Manjericão na Pizza escrita por ohhoney


Capítulo 1
O melhor pra mim é você


Notas iniciais do capítulo

OLÁ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Essa fic estava escrita há um bom tempo, mas só agora tive a inspiração pra terminar. É isso.

Contexto: essa fic é meio paralela a uma que já escrevi e postei (Jim Kirk É Melhor Que Obi-Wan), passa no mesmo universo. Izuki e Moriyama estão namorando, e os senpais da Kaijou estão morando os três juntos em um apartamento em Tóquio.



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—Kasamatsu, você vem ou não?

—Não dá pra ver que eu to ocupado estudando? Tenho três provas gigantescas e-

—Tá, tá. Tchau.

A porta bate, e o vento faz a enorme pilha de livros sacudir. Kasamatsu Yukio consegue segurá-los a tempo. Ser um estudante de Engenharia não era fácil ou divertido. Kasamatsu estava emburrado porque não conseguia decorar aquela maldita fórmula e a prova era na terça... Cacete.

Não, ele não tinha tempo de ficar pensando em outras coisas. Principalmente naquela coisa. Ugh. Se concentra.

Ele aperta o lápis mais forte e enfia a cabeça no caderno, trabalhando no exercício de Matemática Avançada 2 com todo o seu empenho pra não pensar onde Moriyama e Kobori tinham acabado de ir.

.

.

—Ele tá me tirando do sério.

—Cara, eu sei.

Kobori e Moriyama saltam do trem e descem as escadas até a rua. Faz sol, mas felizmente não está tão calor. Os dois caminham pela rua sentindo certa nostalgia.

—Eu falo sério. - Moriyama enfia as mãos nos bolsos - Eu sabia que o Kasamatsu não era bom com essas coisas, mas agora ele tá simplesmente ignorando.

—O pior é a cara que o Kise faz toda vez.

Kobori chuta uma pedrinha. Moriyama fica um pouco sentido.

Os dois continuam caminhando até os portões do colégio e viram à direita no jardinzinho, indo na direção do ginásio. Alguns caras de colete molhavam as cabeças nas pias do lado de fora. Kobori sorri.

Uma bola de basquete sai pingando pela porta e Moriyama pega-a em seus braços.

—Olááá! - ele grita, botando a cabeça pela porta.

—Moriyama-san! Kobori-san!

Alguns guris do time vêm cumprimentá-los, dando apertos de mão e abraços, mas voltam rapidamente para o treino.

Hayakawa e Nakamura vêm correndo na direção dos garotos mais velhos e sorriem de orelha a orelha.

—O que vocês tão fazendo aqui?

—Visitando, oras. - Moriyama sorri e lança a bola nas mãos de Hayakawa - Tá cuidando bem do time, seu bosta?

—TOSIMSENPAI!

—Bom mesmo. Cadê o K-

—AH, SENPAI!!

Kise vem correndo na direção deles e quase empurra Nakamura pra fora do caminho pra dar um abraço nos seus ex-companheiros de time.

—Vocês nos abandonaram aquiiiii - Kise finge limpar uma lágrima e Kobori dá tapinhas em suas costas.

—E aí, como você tá?

—Tô bem! A gente ganhou as últimas partidas e estamos indo pras quartas de final!

—Ah, daora, Kise! - Moriyama esfrega o cabelo do garoto e sorri - Continua treinando bastante.

—Óbvio-ssu.

Kobori vira para conversar mais com Nakamura e Hayakawa. Moriyama escuta o novo capitão falando sobre os novos jogadores do time, mas vê com o canto dos olhos que Kise olha ao redor com a face dura, e encara o chão de um jeito tão triste que Moriyama sente seu coração se apertando.

Idiotas. Bando de idiotas.

Moriyama e Kobori ficam lá por mais uns 20 minutos, conversando.

—Olha, temos que ir. - Kobori dá um sorriso de desculpas - A faculdade tá tomando todo o nosso tempo e estamos com trabalhos até a testa.

—Ugh. Não estou nem um pouco ansioso pra entrar pra faculdade - Nakamura ajeita os óculos e revira os olhos.

—A gente passa aqui outro dia. - Moriyama garante - Talvez até venha jogar com vocês um pouquinho.

—SERIAÓTIMOSENPAI!!!

—Beleza. Até a próxima.

Hayakawa e Nakamura voltam para o ginásio e, quando Kise estava pra entrar também, Kobori o segura pelo pulso.

—Ele tava estudando, tá? Não fica chateado.

—Ah, isso realmente não importa mais. - Kise força um sorriso - Sério.

Kobori solta sua mão e Kise volta para o treino. Moriyama suspira.

—Olha que mentiroso.

.

.

Moriyama-san: Avisa o pessoal q vai ter festa de aniversário do Kobori aqui na sexta e q ta tdo mundo convidado!

Eu: Okayyy

Eu: Ah, senpai... O Nakamura-san disse q n vai poder ir pq vai viajar, e o Hayakawa-san disse q ia ver.

Moriyama-san: Bele. Vc vem né?

Eu: Vou tentar!

.

Kise arremessa o celular na cama e senta no chão, abraçando os joelhos.

Ele não queria ir. Não mesmo. Fala sério. Ainda mais na casa deles.

Grunhindo, Kise se deixa cair de lado e aperta mais as pernas. Poxa, Kobori-senpai queria que ele fosse, se não nem teria convidado. Realmente, ele nem tinha tantos amigos assim, então era óbvio que ele queria que Kise fosse.

Mas Kise não queria ir.

Já é difícil desse jeito. Kise não queria ter nada a ver com quem não se importava com ele, muito obrigado. Com o passar do tempo ele aprendera a manter perto de si só aqueles que queriam estar por perto. E que algumas pessoas simplesmente vão embora da sua vida.

Que bosta. Pensar nisso ainda dói.

.

.

—Izuki-kun, atende a porta, por favor!

—Ok, ok...

Izuki desvia do sofá e corre pra porta.

—MAS EU DISSE QUE ERA PRA VOCÊ PEGAR O GELO!

—VOCÊ FALOU PRO KOBORI!

—KASAMATSU EU JURO POR DEUS...!

—Oláá - Izuki abre a porta e sorri. - E aí? - Hayakawa e Kise aparecem na porta e acenam - Podem entrar.

—Ah, Hayakawa, você chegou! Pega gelo na máquina lá embaixo! - Moriyama lança um cooler na direção da porta e o garoto o pega.

—M-MAS EU ACABEI DE CHEGAR?!

—A gente precisa botar as bebidas no gelo pra esfriar. - Kobori tirava garrafas das sacolas plásticas e as colocava no balcão - Por favor.

—TÁTÁTÁ

Kise pula pra dentro e tira os sapatos. Izuki fecha a porta e volta a abrir os sacos de salgadinho e despejar tudo em vasilhas.

—Oi, Kise. Que bom que você veio. - Kobori sorri e acena.

—Oi. Feliz aniversário! Eu trouxe presente - Kise sorri e vai até o balcão, entregando um cartão escrito FELIZ ANIVERSÁRIO em letras grandes e vermelhas. - É um vale-presente da livraria.

—Nossa, valeu, Kise. De verdade. - Kobori contorna o balcão e dá um abraço no garoto - Queria muito uns livros novos. Adorei.

—Hehe, que bom, senpai.

Kobori guarda o cartão no bolso e volta a arrumar as garrafas. Ele olha para baixo, na direção de Kasamatsu, que estava agachado atrás do balcão aparentemente arrumando os copos milhares de vezes com uma cara um tanto contorcida.

Ele olha para cima na direção de Kobori e o garoto somente dá de ombros e volta a ajeitar as coisas.

Kise está parado no meio da sala, olhando ao redor e apertando as mãos juntas.

Kasamatsu suspira e levanta, dando uma cabeçada fenomenal na gaveta de talheres aberta.

