25º Capítulo

Versão da Inês

Estava em casa a arranjar-me para a tão esperado festa de natal. Iria vestir o que a Ana me ajudou a comprar, mesmo achando que não servia de nada “ estar de arrasar” como ela dizia, se a pessoa que eu queria que me apreciasse não ia estar nem aí para mim.

Fui tomar um banho. Sim! Um banho, enchi a banheira com água quente até acima e deite-lhe uns sais para ver se me ajudava a descontrair. Ainda nem estava na festa e já estava toda nervosa. Assim decidi ficar na banheira a relaxar um pouco. Tinha combinado com o João encontrarmo-nos no portão da escola ás 20h:30, mas ele insistiu em vir-me buscar a casa, e eu não neguei. Pensando bem, ir sozinha e assim vestida até á escola, talvez não fosse uma ideia brilhante.

Libertei-me dos meus pensamentos com a minha prima Mariana aos gritos:

-“Eu preciso de ir á casa de banho. E vocês estão a ocupar as 2 únicas que existem nesta casa! MEXAM-SE!”. Saí da banheira, sabendo que o meu momento de relaxamento tinha terminado. Enrolei a toalha no corpo e abri a porta.

-“Podes vir para aqui Mariana. Eu já vou sair.” – disse-lhe abrindo a porta e saindo dirigindo-me para o meu quarto. Ainda a consegui ouvir a resmungar.

-“fogo… tudo embaciado. Olha para isto que calor infernal. FOGOOOO!” – resmungava ela. Agora vagueando pelos meus pensamentos, e recorrendo á minha memória. Nunca me tinha apercebido desta faceta tão resmungona da minha prima. É que estava sempre a resmungar.

Cheguei ao quarto e comecei a despachar-me. Não me queria atrasar. Vesti-me, maquilhei-me e arranjei o meu cabelo. Olhei para o espelho e assustei-me. Não conhecia a pessoa no espelho. Estava tão diferente. Apressei-me a calçar os sapatos de salto alto e dirigir-me para a sala onde estava a minha tia a ver televisão.

-“AIII SOBRINHAAA” – vi os seus olhos encherem-se de lágrimas. Comecei a pensar que tinha feito algo de errado, ou que já tinha estragado alguma coisa no vestido.

-“O que é?! Estou suja? Tia diga-me!” – perguntei exaltada.

Ela levantou-se do sofá onde estava sentada e dirigiu-se para mim.

-“Não minha linda. Estás perfeita! Tão linda!” – e deu-me um beijinho na testa – “ O João vem buscar-te?”

-“Na verdade ele já deve estar lá em baixo tia. Eu não me demoro muito na festa ‘tá?”

-“Oh minha tonta. Demora o tempo que quiseres, desde que te divirtas e que o João te traga a casa sim? Eu espero por voçês”

-“Sim tia. Mas eu não pretendo demorar muito tempo na festa.” – murmurei. Sentia-me como se fosse para a forca e não para uma festa de natal.

Peguei num casaco na entrada e saí. Estava vento e frio.

Recebi uma sms do João a dizer que estava atrasado. Mas eu já estava cá em baixo e não tinha trazido chave de casa, porque a minha tia disse que esperaria por nós.

Abri a porta da entrada e , instantaneamente, sentia-me como num sonho.

Ali estava ele, lindo como sempre. Nas escadas da rua á minha espera – embora eu soubesse que isso era mentira. Olhei para ele e vi que os seus olhos também me seguiam.

Eu queria correr para ele, dizer-lhe o que estava a sentir. Dizer-lhe que ele era o ser mais lindo do mundo e que o meu coração lhe pertencia. Então inspirei o ar puro da noite, e dirigi-me até ele em pequenos passos. Mas a minha coragem depressa foi desencorajada, quando oiço a porta a abrir e vejo a minha prima a sair toda contente para ir ter com o seu par. o meu par. Aquele que deveria ser o meu par.

-“Este é meu priminha. Boa noite!” – disse ele virando-se para mim e piscando-me o olho.

Nesse momento apeteceu-me saltar-lhe para cima ou pelo menos dizer-lhe das boas. Mas claro que não iria fazer isso. Ela é minha prima e gostava dele, e ele… ele pelos vistos também sentia o mesmo, convidou-a para a festa e até a veio buscar a casa. Ele era um príncipe encantado! Mas não para mim , apenas nos meus sonhos o Sérgio era diferente e ideal para mim.

-“Inês?” – uma voz chamava por mim. E , claro, que já me era familiar –“ Uau Inês, ‘tás LINDA!” – disse o João agarrando a minha mão , fazendo-me rodopiar.

-“Obrigada!” – respondi-lhe sorrindo. Ao menos o meu amigo não me deixava mal.

-“Bem… vamos princesinha?” – disse ele estendendo a mão.

Bloqueei. –“ O-o  que-que me chamaste?”

-“Pareces uma princesa. Tás linda linda lindaaaa! Esta noite és a minha princesa Inês. Posso?”

Perante tal carinha de cachorrinho e sorriso encantador, não consegui dizer-lhe que não. Ele era o meu amigo, se calhar o meu melhor amigo. Ele e a Ana tornaram-se essenciais na minha vida. Eu adorava-os e , por isso, respondi.

-“Claro que aceito. Serei a tua princesinha hoje João!” – e ri-me , sentindo-me feliz por um momento.