23º Capitulo

-“ Inês…” – mas foi interrompido por um barulho irritante que não conseguia perceber de onde vinha.

Triimmmm Triimmm TRIMMMMMMMMMM

Comecei a reconhecer o som e as lágrimas começaram a cair-me pelo rosto.

-“NÃOOOOOO!”

-“Prima o que se passa? Estás bem?” – entrou a Carolina pelo meu quarto dentro .

-“Não ,não… Porquê? Porque é que tinha de ser só um sonho? Eu não mereço ser feliz?!” – as lágrimas escorriam. Sentia-me tão triste por ter sido apenas um sonho. Eu queria no meu mais profundo ser que aquilo fosse real.

-“Prima o que estás para aí a dizer? ‘Tás a falar do quê?”

-“Oh Carol…” – abracei-me a ela e em soluços contei-lhe o meu maior sonho e como me sentia por isso. Sabia que podia sempre contar com a minha prima mais nova. Ouviu-me até ao fim, sempre limpando as minhas lágrimas e tentando acalmar-me. Ela contou-me que a irmã estava super feliz por ir com o Sérgio á festa, mas que não sabia quem tinha convidado quem.

As aulas correram normalmente. O Sérgio parecia evitar-me outra vez, pois nem me disse “bom dia!” quando os cumprimentei a todos. A Mariana agora não descolava do Sérgio. No intervalo fui ao bar com a Ana para comer algo, e lá estava ela toda sorridente na mesa com o Sérgio e outros amigos.

-“Podemos ir lá para fora Ana? Não me sinto muito bem…” – sentia-me indisposta, meia zonza.

-“Inês , ‘tás a sentir-te bem?” – perguntava a Ana, já a segurar-me pelo cotovelo.

-“Eu estou a … ‘tou a ver tudo á rod…” – e não me lembro de mais nada.

Só me lembro de ter acordado na enfermaria e ver um vulto a dirigir-me para a porta, indo embora.

-“Ana?” – chamei pela minha melhor amiga.

-“Estou aqui Inês. Como te sentes?” – perguntava ela, afastando os cabelos do meu rosto.

-“ O que se passou? Estou na enfermaria?” – tentei levantar-me , mas tive outra tontura, caindo imediatamente na maca onde me encontrava deitada.

-“Não te tentes levantar. Tem calma contigo! Desmaiaste no bar e trouxeram-te para aqui. Que susto que me pregaste Inês!”

-“Desculpa, acho que não tomei o pequeno –almoço. Quem me trouxe para aqui? Vi um vulto a sair da porta?”

-“Foi… Bem tu desmaiaste no bar e eu comecei aos gritos a pedir ajuda… foi uma vergonha agora que me lembro disso.” – e começou a rir-se.

Assim que me consegui sentar na maca, voltei a perguntar-lhe quem me tinha levado á enfermaria.

-“Sim Inês. Foi quem tu pensas que foi. O Sérgio estava ali na mesa e levantou-se assim que percebeu que tinhas desmaiado e trouxe-te para a enfermaria. Saiu há bocado com a tua prima. Devias esquecê-lo Inês.”

-“Oh Ana… eu não consigo. Eu … eu gosto mesmo dele.” – já sentia as lágrimas a inundarem os meus olhos. Mas não. Eu tinha de ser forte. Por mais que eu gostasse do Sérgio , era bastante óbvio que ele não sentia o mesmo por mim.”

-“Nez amanha tudo vai mudar. Ele vai desejar ter-te convidado a ti. Vais ver!” – assim que o acabou de dizer abraçou-me e murmurou bem junto do meu ouvido : “Eu adoro-te e sabes que só quero o teu melhor não sabes? És a minha melhor amiga e só te quero ver feliz!” – acenei com a cabeça e pronto, perante isso não resisti e desatei a chorar, abraçada á minha melhor amiga.

Versão do Sérgio

-“Bom dia!” – cumprimentou-nos a Inês toda sorridente. Não lhe respondi. Sentia-me tão…ESTÚPIDO! Como é que ela ia com o João? Como é que o meu, suposto, melhor amigo, convidou a rapariga de quem eu gosto para ir com ele á festa?