—AI, CACETE! - o berro ecoa pela sala enquanto Kasamatsu esfrega a cabeça vigorosamente - EU FALEI PRA FECHAR ESSA COISA!

Ele fecha a gaveta com força e continua esfregando a cabeça.

—Tu que é cego. - Moriyama ri.

—Cala a boca. - Kasamatsu olha pra frente diretamente pro garoto parado no meio de sua sala e ele começa a sentir calor. - Hm. O-Oi, Kise.

—Oi...

Deus do céu. A tensão na sala é tanta que ninguém ousa falar. Izuki olha ao redor, confuso. Moriyama aperta os lábios juntos tentando não soltar algum comentário que só faça as coisas ficarem piores. Kobori finge estar ocupado.

Kise parece extremamente desconfortável. Ele aperta as mãos juntas repetidamente e tenta olhar pra qualquer canto que seja, mas Kasamatsu continua olhando pra ele e cara, ele realmente não deveria ter vindo.

Kasamatsu abre a boca pra falar qualquer coisa que seja, mas a porta é aberta com violência e Hayakawa chega gritando:

—MEAJUDA!!!

Kise quase corre na direção da porta e ajuda seu senpai a segurar o cooler cheio de gelo. Kasamatsu vira de costas e arruma as coisas no armário o mais devagar que consegue.

Puta merda, ninguém tinha dito pra ele que Kise vinha?? Que caralhos??

Kise está com uma cara tão triste que Moriyama sente vontade chorar. Ele chega perto de Izuki e diz baixinho:

—Fica com o Kise? Por favor. Ele não tá legal.

—Claro, deixa comigo.

Moriyama sorri e aperta a mão de Izuki.

.

.

Eram oito da noite e todo mundo já tinha chegado. Kasamatsu, Moriyama, Kise, Izuki, Hayakawa, cinco amigos do Kobori e a namorada dele. O apartamento estava cheio e todos bebiam e conversavam animadamente, com uma música legal de fundo. A TV também estava ligada, mas só uma pessoa prestava atenção nela.

A maioria do pessoal jogava baralho no meio da sala, sentados no tapete. Izuki tinha ido pegar mais gelo, e Kise espiava as cartas por cima do ombro de Moriyama. Kobori estava sentado com Asuko, sua namorada, no meio de suas pernas, jogando juntos. Hayakawa berrava enquanto pegava para si todas as cartas do centro, festejando vitória.

Izuki chega com o gelo e o coloca no chão da cozinha. Ele pega dois copos de refrigerante e senta ao lado de Kise, atrás de Moriyama.

—Que cara é essa? - Izuki pergunta, sorrindo, e oferece o copo a Kise.

—Ah. Nada não. - Kise aceita e toma um gole.

—Você parece bem infeliz.

Kise faz um bico e abraça as pernas.

—É porque eu tô.

Kise ergue o olhar para a poltrona do outro lado da sala. Kasamatsu está nela, olhando para a TV mas obviamente sem nenhum interesse, e ele está com a cara mais mau humorada do planeta.

—Sabe, se você tem problema com alguém, a melhor coisa a se fazer é ir falar com a pessoa. - Izuki desvia o olhar de Kise e acaricia a nuca de Moriyama, que vira a cabeça e dá um sorriso pra ele.

—Eu não preciso de ninguém que não precise de mim.

Kise está tão magoado e ferido que Izuki nem tem coragem de olhá-lo. Tristeza emana do pobre garoto. Moriyama tinha lhe contado o que acontecera.

—Quer jogar UNO? - Izuki pergunta.

—UNO?

—É, UNO. Aquele do +4 e tal.

—Quero...

Izuki levanta e some no corredor, e volta rapidamente com o baralho nas mãos. Ele e Kise sentam frente a frente e os dois começam a jogar.

.

.

No silêncio da madrugada, os cinco rapazes jogavam UNO enquanto Asuko dormia no sofá. Hayakawa teve que ir embora pouco depois da meia-noite, então Kise, Izuki, Moriyama, Kasamatsu e Kobori jogavam UNO no tapete, cada um concentrado nas cartas em suas mãos.

Moriyama sentia-se extremamente desconfortável. Havia uma tensão estranha no ar ao redor deles e, caralho, ele estava com umas 10 cartas na mão ainda.

—Sabe de uma coisa? - Kobori mal ergue os olhos de suas cartas ao jogar um +2 para Kise - Vocês tão me enchendo o saco já.

—É verdade. Não aguento mais essa tensão horrorosa no ar. - Moriyama completa.

Kise compra duas cartas e passa a vez para Izuki, que lança um três vermelho.

—Não sei do que vocês estão falando. - Kasamatsu joga o reverte e Izuki é obrigado a comprar uma carta.

—Eu adoraria que você e o Kise se resolvessem logo porque tá ficando insuportável aqui dentro.

Kise abaixa a cabeça e joga seu +4. Kobori compra, e Moriyama joga um três azul.

—Ele não quer nem olhar pra mim, Moriyama-senpai - Kise diz, ainda olhando para suas cartas.

—Isso é mentira. - Kasamatsu responde, enquanto joga um Muda Cor - Vermelho.

—É verdade.

—O Kasamatsu não sabe lidar bem com sentimentos. - Kobori coça a cabeça.

Izuki joga um sete vermelho.

—Ah, vocês ficariam tão fofinhos juntos... Pena que são dois idiotas.

—Cala a boca, Moriyama.

Izuki estava ficando um pouco constrangido. Kise joga um Reverte e Izuki é obrigado a comprar do monte para ver se recebe uma carta vermelha. Kasamatsu manda um +4 para Moriyama.

VERDE.

—Você tá irritado porque sabe que é verdade. - Moriyama sorri para suas cartas. Kobori põe na mesa um Pula verde.

Kise resmunga e Izuki joga outro Pula na sequência, fazendo Kasamatsu grunhir também.

—Boa, Izuki-kun - Moriyama ergue a mão e os dois dão um high-five.

—...Não é verdade.

—É ou não é, Kise? - Kobori pergunta. Moriyama joga um zero verde e Kobori coloca um zero amarelo em cima.

—É verdade. Ele me evita.

—Quê? Não estou te evitando.

—Você me evitou a festa inteira e nem agora ousa olhar pra minha cara.

—Estamos jogando. Tenho que olhar pras minhas cartas, idiota.

As orelhas de Kasamatsu ficam vermelhas. Kise parece bravo. Ele lança um dois amarelo e bufa.

—UNO. - Izuki anuncia ao colocar um reverte, obrigando Kise a comprar do monte, já que não tinha mais cartas amarelas.

—É que tipo, o Kasamatsu tá em negação que gosta de ti e tal. - Kobori joga seu +2 amarelo e obriga Moriyama a comprar. - UNO.

—E você também é outro otário, Kise, porque fica esperando alguma coisa desse idiota. - Moriyama dá de ombros.

—Dá pra parar de falar da gente desse jeito? - Kasamatsu joga um +4 para Izuki, que estava prestes a bater UNO. Ele bufa ao comprar as cartas e passa a vez para Kise. - Kise, troca de cor. Tenho certeza que o Kobori tem um amarelo. Pede verde.

Kise joga seu Muda Cor e diz:

—Verde.

—Deus, a tensão sexual nesse sala tá quase palpável - Kobori diz e joga seu um verde. - Ganhei.

Kasamatsu arremessa suas cartas no chão e parece extremamente emburrado.

—Kasamatsu, fala pra ele. - Moriyama joga suas cartas também e se joga pra trás, apoiando-se nas mãos.

—Fala logo pra ele - Kobori bota mais lenha na fogueira.

—É, Kasamatsu-senpai, - Kise, com os olhos doídos, encara o garoto a sua frente - fala pra mim de uma vez.

—Falar o quê? Eu não tenho nada pra falar.

—Para de ser teimoso, cara - Moriyama empurra o ombro do amigo.

