Invertidas escrita por Serena Blue


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

A Garota Que Você Deixou Para Trás é um livro da amada Jojo Moyes publicado em 2014, mas como eu o amo d paixão vamos fingir que ele lançou em 1976/77 que é a época em que se passa a fanfic :D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/763977/chapter/1

~ • • ~

Livro Padrão de Feitiços, capítulo 6.

Página 340

Aspectos emocionais.

 

Mutatio Ingenium

 

Feitiço descoberto pelo bruxo mestiço francês Geràrd Bourbonne em 1730 enquanto tentava invalidar a utilidade da Poção Polissuco. Para ele, adquirir a personalidade de outra pessoa era muito mais eficiente do que sua mera aparência. Contudo, a julgar pela grande preferência dos bruxos em estender o uso da Poção, infere-se que o pensamento de Geràrd não surtiu efeito para a comunidade bruxa. Mesmo assim, o feitiço ainda é ensinado e praticado em alguns casos por aqueles que desejarem.

Logística do feitiço: Mutatio Ingenium pode ser de grande utilidade tanto em bruxos quanto trouxas. Se usado intencionalmente, a magia altera o modo de pensar e agir dos indivíduos que o praticarem juntamente aos pares (um assume o jeito do outro). Ao contrário da poção polissuco, só pode ser desfeito com seu respectivo contrafeitiço e por outro bruxo que não os mesmos que o conjugaram anteriormente. Se praticado sem intenção, os bruxos não sentirão nenhum sinal da mudança, a princípio.

Recomenda-se a prática com o movimento da varinha antes de executá-lo.

(Um meio círculo e um traço na vertical)

Contrafeitiço: encontrado em um capítulo mais avançado. Procure o professor ou o bibliotecário de sua escola para achá-lo.

