O Falcão Cinzento escrita por Moonlight Butterfly


Capítulo 1
A Águia e o Lobo




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— Mas… Elana… só quero proteger a sua honra...

— Não, Jon. Você não vai me impedir de ter outro filho. Quem sabe o Estranho possa poupar você, seus filhos e suas futuras esposas se resolver ser um pouco mais humano.

Elana Arryn, a irmã mais nova do Lorde do Vale, Jon Arryn, estava grávida, tendo já uma certa idade, 46 anos. O pai da criança era Alber Stark, filho de Hanrich, ex apoiador da quarta Rebelião Blackfyre que perdeu seu nome e seus títulos, já falecido, e Myrra Stark, irmã mais velha do recém falecido Lorde Rickard, que deu seu sobrenome ao marido. Alber e Elana não eram casados; tiveram um romance casual durante a guerra do príncipe Rhaegar contra o seu pai, o Rei Aerys. Após a morte trágica de Brandon e Rickard, todos os Stark correram sério risco de vida até o final do conflito. Alber lembrava muito um primo seu, de outro ramo da família Stark, o honrado cavaleiro Sor Anton, por quem Elana foi apaixonada tempos antes, o que fez com que ela se deixasse levar pela carência momentaneamente. Chegou a realmente gostar de Alber no início, mas desistiu dele quando viu que ele era um homem mimado e cheio de manias, controlado pela mãe.

— A honra está no lema de nossa família, minha irmã. “Tão Alto quanto a Honra”. Ter um filho bastardo não faria bem a você. Ainda ama Anton Stark, e deixou-se levar por uma ilusão. Dizem que as águias, e os lobos, costumam amar só um parceiro por toda a vida, mas...

— Família? Que família? Suas duas esposas e seus filhos bebês estão todos mortos. Quase todos os nossos outros parentes também. Você já está ficando velho; eu também, considero uma bênção da Mãe alguém na minha idade ter conseguido engravidar entregando-me apenas uma vez. E a minha outra filha… a minha filha com Anton… você mandou embora. Arrancou-a de meus braços enquanto eu ainda convalescia da cama de sangue, e a entregou para um qualquer sumir com ela… para “preservar a minha honra”. Devem tê-la jogado pela Porta da Lua.

— Você me amaldiçoou quando isso ocorreu. Seu ódio por mim é tão grande assim, fazendo definhar todas as minhas tentativas de construir uma família, de ter um herdeiro?

— Não fui eu… foram os Sete. Foi o Estranho. Ele ouviu minha angústia solitária… e fez com que você se sentisse tão sozinho quanto eu me senti. Você não tem tido sorte em seus casamentos desde antes da minha outra filha, a quem nem pude dar um nome, nascer. Mas agora os Deuses estão lhe dando uma segunda chance de redenção. Deixe me ter e criar este filho… e quem sabe você seja perdoado e consiga ter um herdeiro que vingue. Você fala de honra, meu irmão… Sor Anton Stark também era um cavaleiro honrado, e por isso escolheu ir para a Muralha. Ele poderia ter se casado comigo, podíamos ter sido felizes juntos… mas sentiu remorso por ter protegido um dos sobreviventes da Guerra dos Reis Pobres, abandonou-me sabendo que eu estava esperando um filho dele, e vestiu o negro. Pedi para fugir com ele para bem longe, onde ninguém nos censurasse; ele não quis, pois não seria “correto”. Sinceramente, não vejo honra nenhuma nisso, abandonar a mulher que dizia que amava por causa do rei Aerys, que agora todos sabem que é louco.

Jon Arryn respirou fundo e sentou-se em uma cadeira próxima. A morte prematura de suas esposas e seus herdeiros que não vingavam era algo que realmente lhe trazia muita tristeza. Estava tentando arranjar um terceiro casamento com Lysa Tully, mas estava sem muitas esperanças, principalmente porque sentia que ela não o amaria. Lembrou-se de Eddard Stark, seu antigo protegido, um rapaz que sempre parecia ser muito maduro e correto para a sua idade, contrastando gritantemente com seu outro antigo protegido, o fanfarrão e mulherengo Robert Baratheon. Eddard sem dúvida era um homem de honra; casou-se com Catelyn Tully para cumprir o trato de casamento feito anteriormente com Brandon Stark, irmão mais velho de Eddard, assassinado pelo Rei Louco. E, segundo as cartas que recebia de seu antigo protegido, havia muita felicidade em seu lar. O pequeno Robb, primeiro filho do casal, crescia forte e saudável; Eddard e Catelyn aprenderam a se amar, apesar de mal se conhecerem quando se casaram. Faria sentido a honra sem o amor? “Não me casei com minha esposa apenas para cumprir um trato”, escrevera o rapaz Stark uma vez a Jon. “Casei com ela porque queria aprender a amá-la, protegê-la, fazer por ela tudo o que meu irmão Brandon não pôde fazer. E hoje, sinto-me afortunado”.