—Fala pra mim! - Kise se ergue, botando-se de pé. Izuki achava que Kise começaria a chorar a qualquer segundo - Fala pra mim que eu nem fui seu amigo! Fala pra mim porque você nunca mandou uma mensagem depois que se formou! Fala pra mim que você não me quer mais na sua vida!

—Quê?! - Kasamatsu soa furioso, mas meio magoado ao mesmo tempo.

Os dois se encaram por alguns segundos até que Kise cai na risada e tem que se apoiar na parede.

—E-Eu não preciso de ninguém que não precise de mim.

O segundo que seus olhos se encheram de lágrimas, Kise virou e caminhou até a porta, colocando seus sapatos o mais rápido que podia.

—Kise, espera aí - Kobori levanta do chão - Aonde você vai?

—Embora. Tá tarde e eu tô cansado.

Kise abre a porta e a fecha com força, acordando Asuko no processo.

Kobori, Moriyama e Izuki se entreolham.

—Eu não esperava por isso...?

—O que tá acontecendo? - Asuko levanta, coçando os olhos.

—Nada. Não foi nada. - Kobori vai até ela e lhe aperta em seus braços.

Kasamatsu está vermelho de raiva, e continua encarando a porta. De repente, ele vira na direção de Moriyama e chega perto dele.

—Olha o que você fez!

—Eu?! Eu não fiz nada!

—Você estragou tudo!

—Opa, opa, opa. Peraí, lindão - Moriyama ergue as mãos na frente do corpo e ri - Você já tinha estragado tudo antes mesmo de tudo começar. Eu estava tentando ajudar.

—Não ajudou!

—A culpa não é minha que tu afasta as pessoas que você gosta. Nunca vi essa. Você gosta de uma pessoa e para de falar com ela?? O que você espera disso?

Kasamatsu esfrega a mão no rosto enquanto grunhe bem alto. Ele vira e marcha para o corredor até seu quarto, batendo a porta.

O garoto dá um tapa em seu abajur, que sai voando e quebra no chão. Ele se joga na cama e cobre a cabeça com o travesseiro e grita.

Não era fácil, okay? Não era fácil ou simples.

Kasamatsu nunca tinha gostado de alguém, pelo menos não desse jeito.

E... E ele tinha a faculdade... E Kise tinha ficado tão triste com a derrota na Winter Cup e Kasamatsu sabia que a culpa era dele. Kise tinha confiado nele pra fazer aquele arremesso, e ele conseguiu ser bloqueado. Puta que pariu. Era óbvio que Kise estava magoado com ele.

E... Kise era tão brilhante no basquete, Kasamatsu não queria atrapalhar seu crescimento. Kise era tão alegre e feliz e determinado, não era justo uma pessoa rabugenta como Kasamatsu sequer ficar perto dele. Isso, e mais essa coisa confusa de gosto-ou-não-gosto? que com certeza queimou alguns neurônios do ex-capitão. Quer dizer, Kise não merecia alguém assim. Kise merecia o melhor, apenas.

E Kasamatsu não era o melhor. Nem de longe.

Isso dói pra porra.

Kasamatsu sente seu coração bater rápido no peito. Estava morrendo de raiva. Ele não gostava de Kise, nem pensar.

Já tinha passado, obviamente. Ele não queria gostar do garoto. Pelo amor de Deus.

Por isso cortar contato era a coisa mais fácil a se fazer, e aí ele poderia seguir em frente e estudar pras provas e se concentrar no que importava.

Mas a cara de Kise quase chorando estava pregada na sua mente e não importava o quanto ele socasse o colchão, ela não ia embora.

Bosta.

.

.

Está frio. O vento gelado vem pela escada e balança o cabelo de Kise. Ele estremece. É triste e solitário estar aqui, mas ele não tinha muitas opções sobrando.

—O que você tá fazendo aqui?

Uma voz soa da esquerda e Kise, com os olhos um pouco inchados, vira para ver quem era. Izuki Shun jazia parado ao lado dele, com uma touca na cabeça e um cachecol enrolado no pescoço, sorrindo.

—Eu... Eu, ahn...

—Levanta, vamos entrar.

—Não tenho chave... - Kise levanta e estica as pernas duras de frio.

Izuki tira a mão do bolso e mostra um molho de chaves pendurado no dedo. Ele desvia de Kise e abre a porta.

—Moriyama-san me deu a chave - explica Izuki, empurrando a porta e deixando os sapatos na entrada. Ele se afasta para que Kise entre também. - Nós vamos sair hoje e ele disse pra esperar aqui.

—Ah.

Kise entra e fecha a porta, tirando os sapatos também. Izuki pendura seu casaco e cachecol no gancho e liga o aquecimento da casa.

—Chá? - ele pergunta sobre o ombro enquanto vai para a pequena cozinha.

—Seria bom. - Kise permanece parado no meio da sala que nem da última vez, olhando ao redor. - Cadê todo mundo?

—Acho que eles não voltaram da faculdade ainda.

Kise observa como Izuki se estica pra pegar a chaleira elétrica no armário de cima e a enche com água, buscando depois as canecas e o chá.

—Até parece que você mora aqui, Izuki-san.

—Ah - Izuki solta uma risadinha - Eu passo bastante tempo aqui, então sei onde fica cada coisa. - os dois se encaram e Kise se sente um pouco estranho. - Vai ficar de pé aí? Senta, liga a TV.

Kise balança a cabeça e senta no sofá, ligando a TV em um canal qualquer. Era estranho estar no pequeno apartamento dos seus senpais sem nenhum deles em casa. Mas ele não tinha conseguido pensar em algum lugar melhor pra ir.

—Pronto. - Izuki entrega uma caneca para Kise e senta na poltrona, assoprando a sua - Por que você tá aqui?

—Ah, hm... - Kise desvia os olhos pro chão cheio de meias espalhadas e alguns copos - Sei lá...

—Não precisa falar se não quiser, aliás. Se quiser jogar Mario Kart, melhor ainda. - Kise olha para Izuki, que erguia as sobrancelhas por cima de sua caneca - Quer?

— ...Quero.

—Ok, segura aqui.

Izuki levanta, entrega sua caneca para Kise, e parte para o pequeno corredor que dá para os quartos, e entra na primeira porta. Minutos depois, ele volta com um videogame, dois controles e vários cabos. Depois de plugar tudo na TV, a tela inicial do Mario Kart aparece na pequena tela.

Kise desce para o chão e senta no tapete junto com Izuki, passando-lhe sua caneca e pegando um controle.

—Quem perder lava a louça.

—Okay.

.

.

O céu estava ficando azulado quando Moriyama e Kobori entraram pela porta com suas mochilas e livros, os dois rindo de alguma coisa qualquer.

—Mario Kart? - Kobori franze as sobrancelhas.

—Kise? - Moriyama tira os sapatos e larga as coisas em cima da mesa - Oi, Izuki-kun!

—Oi, Moriyama-san. - Izuki diz, sorrindo, mas não tira os olhos da tela. Ele estava em terceiro. Moriyama vai até ele e abaixa sobre Izuki, abraçando seus ombros e dando beijos em suas bochechas e lábios. - Como foi a aula?

—O mesmo de sempre. - Moriyama levanta e esfrega o cabelo de Kise - E tu, Kise? O que faz aqui?

—Só... Passando tempo, eu acho.

—E o Kasamatsu-san? - Izuki pergunta enquanto ultrapassa Waluigi e ganha a segunda posição.

Kise bate de frente com a parede e perde todas as posições.

—Tinha que imprimir um trabalho, então ficou lá. Já já ele chega. - Kobori cumprimenta Izuki e Kise - Ei, Moriyama, posso tomar banho primeiro?

—Mas eu vou sair!

—Eu também, mas juro que vou ser rápido.

—Ugh, okay.

Kobori some de vista pelo corredor. Moriyama senta entre Kise e Izuki.