~ *** ~

 

~~~~~

Alguém gritara. Mas não foi alto o suficiente para chamar a atenção. Não foi preocupante. Até porque o grito não fora mais alto do que toda a algazarra que estava ali, na sala mais vermelha do castelo de Hogwarts. A sala comunal da Grifinória. Papéis picotados de cores dourado e vermelho eram de vez em quando lançados para cima por um grupo de primeiranistas. Várias cabeças de leões como alegoria estavam flutuando pela sala. Os mais velhos juntavam-se perto da janela onde um pequeno palanque fora improvisado com almofadas e cadeiras. E em cima do desnível, lá estavam eles: os heróis grifinórios. Heróis que tinham levado mais uma vitória para a Casa que pertenciam. Mais uma taça de quadribol erguida e levada para a sala de troféus da escola. Todos urravam em comemoração por um jogo vencido contra a Sonserina (um clássico). Dentre eles, Marlene McKinnon, a artilheira.

Sorria demasiadamente mostrando seus dentes brancos e alinhados. Os cabelos loiros grudavam-se na sua boca de tanto que pulava. Ainda podia vivenciar seus pontos marcados que contribuíram para a vitória. Afinal sem alguns pontos de vantagem não adiantaria pegar o Pomo de ouro. Mesmo que James Potter, o apanhador, não concordasse com isso. Mas Marlene não estava pensando nisso agora, tampouco em James. Estava dando socos no ar enquanto comemorava junto com o time ali em cima.

“Grifinória! Grifinória! Grifinória!” Era só o que se conseguia ouvir.

Então, nem se quisessem, os alunos que não se importavam tanto assim com a vitória conseguiriam se concentrar em outra coisa. Alunos como Lily Evans, sentada em uma poltrona com um livro de romance trouxa nas mãos. Um que ela vivia agarrada nos últimos tempos por ter adorado a história narrada. Mas nem que conjurasse um Abafiatto conseguiria terminar aquela leitura agora. Por isso, fechou as páginas e postou-se a observar a euforia dos outros. Ela também estava fantasiada com as cores da casa, afinal assistira à partida desde o início. Duas listras vermelhas e duas outras douradas pintadas em suas bochechas. Os cabelos ruivos estavam presos em uma faixa com os dizeres: 100% Gryff — a abreviação do nome da Casa —, e, apesar de não estar pulando esbaforida como Marlene McKinnon, estava feliz pela vitória deles.

Começou a rir do jeito da amiga até que seus olhares se encontraram e Marlene desceu do palanque para vir em sua direção.

— Ai meu Merlin! — ela suspirou esbaforida ao sentar-se perto de Lily. Tirou os cabelos do rosto e tentou acalmar a respiração.

— Se você ficar desse jeito cada vez que a Grifinória vencer — Lily coçou o queixo. — Não vai durar até o fim do ano.

— Obrigada pelo otimismo amiga. — Marlene conseguiu dizer. — Mas sei que vou sobreviver. — teve que elevar um pouco sua voz depois que um grupo de meninos deu um berro único por algum motivo.

— Eles estão mais alterados do que o normal. — Lily virou-se para eles um pouco assustada e forçando-se para não rir.

— Ah, deve ser por causa do Firewhisky. — revelou também os observando.

Lily a encarou quando absorveu a informação.

— Firewhisky? — levantou uma sobrancelha.

— Os marotos pegaram emprestado no cabeça de Javali. — ela sorriu. — Sirius e James mais especificamente.

— Ah, claro. — Lily revirou os olhos já sabendo das manjadas marotices dos grifinórios malfeitores. Mesmo que fosse contra tudo isso, até sua melhor amiga não se incomodava. Logo, nessa guerra, Lily perdia sem direito de ataque. — E você não fez nenhuma objeção para impedir isso né, Lene?

— Eu não. — deu de ombros. — O que é uma comemoração sem um pouquinho de álcool?

Lily discordava. Podia-se muito bem comemorar sem queimar os neurônios com bebidas, mas não se ateve muito ao assunto. As duas eram muito diferentes e isso era visível para todos. Embora fossem amigas, melhores amigas desde o terceiro ano, suas personalidades eram distintas. Marlene era impulsiva, sarcástica, estourada, segura de si, destemida e despreocupada.

Já Lily, bem, era calma, racional e emotiva, pensava muito antes de agir, um pouco recatada e bastante centrada. Talvez por isso que se davam tão bem.

E, quando o assunto era homens, as coisas não mudavam muito. Marlene era desejada por muitos por ser muito linda, sexy e provocante. Mas a garota só ficava com aqueles que eram dignos dela. Nada de frouxos. Tinham que ser à sua altura. E, o que mais se encaixava nesses pré-requisitos era justamente um dos marotos: Sirius Orion Black. Quase tão provocante quanto ela, os dois tinham uma química explosiva cada vez que trocavam beijos nem um pouco decentes às escondidas pelo castelo — longe de olhares futriqueiros — ou nos próprios dormitórios quando estavam sozinhos. Não namoravam, pois ambos acreditavam ser um pouco demais essa formalização, sem falar que dispensavam as brigas e ciúmes que vinham de brinde no pacote do namoro. Eles preferiam só as partes divertidas. E a relação funcionava desse jeito desde o quinto ano.

Porém, se tratando de Lily Evans, não era tão simples assim. Ao contrário da amiga, a garota só havia ficado com dois caras até agora. James Lee e Ronald Cooper. Não dera certo porque Cooper era muito ciumento e Lee pedia coisas que Lily não estava preparada para oferecer no momento. E bem, eles não foram pacientes. Já havia meses que Lily passara pelo término, mas mesmo assim continuava solteira. Estava feliz assim, podendo estudar livremente e ir visitar sua família trouxa sem cobranças. Isso tudo, é claro, para a felicidade de outro Maroto: James Potter. Capitão do time, um dos mais bonitos de seu ano, muito inteligente e, muito a fim de Lily. Não fazia questão de esconder isso de ninguém. Todos o compreendiam. Era bem difícil não se sentir atraído e desafiado pela garota que não correspondia às suas investidas. Era o famoso “bate que eu gamo”. E, estava cada vez mais difícil para Lily em manter uma distância considerável entre eles.

— Levanta daí e vem comemorar. — Marlene a pegou pela mão e tentou puxá-la. Lily fez um peso maior em seu corpo dificultando o trabalho da amiga. — Lily! Deixa de ser um porre. — pediu frustrada.

A ruiva riu com gosto e retirou sua mão. Marlene encarou-a com as sobrancelhas erguidas.

— Já vou. — respondeu. — Me dá um segundo.

— Aff — a outra resmungou. — Então fique aí isolada de todos. — e então saiu de volta para o meio dos alunos.

Lily sorriu satisfeita por se livrar da amiga e voltou à atenção ao seu livro. Agora (se é que fosse possível) o pessoal fazia menos barulho, o suficiente para que ela mergulhasse mais uma vez nas páginas de A Garota Que Você Deixou Para Trás e só sairia de lá novamente quando fosse a hora de se recolher para o dormitório.

Abriu na página marcada e começou a correr os olhos pelas palavras, absorvendo-as com a mente aberta. Imaginava os cenários e personagens cada vez que concluía uma frase. Até que sentiu a almofada do sofá que estava sentada afundar indicando a presença de um novo alguém. Ao sentir o típico perfume masculino, desconfiou pertencer a certa pessoa.

— Autenticidade a sua de ler em plena comemoração da Grifinória. — a voz de James Potter soou em seus ouvidos e ela suspirou.

— Mal acabo de me livrar de uma e agora aparece outro. — disse consigo mesma. Então ela o encarou. Estava um pouco suado, a pele rosada por conta do calor. Ele sorria à toa depois de, provavelmente, tomar mais goles de firewhisky do que podia dar conta. — Estou sedenta pelo fim do livro. — explicou mesmo não tendo a necessidade de fazê-lo.

— Ah, ruiva, o que eu preciso fazer para você ficar feliz pela nossa vitória?  — fez um bico que Lily forçou-se para não rir.

— Eu estou feliz. — garantiu. — Não sair por aí gritando e me embebedando não quer dizer que eu não tenha gostado do resultado do jogo. — finalizou e depois voltou sua atenção para o objeto.

— Então vem comemorar junto comigo para eu ter certeza de que você gostou. — pediu levantando-se e estendendo a mão para que ela a pegasse.  

— Eu não vou comemorar só com você. — informou com as sobrancelhas franzidas. — O time tem mais de um jogador caso não saiba. — sorriu em deboche.

