As verdades escondidas escrita por BCarolAS


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora, gente eu sou muito lenta para escrever.



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Aurélio estava em choque. Não sabia se podia confiar nos ouvidos. Teria ele escutado corretamente? O falecido marido de Julieta a violentou? Ele não soube o que dizer. O que ele diria para ela naquela situação?

— Julieta, isso…- Ele não encontrou palavras.

— Por que você acha que eu sempre interrompo os nossos beijos, Aurélio? No que você acreditava quando todas as vezes que você me tocava, eu corria? Que eu não te desejava como você me deseja? Que eu não sinto por você o mesmo que você sente por mim?- Ela olhou para Aurélio com lágrimas nos olhos. - Eu não consigo, Aurélio. Eu não consigo… Aquele infeliz me arruinou para vida. Fez questão de deixar sua marca na minha alma, para que mesmo depois que ele se fosse, eu não pudesse ser feliz. Para que não pudesse te fazer feliz.

— Julieta- Ele disse indo para ela, também sem conter as lágrimas. - Julieta, meu amor, olha para mim. - Ele segurou suas mãos, e levantou o rosto dela em direção ao seu. - Jamais repita isso novamente. Jamais. É o que realmente pensa? Que não sou feliz ao teu lado? Todo dia que acordo e penso que irei te ver é o dia mais feliz da minha vida. E nada, nada mais importa. Enquanto você me permitir estar ao seu lado e ser seu companheiro, eu serei. Em qualquer termo que você quiser. - Julieta o olhava com tanto amor que ele quase podia sentir. - E quanto ao crápula do seu ex marido, eu só não o mato porque ele já está morto. E se depender de mim, nem a memória dele será preservada.

— Mas precisa. - disse ela por fim. - Camilo não sabe de nada. Não sabe dos termos de seu nascimento, do perverso que foi o seu pai. E eu gostaria de continuar assim. Já basta saber que um de seus pais é um monstro. Meu filho não sobreviveria a descoberta que seus dois pais são…

— Shh…- Disse Aurélio a abraçando. - Jamais se ponha no mesmo nível que aquele… Ser. Ele nem merece ser chamado de homem. Você cometeu alguns erros, é verdade, mas Camilo há de perdoar. Vamos dar tempo ao tempo.

 

Do outro lado da porta, Camilo estava petrificado. Não tinha a intenção de ter ouvido a conversa da mãe, mas não conseguia se mover. Queria gritar, queria chorar, queria confrontar a mãe. Queria confortá-la. Mas precisou sair dali. Camilo começou a correr sem rumo, sem saber o que fazer. precisava conversar com alguém, mas Jane já sofrera bastante hoje e queria preservar a esposa grávida. Só havia então uma pessoa a quem recorrer. Ele correu até a fazenda Ouro Verde, e chegou lá suado, sem fôlego mas o exercício o fez acalmar minimamente. Quando entrou avistou Darcy sentado no sofá, com Elisabeta deitada em seu colo, lendo em voz alta. Ele fazia cafuné na noiva e aquela cena quase o fez desistir de falar com o amigo, mas Darcy o viu.

— Camilo… - ele começou a dizer sorrindo, mas ao ver o estado do amigo seu tom ficou grave. - Aconteceu alguma coisa?

Elisabeta levantou-se e fechou o livro. Olhou para o cunhado e disse alarmada:

— Foi Jane? O bebê está bem?

— Jane está bem…- disse ele por fim. - Darcy, será que poderíamos conversar em particular?

Darcy e elisa se entreolharam. Não era comum o Camilo pedir para falar com Darcy em particular.

— Eu vou subir então. - Disse Elisabeta por fim.

— Na verdade, Darcy, será que podemos conversar lá fora? Eu preciso de um pouco de ar.

— Claro Camilo, vamos.- Ele lançou um último olhar a Elisa que ficou sentada com o livro na mão, pensando no que pode ter ocorrido para deixar Camilo tão abalado.

Camilo e Darcy caminharam em silêncio até a área externa da casa.

