O Frio da Noite

O Frio não permite que minha alma saia...

Ele a confina em sua casca de vazio.

Elucidando tantos pensamentos

Sangrentos, como o sangue fino que respinga no carpete.

Sinto o vento cortar-me leve...

Num profundo grito de angústia,

Ou num choroso tom quase alegre.

Talvez o pouco esforço que faço para ver

E entender onde estou seja, de certa forma,

Parte inóspita de um pequeno show.

Dúvidas crescem enquanto procuro luz,

Mas parece que escuridão em meus olhos foi tudo que restou.

Minha pele arrepia com o álgido do clima...

Fazendo os pelos do braço eriçarem.

Sou leviano ao deixar meus pequenos demônios me levarem

A outro lugar senão esse quarto escuro.

Com os ouvidos surdos, ouço um ronco quase mudo,

E me assusto com as possibilidades de acordar algo,

No estranho ínfimo desse quarto,

Com uma faca manchada ao meu lado.

Sinto o gosto de sangue vermelho em meu lábio...

E o quente emergindo dos meus pulsos riscados.

Nenhuma epifania explicaria o paradoxo;

De sentir vida escorrendo pelo chão

E morte cálida na palma da mão.

Sei que cada palavra ou a simples respiração,

Tornam o ato de continuar mais difícil.

Deitado numa cama tão fria quanto o tempo...

Há quanto tempo eu aguardo resposta?

Sei que as pedi ao vento...

Mas ele trancou a porta velha e surrada

Desse solitário apartamento.

E deixou minha dúvida ruir,

Como o frio da noite cai sereno.

~Gabriel.