— O apanhador é o mais importante. — deu de ombros como se estivesse dizendo uma verdade absoluta. — E eu não disse que seria somente comigo a comemoração, Evans. ­— acrescentou no que Lily fez de tudo para não corar. Conseguiu, desviando o olhar para o seu livro.

Lily bufou e revirou os olhos.

— Anda, vamos lá. — disse ainda com a mão estendida para Lily.

Ela alternou o olhar dele para a multidão grifinória e deu-se por vencida.

James era fofo com Lily e isso ela não podia negar. Mas, para quantas outras garotas ele já não teria feito aquele mesmo gesto essa noite? James podia ter quantas alunas quisesse e Lily sabia que a insistência dele nela poderia não passar de apenas um jogo.

Porém, apesar de tudo, ela estava disposta a ir. Fez menção de pegar na mão dele e deixá-lo guiar até a euforia, mas não chegou a completar o movimento. No minuto seguinte, um bando de torcedoras veio na direção dele e James, rapidamente, voltou sua atenção para elas com um sorriso que irritou Lily. Ela revirou os olhos e se retirou dali, indo em direção ao dormitório.

Sentiu seu ombro ser puxado para trás.

— Ei Evans, aonde vai? — James perguntou confuso.

— Para o meu dormitório, Potter. Não é óbvio? — desvencilhou-se dele e subiu as escadas, um pouco cansada daquela cena.

Colocou seu livro em cima do criado-mudo e preparou-se para dormir.

 

Sendo que dormir era a última coisa que Marlene McKinnon queria fazer agora, embora ela preferisse isso na maioria das vezes.

Sentia seu corpo quente por conta do Firewhisky e uma fome avassaladora. Foi em direção à mesa de salgados que ali estava disponível em busca de alguma coisa que lhe agradasse. Ou melhor, agradasse seu estômago.

De repente, sentiu uma respiração em sua nuca e alguém mordeu-lhe o lóbulo da orelha. Ela arrepiou-se até a raiz dos cabelos e sorriu sabendo de quem se tratava.

Virou-se de frente e deparou-se com Sirius Black que logo envolveu sua cintura com uma pegada forte.

— Eu estou comendo. — fingiu protestar embora não tivesse nenhum alimento na boca.

— E eu sou muito mais interessante do que qualquer comida. — ele afirmou, descendo as mãos para a bunda dela e apertando.

Marlene sorriu, não podendo negar.

— Vem cá. — pediu com o dedo e logo os dois compartilharam um beijo provocante que excitaria qualquer um que assistisse. Eles geralmente não faziam isso em público, mas o Firewhisky não ativava os neurônios da decência de qualquer jeito.

Sirius subiu uma das mãos e agarrou a nuca de Marlene puxando-lhe os cabelos loiros. Ela, por sua vez, enfiou a mão por debaixo da blusa dele e subiu, devagar, pela extensão do peitoral forte.

Era assim que comemoravam a vitória dos leões. Sempre. E ela gostava. Quando suas amigas perguntavam se Marlene não sentia falta de gestos românticos por parte de Sirius ela negava. Preferia muito mais a relação envolvente que tinham e, em parte, era porque não conseguia imaginar um Sirius romântico de qualquer forma. Embora ela tenha pensado uma vez, apenas, em como seria a experiência amorosa que ele poderia lhe oferecer. Mas agora, com as palavras quentes que ele lhe sussurrava ao pé do ouvido, Marlene nem sequer sabia da existência da palavra “romantismo”.

— O que você acha da gente comemorar a vitória em um lugar mais reservado? — ofereceu, com malícia.

— Eu ia levar você para o quarto agora mesmo de qualquer jeito. — disse sorrindo e beijando-lhe o pescoço.

Saíram da festa sem que ninguém os notasse. Ao chegarem ao dormitório masculino, como era esperado, estava vazio. Os dois grudaram-se novamente e, aos beijos, foram retirando toda e qualquer peça de roupa que atrapalhasse o gostoso contato dos corpos nus.

Sirius arrancou-lhe a camisa deparou-se com o sutiã vermelho excitante. Marlene tinha os peitos fartos que lhe deixavam mais do que satisfeito. Ela desafivelou seu cinto, podendo já sentir o volume por baixo da calça. Em pouco tempo já estavam deitados na cama de Sirius com olhares tão ferozes um para o outro que pareciam irreconhecíveis.

Com um feitiço, Marlene fechou as cortinas da cama e, só o que se pôde ouvir depois, foram gemidos e suspiros de prazer inesquecível.

 

Lily Evans acordou antes de o despertador tocar. A claridade do quarto fazia-a enxergar as cortinas vermelhas fechadas causando-lhe uma pequena sensação de abafamento. Levantou-se e abriu-as deparando-se com o dormitório silencioso. Todas as camas estavam ocupadas e quase todas as garotas estavam dormindo, exceto por Alice Prewett que respondia a uma carta dos pais.

— Bom dia. — ela sussurrou assim que viu Lily aparecer nas cortinas.

— Bom dia, Lice. — cumprimentou de volta, bocejando. Olhou para o lado esquerdo e viu Marlene atirada em sua cama de boca aberta, ainda com a roupa de ontem e com a maquiagem borrada. Mirou Alice com as sobrancelhas unidas.

— Essa daí voltou tarde. — revelou sorrindo. — A noite deve ter sido boa.

— Só imagino. — a ruiva balançou a cabeça rindo imaginando as coisas que Marlene não deveria ter feito.

A outra cama era ocupada por Dorcas Meadowes que mantinha parcialmente as cortinas fechadas e emitia um baixo ressonar enquanto dormia.

Lily calçou suas pantufas e foi até o banheiro. Quando voltou, Alice já punha seu uniforme preparando-se para o café da manhã no Grande Salão. Era comum as duas acordarem mais cedo, mas Lily desconfiava de que Marlene não apareceria para o café da manhã hoje. Ela estava com cara de que não acordaria hoje para nada.

A ruiva vestiu-se e fez uma trança de raiz nos cabelos. Colocou seus brincos verdes e pendurou no pescoço a gargantilha que havia ganhado de seus pais no Natal passado.

Lily e Alice saíram do quarto sem fazer muito barulho para não acordarem as outras. Quando chegaram à sala, poucos alunos estavam de pé e os resquícios da festa na noite passada ainda podiam ser vistos. Restos de comida pelo chão, confetes espalhados por toda a parte e até mesmo alguns alunos dormiam nos sofás.

— Os elfos vão ter trabalho com a gente hoje. — constatou Alice. — Que bagunça, ontem não parecia estar tão desarrumado.

— Verdade. — concordou Lily. — Aliás, como foi o resto da festa? Eu fui dormir cedo.

As duas foram conversando sobre a vitória e as comemorações até chegarem ao Grande Salão. Lá já estava um pouco mais cheio. O cheiro das delícias que os Elfos prepararam logo entranhou as narinas de Lily e ela sorriu com aquilo sentindo seu estômago roncar. Comida tinha o dom de deixar as pessoas felizes.

Na mesa da grifinória, a maioria era primeiranista. Lily e Alice sentaram-se no meio.

À medida que os minutos se passavam, pouco a pouco os alunos apareciam, com caras de sono para o café. Os sonserinos estavam mais emburrados do que nunca pela derrota de ontem. Alguns nem apareceram para não ter de aturar as implicâncias dos grifinórios.

Quando deu 08:30 o salão já estava bem cheio. Lily estava tomando a terceira xícara de café quando olhou para a entrada do salão e deparou-se com James Potter vindo acompanhado de Remus Lupin. Ambos estavam com cara de cansados, Lupin como sempre, mas James parecia ter voltado de uma maratona sem fim. A ressaca o atingira por completo. Tinha os cabelos mais bagunçados do que nunca e a gravata estava mal colocada.

Sentou-se afastado dela por conta das várias pessoas que os separavam. Começou a cumprimentar alguns que lhe davam bom dia e, alguém pareceu dizer algo engraçado, pois ele sorriu fraco ainda um pouco letárgico.

Ela desviou o olhar e voltou a atenção para sua comida até o findar do café. Quando o toque de início de aulas tocou, todos os alunos levantaram-se e preparam-se para arrumar seus pertences. A primeira aula que tinham era de feitiços.

Seguiu para a torre leste junto de Alice e Dorcas que se juntou a elas um pouco depois. Quando chegaram, escolheram uma mesa perto da janela para aproveitarem a claridade. A aula era em conjunto com o pessoal da Lufa-lufa, de quem Lily gostava muito. O professor Flitwick deu as boas vindas aos alunos e pediu que se acomodassem. A aula seria sobre feitiços que mexem com personalidades e transformações das mesmas.

