Just the usual coaching escrita por Mileh Diamond


Capítulo 1
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Caramba, nem parece que é história minha, ninguém morreu :x
Os diálogos desse capítulo acontecem simultaneamente, só que com pontos de vista diferentes. Só avisando para vocês não se confundirem.

Boa leitura!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/764312/chapter/1

 

— Patético.

 

— Deprimente.

 

— Lerdos... Eles têm quase quarenta anos, não?

 

— E eu lá sei. Treinador Nikiforov poderia ter 70 anos e não teríamos certeza. O cabelo cinza confunde todo mundo. - Yakov resmungou, olhando para a cena que se desdobrava do outro lado do rinque.

 

Todo ano, em toda competição, em todo programa de verão, em todo banquete de gala, em todo show de patinação... Era a mesma coisa. Depois de um tempo começa a irritar. E ele já era facilmente irritável.

 

Yakov e Celestino deveriam estar aproveitando o tempo livre para treinar spins no gelo ou alguma outra coisa útil naquele programa fora de temporada. Mas era mais legal jogar conversa fora enquanto seus treinadores bancavam os trouxas pra todo mundo ver. Eles nem estavam prestando atenção ao que os patinadores estavam fazendo.

 

— Treinador Katsuki quase teve um troço quando Nikiforov se atrasou na cerimônia de abertura. - o italiano confessou atrás de uma mão. — Ele achou que ele não participaria esse ano.

 

— Tsk. Victor se atrasou porque não se decidia entre dois blazers exatamente iguais. Eu tenho certeza que ouvi ele dizer "Qual será que Yuuri vai gostar mais?". - o mais velho revirou os olhos. — O dia em que aqueles dois se acertarem, eu danço Britney Spears na apresentação de gala.

 

— Eu quero ver isso. - Lilia disse chegando com um copo de café grande demais para uma adolescente de 16. — Eles juntos, não você de Britney, Feltsman.

 

— Ninguém te chamou, Lilia. - o russo retrucou.

 

— Não precisava. Eu vim obrigada, mesmo. - ela disse inexpressiva antes de um longo gole de seu cappuccino. Precisava de muita cafeína para começar o dia decentemente. — Há quanto tempo eles estão lá?

 

— 26 minutos. - Cialdini respondeu olhando para o seu relógio. — Precisamos de mais meia hora para bater o último recorde.

 

— Patético. - ela disse com uma careta. - Por que eles não tomam vergonha na cara e marcam um encontro? Desde que eu me entendo por gente eles estão trocando olhares. Tá chato já.

 

— Porque Victor é um idiota e Katsuki é cego. - Yakov deu de ombros. - Você devia falar com ele, Cialdini.

 

— Eu? Por que eu? - o garoto perguntou com o cenho franzido.

 

— Ué, não são vocês italianos que são os mais românticos e toda aquela palhaçada? - o russo sorriu de lado.

 

— Não adianta quando estamos lidando com russos. São todos babacas. Você, Yakov, por exemplo, deveria ter chamado a Lilia pra sair já há uns trê-

 

— Eu vou embora. - Lilia disse dando meia volta enquanto Yakov puxava a cabeleira castanha de Celestino até ele calar a boca.

 

— Não tem medo de morrer não, lasanha? - o russo perguntou entredentes, a mão ainda no rabo de cavalo acobreado.

 

— Não. - o mesmo respondeu sorrindo apesar da dor. Seu trabalho como amigo irritante estava cumprido. Treinador Chulanont teria orgulho.

 

— Yasha, pare de brincar e volte para os spins! - Victor disse em voz alta, a conversa com Yuuri aparentemente concluída.

 

— O mesmo pra você, Ciao Ciao. Mundiais Júnior não se ganham sozinhos. - Yuuri disse também, num tom que quase não foi percebido com os gritos de outro treinador:

 

— Alguém viu a Lilia? - Yuri Plisetsky chamou pelo rinque não parecendo nada feliz por não encontrar sua aluna. — Aquela peste roubou meu café.