—Quer jogar, Moriyama-senpai? - Kise estende o controle para ele quando a corrida acaba. Princesa Peach ganhou de lavada, com Izuki em segundo e Kise em décimo segundo.

—Nah, pode continuar.

—Não estou mais a fim, já é a sétima corrida.

—Ele não quer jogar porque sabe que vai perder - Izuki dá uma cotovelada nas costelas de Moriyama e ri.

—Eu sou melhor do que você, idiota.

Ah, tá.

—Passa isso pra cá. - Moriyama arranca o controle das mãos de Kise e aperta o botão para começar uma nova corrida. - Eu vou vencer essa merda e sambar na sua cara.

—Deixa eu ver você tentar.

Kise levanta e volta a sentar no sofá, apoiando o cotovelo no braço do sofá e encarando a tela. As coisas pareciam meio vazias e sem sentido. Ele nem sabia direito porque estava lá. Kise só queria fugir um pouco, sabe? É péssimo quando você foge direto pros braços da coisa da qual você quer fugir.

Izuki disputava a primeira posição com Toad enquanto Moriyama vinha a toda velocidade em terceiro lugar, jogando Yoshi contra uma casca de banana. A bandeirada de última volta apareceu na tela e Izuki, que tinha conseguido jogar uma shell em Toad, agora disputava o primeiro lugar com Moriyama acirradamente.

Os olhos de Kise encaram a tela, mas ele não absorve nenhuma informação. Seus olhos sequer estão focados. Ele se sente flutuando em pleno vácuo, e tendo seu interior sugado por um buraco negro.

Moriyama e Izuki gritam ao mesmo tempo ao serem os dois atingidos por uma bomba, que faz com que pelo menos seis carros passem na sua frente. A corrida termina com Luigi em primeiro, Moriyama em sétimo e Izuki em oitavo. Os dois dizem que não foi justo e que foi "roubado", mas Kise mal ouve o que eles dizem.

—Moriyama, pode ir pro chuveiro. - a voz de Kobori soa pelo corredor e a porta de um dos quartos bate. Moriyama se levanta e corre para tomar banho.

—Vai querer continuar jogando?

Izuki pergunta, mas Kise demora um tempo pra perceber que a pergunta era para ele. Piscando os olhos algumas vezes, ele balança a cabeça e diz:

—Não, obrigado.

Izuki desliga o videogame e recolhe as coisas, levando tudo para o primeiro quarto.

Kise deixa-se cair no sofá e agarra uma almofada, pressionando-a contra seu rosto. Tudo fica em silêncio por um tempo. Uma porta é aberta e outra é fechada. Vozes vêm do primeiro quarto, abafadas pela parede. O barulho de torneira pingando preenche a sala, retumbando nos ouvidos do garoto no sofá. Kise tira o rosto da almofada e e coloca em um canal aleatório na TV; um documentário sobre águas-vivas.

Alguns passos fazem o assoalho ranger e Kobori aparece em seu campo de visão.

—Eu, o Moriyama e o Izuki estamos saindo.

—Aonde vocês vão?

—Vou sair com a Asuko, e o Moriyama e o Izuki vão comer e ir no cinema. Você vai ficar bem?

—Vou sim...

—Toma. - Kobori enfia algumas notas na mão de Kise e sorri - Pede alguma coisa pra você comer. Não esquece de pedir pro Kasamatsu também, daqui a pouco ele chega.

—Ok.

—Tchau.

—Tchau.

Tudo fica silencioso de novo, com exceção da TV. Aparentemente águas-vivas evaporam ao Sol, já que são feitas quase inteiramente de água. Kise imagina se ele evaporaria também se ficasse muito tempo no Sol, mas sabe que no máximo ficaria vermelho e desidratado.

Deve ser legal poder evaporar.

.

.

A campainha tira Kise do seu transe. Ele vai até a porta e abre, dando de cara com o entregador de comida. Ele paga e agradece, fechando a porta atrás de si. Dois yakissobas devem ser o suficiente. Ele procura um prato nos armários, mas não acha nenhum. Olhando ao redor, ele vê que todos estavam espalhados pela sala, sujos. Suspirando, ele pega dois e os lava rapidamente.

Kise janta ouvindo o noticiário. Depois, sentindo-se incomodado com a sujeira do apartamento, resolve limpar tudo. Ele recolhe os pratos, talheres e copos espalhados pela sala e pelos quartos, e lava toda a louça. Depois, passa um pano úmido no balcão e no fogão, tirando pelo menos a sujeira mais grossa. Ele leva cada pilha de livro para o quarto de seu respectivo dono e ajeita a mesa e o sofá. O outro yakissoba é colocado num prato dentro do micro-ondas para ficar quentinho. Kise senta no sofá e suspira. Um programa de moda começa.

A modelo está tentando ensinar as participantes do programa a andar direito na passarela e tem muita berraria e confusão. Gente chorando. Saltos quebrados e tornozelos torcidos. Kise até esboça um sorriso quando uma das moças escorrega ao fazer a viradinha no final da passarela e cai de bunda no chão de um jeito fenomenal.

Os ombros de Kise ficam tensos ao ouvir o barulho da chave na fechadura e a porta abrindo, então ele tenta fingir que não ouviu. Talvez ele passasse despercebido.

Honestamente, era quase impossível não notar o garoto de quase dois metros sentado no sofá, ainda mais com aquela cabeleira loira, e Kasamatsu quase engasgou na própria saliva de susto.

—Kise! - ele grita, e o garoto encolhe os ombros, olhando para trás rapidamente.

—Oi.

—M-Mas...?

—Kobori-senpai deu dinheiro pra comida e seu yakissoba tá no micro-ondas.

Kasamatsu sente que está sufocando. Ele vira e anda rápido até seu quarto, jogando as coisas em cima da cama. Seus dedos agarram o encosto de sua cadeira. Que diabos. Mano! Como assim Kise estava sentado no seu sofá? O filho da puta do Kobori sequer pensou em avisar, né? Já não basta o susto, ainda tem que ser ele. Ótimo.

Respirando fundo algumas vezes, Kasamatsu se recompõe. Era só o Kise, pelo amor de Deus. Só o Kise.

Ah, caralho. Suas mãos já estavam ficando suadas.

Por que isso está acontecendo? Recomponha-se. Vá jantar. Mesmo que machuque, ele ainda é importante pra você, não é? Mesmo que você tenha arruinado tudo... Mesmo que ele não te queira mais na vida dele.

Kasamatsu ignora o aperto em sua barriga e caminha pra fora do quarto. Kise está sentado no sofá abraçando as pernas, os olhos fixos na TV. Parecia ser um programa de culinária. Kasamatsu pega sua comida no micro-ondas e senta na poltrona para comer.

—Sua cara tá péssima. - ele diz, olhando para Kise enquanto mastiga. Kise nem pisca. - O que aconteceu?

—Nada. - a voz do garoto soa meio impaciente.

—Por que você tá aqui, então?

Kise estava cansado. Tão cansado. Tanto fisica quanto emocionalmente. Ouvir Kasamatsu se preocupando com ele o deixava mais cansado ainda, puta merda. Sentindo-se mais triste do que antes, Kise encosta a bochecha nos joelhos e olha para o outro lado, falando baixinho:

—Eu gritei com o meu pai e com a minha mãe, ameacei minha irmã mais velha e quebrei um porta-retratos. - Kise engole o caroço em sua garganta.

—Por quê? - Kasamatsu não soa assustado ou irritado. Na verdade, ele sente a tristeza emanando de Kise e não consegue evitar de se sentir mal pelo outro.

—Porque todo mundo enche a porra do saco. Aí eu fugi.

—Você fugiu? - o prato de yakissoba quase cai no tapete - Como assim, fugiu? Você não falou com seus pais nem nada do tipo?

—Não.

—Kise. - Kasamatsu estava prestes a dar uma bronca em Kise quando o loiro vira a cabeça e o encara com os olhos duros.