Dado mais alguns minutos, a sala já estava cheia e, até agora, nem um sinal de Marlene. Lily olhou em volta procurando pela amiga, mas não a encontrou. Até Sirius Black estava lá, mesmo que ele também estivesse com uma cara amassada de sono.

O professor Flitwick deu início à aula falando sobre os autores dos feitiços. Lily tentou se concentrar, mas logo um pequeno pergaminho depositou-se em sua mesa, discretamente, chamando sua atenção. Lily o apanhou e leu.

Desculpa não terminar nossa conversa ontem.

Lily soube logo do que e de quem se tratava. Ela ergueu o olhar até achar James Potter que apenas fingia fazer anotações sobre o que o professor falava. A ruiva molhou sua pena na tinta e começou a arranhar o pergaminho para responder.

Ah, você lembrou afinal. E chama aquilo de conversa?

Dobrou-o com cuidado e conjurou o feitiço que o levaria até a mesa de James sem que o professor desconfiasse. Não deu nem um minuto e a resposta já estava em suas mãos.

E o que foi aquilo para você, Evans, se não uma conversa?

Lily revirou os olhos por ter de responder àquilo. Mais uma vez pegou sua pena para escrever calmamente.

Apenas alguém insistente interrompendo a leitura de uma garota.

Enviou de volta e dessa vez pôde ouvir a tentativa de riso discreto de James.

— Algum problema, senhor Potter? — perguntou Flitwick, com inocência.

— Nenhum professor. — garantiu. — Achei engraçado o fato de Geràrd querer invalidar a Poção Polissuco, só isso. — continuou convincente.

— E de fato é, afinal… — o professor voltou a explicação mais empolgado do que nunca. Lily quase deixou o queixo cair. Era incrível como James conseguia a proeza de conversar com ela e ainda prestar atenção na aula. Lily não fazia ideia de que Flitwick estava falando sobre esse tal Geràrd, pois estava concentrada nos pergaminhos que respondia. James era bom em tudo o que fazia e Lily não podia negar, novamente.

Mais alguns minutos e outro pergaminho repousou sobre sua mesa. Dessa vez ela demorou a lê-lo, pois tentava capturar as últimas frases que Flitwick dissera. Depois, conseguiu ler:

Podemos conversar depois que você terminar A Garota Que Você Deixou Pra Trás então, o que acha?

Ela não sabia que James descobrira o nome do romance que lia. Afinal não se lembrava dele inclinando o pescoço para espiar a capa de seu livro.

Não temos nada para conversar, Potter. E como você sabe o nome do livro que estou lendo?

Pretendia não responder ao próximo pergaminho que ele mandasse.

Eu sei tudo sobre você. Brincadeira, consigo ler o nome daqui.

Foi então que ela olhou para sua mochila no chão e viu que o livro escapara de dentro e estava a mostra para quem quisesse vê-lo. Tratou de recolhê-lo e prestar atenção na aula, ou pelo menos tentar, não voltando a responder o pergaminho de James.

 

Marlene McKinnon acordou em um pulo. Sem explicação alguma, apenas sentou-se ereta na cama. Olhou ao redor e viu o dormitório vazio. A incidência forte da luz solar indicava que já passava das dez da manhã. Ela bateu na testa ao notar que estava atrasada. Mega atrasada. Olhou para o relógio na parede e constatou ser dez e quinze da manhã. Perdera a primeira refeição no Grande Salão e se não se apressasse perderia a segunda. Levantou-se, rápido e começou a vestir seu uniforme tentando não se embolar muito. Foi até o banheiro e deparou-se com seu rosto preto por conta da maquiagem. Teve de usar uma poção de emergência. Nem que passasse cinco horas dentro do banheiro conseguiria dar um trato em seu rosto.

Passou a poção restauradora nele com a ajuda de uma toalha e logo estava nova em folha. Sem olheiras, sem resquícios de rímel borrado e sem cabelo espevitado. Pegou o material das aulas seguintes e saiu normalmente, como se não estivesse nem um pouco encrencada se topasse com algum professor pelos corredores. Foi em direção as masmorras para a aula de poções que já deveria ter começado. Ao chegar, ficou feliz por justamente uma vaga ao lado de Lily Evans — a melhor aluna em poções — estar disponível.

— Senhorita McKinnon, vejo que teve alguns problemas com seu despertador. — disse o professor Horácio Slughorn quando a viu.

— Infelizmente, professor, aquela coisa sempre me deixa na mão. — lamentou. A maioria dos alunos riu com humor o que contagiou o professor que permitiu sua entrada.

Marlene depositou as coisas na carteira e sentou-se ao lado de Lily que encarou-a com um olhar esperto.

— Pelo visto a noite foi boa hein.

— Maravilhosa. — ela respondeu olhando para Sirius de revesgueio que também a fitava com malícia. — Mas depois conversamos, não quero abusar do bom coração do velho Horácio.

O resto da aula fora extremamente entediante para Marlene. Apenas papos sobre ingredientes, temperatura certa, mexer o caldeirão com precisão e deixar a mistura em repouso. Um bla bla bla que Marlene pegaria as anotações depois com sua melhor amiga. Mas os quarenta minutos que ficara dentro daquela sala quente nas masmorras serviram para recordar o jeito como Sirius passava a língua pelo seu corpo na noite passada. Só de pensar suas pernas já tremiam. Quando a falação de Slughorn finalmente cessou, todos juntaram suas coisas e foram para a terceira e última aula da manhã: história da magia no andar inferior leste.

Pelo caminho, Marlene, Lily, Alice e Dorcas foram conversando animadas.

— Não sei por que aprendemos essa poção herbicida. Acho que nunca vou usá-la na minha vida. — comentou Dorcas com tédio.

— Nunca se sabe. — supôs Lily.

— É — concordou Marlene. — Vai que você tenha uma planta malcriada no jardim da sua casa e precise matá-la? A poção fará todo o trabalho. — todas riram com o dito de Marlene que parecia mais sarcástica e alegre do que o normal.

Antes, porém, da loira entrar na sala do professor Binns, sentiu seu braço ser puxado com firmeza para um canto. Sirius Black agora estava à sua frente. Com seus olhos cinzentos hipnotizantes e seu perfume masculino o qual Marlene ainda carregava na pele.

— Achei que você não ia aparecer para as aulas hoje. — disse já segurando-a pela cintura e cheirando seu cangote.

— Você sentiria minha falta? — perguntou esperançosa.

— Nah. — ele garantiu quebrando suas expectativas. — Achei que eu tinha de deixado indisposta pela excelência do meu sexo ontem. — respondeu agarrando-a e beijando-a. Marlene riu do jeito dele, mas no fundo achou que seria legal ouvir um ‘sim’ como resposta.

Beijaram-se, sedentos um pelo outro novamente. A vontade nunca passava. Mas podiam ouvir os passos dos últimos alunos que adentravam a sala indicando que a aula em breve começaria. Separaram-se, afoitos e entraram para mais uma seção torturante de quarenta minutos.

 

Quando enfim os alunos estavam liberados para o almoço, Lily não via a hora de sair da sala do professor Binns. Tinha que admitir que ele deixava a aula mais entediante do que o normal. Ainda mais depois que ela levantou-se e viu metade dos alunos dormindo na sala. Todos saíram espreguiçando-se até o Grande Salão. Quando estava perto da entrada, viu seu antigo amigo, Severo Snape, que também se encaminhava para o almoço. Para seu azar, ele a viu e diminuiu seus passos sem saber como reagir. Encarou-a tão firmemente que Lily corou sentindo-se constrangida e desviou o olhar, seguindo em frente. Tinha receio que ele viesse em sua direção tentando desculpar-se pela milésima vez e tentando reatar a amizade perdida. Nestas horas, preferia a insistência de James e preteria a de Snape.

O colorido das mesas estava deslumbrante por conta das comidas que deixavam a boca de Lily salivando. Contudo, ao chegar, viu que não havia muitos lugares vagos. Se não quisesse ficar do outro lado da mesa da grifinória, longe se suas amigas, teria de sentar ao lado dele. James Potter.

Suspirou, cansada por o destino não colaborar consigo, e foi na direção do assento.