— O que aconteceu Camilo? Você parece perturbado.

— Eu não sei por onde começar Darcy. Foi tanta coisa...

Então Camilo começou contando de Susana. A indignação de Darcy era evidente.

— Eu não acredito Camilo, eu rompi com meu pai em definitivo, eu o devo um pedido de desculpas..

— Eu sei Darcy. Mas se você puder esperar, eu tenho mais a contar.

Então ele contou do padre, do casamento falso e de Jane passando mal. Darcy começou a ficar vermelho e caminhar de um lado para o outro. Mas então Camilo continuou e contou a conversa que ouviu da mãe. Darcy mudou, de vermelho ele ficou pálido e não soube o que dizer ao amigo.

— Minha primeira reação, Darcy, foi achar que minha mãe estava mentindo. Que meu pai jamais faria algo tão horrendo e perverso. Mas não faz sentido. O que eu ouvi, era íntimo e pessoal. Era sobre ela e o Aurélio e sua incapacidade de receber carinho, afeto. O que me fez pensar na minha infância. Tudo de repente fez sentido. Porque minha mãe nunca me tocava, não me pegava no colo.- Camilo chorava copiosamente. - Imagina o que deve ter sido para ele, todos esses anos. Olhar para mim, a prova viva da violência que ela sofreu. Não me admira tudo que ela fez… Não me admira que ela não me ame. Eu estou com nojo, Darcy, com nojo de mim mesmo.

Camilo começou a rasgar as mangas da própria blusa, em um ato, que ele não sabia, mas foi bastante similar ao da mãe. A reação de também foi similar a de Aurélio, ele abraçou o amigo. Camilo voltou a chorar.

— Tudo isto que me disse Camilo, é tudo tão horroroso que é difícil de acreditar. Mas eu concordo que a Julieta não teria porquê mentir para o Aurélio. Mas você não deve duvidar do amor de sua mãe. Você mesmo disse que ela pediu a ele que não te revelasse, ela queria te poupar. E talvez ela tivesse razão. Olha o seu estado.

Ele se desvencilhou do amigo.

— Não Darcy, eu merecia saber a verdade. Merecia saber a minha origem, mesmo que ela seja asquerosa.

— E o que você vai fazer agora, com toda essa informação?

— Eu não sei Darcy, eu não sei.

— Eu acho que você deve se acalmar. Entra, tome um banho e depois vá para casa ver sua mulher. Tome o seu tempo para digerir essa história, venha.

Darcy levou Camilo para dentro e pediu para que lhe preparasse um banho. Na fazenda Bittencourt, Aurélio tratava os cavalos sem muita concentração. Não conseguia parar de pensar em Julieta e na vida que ela teve. No fato dela nunca ter sido amada. Ele não conseguia entender, como que ela nunca foi amada? Ele não era capaz de ficar a menos de 10 metros de distância dela, ele não conseguia olhar para ela sem que sentimentos profundos o inundasse. Então Aurélio prometeu uma coisa a si mesmo: passaria o resto da vida compensado a Julieta por todo amor que ela não recebera antes. Ele dedicaria sua vida amá-la e a fazê-la feliz.

Naquela noite, Julieta o procurou. Tinha adormecido a noite anterior, que agora lhe parecia pacata, nos braços de Aurélio e agora, com tudo que tinha ocorrido, era onde ela queria estar. Havia insistido para ele ficar na fazenda essa noite, sob desculpas estapafúrdias, que ela tinha certeza absoluta que ele não comprara. Mas ele ficou. Ela vinha aprendendo que ele sempre ficava. Entretanto, ela estava receosa. Ela tinha contado a ele seu maior segredo e agora temia que ele mudasse com ela, que a tratasse diferente de alguma forma. Ela já havia desistido de bater e estava se encaminhando para voltar para o seu quarto quando ele abriu a porta.

— Julieta? Aconteceu alguma coisa? Está tudo bem?

— Sim…- Ela ficou um pouco envergonhada. - Eu só… Deixa para lá. Boa Noite Aurélio.