Desde que ela veio para Tavira que a minha vida deu uma volta de 360º graus. Já não me dava tanto com o João , como antigamente. Agora ele estava sempre com a Ana e com o namorado dela e , claro, com a Inês. Quase nunca estávamos juntos agora , só nos treinos de futebol e na escola. Não conseguia concentrar-me em nada por causa da Inês, as minhas notas tinham começado a baixar o que preocupava a minha mãe. FANTÁSTICO! E claro, agora tinha a chata da Mariana sempre á minha volta. Depois de me ter convidado para ir com ela á festa – pedido que eu não soube como negar – ela estava sempre atrás de mim.

As aulas passaram-se normalmente, sempre com a Mariana a mandar-me papelinhos do género “ estou tão contente por ir contigo á festa!”  e “mal posso esperar por dançar contigo J” , e outros papelinhos , os quais assim que os lia e lhe mandava um sorriso , amachucava logo para dentro do meu estojo.

Porque é que a Inês ia com ele á festa? Eu queria convidá-la. Queria ser eu a ir com ela á festa. Queria ser eu a passar uma noite de natal com ela , não com a Mariana mas com a Inês. Não percebo o que se passava na cabeça dela. Beija-me , preocupasse comigo e , e… e depois vai á festa com o João?

As aulas passaram a correr e quando dei por mim estava em casa sem nada para fazer. O pessoal andava todo entusiasmado com a festa de amanha. E lembrar-me disso so me deixava ainda mais aborrecido do que já estava.

-“Mano que tens?” – perguntou-me a minha irmã. Conhecia-me bem de mais para que a conseguisse enganar. Apesar de ser mais nova que eu, não lhe escapava nada – “ e não me tentes enganar. Sabes que não consegues!”

-“ A Inês vai á festa amanhã…” – comecei por dizer.

-“E? vai contigo é?” – perguntou-me ela já sorrindo.

-“Esse é o problema Clarinha!”

-“Problema?! Porquê? Vais ter de ser mais explicito mano.” – sentou-se ao meu lado na cama com os seus olhos curiosos bem vidrados em mim.

-“Ela vai á festa sim! Mas não comigo. Ela vai com o João!” – reparei que a ultima palavra que proferi saiu com nojo e revolta. Mas de certa forma era mesmo isso que sentia pelo meu melhor amigo agora. Revolta e nojo por ter sido traído e apunhalado pelas costas.

-“O João vai com a Inês?” – estava tão surpresa como eu fiquei quando descobri a novidade –“ Porque não a convidaste mano? Burro!” – disse ela furiosa comigo dando-me um calduço na testa.

-“Bem ó Clara não te estiques! Já tou chateado o suficiente hoje. Achas que não a queria convidar? Aquele estúpido é que se antecipou a mim. E a Mariana…”

-“A Mariana?! Não me digas que vais com essa á festa?!” – disse ela , levantando-se da cama num ápice, surpresa.

-“Ela convidou-me e não lhe consegui dizer que não. Ela estava contente. Não a queria magoar né?” – disse, passando os dedos no cabelo, nervoso.

-“Mano o que lhe fizeste é passado. Não te podes estar a prejudicar por causa dela. Tu gostas da Inês. Devias ir com ela PORRA!”

-“Eu sei…  mas agora já está. Sabes? Acho que não estávamos mesmo destinados a ficar juntos!” – e deixei-me cair para trás na minha cama.

-“Oh mano por amor de Deus. Vais dizer que acreditas mesmo nisso? Onde está o Sérgio que não desiste? Onde está o Sérgio que ultrapassa qualquer dificuldade? Não vais deitar-te abaixo vais?” – dizia ela, enquanto andava pelo meu quarto.

-“Ela não me liga nenhuma. Hoje nem falámos. Não a quero estar sempre a pressionar. Talvez ela fique melhor com o João do que alguma vez ficaria comigo.”

-“AIIII… eu nem acredito que vais desistir assim tão facilmente da primeira rapariga que pela primeira vez não se entrega logo a ti. Não percebes mesmo nada! Assim vais perdê-la!” – e saiu do meu quarto, batendo a porta com mais força do que o necessário. Ainda a chamei , mas ela não voltou. Fiquei na minha cama a pensar no que a minha irmãzinha me tinha dito. Será que ela tinha razão? Será que eu ainda tinha alguma hipótese com a Inês?