Por mais que saibamos que a vida acaba, nunca estamos preparados para perder alguém.
Eu não estava.
Primeiro meus pais, todo meu clã e agora Itachi. Poderia eu aguentar o fardo de te-lo matado?
Depois de descobrir tudo que ele fez, tudo que sacrificou, ele estava morto. Por minhas mãos.

Gritei, soquei tudo que estava a minha frente. Esperneei e chorei. Qualquer coisa para extravasar a dor que dilacerava meu peito. Era como se o ar doesse ao entrar em meus pulmões.  As lagrimas pareciam sair ferventes de meus olhos. Tudo doía.

“Eu sempre vou te amar” Foi o que ele disse. Seu corpo sumiu em frente de meus olhos. Ele sorria.

Gritei seu nome na esperança de que voltasse. Mas obviamente ele não voltaria.
Eu também não voltaria se estivesse em seu lugar.
Caminhamos em um mundo horrível onde todos fingem viver em paz.
Um mundo melhor.
Pura ilusão, jamais seremos capazes de viver em harmonia. O ser humano é uma doença.

A raiva correu por minhas veias, se juntou a cada célula do meu corpo. Ela se tornou essencial. Eu não sobreviveria sem senti-la.

Vingança.

Só de pronunciar essa palavra meus lábios sorriam e eu sentia o gosto amargo de seu significado.

Vermelho.

Quero que o vermelho esteja em minha roupa e espada.

O vermelho do sangue de meus inimigos.

Você tinha razão irmão. Eu era fraco, pois me faltava ódio.
Eu sou forte. O mais forte de todos.


Naruto era ingênuo o suficiente para achar que eu poderia ser salvo. Com palavras tentou trazer luz a minha escuridão.
Sinto muito velho amigo. Eu não tenho esperanças e você também não deveria ter.

Foi difícil. Triste. Pesado.
Mas eu precisava fazer isso.

Naruto precisa morrer. Eu sei que isso é o certo. Não é?  Se continuar vivo me impedirá de destruir aquela vila amaldiçoada.

Eu não entendo esse amor.
Tanto ele quanto Itachi estavam dispostos a sacrificar sua vida para mante-la em ordem. Mante-la em segurança.


Já não aguentava mais, porem não desistiria. Aguentaria aquele peso ate o fim.
Vingarei meu amado irmão custe o que custar.

Sasuke!

Aquele grito irritante me tirou de meus devaneios. Maldito Naruto.
Ele continuava com seu discurso irritante. Que inferno. Apenas cale a boca e aceite que certas coisas não têm concerto.

Demos tudo de nós. Ate mesmo respirar era uma tarefa difícil. Eu não posso aceitar. Eu...

E o que eu achei que nunca poderia acontecer me deixou atordoado.
A venda que o desejo por poder colocou sobre meus olhos caiu.
A raiva parecia sair junto com o suor e sangue de meu corpo.
As palavras do loiro realmente invadiram meu ser!

Como se minhas memórias a muito roubadas tivessem sido devolvidas me lembrei de tudo que passamos juntos.
As missões, as ridas, as competições.

Iruka Sensei. Kakashi Sensei e ate mesmo Sakura.

Desde o inicio eu os tive por perto, como fui cego.

Caído no chão frio ao lado de Naruto eu pude ver como fui negligente com tudo ao meu redor.

Suspirei derrotado, não sei dizer quantas horas se passaram, mas pareciam muitas.
E nessas muitas horas eu pensei em tudo.

Refleti.
Me lamentei.
Chorei.
Me arrependi.

Estava amanhecendo, a brisa fresca do fim da madrugada ainda batia em meu rosto. Apesar de não sentir muito mais do que isso.
 Meu corpo estava paralisado.
Vi como o céu ficava bonito há essa hora. O tom alaranjado do dia invadindo o negro da noite.
Me peguei sorrindo minimamente ao pensar como isso parecia comigo e com o maldito do Naruto.
Sempre conseguindo tocar as pessoas. Sempre fazendo o mau se tornar bom.
Um ótimo amigo. O meu melhor amigo. Por isso o tentei matar a tanto tempo atrás.
Sou um tolo.

