Relatos do Cotidiano - Parte 1 escrita por Vale dos Contos Oficial


Capítulo 3
A Festa


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo não é indicado para menores de 16 anos: contém assuntos como alcoolismo e traição.



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Como o Zé Antônio me apresentou, sou o Carlos. Mesmo depois daquela pequena história e das consequências, há detalhes daquela festa que merecem ser contados.

Era um sábado um pouco nublado e o dia caía levemente no horizonte. Eu estava um pouco ansioso para aquela festa, já que eu iria sozinho. O Zé começou a detestar festas; Soraia tinha uma festa na casa da avó dela e cancelara de última hora; um dos nossos amigos, Marcos, estava viajando. Outra, Milena, foi para um acampamento do grupo de jovens da igreja que ela frequentava. Tinha meu cunhado que iria, mas não tenho tanta amizade com ele.

Eu havia separado algumas bebidas para levar na festa, mas nem iria beber muito à noite. Estava com o estômago ruim. Eu apenas iria para não ficar em casa. O clima lá estava meio ruim depois de uns rolos que aconteceram entre minha irmã mais velha, Cristina, e meus pais.

Meu tio, um homem robusto, barba bem preta e densa, perfeitamente desenhada, me levou. Eu pedi para ele me levar antes que meus pais brigassem comigo. Eu poderia ficar e ajudar a minha irmã, mas ela rejeitou a minha ajuda. Disse que ela precisaria arrumar tudo sozinha. A chácara, onde seria festa, era no meio do nada. O problema era que não tinha iluminação na estrada. O bom era que não havia vizinhos para reclamarem do barulho.

A música, assim que cheguei, estava alta. A playlist variava entre funk, sertanejo, pop, rock e eletrônica. Eu curtia mais funk e rock. Assim que cheguei, estavam algumas meninas do extensivo na entrada. Elas estavam recebendo o dinheiro da entrada e colocando as pulseiras no pessoal. Era meio desnecessário o seu uso, pois só entraria quem pagasse, mas era divertido.

Eu fiquei conversando com uma menina do terceiro ano. Ela tinha ficado uma vez com meu cunhado, porém, pelo o que ela me contou, ele fora um incrível babaca. Era infantil nas atitudes dele, além de ser um completo dramático. Eu já sabia disso. Nunca me esqueço do dia em que eu o conheci. Assim que ela me apresentou à família, os pais dela aceitaram de boa, porém ele fez um escândalo, não tinha ido com minha cara, queria brigar comigo. Em seguida, descobri que ele estava bêbado.

Voltando à festa, estava com um pouco mais de gente. Eu havia feito amizade com um pessoal do terceiro ano por causa da ex do meu cunhado. Durante as nossas conversas, eu bebia. A dor de estômago passara instantaneamente, o que eu estranhei. Era quase meia noite quando meu cunhado, Jonas, chegou. Ele já estava andando torto, com olheiras fortes abaixo dos olhos. Suas pernas trançavam e ele já cambaleava e trombava em outras pessoas. Por sorte, não me viu, por enquanto. Durante o decorrer da festa, muitos dos organizadores passavam com uma garrafa de vodka para as pessoas darem um gole. Toda vez que passavam pelo meu círculo de amigos, eu tomava um. Com certeza eu tomei quase um quarto de garrafa sozinho. Mesmo que seja forte, eu gosto de vodka pura, mas eu precisava tomar água antes e depois. Além disso, roubei um pouco de bebida dos meus amigos.

Eu estava muito louco, andava de um lado para o outro, conversando com todos. Mesmo com a visão embaçada e quase tudo girando, eu me mantinha consciente de tudo o que eu fazia. Do nada, eu escuto alguém gritando com o pessoal. Aquela menina que conversei no início, Beatriz, veio me chamar para jogar "Verdade ou Desafio", mas eu recusei. Ia ficar do lado apenas observando o caminhar da "brincadeira".

Eu detestava jogar, ainda mais quando o pessoal estava bêbado. Eles não tinham noção do que perguntavam. Meu cunhado estava naquela rodinha. Ele estava com a boca toda vermelha, parecendo um palhaço. Tinha ficado com alguma garota. Aquela garrafa rodava e rodava e todos estavam tensos, com medo de onde ela pararia. Parou, primeiro, no meu cunhado.