 

Os dois garotos seguraram o riso e voltaram às suas respectivas tarefas, imaginando se Lilia conseguiria sair viva daquilo.

 

Mais do que isso, imaginavam se Victor e Yuuri conseguiriam sair da bolha de ignorância em que viviam.








 

 

Yuuri tem uma queda muito mal escondida por Victor Nikiforov.

 

Desde o tempo em que patinaram juntos nos anos 90 e 2000, ele teve essa pequena adoração pelo atleta russo. Ele gostava de pensar que os dois eram amigos. Sempre dividindo pódios e rinques para shows, eles sempre estavam juntos, de um jeito ou de outro.

 

Quando os dois coincidentemente se aposentaram em 2009, Yuuri pensou que seus caminhos não voltariam a se cruzar. Victor poderia continuar ganhando dinheiro com as grifes esportivas, a carreira de modelo, ele até poderia ser ator se quisesse.

Ninguém esperava que ele acabaria como técnico.

 

Quando ouviu a notícia na época, Yuuri gritou de um jeito nada atraente. Porque se Victor viraria um técnico, ele trabalharia no mesmo ramo de Yuuri. Seus patinadores seriam rivais. Eles seriam rivais. Não era meio anti-ético ter um crush pelo cara que treina a concorrência?

 

No início, nem foi tão problemático assim. Yuuri só treinava algumas crianças em Tóquio e poucas tinham o potencial para ir pro exterior. Então elas cresceram. E a pequena Satsuki Muramoto, na época com 14, conseguiu classificação para o Grand Prix Júnior. E foi bem. Bem o suficiente para todos começarem a prestar atenção no estilo de treinamento do ex-patinador Yuuri Katsuki, com uma pergunta implícita: será que conseguiria produzir mais medalhistas que a lenda Victor Nikiforov?

 

Na época, Victor ainda não tinha conseguido grande expressividade como técnico, também. Mas estavam apenas começando. Não é como se pudesse mandar crianças de 12 anos fazerem quads em competições estaduais.

 

Os nomes nas competições começaram a ganhar destaque. Satsuki estava aperfeiçoando sua técnica, assim como a nova promessa de Nikiforov: Yakov Feltsman. Mas ainda não tinham a chance de colocar os métodos à prova. Quando os dois treinadores teriam bons patinadores na mesma categoria?

 

Aqui entra Celestino Cialdini. Em 2016, ele foi apresentado a Yuuri como um diamante bruto que precisava superar problemas como ansiedade e hiperatividade. O pobre garoto nem sabia falar japonês. Yuuri imediatamente decidiu que resolveria aquele problema. Ele tivera uma jornada tão parecida, era apenas justo que ele retribuísse com a nova geração.

 

Assim começa a história de como os estilos Katsuki e Nikiforov começaram um silencioso duelo na categoria Júnior.

 

Se Cialdini sabia deixar os programas rápidos e alegres, Feltsman tinha uma técnica impecável. Victor conseguia o feito de apresentar saltos mais complexos sem forçar tanto seus alunos. A comunidade já sabia que isso só dava problemas. E Yuuri, conhecido por ser um exímio dançarino, fazia de seus patinadores belos artistas. Era bem difícil escolher.

 

E mesmo com todo esse clima de aparente guerra, os times se davam muito bem. Yakov não tinha nenhum problema com Celestino e o sentimento era recíproco. Talvez, vez ou outra, houvesse puxões de cabelo ou chaves de braço saudáveis, mas isso era o jeito de demonstrarem que eram amigos. O mesmo para os outros membros da equipe.

 

E os treinadores? Eles se davam bem até demais.

 

Hoje, eles chegaram ao rinque ao mesmo tempo, apesar de não terem conversado imediatamente. Demorou um pouco para distribuir as tarefas para seus respectivos pupilos, mas quando feito, eles puderam se encontrar. Yuuri fez parecer um acidente.