—Eu não preciso de você me dando lição de moral.

Kasamatsu queria ficar furioso e gritar na cara de Kise que isso não era jeito de falar com ele, talvez dar um ou dois socos naquela cabeça oca e gritar mais para que ele pegasse o telefone e ligasse para seus pais. Queria chutar Kise por ser respondão e mal educado. Mas não. Kasamatsu sentiu uma pontada nas costelas e não conseguiu sequer abrir a boca.

Realmente, o que ele tinha pra falar a respeito de fugir dos outros?

Kasamatsu queria tanto agarrar Kise pelos braços e sacudí-lo um pouco e pedir desculpas, mas não conseguia. Primeiro, porque a região das suas costelas ainda doía pra caramba, e segundo porque achava que desculpas não seriam o suficiente pra tudo o que aconteceu.

Kasamatsu engoliu o resto do seu yakissoba e foi até a pia lavar seu prato.

—Kise. - o loiro somente olhou por cima do ombro - Obrigado por ter limpado a casa.

Kise murmura alguma coisa inaudível e se afunda mais no sofá. Kasamatsu senta na mesa, abre um livro e um caderno, e começa a estudar.

 

.

.

—Moriyama, tá terminando o comercial. Vem logo.

Mas Moriyama e Izuki estavam se beijando bastante ali encostados no balcão, parecendo tão compenetrados que nem ouviram Kasamatsu chamando. Moriyama segura a nuca de Izuki com mais força e Kise evita a todo custo olhar pra eles.

Não que ele achasse que Moriyama e Izuki eram nojentos ou coisa parecida; na verdade, eles eram um tanto discretos e esse tipo de afeto não era comumente demonstrado em público. Kise não se importava que eles estivessem se pegando, mas ficava triste por pensar que adoraria estar no lugar deles com mais alguém.

Kise não se sentia muito feliz com casais cheios de carinho, afinal a pessoa que ele gostava claramente não queria nada com ele, e sequer fez algum esforço para continuar em sua vida.

—Honestamente, pensei que você não viesse. - Kobori disse para Kise, oferecendo-o pipoca.

—Vocês são meus amigos, eu gosto de ficar com vocês. - Kise pega pipoca e encara seus pés - Mesmo que tenha alguém que não me queira aqui.

Kasamatsu faz o melhor que pode para continuar olhando a TV sem parecer que tinha recebido um chute no saco.

—Ah, vai começar! - Asuko agarra o braço de Kobori e enfia mais pipoca na boca.

—Moriyama! Izuki! Vai começar! - Kobori grita, aumentando o volume da TV. Kise espia para trás e vê Moriyama beijando o pescoço de Izuki furiosamente e o pobre garoto respirando alto. Kise volta a olhar para a TV.

Kobori, Kasamatsu, Moriyama, Izuki, Asuko e Kise tinham se reunido no apartamento para ver a semi-final do reality show de música mais famoso da televisão japonesa. Haviam quatro candidatos, e somente dois passariam para a final. Era uma disputa super acirrada e todo mundo estava grudado nas suas TVs para ver a performance.

—Booooooa noite a todos! Estamos na semi-final e temos somente quatro participantes sobrando, todos com excelentes vozes! Além do voto dos jurados, aqueles com o maior número de votos dos telespectadores...

Moriyama! - Kasamatsu grita.

—Ok, ok...

Moriyama e Izuki sentam no chão ao lado de Kasamatsu, os dois completamente vermelhos e descabelados.

—Que raiva, mal chego aqui e já sinto essa tensão sexual horrorosa de novo - Moriyama olha tanto para Kasamatsu quanto para Kise - Ainda não resolveram isso?

—O Kasamatsu não sabe lidar com sentimentos, já falei - Kobori diz com um sorrisinho e Asuko dá um tapa em seu braço.

—Gostar de alguém é confuso e eu admito que não sei lidar com isso - Kasamatsu praticamente cospe essas palavras e deixa todo mundo quieto. Suas orelhas ficam vermelhas, mas, tirando isso, sua cara permanece completamente normal ao continuar assistindo o apresentador anunciar cada um dos participantes.

—Calma. - Moriyama é obrigado a sentar-se direito e piscar várias vezes - Calma. Você acabou de falar em voz alta que gosta do Kise?

—E-Eu nunca disse que não gostava. - ele enfia mais pipoca na boca. Izuki olha para Kise com cautela.

—Bom... O Kise obviamente gosta de você também... - Kobori começa.

—Eu também nunca disse que não gostava-ssu - Kise parece meio irritado.

—Ok, fiquem quietos que vai começar. - Asuko se aproxima um pouco mais da TV.

Uma moça alta, de ombros largos e pernas grossas sobe no palco com um vestido brilhante. A banda toca seus primeiros acordes e ela começa a cantar Feeling Good, da Nina Simone.

E, cara, ela arrasa. A moça canta muito bem e deixa todo mundo da plateia aplaudindo em pé. Os jurados parecem bastante satisfeitos com ela também. A moça sai do palco chorando de emoção após ouvir algumas palavras dos jurados.

—Pra quem você tá torcendo, amor? - Kobori pergunta pra Asuko.

—Pra ela! Ela cantou muito! Com certeza vai ganhar!

—Não foi a melhor performance dela, nem de longe.

—Cala a boca, Moriyama. - ela cerra os olhos - Tu tá torcendo pra loirinha, não tá?

—Tô sim - Moriyama dá um sorrisinho safado. Ele volta o olhar pra Kasamatsu e pergunta - Mas fala sério, acho que quando você gosta de alguém, não é lá muito sábio simplesmente parar de falar com a pessoa, concorda?

—Concordo... - Kasamatsu apoia o cotovelo no braço da poltrona e continua encarando a TV - Mas eu, ahn, fiquei meio apavorado e fugi. Não queria lidar com isso.

—O Izuki-kun fez a mesma coisa.

—Eu te odeio, sabia? - Izuki soca o braço de Moriyama.

—É mentira. Você gosta de mim.

—Mas vocês se ajeitaram porque pelo menos a pessoa que tinha errado admitiu que errou, e não ficou evitando o assunto - Kise afirma, se esticando pro pote de pipoca.

—Tá, foi uma péssima decisão - Kasamatsu vira pra encarar Kise, que não retribui o olhar - Eu sei. É que eu achava que você não ia mais precisar de mim, e que você merecia alguma coisa melhor.

—E o que você sabe sobre o que eu mereço e não mereço e sobre o que eu preciso ou não preciso? - Kise vira a cabeça furiosamente e fuzila Kasamatsu.

—Shhhh, eles tão entrando! - Moriyama agarra a mão de Izuki.

O grupo misto de três garotas e três garotos entram e começam a cantar Uptown Funk maravilhosamente bem. Toda a plateia bate palmas e canta junto. Eles dançam enquanto cantam e terminam com uma pose elaborada.

—Não acredito que o ruivinho cagou o solo, puta merda. - Kasamatsu senta na beirada da poltrona pra escutar a avaliação dos jurados.

—Talvez a performance consiga salvar alguns pontos - Kise arregala os olhos pra TV - Eles dançaram bem pra caramba - dá de ombros.

O grupo sai do palco.

Antes mesmo de Moriyama ou Kobori abrirem a boca, Kasamatsu diz:

—Você tem razão. Eu não sei o que você merece ou o que você precisa. Eu assumi coisas e me fodi. Eu me afastei porque estava com medo e achei melhor ignorar tudo e fingir que estava tudo bem.

—Só que não tava tudo bem. - a voz de Kise é repleta de raiva. - Podia estar bem pra você, mas com certeza não estava bem pra mim.

—Eu achei que estava tudo bem pra você também.

—Achou errado-ssu.

Os dois calam a boca na hora que um casal entra e a menina loira começa a cantar Sweet Child O'Mine, com o rapaz acompanhando lindamente e tocando a guitarra. A voz da garota é quase angelical. Eles terminam com a multidão gritando e aplaudindo loucamente.