Ele esboçou um sorriso. Julieta estava inquieta e se todo aquele dia havia sido demais para ele, ele nem conseguia imaginar como ela estava se sentindo.

— Você não quer entrar? Eu estou me sentindo um pouco… sobrecarregado. Se não fosse te pedir demais, gostaria da sua companhia.

Julieta suspirou. Ela sorriu para ele, entendendo que ele lhe dera a desculpa perfeita para se aconchegar em seus braços. E assim se passaram os dias daquela semana. Nos primeiros, Julieta ainda se deu o trabalho de inventar desculpas para que ele ficasse e depois, para que ele fosse até o seu quarto ou ela fosse até o dele. Mas depois, aquilo só se tornou sua pequena rotina. Certo dia, eles estavam deitados no quarto dela, e ele falou:

— Acho que eu devo ir para casa do Brandão amanhã.

— Por quê? - Julieta protestou e se aninhou a ele, o abraçando mais forte. Isso gerou uma risada do Aurélio.

— Eu estou dormindo aqui já tem mais de uma semana. As pessoas vão começar a falar que eu sou seu teú de manteuda.

Julieta gargalhou àquele comentário.

— Pois deixe que falem. Entre minha reputação e ter você por perto, eu prefiro você.- Isso gerou um sorriso no rosto de Aurélio. Ela levantou o suficiente para encará-lo. - Pensando bem, por que não se muda de uma vez?

— Você está falando sério?- Aurélio a questionou.

— Não vejo motivo para você continuar morando com o Brandão. Você trabalha aqui, e passa seu tempo livre comigo. - Ela passou a mão nos cabelos do Aurélio e concluiu. - Está decidido, amanhã você se muda em definitivo para cá.

— Julieta, não é bem assim. E meu pai? Ele está em São Paulo agora, mas fica comigo no Brandão quando está no Vale.

— Aqui tem quartos suficientes para ele, para Ema, para sua irmã e seu sobrinho quando vierem te visitar também.- Julieta o encarava com um sorriso brincalhão, como quem o desafiasse a arrumar outro pretexto. Ele a encarava como se ela fosse a coisa mais extraordinária que ele já havia visto.

— Parece que está decidido então.

— E não foi o que havia lhe dito?- Ela riu e voltou a se aconchegar nele.

Enquanto isso, na casa dos Benedito, Camilo tinha acabado de contar tudo que descobrira sobre o seu pai e a natureza de sua concepção. Jane chorava copiosamente, abraçada ao marido.

— E o que você disse a sua mãe, Camilo?

— Nada. Eu não falei com ela desde o dia que descobri tudo.

— Como você não falou com sua mãe Camilo? Olha tudo que você descobriu, vocês precisam se acertar.

— Eu sei Jane. Mas não consigo fazer as pazes dentro de mim. Tudo que ela fez contra nós e tudo que foi feito contra ela…- Ele levantou e encarou a sua mulher. - Eu não sei se consigo encará-la. Eu não sei se sinto raiva ou nojo, não sei se sinto isso dela ou de mim.

— Pois saiba que eu andei pensando muito sobre o que sua mãe fez com a gente, e eu já tinha decidido perdoá-la, mesmo antes de saber de tudo isso.- Camilo a olhou admiração.- Ora, camilo, sabe que não sou de guarda rancor. E sim, o que ela fez foi errado, grave e me magoou profundamente. Mas já faz algum tempo. Se você parar para pensar, sua mãe mudou muito desde então. Ela se abriu para vida, começou um relacionamento, se esforçou para me conhecer e ouso dizer que hoje em dia até simpatiza um pouco comigo.

— Meu amor, eu…

— Por favor, me deixe continuar. Nós estamos trazendo uma criança para este mundo, Camilo. E eu quero que ela acredite que o mundo é bom. Não quero que ela nasça numa família repartida. Quero que tudo que ela conheça seja amor, compreensão e perdão. Eu quero que ela tenha duas avós e que possa correr pela fazenda de sua mãe e ser mimada e amada por ela, como eu sei que dona Ofélia vai fazer. Então amanhã, eu vou na fazenda Bittencourt falar com sua mãe. E quero que você pense com carinho na possibilidade de fazer o mesmo.