 

— Oi, Victor. - ele disse com um pequeno sorriso, fazendo o treinador russo dar um pequeno pulo no lugar. - Desculpe, eu te assustei?

 

— Oh, não! Eu só estava muito concentrado com as... planilhas. É, planilhas. - Victor disse com um riso sem graça guardando o celular.

 

— Eu não te vi ontem na cerimônia de abertura. - ele disse casualmente, com sorte não soando tão desesperado. — Pensei que não tinha vindo esse ano.

— Eu acabei me atrasando. Crianças, sabe como são. E eu nunca perderia a chance de trabalhar com você. - ele disse com mais um daqueles sorrisos cativantes.

 

Viu, Yuuri? É completamente profissional. Yuuri pensou se esforçando para sorrir em agradecimento.

 

Já fazia cinco anos que Giacometti organizava aquele evento em Zurique com o objetivo de socialização dos "pequenos" e troca de experiências entre os treinadores. No fundo, ele só era uma das inúmeras pessoas que queria juntar aquele casal impossível. Mas disso eles não precisavam saber.

 

— Se é assim, estou feliz que tenha vindo. Seus meninos estão ficando muito bons. - sempre era bom elogiar os alunos, Yuuri sabia por experiência própria. Katsuki tinha um treinador inovador? Nah. Celestino tinha um bom triple axel? Ah, ele poderia falar sobre aquilo durante horas.

 

— Eles são esforçados, acima de tudo. Yasha é 70% trabalho duro e 30% talento. - ele confessou, olhando por um momento para o patinador no gelo, que estava refazendo sua sequência coreográfica.

 

— Sabe quem Yakov me lembra? - Yuuri perguntou, fazendo Victor voltar seu olhar pra ele.

 

— Quem?

 

— Yurio. - o japonês disse antes dos dois rirem.

 

— É, eles são bem parecidos. Acho que não se dão bem justamente por causa disso. - o mais velho deu de ombros. - Sabe, Yura disse que tem uma missão. E é tirar Satsuki Muramoto do primeiro lugar assim que Baranovskaya entrar na categoria sênior.

 

O moreno revirou os olhos, cruzando os braços como se aceitasse o desafio.

 

— Ele pode tentar. Lilia tem o potencial, mas Satsuki-chan tem experiência.

 

— Ele acha que todos conseguem ganhar ouro na primeira temporada sênior igual a ele. - Victor disse se lembrando do Grand Prix de 2002, um dos poucos em que ele ficou com a prata, por causa de Yuri Plisetsky.

 

— Lilia é muito parecida com ele. Talvez ela consiga. - ele ponderou por um segundo. - Só espero que ela tenha um pouco mais de juízo para escolher exibições de gala. Isso ele nunca teve.

 

Victor fez uma careta pela vergonha alheia. Ninguém gostava de lembrar de "Welcome to the Madness", mas era necessário para não repetir os erros do passado. Yuri era superprotetor demais para deixar sua patinadora tirar a roupa no gelo. Mas era liberal o suficiente para não barrar blusas abertas nas costas. Teriam que esperar pra ver.

 

A conversa continuou sem os dois se darem conta do tempo. Falar com Yuuri era tão... fácil. Não havia expectativas, padrões a serem seguidos, a pressão de parecer um treinador sério (o que Victor era, obviamente). Ele deixava as pessoas confortáveis. Victor acabava desejando que eles tivessem conversado mais quando eram jovens. Se ele tivesse sido menos distante, se ele fosse menos preocupado com medalhas e mais com a amizade... Quem sabe onde estariam hoje. Não teriam perdido tanto tempo.

 

Bom, antes tarde do que nunca, não?

 

— Yuuri, se não estiver ocupado mais tarde, o que acha de tomar um café comigo? - Victor disse indo ao exagero de usar a técnica de puxar o cabelo pra trás. Funcionava quando ele tinha vinte e poucos anos. Na porta dos quarenta deveria, também. — Chris me indicou uns lugares ótimos na cidade, gostaria de ter companhia.

