Relatos do Cotidiano - Parte 1 escrita por Vale dos Contos Oficial


Capítulo 12
O Culpado


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo não é indicado para menores de 12 anos: há cenas de intriga familiar.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/764387/chapter/12

Era segunda-feira, a noite estava um pouco nublada e um vento fresco batia na janela da sala onde a gente se encontrava. Milena chegou depois de um tempo, cerca de uma hora depois que eu e Zé Antônio. Soraia, minha namorada, segurava a minha mão com tanta força que ela ficou vermelha por um bom tempo.

—Carlos, por favor, poderia pegar água para mim? – Miranda acabou de levantar do sofá, onde dormiu até aquele momento. Ela estava acabada desde a última vez em que a vi. Isso ocorreu cerca de três meses, quando a conheci em um almoço da família de Soraia.

—Pego sim.

Eu me levantei, mas demorei um pouco, pois Jonas estava na cozinha. Assim que ele retornou com uma assadeira lotada de pipoca, Soraia me acompanhou para pegar outra com pão de queijo e bolo. Eu peguei o copo com água e voltei para a cozinha.

—Sô, tem mais alguma coisa para levar para a sala?

—Acho que os sucos e refrigerantes já estão lá, somente os copos que faltam.

—Ainda não entendi o motivo de tanta comida aqui em casa. – Era o meu sogro. – Vocês deviam estar mais sérios do que isso.

—Eu creio que a Miranda precisa de comida, já que tem duas pessoas para alimentar.

—Não por muito tempo. Eu conheço um amigo que faz aborto.

—Pai, por favor, falaremos disso depois. Primeiro, precisaremos descobrir quem foi.

—Se ela falasse...

—Querido, você se lembra que o cara a ameaçou? – Minha sogra, um amor de pessoa. Quase lembro da bronca que deu em Jonas no dia em que nos conhecemos.

—Claro que sim. Por isso que fomos à delegacia fazer o boletim de ocorrência. Pelo menos, ele ficará atrás das grades.

—Acho que não. – Jonas apareceu atrás da minha sogra com o copo de Miranda. – Se o cara tiver muito dinheiro e subornar o juiz ou o júri, não sabemos o que acontecerá.

—Otimismo mandou um beijo, não é Jonas? – Atrás dele, apareceu uma garota. Ela tinha uma altura parecida com a de Miranda, vestia uma jeans e uma blusa folgada.

—Juliana, tudo bem? Como você entrou?

—Milena abriu para mim. – Milena, uma garota um pouco baixinha se comparar conosco, estava vestindo um short até o joelho e uma camiseta rosa. – Cadê a Miranda?

—Estou aqui. – Ela apareceu atrás do pessoal que parou diante da porta da cozinha.

—Garota do céu, o que aquele demônio fez com você? E quem é o desgraçado? Eu o farei dançar sobre lava quando o encontrar.

—Deixa de ser exagerada. – Juliana abraçou a Miranda na barriga, mas ela esquivou. – Minha barriga!

—Ué... Você está grávida?

—Estou sim, Ju.

—Miranda, você conta tudo à sua amiga depois. Meu pai precisa falar. – Jonas cortou o diálogo entre as amigas.

—Bom, a polícia vai querer fazer muitos exames com a Miranda para ter certeza de que houve estupro.

—Duas semanas depois não haverá nada.

—Ela está grávida e com o corpo lotado de hematomas. Além disso, deve estar bem machucado. – Não pareceu tão sutil quanto estava em minha cabeça, mas tudo bem. – Acho que eles considerarão isso também.

—E se tiver testemunha?

—Temos uma, pelo menos. – Juliana, enquanto abraçava a amiga, levantou a mão. – Eu estava na festa. – Ela chorava junto da amiga. – Miranda, por favor, me perdoe. Eu estava ali do seu lado. Não deveria tê-la deixado. Deveria ter ido comigo para o carro.

—Juliana, esqueça isso, ele era muito forte. Talvez você também fosse violentada. – A menina, apesar de conseguir ficar em pé, caía muito. Estava fraca, estava frágil. – Jonas, você descobriu alguma coisa?