— Ele está incomodando você? — para sua surpresa, essa foi a pergunta que recebera de James ao sentar-se ao seu lado. — Vi o modo como te olhou.

Demorou um pouco para que Lily notasse de quem ele falava. Até que o fez.

— Não. — respondeu por fim, sem encará-lo. — Não nos falamos mais.

— Certo. — James limpou a garganta, um pouco mais aliviado. — Se ele fizer alguma coisa é só me dizer.

— Não irá acontecer nada — Lily garantiu com um fio de voz — Pode ficar sossegado. — e então ela o encarou, um pouco corada pela mescla de satisfação pela preocupação dele e ao mesmo tempo irritação por James achar que deveria protegê-la de Snape.

O almoço prosseguiu sem mais interrupções e Lily não se preocupou com dar atenção a mais nada a não ser em terminar aquele delicioso banquete.

 

Ao anoitecer, Marlene não conseguia se preocupar com mais nada senão em entender a droga daquela aula que havia perdido. Tinha dois exemplares diferentes dos livros de feitiços que mexiam com personalidade em mãos, mas ainda sim não havia entendido a essência do feitiço. Teve que tomar medidas drásticas e mandou um pergaminho à Lily Evans pedindo que fosse até a biblioteca ajudá-la com a aula perdida. Pouco tempo depois, a ruiva apareceu, com o cenho enrugado por conta do chamado da amiga.

— Você? Na biblioteca? — Lily estranhou depositando sua bolsa em uma das mesas e sentando-se de frente para Marlene.

— Ai Lil’s preciso que me ajude a entender a aula que eu perdi hoje pela manhã. — explicou um pouco aflita. — Você sabe que eu nunca fui boa em feitiços e tenho certeza que essa bosta vai estar na prova.

Lily riu da expressão preocupada da amiga que tinha uma mescla com irritação. Ela aproximou mais a sua cadeira e pegou um dos exemplares expostos na mesa. Percorreu os olhos pelas páginas e tentou lembrar-se da teoria explicada pelo professor Flitwick.

— Flitwick estava trabalhando feitiços que envolvessem a mente. Características das pessoas mais precisamente. — começou ainda olhando para o livro.

— Sei disso. — Marlene confirmou com a cabeça.

— Eu também não prestei muita atenção na aula. — confessou Lily lembrando-se dos pergaminhos que trocara com James Potter. — Mas sei que ele ensinou o feitiço de Geràrd Bourbonne. — completou ao ler seu nome em uma das páginas.

Descendo um pouco mais seus dedos pelos parágrafos, deparou-se com o feitiço Mutatio Ingenium e a explicação sobre tal. Lembrou-se de Flitwick falando muito sobre ele.

— Bem, aqui — aproximou o livro de Marlene para que ela também lesse. — O feitiço Mutatio Ingenium é usado para inverter a personalidade das pessoas. Funciona como uma poção polissuco da mente. Você mantém o discernimento de quem é e também sua aparência, mas, adquire o modo de pensar e agir do bruxo/trouxa que deseja. — ela leu com precisão.

— Que louco. — comentou Marlene. — Imagina eu trocando de personalidade com você e sendo a mais nova monitora chefe? Ugh — balançou a cabeça e fez um som característico de nojo.

— Ah é, linda? — Lily fitou-a fingindo estar ofendida. — Agora imagine eu passando a agir que nem você? Todos os caras de Hogwarts cairão aos meus pés e eu quebrarei seus pobres corações.

— Ei! Eu não sou tão cruel assim. — Marlene protestou e ambas riram. — Tá, tá continue.

— Para lançá-lo, é só segurar a varinha com o punho direito e fazer um movimento de um meio círculo seguido de uma reta na vertical, proferindo o feitiço.

— Não deve ser tão difícil. — concluiu Marlene dando de ombros.

— Acho que não. — Lily pegou sua varinha para treinar. Ela repetiu os movimentos que acabara de ler: — Mutatio Ingenium. — disse sem muita seriedade.

Marlene também pegou sua varinha e fez o mesmo que a amiga:

Mutatio Ingenium. — disse bocejando.

Ambas executaram o movimento com perfeita precisão.

— Meu Merlin, como você fez isso? — Marlene encarou a amiga, descrente. — Parecia ser um hipogrifo de sete cabeças.

— Sei lá, eu apenas li o que estava escrito aqui. — Lily levantou os ombros. — Você que cria um hipogrifo de sete cabeças para as aulas do professor Flitwick, Lene.

— Aff se eu soubesse que era tão fácil assim nem teria estudado. — Marlene largou-se na carteira. — Vamos sair daqui antes que eu me sinta ainda mais nerd.

Elas juntaram suas coisas e seguiram para o salão comunal. Não perderiam muito tempo jantando, amanhã seria um dia cheio. Sábado, teriam só as primeiras aulas do dia, depois o pessoal do time de quadribol treinaria um pouco e em seguida iriam ao povoado de Hogsmeade para aproveitar a tarde. Depois de mais um banquete, dessa vez não tão carregado por se tratar da última refeição do dia, todos os alunos recolheram-se para suas Casas.

Ao chegarem, Lily sentou-se na sua poltrona preferida e aproveitou para terminar a leitura de seu livro.

Marlene sentou-se no chão e começou a pintar as unhas com a ajuda de Alice. Conversaram sobre mais algumas coisas e depois foram dormir, dessa vez todas viram Marlene deitando-se.

~x~

Quando deu meia noite em ponto, Lily e Marlene sentiram um formigamento gostoso na extensão de suas cabeças. Remexeram-se nas camas quase que simultaneamente e então uma assumiu a posição em que a outra se encontrava. O feitiço tinha funcionado nelas.

 

Marlene sentia um pouco de cócegas por toda a extensão de seu corpo e, quando acordou, foi como se não tivesse dormido. Olhou para o despertador e notou ser muito antes dele despertar. Quis xingar-se por levantar cedo, mas não conseguiu, estranhamente não teve mais vontade de voltar a dormir. Ergueu-se e abriu as cortinas dando de cara com Alice que terminava algumas lições atrasadas.

— Nossa, acordou cedo. — ela estranhou. — Teve um pesadelo, Lene? 

— Não. — Marlene coçou os olhos e negou. — Mas eu sempre acordei cedo, não? — perguntou um pouco confusa.

Alice balançou a cabeça não concordando com a pergunta da amiga. Marlene deu de ombros. Olhou para o lado e viu Lily Evans atirada na cama, de boca aberta juntamente com as cortinas.

— O que aconteceu com ela? — estranhou apontando para a ruiva.

— Eu sei lá, parece até que tomou um porre ontem à noite. — Alice pressupôs, também estranhando a posição em que Lily dormia. Mesmo que estivesse muito cansada, ela nunca dormia daquele jeito.

Marlene riu e levantou-se para ir ao banheiro. Levou seu uniforme junto, pois já pretendia vestir-se. Fez um rabo de cavalo bem alto em seus cabelos e nem tocou na sua maquiagem. Ajeitou a gravata perfeitamente e fechou os botões do suéter.

Quando saiu do recinto, Alice a encarou com os olhos fixos.

— Que foi? — perguntou.

— Que isso? Cabelo preso? Sem make e uniforme organizadinho? — citou Alice ao percorrer os olhos pela amiga.

— Ficou feio? — Marlene passou a mão pelas suas vestes.

— Não. Só ficou diferente em se tratando de você. — opinou, sincera.

— É bom mudar às vezes. — concluiu a loira com um sorriso. Juntou seu material e saiu do dormitório acompanhada de Alice. Foram até o Grande Salão para o café da manhã.

Em pouco tempo, os alunos começaram a preencher as cadeiras e o barulho típico das conversas atingiu os ouvidos de Marlene. Ela conversou alegremente com Alice, citando algumas matérias em que tinha facilidade.

De repente, sentiu seu rosto ser puxado para a esquerda e teve seus lábios colados na boca de alguém. Logo viu que era Sirius, pois foi incapaz de fechar os olhos durante o beijo por causa do susto.

— Black, o que está fazendo? — protestou indignada, quase se engasgando com o pão que comia.

— Beijando você? — Sirius respondeu em tom de obviedade.

— Chegando assim do nada? E eu estou comendo. — respondeu com o cenho franzido.

— Ah, a típica frase. — ele sorriu para ela mirando sua boca. — Quantas vezes tenho que dizer que eu sou mais interessante do que qualquer coisa que você fizer? — ele inclinou-se mais uma vez para beijá-la, mas dessa vez Marlene se afastou.

— É sério, Black, eu estou no meio do meu café da manhã se quiser me beijar seja um pouco mais sutil. — repreendeu-lhe e voltou sua atenção para a comida deixando Sirius com cara de confuso.

— Desde quando você se importa com sutileza? E por que está me chamando de Black? — ele inquiriu sem entender nada.

