Menina

Eu pensei ter te visto num ônibus...

Mas, talvez fosse só uma miragem.

Como se eu procurasse em cada espelho,

Sua quase milagrosa imagem.

Acho que eu poderia dizer que é saudade,

Porém, cada linha que te escrevo termina em alarde.

Talvez eu devesse deixar de te procurar,

Tanto quanto tento conter a ansiedade.

É costume eu dizer-lhe em poemas,

O significado de te procurar em cada rodoviária.

Acredito ter deixado muito do seu cheiro para trás,

Contudo, às vezes, sinto uma espécie de vento estranho que o traz.

Eu pensei ter te visto caminhando...

Numa calçada movimentada.

Você estava num vestido vermelho,

E o calor do Sol te beijava.

Eu ponderei te seguir para dizer um “oi”,

Mas algo no meu íntimo me afastava.

Fiquei parado, no alto daquelas escadas...

Fitando-te enquanto calmamente pensava,

Se, na vida, esse tipo de oportunidade passava.

Acredito ter me virado para essa possibilidade,

Enquanto você caminhava ao seu destino com vistosa passividade.

Eu pensei ter te visto numa boate...

Dançando sob as luzes escarlates.

Você parecia estar se divertindo,

Embora eu estivesse pouco à vontade,

Com a chance de ir falar com você.

A música alta atrapalhava meus pensamentos,

E eu não fui capaz de dar ação aos movimentos,

De ir falar com você.

Sua dança era quase célere,

E meu devaneio, aos poucos, tornava-se breve.

Acredito ter escutado um barulho soturno,

Que te fez sair às pressas daquele bar noturno.

Eu pensei ter te visto num cemitério...

E analisei friamente sua face com um risco sério.

Podia ser só um fantasma seu,

Ou qualquer outro tipo de sósia estético.

Pensei ter visto borrada a maquiagem,

Que te fazia chorar lágrimas negras.

Elas pareciam sensatas,

Perante tanta aspereza e incerteza.

O dia era cinzento e não chovia,

E era difícil em ambos enxergar beleza.

Acredito ter me juntado a melancolia do dia,

E rezado pra uma menina que me trazia agonias.

~Gabriel.