu gritei sentindo meus olhos se enxerem de lágrimas. –Bella, eu estou com medo por mim e por você! Emmett disse que não era seguro eu ficar perto dele e agora eu entendo perfeitamente o que ele quis dizer com isso!

—E mesmo assim você quis ficar perto dele! Você está apaixonada por ele e ele por você. É claro isso, para qualquer um que vê vocês juntos!

—E essa paixão pode me matar!

—Camille, durante todo esse tempo você esteve ao lado dele e ele nunca te machucou! Ele teve diversas chances e nunca o fez! É normal você estar com medo e eu admito que também estou, mas você não precisa fugir disso por causa do seu medo. –ela disse fazendo-me sentar no sofá.

Bella me puxou para seu colo e eu fechei meus olhos enquanto ela secava minhas lágrimas.

—Vai ficar tudo bem. Nós vamos ficar bem. –ela sussurrou como um mantra tentando me acalmar.

Bella estava calma sobre isso, como se já tivesse aceitado o fato e tomado sua decisão. Eu a admirava por sua coragem, mas temia pela mesma. Ela era minha irmã e a pessoa mais importante na minha vida. Nunca soube expressar isso e ela também não, nós nunca precisamos conversar muito, pois uma sempre sabia o que a outra precisava ou queria dizer, éramos ligadas da maneira que todos diziam que os gêmeos eram ou deveriam ser, mesmo sendo fisicamente diferentes.

Minha irmã fez-me sentar e eu a olhei, ela sorriu fraco secando minhas lágrimas e então segurou minhas mãos.

—Você quer ficar com ele? –ela perguntou. Eu assenti cansada, sem conseguir responder em voz alta. –Então apenas foque no que você sente por ele e no que você sabe, o desconhecido pode ser explorado depois. Não tenha medo. Tome seu tempo e quando estiver pronta, encare sua decisão.

Nós ouvimos o barulho do carro de Charlie e eu subi para meu quarto com a desculpa que faria meu trabalho de literatura. Eu não tive que me esforçar muito pra me concentrar na tarefa do dia, um trabalho sobre Macbeth que era pra ser entregue na quarta-feira. Eu me concentrei no perfil do duro projeto sem pensar em mais nada.

Mas assim que acabei, os pensamentos voltaram à minha mente em uma velocidade alarmante. Tudo parecia claro para mim agora. Eu realmente estava apaixonada por ele e queria estar perto dele a cada segundo. Mesmo agora, enquanto estava com medo de tudo o que estava se passando em minha cabeça, eu o queria ali comigo, esclarecendo minhas dúvidas e dizendo que tudo ficaria bem.

Eu não dormi naquela noite. E pela segunda vez desde que eu cheguei a Forks, a manhã surgiu com o brilho amarelo de um dia de sol. Quando fui olhar pela janela a abri eu fechei meus olhos, respirando o ar relativamente seco. Eu me arrumei com pressa e Charlie e Bella estavam terminando o café da manhã quando eu desci, e ele percebeu o meu humor imediatamente.

—Belo dia lá fora. -Ele comentou.

—Sim. -Bella concordou sorrindo.

Eu apenas assenti forçando um sorriso. Fingindo que eu concordava.

Meu pai sorriu de volta, seus olhos castanhos se enrugando nos cantos. Quando Charlie sorria era mais fácil perceber porque minha mãe havia aceitado se casar tão rápido.Grande parte daquele jovem romântico havia desaparecido antes que eu tivesse nascido, como o cabelo castanho e cacheado da mesma cor, se não textura dos meus, tinham sumido, lentamente revelando mais e mais a pele brilhante da testa dele. Mas quando ele sorria, eu podia ver um pouco do homem que fugiu com Renée quando ela não era nem dois anos mais velha do que eu sou agora.

O dia passou tão rápido quanto começou. Mike continuava animado pela viagem do final de semana, Jéssica falava o tempo todo sobre o baile e como esperado, Emmett e sua família não haviam vindo naquela manhã. Na Educação Física, nós tivemos uma palestra sobre os princípios do Badminton. Decidi passar o dia todo estudando e fazendo trabalhos e deveres da escola, escrevi para minha mãe e depois li um pouco. Isso fez o dia acabar rapidamente.

No dia seguinte não tinha muito sol, mas estava mais quente que o normal. Bella parecia animada para irmos até Port Angeles. Eu me arrumei usando algumas roupas que eu usava em Phoenix, como uma saia preta, minha blusa de crochê branca, um cachecol preto. Como Bella me alertou que poderia esfriar mais tarde eu coloquei uma meia calça escura e minhas botas. Soltei meu cabelo e fiz uma maquiagem simples.

—Você está linda. –ela disse sorrindo.

—Obrigada. –eu respondi automaticamente.

Durante a aula foi praticamente a mesma coisa e eu já estava cheia da rotina. Não conversei com ninguém naquele dia e Emmett não havia vindo. E por esse motivo eu estava ainda mais frustrada do que ontem. Saímos assim que a aula acabou no carro de Jéssica. Eu olhei para a janela e observei a placa de Forks que logo sumiu de vista.