 

— Oh, sério? - ele pareceu surpreso com o convite, até corando um pouco e desviando o olhar. - Eu... adoraria, na verdade. Só preciso organizar algumas coisas do treino de Celestino antes de anoitecer. Então podemos sair.

 

Victor fez um bom trabalho em não parecer animado demais como um psicopata. Aos 37 anos, ele iria num encontro com Yuuri Katsuki. Que demora, sinceramente. Mas até ele estava orgulhoso de si mesmo.

 

Antes que ele pudesse pedir o telefone de Yuuri, outro Yuri menos favorito apareceu com cara de poucos amigos. Ou pouca cafeína.

 

— Victor, você viu a Lilia? Eu sei que ela anda com aquele seu meliante. A garota evaporou e agora eu não a encontro. - o loiro disse parecendo pronto para deixar certas patinadoras de castigo no crossfit.

 

— Não vi, Yura. Seja educado e diga "oi". - Victor disse apontando o treinador japonês.

 

Yuri, em sua defesa, realmente mal tinha percebido a presença de Yuuri ali. Ele tendia a se distrair quando estava preocupado, irritado ou sem café. Nesse caso, eram os três. Mas ao notar o antigo rival, ele cruzou os braços e o encarou de cima a baixo. Com sorte, depois dos 20, ele ficara mais alto que Yuuri.

 

— Katsudon. - ele sorriu desafiador. — Vejo que você engordou.

 

— Vejo que você ainda parece uma garota de quinze anos, mas nada sexy. - o mais velho acabou sorrindo também, um leve arquear das sobrancelhas. — Ouvi dizer que você quer tirar o ouro da minha Satsuki. Imagino como vai conseguir isso.

 

Aquilo fez os olhos de Yuri brilharem. Ah, se o deixassem falar sobre todos os planos que tinha para Lilia, eles teriam medo por suas pobres patinadoras. Ora, se Baranovskaya pudesse competir contra os meninos, ela pisaria em Feltsman e limparia os pés em Cialdini. Seu pequeno cisne seria uma campeã, disso ele tinha certeza.

 

Agora, se ele apenas soubesse onde ela tinha se metido...

 

— Vou conseguir com a minha querida Lilushka, Katsudon. Aconselho você a melhorar aquele quad salchow questionável de Muramoto, porque quando a minha aluna for promovida a sênior... - Yuri teve a petulância de segurar o ombro de Yuuri em sinal de simpatia. — As coisas vão mudar. Até lá, pode relaxar e ensinar o velhote aqui a coreografar algo menos meloso. Sério, eu tenho pena do próximo moleque que tiver que patinar o Danúbio Azul.

 

— Falou o técnico que só conhece Tchaikovsky e Saint-Säens. - Victor murmurou em voz baixa.

 

Aparentemente, eles ficaram conversando por um tempo suficiente para seus alunos começarem a fazer corpo mole. Ah, juventude.

 

— Depois discutimos melhor aquele café. - ele mandou uma piscadela para Yuuri e voltou-se para o rinque. — Yasha, pare de brincar e volte para os spins!




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Hora da trívia~~
??” Pra quem não lembra/sabe, a Satsuki Muramoto é uma das treinadoras do Phichit, junto com o Celestino. Eu imagino que ela treinou o Yuuri em algum momento, também. Aqui nesse AU, ela é treinada pelos dois, sendo que o Phichit tem um papel mais secundário e está ocupado com patinadores mais novos. Ela está com 19 anos.
??” Victor não tava olhando planilha coisa nenhuma. Tava stalkeando o insta do crush e quase curtiu uma foto de 2015 por acidente quando ele apareceu. Patético.
??” Nem teve tanto romance, né? Patético².

E é isso! Essa fic foi pensada como uma one shot, mas se eu tiver vontade (e se vocês quiserem), quem sabe eu posto mais algumas coisinhas xD Amo esses AUs reversos, os treinadores precisam de mais amor!!
Até a próxima!

XOXO



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Just the usual coaching" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.