— Toda mulher se importa com sutileza caso não saiba e Black é seu nome não é? — respondeu sem encará-lo com a maior normalidade do mundo.

Sirius não voltou a tocar naquele assunto durante o café. Achou mesmo que Marlene estava faminta e que logo voltaria aos eixos depois de forrar seu estômago com leite e pudim.

 

Pudim. Lily Evans estava sonhando com pudim. Em seu sonho chegava a salivar pelo doce. Espera. Ela realmente estava salivando. Acordou sobressaltada e limpou o grande fio de baba que escorria pelo seu queixo quando sentou-se.

— Eca. — disse limpando-se. — Devia estar mesmo cansada já que dormi de boca aberta e — ela olhou para o relógio à sua esquerda. — ME ATRASEI! — levantou-se rápido checando o relógio.

Por que dormira tanto? Nem ao menos ouvira seu despertador tocar. Não se lembrava de ter ido dormir tão tarde, ou de ter um dia extremamente exaustivo ontem. Pelo o que sabia sua noite fora tranquila, até sentira cócegas perto da cabeça.

Foi até o banheiro às pressas e deparou-se com sua cara amassada. Um horror. Refletiu sobre e lembrou-se da poção reparadora que Marlene sempre tinha guardada em estoque no seu malão. Foi lá e encontrou-o fechado e arrumado. Até achou brega tanta arrumação assim. Abriu-o e revirou todas as coisas de lá até achar o frasco roxo. Sorriu ao encontrá-lo e foi até o banheiro novamente dar um trato em seu rosto. Em dois minutos estava como outra pessoa. As imperfeições sumiram.

Seu cabelo estava rebelde, mas de um jeito legal. Ela sorriu com o resultado e começou a vestir-se. Não se importou muito em ajustar a droga da gravata que sempre embolava nas horas mais inoportunas. Calçou as meias e os sapatos e deixou alguns botões do suéter abertos. Achou que ficou melhor assim. Pegou sua mochila sem nem checar se havia posto o material direito. Saiu normalmente pelo castelo até o Grande Salão onde o café da manhã já deveria estar no fim.

Ao entrar, alguns alunos a encararam com olhos curiosos. Aquela era Lily Evans? Estava… diferente.

A ruiva caminhou em direção à mesa da grifinória e procurou por um lugar. Tinha vários vagos inclusive um ao lado de James Potter. Ele não tinha notado a sua presença. Comia e conversava com Peter Pettigrew e parecia incentivá-lo a fazer algo. Lily deu uma boa olhada em James. Cabelos espetados e atraentes. Óculos tortos na base do nariz. Gravata mal colocada. Mangas do suéter dobradas até o cotovelo que deixavam as veias salientes de seus braços à mostra. Aquilo era tão atraente. James Potter era atraente e Lily jamais negou isso. Decidiu que seria ao seu lado mesmo que ela iria sentar.

Assim o fez, despertando a atenção dele.

— Bom dia, capitão.  — sorriu para James no que ele se engasgou com o suco de abóbora.

— Tá falando comigo? — perguntou tossindo.

— Sim ué, com quem mais? Com Snape é que não é. — respondeu sarcástica olhando para a mesa da Sonserina. Snape a encarava com os olhos estupefatos. Lily achou engraçado e riu com humor para ele. Virou-se logo em seguida e começou a servir-se de suco.

— Você está bem? — James estranhou tudo nela. O modo como comia, como tinha ajeitado seu uniforme, como se dirigia a ele e como sentara tão perto dele! A perna cruzada dela roçava de leve no tecido de sua calça.

— Estou ótima. Bem descansada. — Lily o encarou e depois, mirou sua boca.

James não sabia se ria ou se preocupava-se com as atitudes de Lily. Encarou Remus para checar se estava ficando louco, mas o amigo também estava vendo a mesma cena que ele. Uma Lily Evans mais atrevida. Talvez ela tivesse recebido alguma notícia boa da família e por isso estava assim.

Terminaram o café da manhã e seguiram para as aulas. Transfiguração era a primeira, no geral a preferida de todos.

Lily e Marlene encontraram-se nos corredores e sorriram uma para a outra.

— Não sei como você consegue manter o uniforme tão impecável assim. — comentou a ruiva com sarcasmo.

— E eu não sei como você consegue sair por aí com esse cabelo rebelde. — Marlene opinou com a mão na boca, tentando conter o riso.

— Estranhamente me senti melhor assim. — revelou Lily.

— Eu também, que loucura. — Marlene suspirou aliviada. — É muito bom mudar. Vem, vamos logo para a aula da professora Minerva. Já tenho muitos atrasos com ela e não quero ter mais um.

— Um a mais não faz mal a ninguém. — Lily brincou embora também se dirigisse para o piso inferior Leste.

Chegaram e encontraram Minerva sentada em sua escrivaninha como sempre. Parecia terminar de escrever alguns relatórios rotineiros.

— Bom dia, professora. — cumprimentou Marlene acenando.

— E aí, Minnie. — sorriu Lily no que Minerva levantou a cabeça quando as ouviu.

— Vocês estão bem? — estranhou ao encarar as amigas.

— Ótimas. — responderam em uníssono.

Foram em direção às cadeiras para darem início às aulas. No entanto, não passou despercebido pela maioria das pessoas que Lily Evans mais bocejava do que anotava as coisas e Marlene McKinnon quase derrubou o tinteiro de tanto que mergulhava a pena ali para fazer suas anotações com afinco.

Todas as aulas seguintes foram assim. E, não haveria pessoas que poderiam notar mais essa mudança do que James Potter e Sirius Black.

Principalmente quando Lily correspondia às encaradas de James, mordia o lábio inferior para ele, piscava e vinha soltar alguma frase provocante quando conversavam nos intervalos de aula. Ou Marlene, que beijava Sirius com uma decência que ele jamais tinha visto. Toda vez que ele descia as mãos para pô-las na sua bunda, Marlene as subia para a cintura. Ou quando Sirius dizia aquelas coisas em seu ouvido, Marlene corava absurdamente e ficava sem graça. Ela preferia mais andar de mãos dadas e fazer cafunés nele do que beijá-lo e transar nos armários de vassouras.

 

Quando enfim chegou a hora do treino de quadribol, o time foi em direção ao campo para por em prática algumas manobras na vassoura. Marlene pôs o uniforme dos jogadores e tudo estava perfeitamente bem para ela até o momento em que precisou subir na vassoura.

— Meu Merlin. — deixou escapar quando posicionou o objeto voador na sua frente.

— Tudo okay, Marlene? — James perguntou ao notar uma aparente dificuldade da artilheira em subir na vassoura.

— Tudo. — ela afirmou sem ter certeza. — Eu só estava pensando se seria muito feio os meus ferimentos se por um acaso eu caísse disso aqui.

— Muito engraçada. — James levou na brincadeira. — Vamos lá artilheira. Vamos fazer isso rápido para depois irmos à Hogsmeade. — e dizendo isso ele decolou com uma eficiência que lhe causou inveja.

Marlene levantou uma perna e a passou por cima da vassoura. Sentiu-a tremer. Ela logo assustou-se e desmontou rápido.

— Ai, eu não consigo fazer isso! Não consigo fazer isso! — repetia, nervosa.

Richard Levitz, outro artilheiro do time, veio em sua direção.

— O que ta rolando, McKinnon? Desde quando você tem medo da vassoura? — fazia esforço para não rir.

— Não estou com medo! — ela defendeu-se. — Só acho que não estarei muito segura lá em cima. Digo, não estou com vontade de treinar agora. Eu posso me redimir depois com horas extras de treino. — era estranho não querer voar, mas Marlene sentia que não conseguia fazer aquilo agora.

Em seguida, James desceu, com o cenho franzido para Marlene.

— Você não quer treinar hoje? — estava confuso por essa decisão ser tomada por Marlene McKinnon a jogadora que mais insistia pelos treinos.

— Desculpa James, mas não consigo fazer isso hoje. Prometo me redimir depois. — juntou as mãos quase como se tivesse implorando para que ele cancelasse o treino.

— Beleza, não precisamos nos preocupar com novas estratégias por enquanto mesmo. — James deu de ombros e foi até o vestiário guardar suas coisas.

 

Coisas. Lily revirava seu malão do avesso, mas não conseguia encontrar nenhuma roupa que lhe agradasse. Como conseguia vestir aquelas roupas floridas e vestidos soltinhos? Precisava logo de uma mudança no guarda roupa. Olhou para o lado e viu os pertences de Marlene espalhados graças a ela quando estava procurando pela poção restauradora. De primeira fitou um conjunto jeans que ela teria de usar. Marlene era muito mais estilosa e ela não se importaria de emprestar aquela roupa, sim?