Camilo concordou que pensaria a respeito e passou a noite em claro lutando contra os próprios demônios. Sentia tanta coisa respeito de sua mãe que não conseguia mais distinguir os sentimentos. Mas Jane tinha apontado uma verdade: ele queria que o filho ou filha que eles estavam trazendo ao mundo tivesse tudo o que ela apontou. Ele queria na verdade que fosse uma pequena cópia da esposa, com os mesmo olhos bondosos e o mesmo coração puro, incapaz de se deixar assolar pelas maldades do mundo.

Julieta analisava uns documentos no escritório quando Jane foi anunciada. De primeiro, ela se preocupou. Teria alguma coisa acontecido com Camilo? Mas assim que Jane adentrou na sala, com seu tradicional vestido azul, tão serena como só ela poderia ser, Julieta se acalmou um pouco. Ela não estaria tão tranquila se algo tivesse acontecido. Então por que Jane estaria ali? Talvez a menina tivesse vindo esbravejar com ela. Ela tinha esse direito, afinal o que ela tinha feito havia sido horrível.

— Desculpe interromper dona Julieta, mas gostaria de falar com a senhora.

— Claro Jane, por favor, sente-se.

— A senhora deve estar se perguntando o que eu faço aqui.- Julieta exibiu um sorriso triste.

— Eu tenho uma ideia. E é por isso que eu guardarei as minhas desculpas para o final. Você tem o direito de expurgar os seus demônios. - Foi a vez de Jane exibir um sorriso triste.

— Graças a Deus, minha sogra, eu não tenho demônios. Eu tive muita sorte nessa vida, sabe? Eu nasci com um temperamento bom. Não chega a ser vaidade dizer, é apenas um fato, além da sorte ter vindo para este mundo como uma Benedito. Meus pais, minhas irmãs… Tudo isso fez com que eu fosse quem eu sou agora.- Julieta não entendia muito bem onde ela queria chegar com aquilo. - E eu nunca fui de guardar mágoas e rancores. Não é do meu feitio. E eu não quero começar logo agora. - Ela disse acariciando a barriga, o que gerou um sorriso instintivo em Julieta. - Não me entenda errado, o que a senhora fez me magoou de um jeito que nunca havia sido magoada antes. Eu e Camilo estamos vivendo em pecado. Nosso filho foi concebido desta maneira. Mas eu acredito que Deus sabe o que faz e estou aqui para escutar a versão da senhora da história, para que possamos por uma pedra no assunto, seguir nossas vidas, e com o tempo, nos perdoarmos.

Julieta não conseguia acreditar no que ouvia. Ela olhava para Jane com um encantamento que não sabia explicar. Como ela pode se enganar tanto em relação a uma pessoa? Como ela pode um dia acreditar que aquela menina, que mais parecia um anjo, em feições e sentimentos, não pudesse ser digna do seu filho?

— Se você espera de mim uma justificativa plausível que atenue meus pecados diante dos seus olhos, Jane, eu sinto em frustrá-la. Eu gostaria, do fundo do meu coração, de ter uma desculpa plausível além da minha arrogância e prepotência, mas não tenho. Na época, eu estava cega. E furiosa. Camilo havia me desobedecido pela primeira vez em sua vida e eu só consegui enxergar naquilo uma afronta. Eu poderia ter visto que meu filho estava se tornando, enfim, um homem de fibra, lutando pelo que acreditava, brigando pelo amor de sua vida. Mas eu vi como a teimosia de um menino que quer contradizer a mãe. E então, deixe-me dominar pelos meus piores instintos. E é aqui que eu começo a me desculpar. A Julieta que fez tudo aquilo não existe mais. Eu mudei, Jane e por mais que seja difícil acreditar, é a verdade. Não estou dizendo que eu serei uma avó ou sogra perfeita, mas se você me der uma chance para provar a você, eu vou ser a melhor versão de mim que conseguir ser. Porque é isto que você e meu neto me inspiram.