Itachi-Nii San, eu posso mesmo ser amado? Eu posso ser perdoado? Teria minha alma salvação?

Não aguentava mais ficar com os olhos abertos quando ouvi ao longe a voz de Sakura gritando por Naruto.

“Naruto. Perdoe-me” Foi o que consegui dizer antes de perder a consciência.

Ouvia gritos distantes. Eu conhecia essa voz. Era ela. Irritante Haruno Sakura.
Abri meus olhos e o sol estava alto no céu. Com dificuldade virei minha cabeça e pude ver que a rosada curava o loiro e gritava seu nome seguido de ordens para que aguentasse firme ou que não dormisse.
Havia muito sangue.
Naruto, ele... Não tinha um braço.  

Arregalei meus olhos e novamente fui invadido por uma imensa culpa. Tentei chamar por alguém, mas minha voz não saiu.

Kakashi se aproximou. Seu semblante estava serio apesar do notável cansaço. Ele não me disse nada, apenas se ajoelhou ao meu lado e esperou que Sakura terminasse com Naruto para então vir ate mim.

Pensei que em outros tempos eu teria sido a primeira pessoa que ela teria socorrido, mas de certa forma fiquei feliz que ela escolheu Naruto dessa vez. Isso mostrava que ela não era ingênua de continuar me preferindo depois de tudo que eu fiz.
Ela havia crescido, agora podia olhá-la sem pressa. Admito que esta bonita, mesmo suja de sangue e exausta. Estava forte também, não mais dependia de alguém para protegê-la.
Conclui que Sakura era o perigo em pessoa. Inteligente e forte.

“Sakura, acho melhor se apressar, Sasuke esta sorrindo sozinho.” Kakashi gritou - claramente se divertindo com a minha lamentável situação - atraindo a atenção dela. Seus lindos olhos verdes me analisaram rapidamente e meu coração se aqueceu. Eu devo estar morrendo mesmo.

Novamente eu parti a deixando para trás. Confesso que dessa fez foi mais difícil que a primeira.
Antes eu possuía a marca da maldição, ela me guiou e dominou. Mesmo me deixando mais forte, me custou muitas coisas.

Deixar Sakura para trás era estranhamente triste. Mas necessário. Eu precisava disso, quem sabe depois eu poderia finalmente conversar com ela e tentar explicar a minha difícil e complicada vida longe da vila.

Era difícil. E não apenas por também ter perdido meu braço.
 Por mais que eu fosse perdoado por quase todos. O ser obscuro que ate então me dominava, ainda vivia dentro de mim, e ele jamais iria sair.
Ele estava muito vivo em minha memória.
Eu jamais poderia apagar todo o mal que fiz. Todo o sangue que desejei ainda me sujava. Sinto-me imundo.
Parece que ficarei louco. Estou desesperadamente só.
Poderia alguém me abraçar e oferecer conforto? Eu preciso de segurança para ficar frágil. Apenas alguns minutos sem essa armadura que esconde qualquer sentimento que eu poderia vir de ter.

Já se passaram anos. Esta na hora de voltar, não aguento mais. Ela é a única que poderá me acolher. Pelo menos é o que eu espero.




“Sasuke, você finalmente voltou” Naruto me recebeu em sua casa. Me ofereceu um caloroso abraço, recebi de bom grado. Não via mais necessidade de ser frio. Dane-se tudo. Ele era meu amigo afinal de contas.
Depois de uma breve conversa lhe contei meu desejo de ver Sakura, sorrindo ele me disse que ela agora morava sozinha em um apartamento perto do hospital, ao qual ela trabalhava horas ate demais, segundo o loiro.
Naruto me encorajou mais ainda, porem também me advertiu.
“Sakura é como minha irmã, ela já sofreu muito por você. Se continuar a machucando eu juro que te arrebento mesmo sendo meu melhor amigo.” Disse levantando o polegar com seu autentico sorriso ingênuo. Me vi obrigado a sorrir também. Ele havia amadurecido muito.