—Estou tentando, mas não há câmeras de segurança onde você disse que ocorreu.

—E você sabe quem foi?

—Eu tenho as minhas suspeitas.

—Jonas, por favor, fale logo quem é! – Soraia deu um grito que ecoou pelo lugar. – Eu vi em seu celular a sua conversa com a pessoa!

—Soraia, como?

—Como? Que pergunta mais útil, não é? Nossa prima é estuprada e você fica se importando como eu li uma mensagem de nada em seu celular.

—Sô, eu irei me encontrar com ele e o farei confessar.

—Por que não usa as mensagens?

—Ele pode trocar de número, destruir o chip desse aqui.

—É melhor que nada.

—Filho, por que não disse nada?

Meus sogros se levantaram e foram até o filho, atrapalhando o embate de argumentos entre ele e a irmã. Eles começaram a enchê-lo de perguntas, pareciam jornalistas à procura de uma notícia que abalasse o mundo.

—Eu que pedi para ele descobrir quem foi. – Miranda estava ao lado deles. – Eu só quero proteger a Soraia.

—Jonas, me faça um favor? – Miranda encarava o primo com os olhos inchados. A conversa com os avós não fora nenhum pouco pacífica. – Eu sei quem é o garoto e você o conhece. Assim que lembrar da festa, a resposta estará clara. – Ela não dizia quem, pois não estaria revelando claramente o criminoso. Sua prima estaria segura.

Nisso, a campainha tocou e eu fui ver quem era.

—Quem é?

—Aqui é Rogério. Vim falar com a Miranda. Os pais dela disseram que ela se encontrava aqui

—Miranda, você conhece algum Rogério?

—Conheço sim. Ele é um amigo meu.

—Espera. Rogério, aquele que me atendeu? – A pergunta foi respondida assim que o médico entrou. Ele vestia uma roupa branca, sinal de que acabara de sair do hospital.

—Uau! Quanta gente! – Rogério virou para Miranda, que caminhou para dar-lhe um abraço. – E como você está?

—Estou bem. O pessoal está me ajudando bastante. – Eles trocavam um olhar tão diferente, tão pacífico. Eu me via naquele olhar, no mesmo dia em que pedi Soraia em namoro.

—Fico feliz que você esteja bem. Por acaso, já descobriu quem foi?

—Meu irmão sabe, não é Jonas?

—Jonas, você sabe?

—Sabe mesmo. Até trocou mensagens com a pessoa.

—Soraia, por favor, me deixa trabalhar direito.

—E o que você acha que vai fazer às escondidas e ignorar o fato de que sua prima foi violentada?

—Sô, por favor, se o seu irmão quer me ajudar desse jeito, eu tenho que aceitar. – Miranda soltou o amigo e foi até Soraia para acalmá-la.

—Mi, ele está enrolando. Ele tem contato com a pessoa há muito tempo.

—Jonas, diga. Nós sabemos quem estava na festa do clube.

—Espera. Em qual festa? – Rogério indagou Jonas.

—Foi uma no centro, duas semanas atrás, no clube "Fire and Ice".

—Eu estava naquela festa. Que horas vocês foram embora?

—Eram umas duas da manhã. Chegamos relativamente cedo lá também.

—Jonas, foi ele? – Meu cunhado concordou com a cabeça sobre a pergunta de Rogério. – Miranda, você viu a pessoa no postinho? – E ela concordou.

—Vocês sabem quem foi?

—Eu sei e eu agora entendo o que eu vi nas filmagens. – Ele pegou o celular e mostrou à Miranda um vídeo. – Foi por isso que eu vim aqui para falar com você.

—Ele me ameaçou aí novamente. Ele disse que iria atrás de Soraia se eu contasse a alguém.

—Se ele ousar a tocar em minha filha, eu farei ele desaparecer da face da Terra.

—Então precisaremos correr. – Todos se espantaram e viraram o olhar para Rogério. –Ele apareceu hoje na aula para dizer que abandonaria a faculdade e vai fazer um intercâmbio de dois anos na Grécia. Dentro de um mês, estará partindo. E talvez,não volte mais ao Brasil.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Relatos do Cotidiano - Parte 1" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.