De fato não, pois no minuto seguinte quanto Marlene adentrou o dormitório com sua vassoura na mão, deparou-se com Lily e suas roupas.

— Ah, que bonito, com as minhas roupas? — cruzou os braços esperando uma explicação.

— Não consegui encontrar nada legal para ir à Hogsmeade no meu malão Lene. Se importa de eu usar esse seu conjunto? — pediu com os olhinhos brilhantes.

— Como não conseguiu achar nada legal? — Marlene virou-se para o malão de Lily e viu uma blusinha com babados verdes, muito delicada. — Essa blusinha é um amor e vai combinar muito com essa calça carmim. — disse pegando as duas peças.

— Nah, prefiro esse conjunto mesmo. — disse mirando a calça e o colete jeans escuros que era acompanhado de uma regata branca que deixavam seu corpo perfeitamente modelado. — Se quiser usá-las, fique à vontade.

— Ah, obrigada. — Marlene sorriu satisfeita e correu para o banheiro para vestir as roupas da amiga.

As duas saíram do dormitório já arrumadas para a visita ao povoado que começaria dentro de poucos minutos. Ao irem para o salão comunal, alguns alunos já estavam prontos também, inclusive os Marotos.

James e Sirius encararam Lily e Marlene boquiabertos. Estavam tão diferentes e ao mesmo tempo pareciam elas mesmas.

Lily foi na direção de James e chegou bem perto dele.

— Oi capitão. — sorriu convidativa.

Ele retribuiu o sorriso.

— Já disse que eu to curtindo muito que você me chame desse jeito? — perguntou arriscando colocar a mão na cintura dela no que Lily não recuou.

— Então eu vou continuar. — ela beijou-lhe a bochecha demoradamente.

— Vocês estão juntos? — Sirius estranhou ao ver a proximidade dos dois. — Sério, mesmo?

— Quem sabe. — Lily encarou James. — Quer me levar a Hogsmeade hoje, capitão?

— Está falando sério? — James mal podia acreditar. Lily Evans queria mesmo sair com ele?

— Ai eu estou, James. Quer ou não? Se não quiser tem quem queira. — ela deu de ombros, mas James logo tratou de pegar seu rosto com as duas mãos e virá-lo para si.

— Não! Não. Eu quero. Meu Merlin como eu quero. — ele sorria sem acreditar. Lily o pegou pela mão e o conduziu até a saída. Era estranho estar de mãos dadas com ele, mas ela havia gostado. Estava muito a fim de sair com ele.

Sirius Black olhou aquela cena e teve que fechar a boca que só agora perceberá que estava aberta. Encarou Marlene que sorria romanticamente com o que tinha presenciado. Os outros também tinham uma cara de espanto.

— Vamos indo gente, não quero perder essa ida à Hogsmeade por nada. — Dorcas falou, contente, e atravessou o retrato da mulher gorda seguida por Remus e mais alguns.

Marlene encarou Sirius ao seu lado que ajeitava a jaqueta de couro. Ela ergueu sua mão e pegou a dele, com carinho. Sirius virou-se para ela e se afastou.

— Mãozinhas dadas agora para Hogsmeade é? — questionou sarcástico.

— Qual o problema? — ela perguntou sem entender.

— Lene isso é muito meloso para mim. Você sabe disso. — explicou coçando a nuca. — A gente sempre partiu para uma coisa mais física e era disso que eu gostava em você. Só que hoje tá tão diferente.

Marlene pestanejou. Ela gostava de transar com ele, sexo sempre seria bom, mas também tinha sentimentos. Sentimentos loucos e confusos, mas que eram verdadeiros por Sirius Black. Se ele não queria isso, queria apenas uma boneca com vida para que pudesse saciar seu desejo carnal, ela não aceitaria.

— Desculpa Sirius, mas eu não vou ficar aqui fazendo papel de boneca inflável para você. — finalizou e atravessou a mulher gorda sem olhar para trás.

Sirius agarrou os cabelos sem saber e entender nada. O que tinha acontecido com Marlene McKinnon. A sua Marlene McKinnon de sempre? Será que ela queria algo a mais? Algo que ele não poderia oferecer? Ou poderia? Tentou imaginar a si mesmo namorando. Nem sequer sabia como fazê-lo. Talvez ela quisesse um pouco mais de romantismo da sua parte, não um namoro propriamente dito.

— Porra Sirius! — xingou-se por não saber o que fazer. — Okay, vamos lá, flores, chocolates… — contou nos dedos o que se lembrava para deixar uma garota contente. — Pense no Prongs e nas parafernálias que ele faz pra Evans. — mandou-se. — Beleza, já sei.

 

James e Lily chamavam a atenção por onde passavam. Ninguém imaginava que um dia os encontraria assim. Ele tinha um braço envolta do pescoço dela e segurava a mão que ela entrelaçou na dele. Lily também o rodeou pela cintura e os dois caminhavam rindo e conversando. James mais rindo do que falando já que Lily lhe contava coisas engraçadas e piadas um pouquinho pesadas.

— Não sabia que você tinha esse senso de humor. — admitiu enquanto andavam até a estação de trem.

— Tem muita coisa que você não sabe sobre mim, James. — ela o fitou, provocante. James queria beijá-la, ela estava pedindo por aquilo, só podia ser.

Eles pararam em um cantinho da estação onde a aglomeração de alunos não estava presente.

James analisou cada detalhe do rosto de Lily, agora tão perto de si. Como esperou por isso, beijar Lily Evans. Era surreal que ela estivesse ali com ele. E parecia também ansiar por um beijo. Lily mordeu o lábio inferior e o segurou pela nuca.

— Você não sabe o quanto eu to me segurando para não te beijar agora. — disse. Sabia que não ia aguentar por muito mais tempo.

— Você é tão fofo que é quase um crime que eu não tenha cedido a você antes. — Lily encostou-se em uma parede puxando James consigo.

— Pensei que me achasse um idiota arrogante. — franziu o cenho.

— Você é bom no que faz e exibe isso. Não posso culpá-lo. — ela deu de ombros. — Agora vamos parar de falar? Por que eu to doida para saber se essa boquinha aqui sabe beijar também. — roçou o indicador pelos lábios dele.

James tinha quase certeza de aquelas atitudes não pertenciam à Lily Evans que ele conhecia. Ela nunca diria uma coisa daquelas, mas a proximidade de ambos o impedia de querer perguntar se ela estava bem novamente.

— Quer descobrir? — inquiriu e então Lily o puxou, beijando-o com desejo. Não fora nada como James tinha imaginado que seria o primeiro beijo que daria nela: calmo e com Lily aconchegada em seus braços. Não.

Ela era rápida, explorava seus lábios com a língua de uma maneira sem igual. James obrigou-se a sugar o lábio dela deixando de beijá-la devagar. Lily permitiu e inclinou milímetros a cabeça para trás enquanto apreciava ter seu lábio inferior suspenso pela boca de James. Logo ela abriu os olhos e o encarou cheia de vontade. Puxou os cabelos espetados dele para si e inclinou a cabeça de James para o seu pescoço, para que ele pudesse beijar bem ali.

— Você tá me deixando doido assim, Lily Evans. — conseguiu dizer, com a respiração entrecortada.

— Shiu — ela pediu. — Você fala demais. — foi a sua vez de beijar o pescoço perfumado de James. Como estava gostando daquilo, céus como pôde fazer doce com ele esse tempo inteiro?

— VÃO PARA UM QUARTO! — reconheceram a voz de Frank Longbottom e se afastaram. Lily sem vergonha alguma. Frank saiu rindo junto com os outros.

— Vamos perder o trem. — James alertou ainda um pouco atordoado com o beijo que compartilharam.

— Certo, a gente termina isso aqui atrás da Honeydukes. — disse no que James sorriu com aquilo. Era o que ele mais queria.

 

Marlene queria todos aqueles chocolates deliciosos que pareciam chamá-la para uma espécie de paraíso. Mal se lembrava da pequena briga que tivera com Sirius, aquilo conseguia distraí-la totalmente. Estava conversando com Alice que acabara de lhe contar que vira James e Lily no maior amasso na estação de trem. Ela mal podia acreditar, mas estava feliz pelos dois e, a julgar pelo sumiço de ambos novamente, diria que eles estavam por algum lugar de Hogsmeade repetindo a cena.

Marlene sentia uma inveja branca, se Sirius fosse um pouco mais compreensivo, talvez ela pudesse estar assim com ele também.

