Telma na Luta escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 14
Descobrindo a força




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— Ai Telma, eu tenho que achar um lugar para me esconder, tenho que sair daqui, por favor, me ajudaaaa...

— Calma, calma, primeiro me conta tudo desde o começo!

Sentada no banco de madeira, Renata estava ofegante, e falava com a voz entrecortada. Telma procurava manter-se perfeitamente controlada a fim de dar confiança à amiga. Os passantes iam e vinham, e não olhavam. Telma teve a impressão de ser a única pessoa com quem Renata podia contar naquele momento.

— Foi o Marcão... ele disse que eu estava devendo cinco mil... mas é mentira... eu paguei tudo mês passado... aí ele falou que quem não paga morre... eu não sei se ele falou sério, porque ele tava rindo... mas eu estou com medo...

Telma de pronto compreendeu que o tal Marcão devia ser a pessoa que providenciava os cigarrinhos que Renata volta e meia fumava, e talvez algo mais. Surpreendeu-se com a própria calma. Estava descobrindo forças que nem sabia que tinha. Na mesma hora o nome veio em sua mente, e ela respondeu à amiga:

— Vai para casa e fica quieta. Eu vou falar com uma certa pessoa.

Na mesma hora rumou a passos firmes para aquele bairro onde ela jurara nunca mais por os pés. No caminho lembrava-se de diversas descortesias que Renata já lhe havia mostrado, ela com certeza não era o que se podia chamar de uma boa amiga, mas naquele momento nada disso importava, Telma estava na luta e não ia desapontar. Rico estava lá, bem onde ela sabia que ia encontra-lo. Sorriu para ela, como se já a esperava.

— Oi gata, veio ver se chegou da branca ou da pretinha?

— Para de sacanagem! Estou com um problema muito sério para resolver!

Contou tudo com os detalhes que sabia. Rico soltou uma gargalhada.

— HAHA Eu já tava vendo que essa tua colega Renata é muito vacilona. O Marcão também não perde tempo. Isso que ele faz, sabe o que é? Primeiro diz que está devendo, e quando não tem o que pagar, oferece: eu vou te dar tantos saquinhos, vende pra pagar a grana, mas se você sumir, vai gente atrás e te quebra!

Telma compreendeu que era um método para transformar compradores em vendedores a serviço da quadrilha. Rico piscou para ela, e completou:

— Cha comigo que eu vou levar um papo com o cara!

Telma retirou-se, aliviada por estar saindo dali. Confiava em Rico. E não demorou nem duas horas veio a mensagem no celular:

Rico: ele falou que por mil libera

Ora graças! Até que estava barato, considerando o tamanho do embrulho. Foi já ter com Renata, que juntou os tostões de sua bolsa, Telma também pediu algum emprestado, e antes do final da tarde já estava entregando o envelope para Rico.

— Dessa vez não vou cobrar comissão. Foi na amizade!

Telma agradeceu. Não lhe agradava dever favores a uma pessoa com aquela, mas era com quem podia contar naquele momento. O alívio de Renata era tão grande que ela respirava como se estivesse ofegante. Passado o susto, era a hora da bronca.

— Agora, nunca mais vai fazer besteira, hein, mulher!

— Nunca mais vou voltar lá, chega!

Telma teve a impressão de que dali por diante elas seriam boas amigas. Chegou em casa sentindo que tinha tirado um grande peso das costas, mas ainda tinha outro problema para resolver, este um problema pessoal. Tia Vitória não estava. Carla e Vitinho trocavam risos maliciosos, Telma não gostou daquilo. Carla não havia limpado as vidraças. Mas Telma deixou para se preocupar com aquilo mais tarde. Sabia que tinha que descobrir novas forças, e saiu novamente para a rua. Quando encontrou Ronaldo, foi direto ao assunto:

— Olha, eu sei que você está preferindo a Soninha.

Notou a expressão de susto dele, que antes já lhe havia passado tanta segurança. Não lhe deu tempo para balbuciar alguma desculpa, e completou sem raiva:

— Não tem importância não, é a sua escolha. Se você está mais feliz com ela...

— É... eu saí com ela uma ou duas vezes, para conversar... não queria que você soubesse... olha... eu queria dar um tempo... para pensar...

— Está bem, vamos dar um tempo. Eu também tenho o que fazer, tenho a minha vida, os meus amigos. Ficamos assim então, tá?

Despediu-se certificando-se de que não fora nem insolente, nem irônica. Tinha certeza de que não falara mais que o necessário. Quando chegou em casa tia Vitória já havia voltado.

— Está triste hoje, Telma?

— Um pouco cansada, tia...

Telma estava convicta de haver cumprido o seu dever aquele dia. Mas a sensação do dever cumprido às vezes é triste.


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