Ah, o amor. A única mulher que o Lorde do Vale amara em sua vida fora sua segunda esposa, sua prima Rowena. Amava-a secretamente, em seus pensamentos, quando ainda era solteiro. Nunca fora infiel à sua primeira mulher, contudo. Depois que o Estranho levou Rowena embora, por conta do frio intenso do inverno anterior, Jon não queria mais se casar. Estava procurando uma noiva agora apenas por conta de sua responsabilidade de ter um herdeiro. Por conta disso, nunca forçou sua irmã Elana a se casar com ninguém depois que ela perdeu Sor Anton para a Muralha; compreendia sua dor. Foram vários os pretendentes que tentaram se casar com ela, tanto por conta de uma possível pretensão a herdar o Vale quanto pela sua beleza. Mas todos foram recusados. Elana tinha uma elegância natural; era alta como quase todos os Arryn, possuía cabelos castanho-escuros, que contrastavam belamente com seus olhos verdes. Ganhara algumas vezes a coroa de “Rainha do Amor e da Beleza” em torneios em sua juventude. Tinha também uma linda voz para o canto; recebeu elogios até do rei Rhaegar, também músico e cantor, quando este ainda era príncipe. Como nunca saía do Ninho da Águia, era chamada de “O Pássaro Encadeado”. Jon, despertando de seus devaneios, olhou no fundo dos olhos de sua irmã, a única família que lhe restara… olhos que agora carregavam a promessa de uma nova vida… e sentiu seu coração se aquecer com a ideia de uma criança correndo e fazendo bagunça nos agora silenciosos salões do castelo.

— Eu não sou tola, Jon – continuou Elana – eu sei que filhos bastardos carregam um estigma ruim. E não, não vou me casar com Alber, ele é arrogante, mimado e retrógrado. Só é parecido com Anton fisicamente. Está prometido para Cienne Frey, se eu não me engano… pois que se case com ela. Myrra Stark nunca aceitaria uma mulher como eu como sua nora. Eu ensinarei meu filho a conquistar seu espaço por meio dos seus próprios esforços, sem precisar de um nome nobre para isso. E se você ficar com vergonha de mim, não precisa me levar a lugar nenhum, nem precisa me exibir quando vierem convidados aqui. Nunca gostei de festas, para falar a verdade, dificilmente encontro pessoas interessantes para conversar. Só não me impeça de ter meu filho desta vez. Não se cantam canções para o Estranho por que a Morte só atrai mais morte… e, consequentemente, a Vida atrai mais vida. Fica aí dizendo que faz tudo pela “honra”, mas é só um velho solitário e amargurado, a honra é a sua desculpa. Que vá para os sete infernos a droga da honra, não preciso dela, ela levou de mim Anton e a minha primeira filha. Quero ser livre, e feliz.

— Eu tenho idade para ser seu pai – replicou o Lorde Arryn – você para mim nunca deixa de ser essa menininha atrevida e teimosa. E confesso que… às vezes eu gosto disso. Tira-me da mesmice. Pois bem, você venceu. Tenha essa criança e seja feliz. Quem sabe assim… eu consiga atrair um pouco de felicidade para a minha vida, e consiga finalmente ter um herdeiro.

— Só não queira ter um filho só por obrigação, para herdar o Vale – retrucou Elana, com sua língua afiada. - Alegre-se com a ideia de ser pai. E não aceite a minha gravidez só para acalmar a fúria dos Sete, eles saberão se a sua aceitação do meu filho não for sincera.

Jon escreveu uma carta a Eddard, descrevendo a conversa com Elana e a sua decisão. O jovem lorde de Winterfell aprovou a decisão, o que deixou Lorde Arryn de consciência limpa. Alber Stark, quando recebeu a notícia de que ia ser pai, ficou mais assustado do que entusiasmado; disse que não pretendia contar à sua mãe ainda, com o que Elana concordou – quando menos ela pudesse conviver com Myrra Stark, melhor. Dali a alguns meses, nasceu uma menina, robusta e saudável, que recebeu o nome de Luwina, tendo como sobrenome Stone, o nome de família dado aos bastardos do Vale de Arryn.


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