—Verdade ou Desafio? – Perguntou o garoto para onde a parte inferior da garrafa parou.

—Verdade. – Jonas respondeu com a voz bamba. Houve uma negação coletiva, pois esperavam que ele dissesse "Desafio"

—É verdade que já ficou com um garoto?

—Verdade. – Foi um susto geral. Até eu fiquei assustado. Meu cunhado era bissexual, pois eu já o vi com outras garotas e sabia que gostava de garotas.

Meu estômago começou a revirar. Parecia que eu ia vomitar, contudo, corri para a geladeira que tinha no lugar e peguei uma garrafinha de água que eu tinha levado e corri para a saída. Não havia ninguém lá, sorte minha. Vomitei muito, como se nunca tivesse vomitado e como se tudo o que eu comi na minha vida toda saísse pela minha boca. Eu sentia meu estômago se mexendo dentro de mim. Era a primeira vez que eu vomitava, e esperava ser a última. Com a minha garrafinha de água, eu sentei no chão e comecei a beber muita água. Infelizmente, havia levado apenas aquela e não vi ninguém com água. Fiquei ali, sentado no chão, olhando para o enorme pasto que se ampliava a minha frente por minutos, que virou horas. Mexia no celular e ouvia e cantava as músicas do interior da caixa.

Eu podia ouvir um tumulto dentro da festa, provavelmente alguém puxando briga. De repente, o portão se abre e saem algumas pessoas. Dentro do grupo, estava meu cunhado, que olhava para todos os lados. Fiquei ainda sentado, esperando que ninguém me notasse, ainda mais que eu estava atrás de uma caminhonete. Do nada, todos voltaram lá para dentro e meu cunhado ficou lá fora. Certeza que havia sido expulso, porém, ele começou a me chamar. Eu me levantei e segui até ele, que correu e me abraçou. Quando ele não me viu mais perto da rodinha dele, achou que algo tinha acontecido comigo.

—Eu só dei um leve PT. Não se preocupa com isso.

Eu, sem notar, estava me movendo para perto da parede. Nada estranhei, até que ele, ainda abraçado, afastou o rosto. Eu estava aéreo e nem reparei que ele se aproximou de mim e me beijou. Eu sentia seus lábios nos meus. Ele cheirava a álcool e eu estava estático, minha boca nem se mexia.

Ele, sem olhar para o meu rosto, saiu de perto de mim e voltou para dentro da edícula. Todos gritaram quando viram o rosto dele amarrotado e o leve cheiro do meu perfume, o último resquício que ficou em mim, em sua roupa.

Eu estava em choque. O que ele havia feito? Por que ele fez isso? Eu caí no chão e comecei a chorar. Fiquei assim por uma hora, até criar coragem e ligar para o meu tio ir me buscar. Nesse meio tempo, eu vi o meu cunhado sendo carregado por alguns amigos dele para dentro de um carro.

O carro saiu furiosamente veloz da festa, levantando uma enorme nuvem de poeira. Meu tio apareceu e me perguntou o que havia ocorrido. Falei que de nada sabia.

Assim que cheguei à casa dele, pois dormiria lá, fui direto para o quarto de hóspedes. Ele me deixou lá e se despediu.

No dia seguinte, eu não saí do quarto. Fiquei chorando o dia todo. Bem, analisando o fato de eu ter acordado à uma da tarde, chorei apenas metade do dia. Como eu, sem querer, havia deixado minhas coisas da escola, incluindo uniforme, na casa dele, avisei meu pai que dormiria lá. O clima poderia não estar bom em casa e eu não estava com paciência para suportar a ignorância dos meus pais.

Minha tia até me agradeceu por ficar lá, pois isso forçaria que meu tio ficasse também. Ele queria ir a uma festa e minha tia não estava com vontade.

Passei o dia comendo sorvete, pois o clima quente não ajudava a minha ansiedade e minha decepção. Precisava conversar com Zé Antônio. Ele saberia como me ajudar. Eu, enquanto via as minhas séries, ecoava em minha mente essa cruel pergunta: "Afinal, eu traí ou não a minha namorada?".

 

 


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