—Já ganharam! - Moriyama bate palmas - Ela cantou muito!!

—Eh.

—Shiu, Kobori, tu sabe que é verdade.

—O cara foi no máximo razoável.

Izuki olha por cima de Moriyama na direção da poltrona. Kasamatsu tem o rosto rosado e o olhar um tanto confuso e triste.

—Você obviamente não sabe do que está falando - Moriyama rouba o pote de pipoca para si.

O último participante entra. É um cara bem alto, usando um terno roxo. Ele canta Alive, do Pearl Jam, e faz um puta de um show. O cara arrasa cantando e fazendo sua performance, digna de um show de rock. A plateia vai à loucura. Os jurados levantam e aplaudem. O cara sai do palco e se reúne com o resto dos participantes antes da eliminação.

Asuko olha para Kise e suspira.

—Que foi, Kise?

—É só que... - Kise pausa, tentando pensar direito no que falar, mas sua mente está toda embaralhada e confusa. O garoto sente raiva e mágoa - Que como ele falou esse tanto de coisa, pensei que... - Kise aperta os lábios - Se ele realmente achava tudo isso... Então por que ele foi embora desse jeito?

Kise morde a parte interna do lábio e olha para baixo; tem tanta coisa passando por sua cabeça que ele não sabe de mais nada, só que sente raiva, e que está magoado, e sente que fora trouxa em supor que era tão importante para uma pessoa quanto ela era para ele.

—Eu já falei que não sei, okay? Já falei que fui idiota. - Kasamatsu vira o rosto pra parede, mas a vermelhidão já tinha descido até sua nuca.

—Foi mesmo. - Kise aperta as mãos.

—Não me responde! Eu sei que fui!

—Respondo sim! Respondo mesmo! Se deixar de lado, você ignora, como fez comigo!

—Para de ser infantil!

Kise levanta e chuta a almofada do chão. A TV já mostrava os participantes no palco e a primeira garota já tinha sido escolhida para a final, mas ninguém estava prestando muita atenção. Todos os olhos estavam pregados em Kise, que exalava fúria, e em Kasamatsu, que não ficava para trás.

Os dois se olhavam intensamente, ambos respirando rápido e com a cara fechada.

—Para você!

—Por que você insiste em jogar a culpa em mim?! - Kasamatsu se levanta.

—Porque a culpa é sua, seu idiota! - Kise cospe e Kasamatsu fica mais vermelho ainda.

—Seu moleque mimado!

—Eu tô cansado dessa merda toda! - Kise desvia do sofá e dá um chute na cadeira, que voa na direção da parede.

—Ei! - Kasamatsu já está vindo para cima dele antes mesmo que Moriyama ou Kobori pudessem sequer abrir a boca; nenhum deles ousaria, tamanha a tensão naquele apartamento - Ei! Se você chutar mais alguma coisa...!

—O que você vai fazer?! - Kise colocava os sapatos rapidamente e pegava seu cachecol, abrindo a porta com tanta força que ela bate na parede e deixa uma marca - Vai embora de novo?!

—Para com isso!

— PARA VOCÊ COM ISSO! ME DEIXA EM PAZ! - Kise grita a plenos pulmões e assusta Asuko, que recua um pouco. O olhar na cara do garoto era mortal, mas antes que qualquer um fizesse alguma coisa, Kise sai pela porta e a bate com força.

—Volta aqui! KISE! - Kasamatsu pula a cadeira caída e calça suas pantufas rapidamente, abrindo a porta e correndo atrás dele.

Izuki, Kobori, Asuko e Moriyama se encaram com os olhos arregalados e as bocas abertas. Moriyama parece aterrorizado, e Izuki literalmente não conseguia respirar. Asuko estava vermelha por algum motivo e Kobori olhava a cadeira caída e a porta aberta no mais absoluto silêncio.

Vozes ecoam da rua. Os quatro vão até a janela e olham para baixo, para a rua cheia de neve e os dois caras brigando na calçada. Eles gritam um com o outro, mas o vento leva suas vozes e ninguém consegue entender o que eles dizem. Kise tenta ir embora, mas Kasamatsu segura seu casaco e não deixa. As mãos de Moriyama agarram a beirada da janela com força. A voz de Kise sobe até eles e Izuki aperta os ombros de Moriyama:

—EU TE ODEIO!

Kasamatsu larga o casaco de Kise e fica parado lá na neve enquanto o outro garoto vai embora rapidamente. Kasamatsu chuta a neve do chão e grita alguma coisa, e volta para dentro do prédio.

Asuko recua da janela e puxa Kobori consigo.

—Eu acho melhor a gente ir pro quarto.

—Vamos também - Izuki pega na mão de Moriyama e o arrasta para o quarto. A porta bate e faz-se silêncio por alguns instantes. Os dois se olham, esperando algum barulho.

Passos pesados batem no assoalho e a porta da frente fecha. Eles ouvem coisas quebrando e outras caindo no chão, e Moriyama leva a mão à testa.

—Puta que pariu.

—Moriyama-san, você realmente precisa parar de comentar sobre o relacionamento dos outros!

—Eu só estava tentando ajudar! Estou cansado de ver os dois com essa cara de bunda toda vez quando eu sei que eles podem se resolver numa boa!

—Isso pareceu numa boa pra você? - Izuki vira a cabeça e segura gentilmente nos braços de Moriyama - Isso é sério. Você viu o que acabou de acontecer.

—Os dois são idiotas, a culpa não é minha.

—Para de atiçar e deixa os dois sozinhos! - mais coisas batem no chão e Kasamatsu grita de raiva - Você odeia quando alguém dá palpite sobre a gente, mas você adora fazer isso com outras pessoas!

—Ok, desculpe, desculpe! - Moriyama se afasta e senta na cama, abaixando a cabeça.

—Não é pra mim que você tem que pedir desculpas.

Silêncio. O coração de Izuki bate mais rápido ainda ao notar que nenhum som vinha da sala. Ele abre a porta vagarosamente e espia para fora. Kasamatsu estava sentado no sofá com a o rosto nas mãos, curvado sobre si. Izuki volta para dentro e senta ao lado de Moriyama.

—Eu só queria... - Moriyama diz baixinho, como se pedisse desculpas.

—Eu sei que as suas intenções eram boas, mas você realmente foi um amigo bosta agora.

.

.

—Eu vou lá.

—Asuko, não.

—Eu vou.

  —É sério, não vai.

—Espera aqui.

Asuko.

A garota desvia de Kobori e pula para o corredor, fechando a porta atrás de si. Ela passa na frente do quarto de Moriyama e ouve alguns sussurros. Quando chega na sala, vê Kasamatsu no sofá; as cadeiras da mesa estão tombadas, o vaso de vidro tinha caído no chão e rachado, o pote de pipoca estava aos cacos no pé da mesa, que tinha sido movida para bem longe do seu lugar original. O sofá estava torto e a poltrona, encostada na parede quase caindo.

Asuko vai até a pequena cozinha e pega um copo d'água. Ela respira fundo antes de sentar ao lado de Kasamatsu e colocar uma mão em suas costas.

—Vai dar tudo certo. - a voz dela é suave, mas Kasamatsu não olha para cima. Com o rosto ainda enterrado nas mãos, ele respira fundo.

—Eu caguei tudo.

—Não cagou não. Nunca é tarde pra pedir desculpas.

—Ele me odeia.

—Tenho certeza que ele não quis dizer isso.

—Eu fodi as coisas uma vez antes, e consegui foder de novo.

—Kasamatsu. - Asuko endurece a voz - A culpa não é só sua. O Kise estava sendo bem idiota também.

—Mas ele tem razão em estar assim...

—Olha, eu sei que você fez uma coisa que machucou ele, mas ainda não é motivo pra ele ter feito o que fez e ter agido daquela maneira. Ele deve estar tão arrependido quanto você.