“Você esta bem?” Perguntei um pouco desconfortável.  Estamos sentados de frente um para o outro na pequena sala de Sakura. Essa me olhava de forma indecifrável.
Até muito tempo Sakura era completamente transparente para mim.
Mas parece que eu não sou o único a usar uma armadura.

Como ela não me respondeu resolvi continuar. Abri minha mente perturbada a ela. Contei meus medos e meus arrependimentos.
Mesmo com medo de ela me manda embora depois de terminar de falar eu continuei.

Quando senti que não mais poderia segurar as lagrimas confessei:

 “Meus olhos pesam cheio de lágrimas. Lágrimas que nunca consigo por para fora. Tudo está se acumulando aqui dentro e tenho medo do resultado que isso pode me causar.”

Foi quente como eu imaginei que seria. Mal me lembrava como era sentir o abraço de Sakura. Como era ser amparado por ela.  Finalmente libertei o choro.
Com todo o carinho do mundo ela me deitou em suas pernas, chorei como a muito não fazia.
Era libertador.

Quando consegui falar novamente, falei de Itachi para ela. Sakura ouviu pacientemente enquanto mexia em meu cabelo, pude sentir um calor diferente, percebi então que ela usava sua habilidade de medica ninja para aliviar a dor de minha cabeça. Muito relaxante.

Desabafei meus medos, arrependimentos e saudades. Agora faltava apenas uma coisa.
Aquilo que em minha volta para a vila pensei tanto.

“Sakura, eu não sei o que você sente ainda por mim. E obviamente eu não sou digno de nada que você me ofereça. Ainda sim, eu preciso de você.”

 “Sasuke, o que esta dizendo?” Ela estava claramente perturbada com minhas palavras.

“Me ame ou me odeie. Me mande para o inferno. Exploda na minha cara ou se derreta na minha mão. Deixa eu te ver morrendo de tanto rir ou com vergonha das olheiras de tanto chorar. Me abrace, me esmurre, me lamba ou me empurre. Mas por favor, me deixe ficar do seu lado.”

Os olhos verdes estavam arregalados, agora sentado novamente de frente para ela, eu segurei suas mãos.  Elas tremiam e estavam suadas. A boca da rosada se abriu e fechou varias vezes sem que nenhuma palavra saísse.

“Você não esta me enganando? Isso não é algum tipo de truque? Estou presa em algum Genjutsu?” Falou apressada e se levantando assustada.

“Tive muito tempo para pensar nisso. Eu estou sendo sincero. Eu jamais abriria meu coração para qualquer um. Você melhor do que ninguém deveria saber disso.”

 “Eu sei. Eu realmente sei, mas parece bom demais para ser verdade. Droga.” Praguejou.
 “Sabe o quanto eu esperei por você? O quanto sofri e chorei? Ate mesmo atentar contra minha vida você tentou e eu continuei te amando. Seu desgraçado. Eu ainda te amo.”

Sakura desferiu um forte tapa conta meu rosto. Se tivesse vindo de qualquer outra mulher eu sentiria apenas um ardor, mas era da discípula da antiga Hokage que estamos falando.
 Ela havia herdado sua força, ou seja, meu maxilar quase saiu do lugar.

Aceitei a dor e estava disposto a receber mais destes, eu mereço.
Mas Sakura me surpreendeu ao puxar fortemente minha capa e juntar nossos lábios.

Nunca havia provado de tal sensação. Era como se meu peito estivesse em chamas. Meus lábios se moviam desengonçados, mas ainda sim foi bom.

As bochechas vermelhas me diziam que ela também nunca havia feito isso. Sua coragem me encheu de orgulho e surpresa. Que mulher incrível.

“Se não for me amar exageradamente com tudo que você tem e com todo seu coração, não me ame. Não quero sutileza, quero intensidade.” Seus olhos brilharam.