Jane olhou para a sogra. Julieta estava emocionada, mas ela conseguia ver verdade em seus olhos, em suas palavras. Ela estendeu a mão para a Julieta que segurou a dela com as suas duas.

— Selamos, pois, a nossa paz. O que diz respeito a mim, a senhora está perdoada. Trabalharei em meu coração para que possa esquecer e deixar todas as mágoas para trás. Quanto ao meu filho, ou filha, no que cabe a mim, a senhora será parte de sua vida. Vou conversar com Camilo, não se preocupe.

Julieta soltou a mão de Jane para que pudesse secar uma lágrima. Estava tão feliz, e só faltava uma coisa para sua felicidade estar completa. Ela levantou e fez um pedido:

— Posso te dar um abraço?

Foi a vez de Jane se emocionar. Ela levantou e abraçou a sogra. Neste momento, camilo entrou na sala. Julieta e jane desfizeram o abraço e a matriarca enxugou os olhos.

— Será que eu também posso ter uma conversa com a senhora, minha mãe?

O coração de Julieta se aqueceu um pouco. Quando camilo queria se manter distante, ele a chamava de “dona Julieta” e não de mãe. Ela disse para si mesma não ter esperanças, mas não conseguiu evitar.

— Eu vou deixar vocês a sós, vou até a casa de chá encontrar minhas irmãs.

— Peça ao motorista para te levar. É uma caminhada muito longa para se dar, ainda mais no seu estado. - Julieta disse com um tom de preocupação.- Aliás, posso deixar o carro com vocês. Imagino que estejam precisando mais que eu neste momento.

— Não se preocupe, dona Julieta. vou aceitar a carona agora, mas realmente não vejo necessidade da senhora o deixar em minha disponibilidade.- Ela se voltou a Camilo e o abraçou. Em seu ouvido, ela disse. - Seja gentil com sua mãe.

— Por favor, meu filho, sente-se.

Ambos se sentaram e permaneceram em silêncio por um tempo. Julieta não sabia o que esperar. Sua conversa com Jane tinha sido tão boa! Um peso enorme havia sido retirado de seus ombros. Mas Camilo estava sentado na sua frente e parecia angustiado. Ela desejou que o Aurélio estivesse ali com ela. Ele era tão melhor no trato das pessoas!

Já Camilo se debatia em guerra interna. já havia remoído tanto a história da mãe que não sabia mais o que pensar. Sua mãe havia sido uma vítima de seu pai, sendo torturada e violentada por anos. Ele sabia que isso não justificava nada que ela havia feito, mas de certa forma, justificava sim. Ele queria perguntar a ela tantas coisas, mas em uma conversa com Jane, ele compreendeu que era escolha de sua mãe contá-lo ou não. Ele não poderia tirar mais isso dela, já que ele e o seu pai já haviam lhe tirado tanto. Mas não sabia como fazer, não sabia como agir diante dela. Seu coração estava machucado de tantas formas.

— O que a senhora fez… Não tem justificativa. - Ele começou. Mas ela interrompeu.

— Eu sei meu filho, mas…- Ele a interrompeu também.

— Jane está decida a perdoá-la, pois acredita em sua mudança. Eu não sou cego, tenho visto a senhora. Apesar de ainda usar o preto, se abriu para o mundo. Tem feito novas amizades, encontrou um companheiro…- Camilo suspirou. Estava pisando em ovos. - Veja bem minha mãe, eu estou em conflito. Eu quero perdoá-la, e seguir em frente, mas algumas coisas são difíceis de deixar para trás.

— Eu entendo meu filho. - Eu sei que entende, pensou Camilo.- Mas você é meu amor maior, minha razão de viver. E se você está disposto a me perdoar, eu espero. Eu espero o tempo que for. Só de você estar aqui, me dizendo isto, não faz ideia de como me faz feliz.