Kasamatsu afasta as mãos lentamente e olha para a garota. Asuko dá um sorriso encorajador e afasta o cabelo do rosto, entregando o copo d'água para Kasamatsu. Ele bebe tudo e segura o copo com as duas mãos, olhando-o fixamente.

—Não é o fim. - ela afirma.

—Óbvio que é.

—Claro que não, Kasamatsu, se toca. - ela coloca a mão em seu ombro e aperta - Vou falar uma coisa agora e eu não quero que você me odeie por isso, okay?

Kasamatsu fica em silêncio e não ousa olhar para ela.

—Você precisa decidir o que você quer. Você precisa aceitar seus sentimentos e decidir o que fazer com eles; seja cultivá-los ou tentar esquecê-los. Não estou tentando fazer do Kise um anjo, mas ele não merece isso. - Asuko aperta ainda mais forte o ombro de Kasamatsu e abaixa para olhá-lo nos olhos - Você não sabe o que quer e por isso acabou magoando o Kise, uma pessoa que eu sei que você considera muito. Então eu peço encarecidamente pra você cair na real e se resolver consigo mesmo, porque isso tá afetando outras pessoas também.

—M-Mas...

—O Kise gosta de você. O Kise te considera muito, e você foi e é uma pessoa importante na vida dele, então ele vai te ouvir. Mas agora me escuta. - Asuko aperta os lábios antes de falar novamente - O Kise vai te ouvir, mas ele pode não te desculpar.

—Quê? - Kasamatsu aperta o copo nas mãos.

—Você pode pedir desculpas, mas ninguém é obrigado a aceitar. - Kasamatsu já estava abrindo a boca para falar de novo, mas Asuko interrompe - Principalmente depois de tudo isso e do que ele passou.

—Eu também passei por muita coisa.

—Mas foi você quem o deixou, não foi?

Kasamatsu sente como se tivesse recebido um soco no estômago. Ele tira os olhos do rosto sério de Asuko e encara seus dedos. Kasamatsu sente seu peito se partindo em dois e fecha os olhos, cobrindo-os com uma das mãos.

—Vai embora - ele diz baixinho e Asuko se levanta, voltando para o quarto sem dizer mais nada.

.

.

—Já fez suas compras de Natal?

—Ainda não... Queria que você fosse comigo.

—Tenho que ver. A Winter Cup tá chegando e nós temos que treinar bastante.

Moriyama balança a cabeça e beija Izuki de novo, acariciando suas costas. Izuki apoia sua mão na nuca do outro e o puxa mais perto, enrolando a língua na dele.

Sozinhos em casa, Moriyama e Izuki estavam deitados no sofá com a desculpa de ver um filme, mas a verdade é que eles se beijaram o tempo todo e mal sabiam o que estava passando.

Izuki rola para o lado e deita sobre Moriyama, esmagando a boca na dele. As pernas de Moriyama se prendem em suas costas e ele geme com Izuki pressionando suas pélvis juntas várias vezes. Ele segura o cabelo preto com força e desliza uma mão por dentro da camisa de Izuki.

A temperatura da sala deve ter aumentado dez graus. Izuki continuava apertando os dois juntos e começava a ficar vermelho. Ele ergue a camisa de Moriyama enquanto beija seu pescoço, e esfrega todo o torso do rapaz. Moriyama geme mais uma vez.

—Ah... Vamo lá pro quarto... - Moriyama tentava abrir os botões das calças com uma mão só quando um barulho alto soou de repente.

Os dois tomam um susto do caramba e se levantam para ver o que acontecia. A porta estava escancarada e Kasamatsu se agarrava ferozmente com uma moça, pressionando-a contra a parede e tentando abrir a blusa de botões dela. O cheiro de álcool era muito forte. A moça segura no cabelo e na nuca do garoto, respirando alto. A camisa cinza de Kasamatsu é lançada para trás, caindo sobre a mesa. Os dois nem pareciam ter notado Izuki e Moriyama no sofá, ambos com cara de idiota.

Os dois vão se beijando enquanto se arrastam até o corredor. Kasamatsu abre a porta do meio e puxa a moça consigo, batendo-a logo depois.

Izuki vira para olhar para Moriyama, que está tão confuso quanto o próprio.

—Que porra foi aquela...? - Izuki se ergue e senta no sofá, ajeitando o cabelo.

—Eu não faço ideia. Eu realmente não faço ideia.

—Pensei que o Kasamatsu-san fosse ruim com garotas?

—Ele é... - Moriyama lambe os lábios e senta também - Bom, ele deve ter bebido pra caralho, só pode ser.

O som de gemidos prenche o ar, fazendo Izuki erguer as sobrancelhas.

—Não estou com um sentimento bom sobre isso.

.

.

Quando Kasamatsu passou em Kaijou para dar oi aos seus antigos colegas de time, reparou que Kise não estava lá treinando.

—Faz uns dias que ele não aparece - Nakamura disse, coçando a bochecha - Achei que ele estivesse mentindo quando disse que estava doente, mas uns colegas da sala dele disseram que ele estava com uma aparência péssima.

Não que Kasamatsu pudesse falar alguma coisa, já que também estava com cara de zumbi. Guardando no bolso a expectativa de conseguir falar com Kise, ele foi embora do colégio direto para sua casa.

.

.

Kise, sentado na cadeira de seu quarto, olha para o porta-retratos rachado na parede com raiva. A foto de seu antigo time de basquete - ele, Moriyama, Kobori, Hayakawa e Kasamatsu - estava pendurada perto de um de seus pôsteres. Eram eles posando no último treino oficial do primeiro ano de Kise. Todos sorriam para a foto, e Kasamatsu esfregava o cabelo loiro do garoto com força, rindo de alguma besteira que Moriyama tinha falado.

Ele tinha prometido que continuariam jogando basquete juntos mesmo quando estivesse na faculdade.

"Quando penso em tudo o que passamos esse ano, não posso deixar de pensar em você. Obrigado por ter escolhido vir para Kaijou, e obrigado por ter feito parte do time de basquete. Ficou muito feliz de você ter aparecido nas nossas vidas."

Ele sequer tinha mandado um 'feliz natal' ou 'bom ano-novo'.

.

.

O caderno de anotações que tinha ganhado de Asuko já estava preenchido pela metade. Kasamatsu tinha escrito tudo o que sentiu nesse último ano. Apesar de tentar escrever sobre outras coisas, ele sempre acabava voltando para o mesmo assunto.

Eu sei que fiz uma promessa. Eu sei que, quando olhei pra Lua cheia na última noite do ano, eu prometi para mim mesmo que tentaria ajeitar as coisas com o Kise. E eu planejo cumprir. Mas não sei como.

Acho que nunca vou esquecer quando ele gritou na minha cara que me odiava. Nunca me senti tão mal na vida. Eu realmente fodi tudo.

Nesse ano novo, juro que vou consertar. Preciso consertar.

Eu não aguento mais não falar com ele.

.

.

O primeiro treino do time de basquete do colégio Kaijou estava oficialmente começando. Kasamatsu, da arquibancada, observa enquanto os novatos do primeiro ano se apresentam um depois do outro. Kise, com uma prancheta na mão, sorri e cumprimenta todo mundo.

Hayakawa dissera que Kise daria um ótimo capitão, e Kasamatsu teve certeza absoluta disso quando o viu na quadra. Ele estava melhor do que nunca; tinha furado a outra orelha e o cabelo estava um pouco mais curto, além de ter tomado forma e não ter mais o físico de um garoto de 16 anos. Kise realmente era alguém para se espelhar. Kasamatsu sente-se feliz por saber que os novos guris estão em mãos tão boas quanto aquelas.

Seu estômago aperta. Encarar sentimentos de frente nunca fora o forte de Kasamatsu, mas ele precisava. Tinha essa dívida.