Intensidade. Com certeza eu daria isso a ela.

Felicidade era algo que mal me lembrava como sentir. Eu quero sentir isso mais vezes. Eu preciso disso.


À noite senti como era quente o toque no seu corpo nu.

Eu entendi porque Sakura queria intensidade, ela era uma tempestade e somente alguém a minha altura poderia controlá-la. Não que eu quisesse fazer isso.
Ela deveria ser completamente livre ao meu lado.
Eu quero tudo que ela tem para me oferecer.

Mordeu.
Arranhou.
Lambeu.
Se derreteu em minha única mão.

Talvez eu não merecesse isso, mas nunca mais abriria mão dela.
Ninguém tiraria o que conquistei.

O amor é forte.
Eu realmente fui um tolo e cego.
Achar que o ódio poderia ser o mais forte dos sentimentos.

Os anos se passaram.

Em uma bela noite sentei na varanda da casa que dividia com minha esposa.
Conversei com Itachi, lhe contei que finalmente me sentia parte de algo. Sentia-me amado.
O céu estava limpo, me dando uma bela visão das estrelas.
Ouvi Sakura chegando, ela realmente trabalhava demais.

Quando ela chegou ate onde eu me encontrava, seu sorriso me atingiu.
Percebi que não precisava olhar para fora.
Ela era como o céu. O céu cheio de estrelas. Uma lua que iluminava apenas a mim.

Mesmo sorrindo notei seu nervosismo. Encorajei para ela contar o que lhe afligia.

Respiro fundo.
Fechou os olhos com força.
Os abriu.
Caminhou para perto de mim e segurou meu rosto os as duas mãos.

 “Querido eu preciso lhe contar uma coisa.”

Senti o coração apertar.  Esperei ela continuar antes de deixar transparecer alguma reação.

“Sasuke, há um tempo estamos juntos, mas apesar disso, no fundo do meu coração eu sentia que éramos incompletos.”

O que ela queria dizer com isso?
Ela não estava satisfeita comigo?
Queria ela me deixar?

“Sakura eu não estou entendendo.” Franzi o cenho claramente incomodado com suas palavras. Mas ela sorriu terna confundindo mais ainda meus pensamentos.

“Finalmente somos completos. - Sorriu mais em meio a uma dramática pausa - Eu estou grávida, querido.”

Como explicar o que senti? Provavelmente não acharei palavras.

As pernas antes firmes se mostraram tremulas e achei que não conseguiria aguentar o peso de meu corpo.

Pisquei varias vezes. Meus olhos ardiam. Eu chorei.

Chorei de felicidade e isso foi ótimo. Eu finalmente soube o que era se sentir tão bem ao ponto de não saber o que fazer e o corpo sozinho extravasar.
As lagrimas eram mais significativas que qualquer palavra que eu poderia dizer a Sakura.

Beijei-lhe e a girei no ar. Poderia eu ser o homem mais sortudo do mundo? Com certeza sim!

Eu vou ser pai!

Nossa filha Sarada corria junto de Boruto, filho de Naruto e Hinata.

Konoha vivia tempos de paz, Naruto nosso atual Hokage se esforçava todos os dias para manter isso.

Todo o mundo ninja estava em paz.

Eu ajudava a mante-la.
Por Itachi, por minha família e por todas as pessoas que faziam parte de minha vida.

Olhei novamente minha menininha e sorri orgulhoso. Rodeei meu braço pela cintura de minha esposa.

“Não existe melhor presente que eu poderia ter ganhado. Você me deu a família que eu tanto almejei e me faz imensamente feliz. Eu realmente te amo.”


Itachi-Nii San, eu finalmente estou no ápice de minha vida.
Eu adoraria que estivesse aqui. Poderíamos compartilhar felicidades.
Minha família estaria mais que completa.

Sarada com certeza iria te amar muito. Você seria o melhor tio de todos. A mimaria muito imagino.

A paz esta garantida para a futura geração crescer bem. Eu a protegerei prometo.

Eu amo você irmão.

Obrigado.