Julieta enxugava as lágrimas, e exibia um sorriso exuberante. Quando acordou, naquela manhã, jamais esperava que fosse ter tantas coisas boas antes do meio-dia. Reconciliou-se com sua nora, e agora, havia uma promessa de reconciliação junto ao seu filho.

Camilo tinha chegado na casa de sua mãe pronto para tirar a limpo toda a sua história. Queria respostas e estava cheio de perguntas. Mas não podia, não assim e não agora. Ele achava que estava começando a compreender a mãe. E ela o amava, mesmo ele sendo filho da violência, a prova viva de suas infelicidades, ela o amava. Então ele acreditou que a sua parcela de sofrimento era mínima a se pagar, em comparação a dela. Estava disposto a recomeçar, e a descobrir sim, quem um dia foi seu pai. Mas tudo ao seu tempo, queria que partisse dela. Antes de saber quem era verdadeiramente seu pai, queria saber quem era verdadeiramente sua mãe.

Mãe, eu gostaria de lhe fazer uma pergunta pessoal, se me permite.- Julieta estranhou aquilo e corou um pouco ao pensar que seu filho perguntaria acerca do Aurélio. Em outros tempos diria que não era de sua conta, mas ele estava ali se dispondo a perdoá-la, então ela não lhe negaria nada

— Claro que pode.

— Por que a senhora ainda veste o luto? Aquele dia, que lhe vi chegar com Aurélio no vestido de Ema foi que me toquei quanto a senhora é nova ainda. E bonita. Não entendo porque se esconde nesse preto- Julieta se espantou com a pergunta do filho. Ela tinha seus motivos, é claro. Mas não podia contar a ele sem que expusesse sua mais dura e triste verdade. Porém, também não queria mentir para ele.

— Eu fiquei viúva muito jovem, meu filho. E naquela época, o uso de preto era obrigatório. E já faz tanto tempo, e tudo que eu passei, quem eu me tornei… o preto só se acomodou em mim e eu a ele.

— Pois se a senhora permite uma intromissão, eu gostaria de dizer que em minha opinião, uma das coisas que a nova Julieta deveria adotar é uma mudança de guarda-roupa. - Julieta riu de Camilo e ele continuou. - A senhora é jovem, está namorando e não acho que ninguém na sociedade vai dizer nada a respeito disso, além de elogios. Então minha mãe, considere este conselho de moda do seu filho: a próxima vez que for a São Paulo, leve a Jane para fazer compras. - Ele sorriu para mãe que olhava ainda sem acreditar.- Bem, eu tenho que ir. Jane e eu temos nos pensado em nos casar aqui no vale. Preciso ir atrás do padre e explicar a situação.

Aquilo atingiu Julieta. Não tinha parado para pensar na situação que Jane e Camilo se encontravam, e tudo aquilo era sua culpa.

— Se me permitir, gostaria de cuidar disso para vocês. É o mínimo que posso fazer.

 - Não se preocupe. Estamos pondo isto para trás, não estamos? Não lhe falei com o intuito de atingi-la. É só realmente o que estou indo fazer. E a partir de agora, quero que sejamos honestos um com o outro.

— Pois bem. Eu quero lhe dar a festa de casamento que vocês merecem. A festa de casamento digno de Camilo Bittencourt. E de Jane Benedito. Eu faço questão.

— Então façamos assim: por que a senhora não me acompanha?

Camilo levantou e estendeu o braço para mãe. Julieta pulou da cadeira e automaticamente pois o braço no do filho. Aquilo era melhor do que ele deixar ela fazer a festa que ela queria. Era um convite do seu filho para que fossem juntos, fizessem juntos, andassem juntos. E era isso que faria daqui em diante. Andariam juntos pela vida. Seriam honestos um com outro. E quem sabe um dia, quando Camilo fosse mais velho, ela conseguisse lhe contar a verdade. Ele estava disposto a esperar.





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Notas finais do capítulo

Estou pensando em fazer um epílogo, talvez do casamento, talvez do nascimento... Ainda estou pensando.



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