No intervalo de dez minutos para descanso, Kasamatsu desce da arquibancada e dá a volta no ginásio, e encontra Kise rindo com alguns colegas perto da porta. Kasamatsu aproxima-se devagar, suando pelas palmas das mãos.

—Kise-senpai, aquele cara tá te olhando.

—Quê? Quem? - Kise vira rapidamente, olhando ao redor, e pousa os olhos em Kasamatsu. Seu sorriso evapora dos lábios - Ah. Olha, falo com vocês depois.

Seus colegas voltam para dentro da quadra e Kise suspira pesado, colocando as mãos nos quadris. Não sabe dizer o que está sentindo, mas Kasamatsu está lá. Depois de alguns meses sem nenhum tipo de contato, ele viera pessoalmente.

Kise está puto.

— O quê você tá fazendo aqui? - pergunta. Kasamatsu se aproxima e coloca as mãos nos bolsos da calça.

—Kise. - Kasamatsu olha firme nos olhos dourados de Kise - Temos que conversar.

—Não temos nada pra conversar.

—Me ouve.

—Não. Não quero mais saber de você. Vá embora.

—Aparece lá em casa hoje à noite. Por favor. Deixa eu conversar com você. Kise...

—Você tá atrapalhando.

Lágrimas de raiva enchem os olhos de Kise. Kasamatsu não sabe bem o que fazer.

—Por favor?

Os dois se encaram por alguns momentos. O menino mais velho sorri de leve e dá a volta, saindo pelos portões. Kise aperta as mãos com força, olhando-o ir. Uma lágrima pula de seu olho e ele a limpa rapidamente. Girando nos calcanhares, ele marcha de volta para dentro da quadra.

—Levantem! Vamos treinar arremessos!

.

.

A brisa gelada da primavera sacode os cabelos loiros de Kise enquanto ele olha para cima, na direção do terceiro andar do predinho cinzento. As luzes estão acesas.

Para falar a verdade, Kise nem sabia direito o porquê de estar ali. Insistia em fazer-se de trouxa. Dessa vez, subiria ao apartamento e diria ao seu ex-capitão que não gostaria mais de vê-lo e que seria melhor que nunca mais se encontrassem, mas...

Mas o coração de Kise parece apertado demais no peito. Ele sabe que, no fundo, ainda espera alguma coisa. Toda essa confusão mental durava mais do que o suficiente.

Sem saber exatamente o que esperar, Kise suspira. Um frio na barriga lhe aperta as entranhas. Ele tinha que ser forte. Com outro suspiro, Kise atravessa a rua e abre a porta da frente do prédio.

.

.

Kasamatsu, sentado na mesa, olha fixamente para a porta e sente o coração martelando suas costelas. Honestamente acreditava que Kise não viria, mas não custava tentar...

Ele salta da cadeira ao ouvir a maçaneta da porta girando. Kise espia para dentro rapidamente e vê Kasamatsu aflito na mesa, em pé, os olhos arregalados. Engolindo em seco, Kise entra e fecha a porta atrás de si, e pendura o casaco no gancho.

Kasamatsu sorri para si mesmo. Kise talvez até tenha crescido um pouco mais, e tinha o rosto mais maduro, totalmente diferente daquele idiota de dois anos atrás...

Tentando manter a calma, Kise aproxima-se da mesa e coloca as mãos no bolso, olhando para um canto qualquer. Kasamatsu solta uma risada, chamando-o a atenção. Seu coração dispara ao ver o outro sorrindo para si.

—Eu acho que nunca te falei isso, mas estou muito orgulhoso de você, Kise.

Apesar da garganta fechada, Kise mantém-se sério.

—Se eu deixei um legado pro time, posso dizer que foi você. Sei que fui chato às vezes, mas agora posso ver que adiantou alguma coisa. Eu sabia que você seria um ótimo capitão um dia. Tenho muito orgulho de ti.

Lágrimas escorrem pelas bochechas de Kise.

—Sempre foi meu sonho ouvir isso de você, senpai.

—Desculpe não ter estado presente. Eu me sinto muito culpado.

Kise encosta as costas na parede e limpa o rosto, mas não consegue parar de chorar. Tinha escondido os sentimentos por tempo demais.

Por quê?— ele pergunta com a voz trêmula - Por que você me abandonou? Pensei que se importasse comigo. Pensei que continuaríamos jogando basquete, como você tinha prometido...

—Kise, não, eu... E-Eu... - Kasamatsu engasga nas palavras - Eu me importo muito com você. Eu tava... Com medo... Porque eu nunca tinha gostado de ninguém antes e fui gostar justamente de você...

—Eu gostava de você também, você sabia! Por quê...

—Kise, você é a pessoa mais idiota, estúpida, sem noção, cabeça-oca e irritantemente feliz que eu conheço. Mas você também é brilhante, talentoso, contagiante, bem humorado, inteligente, e eu tenho vontade de socar essa sua cara estupidamente bonita pelo simples fato de ela me irritar às vezes... E você...

Kasamatsu olha para o chão tentando não desmaiar de nervosismo.

—Você com certeza merece alguém melhor do que eu...

—Você acha que sabe o que eu quero, mas nunca perguntou pra mim o que eu queria.

—Achei que seria melhor a gente se afastar. Pensei que fosse o certo.

—Tá brincando comigo, senpai? - Kise sorri em meio às lágrimas e solta uma risada feliz - Se eu sou metade do jogador que eu sou hoje, é por sua causa! Foi você que me incentivou a ser melhor, que me ensinou a amar Kaijou com todo o meu coração, que me fez acreditar que eu podia sim confiar nos meus companheiros de equipe porque nenhum deles nunca me deixaria na mão... E eu treinei e treinei e treinei porque queria ser melhor para o nosso time! Eu queria realizar o seu sonho de ser campeão, mas eu falhei... Então continuei treinando pra que você visse que o time que você tanto se esforçou pra manter estava dando resultados! Você disse achar que eu mereço alguém melhor do que você, senpai, mas foi você que despertou o melhor de mim todo esse tempo!

—Mas nada disso importa mais, você me odeia. Eu entendo, mas...

—Odeio? Não! - Kise ri de novo - Senpai, eu nunca te odiei, e acho que nem nunca poderia... Fiquei triste e fiquei com raiva, mas apesar de tudo nunca consegui te odiar. - Kise limpa o rosto novamente - Porque você é um total idiota, insensível, não leva jeito com as palavras e é resmungão, e também sei que você odeia quando eu te respondo, mas eu sempre gostei de você pelo o que você é. Com essa cara rabugenta e tudo.

—N-Não... Kise, você merece alguém que seja tão radiante quanto você, e que seja paciente, que entenda seus gostos estranhos, e que te faça rir, e passe bastante tempo contigo, porque sei que você precisa de atenção. Que te mande lavar as roupas, se não você esquece, e que te ajude com a lição de casa... Que te ajude em Física, porque eu sei que você nunca entende a matéria, e que te incentive no basquete... E que...

—Senpai, você é estúpido? - Kise sacode a cabeça - Você acabou de se descrever. Você mesmo tá dizendo que o melhor pra mim é você. - ele sorri de leve - Você é o único que sabe que eu odeio manjericão na pizza, que até hoje não sei a tabuada do sete, que me manda dormir no horário certo, e que eu adoro piadas de joãozinho...

Kasamatsu beija a boca de Kise com força, impedindo aquele tagarela de falar mais alguma coisa.

Kise se afasta e abre o sorriso mais bonito que Kasamatsu já vira na vida, ainda com lágrimas escorrendo por suas bochechas.

—Quero tanto jogar basquete com você de novo, Kasamatsu-senpai.

—A gente vai ter muito, muito tempo pra jogar basquete, Kise.


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Notas finais do capítulo

Nada melhor do que um doce angst pra aquecer nossos corações nesse inverno ♥ Obrigada por ler!

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