Ela viu uma caixa de alfajores de creme e sentiu os olhinhos brilharem. Eram aqueles que iria levar.

— Marlene. — ouviu a voz de Sirius atrás de si. — Podemos conversar?

— O que você quer? Me prensar na parede mais próxima? Não estou afim, obrigada. — disse sem encará-lo e pegou os alfajores para si.

— Não precisa levar os alfajores. — Sirius disse tirando-os da mão dela. Marlene o encarou incrédula e ele acrescentou: — Eu comprei uns para você e olha, preciso conversar contigo.

Marlene desceu os olhos e viu que ele carregava uma caixa de alfajores de creme e um pequeno girassol. Ela não sabia do que se tratava, mas teve vontade de rir por ver que ele parecia tão desajeitado com tudo isso.

— Okay. — ela suspirou.

— Vamos lá para fora. — pediu quase que em suplício.

— Pode dizer o que quer que seja bem aqui, mesmo. — ela cruzou os braços disposta a não facilitar as coisas para ele.

Alguns alunos já encaravam ambos e as coisas que Sirius trazia. Isso, de longe, não era do feitio dele, por isso chamava muita atenção. Sirius engoliu em seco e estava disposto a por tudo para fora. Era agora ou nunca.

— Certo, Marlene. Eu não sei o que você quer, se está tentando algo mais sério ou não. Mas o que você me disse hoje no café da manhã surtiu algum efeito na minha cabeça: toda garota de importa com sutileza e isso é tudo o que eu não tenho sido com você então, como eu curto pra caralho ficar contigo eu consigo andar de mãos dadas com você por aí, te comprar chocolates e flores, ou seja lá o que for, porque eu não faço ideia do que é ser romântico mas eu posso aprender.— conseguiu dizer tudo aquilo mesmo que não soubesse o significado da maioria das coisas.

Alguns alunos fizeram um som com a boca típico daquelas cenas em que o cara se declara para a mocinha. Marlene sorria com o discurso mal feito de Sirius, mas que ela tinha certeza de que era verdadeiro. Ela pegou os doces e o girassol e ficou perto o suficiente dele para que Sirius entendesse que agora estava tudo bem e então a puxasse para um beijo.

Ouviram palmas de muitos, mas não se importaram. Beijaram-se como nunca antes, Sirius fazendo questão de beijá-la com carinho. Marlene estava explodindo de felicidade.

— Vai parar com a greve de beijos agora? — perguntou quando se separaram no que Marlene confirmou sorrindo.

Eles saíram da Honeydukes de mãos dadas e foram passear por aí e, quem os visse de longe, veria um típico casal de namorados.

 

Namorados. James não tinha certeza se era isso que ele e Lily eram, mas também não estava a fim de descobrir agora. Eles repetiam a cena da estação agora no sótão do Three Broomsticks, só que de uma maneira muito mais caliente. James estava muito excitado, não era possível que Lily o deixasse nesse estado logo no primeiro encontro. Será que ela já queria transar como ele? Ali, no sótão de uma loja? Era muita loucura.

— Se você não parar com isso agora — conseguiu dizer por entre os beijos dela. — Eu não sei se vou me conter mais.

— Quem disse que eu quero que você se contenha? — perguntou, maliciosa, passando as mãos pelo abdômen dele.

— Merda. — ele suspirou puxando-a para seu colo e despindo seu casaco jeans. Aquilo estava muito estranho e, por mais que James quisesse muito transar com Lily, sabia que não seria desse jeito, ali, tão afobado e apressado no sótão do Three Broomsticks. — Chega Lily. — doeu lá embaixo dizer isso, mas James precisava contê-la.

— O que foi? Sem camisinha? Eu peguei umas extras antes de vir para cá. — assegurou-lhe voltando a beijá-lo.

James se afastou novamente, obrigado a fazê-lo.

— Isso tá fora do normal. — levantou-se da cadeira que estava sentado. — Você tá na minha frente e é você, mas ao mesmo tempo sem que não é.

Lily revirou os olhos e sentou na cadeira sem se preocupar com seu sutiã à mostra.

— Ah, qual é James…

— Não, é sério, pensa só: até ontem você negava todas as minhas investidas e se recusava a ter uma conversa comigo e agora está aqui querendo transar. — ele apontou os fatos estranhos.

— E daí? — fez uma cara que lembrou-lhe muito Marlene.

— Você está parecendo a Marlene sabia? — James riu sem humor com o que acabara de dizer. Até que fez o link com a aula que tivera ontem com o professor Flitwick. — Não é possível…

 

Aquilo estava muito estranho. Andar de mãos dadas com Marlene McKinnon. Nunca imaginou-se fazendo aquilo. Até podia aceitar para poder ficar com ela, mas quando Marlene encaminhou-se para a Madame Puddifoot, Sirius teve que recuar.

— Para onde está indo? — perguntou quase que em pânico.

— Lugar nenhum. — Marlene enrugou o cenho.

— Sério? Pois me pareceu muito que estava indo até o Madame Puddifoot. — olhou para a entrada da loja enfeitada de coraçõezinhos e outras coisas mais.

— Não, Sirius eu não ia. — ela garantiu-lhe. — Sei que você tem pânico, mas até que não seria uma ideia ruim. — brincou de um jeito que lembrou-lhe muito Lily Evans.

— Meu Deus eu estou ficando louco com isso. — Sirius olhou para o céu como se pedisse ajuda. — Você tá parecendo a Lily. Só podia ser. O jeito que agia, a roupa que vestia… pareciam até que tinham invertido as personalidades. — Foi isso! — ele sacou lembrando-se da aula do Flitwick. — Meu Merlin que brincadeira sem graça das duas.

— Sirius, do que está falando? — Marlene questionou sem entender nada.

— Você vai ver. — puxou-a pela mão e foi em direção à Honeydukes para uma das passagens secretas.

Quando estava perto da loja avistou James vindo com Lily que também aparentava não estar entendendo nada.

Os dois se olharam e foram tirar satisfações.

— É aquilo? — Sirius perguntou.

— Inversão de personalidades. — James assegurou.

Entraram com Lily e Marlene. As duas em meio a protestos por estarem sendo arrastadas.

Sem que ninguém percebesse, James e Sirius subiram para o sótão da loja para pegarem um atalho até o castelo e chegarem através da estátua da bruxa de um olho só.

— Espera, Prongs. — Sirius pediu antes de atravessarem a passagem. — Vamos revelar para as duas o atalho mesmo?

— Não esquenta, Pads. — James sorriu. — Se tudo der certo, elas não vão se lembrar de nada.

Os dois riram e atravessaram com elas pelo imenso túnel que levava até o castelo. Lily e Marlene fazendo perguntas o tempo inteiro, confusas com tudo aquilo. Quando enfim pareceu uma eternidade a duração da travessia, chegaram à estátua da bruxa e pularam para dentro do castelo. Estava vazio aquele corredor para a sorte do quarteto. Sirius e James não pensaram duas vezes para levarem-nas até a sala do professor Flitwick. Deram a sorte de encontrá-lo saindo pela porta.

— Professor, professor! — chamou James com urgência antes que Flitwick fosse embora.

— Senhor Potter, Senhor Black, meninas, em que posso ser útil? — perguntou estranhando ser procurando em um fim de semana em Hogsmeade.

— É um assunto muito importante. — Sirius começou com Marlene em seus calcanhares. — Trata-se dessas duas aqui.

— O que… — Flitwick deu uma boa olhada em Lily e Marlene e reconheceu o feitiço imediatamente. Balançou a cabeça em sentido negativo um pouco desapontado. — Vocês podem ir. — disse para Black e Potter. Depositou sua mala no chão e voltou para dentro da sala. — Me acompanhem Srta Evans e Srta McKinnon.

As duas obedeceram, sentindo que havia um clima muito estranho no ar. A porta fechou-se e as ambas ficaram lado a lado com Flitwick à sua frente. Ele pegou sua varinha e virou-se para elas.

Reversed commutationem. — proferiu no que elas sentiram um desconforto na cabeça por longos segundos. Depois vieram as cócegas e uma leve tontura.

Lily e Marlene se olharam, confusas e assustadas.

— Sentem-se melhor? — questionou Flitwick com calma.

— Professor, o que nós…? O feitiço… — Lily começou a dizer no Flitwick concordou.

— Ao que parece, as duas trocaram as personalidades pelo feitiço Mutatio Ingenium. E, pelo o que percebo, sem saberem. A sorte foi que o Senhor Potter e o Senhor Black descobriram e trouxeram-nas até mim. Um caso bastante delicado. — coçou o queixo.

Lily corou até a raiz dos cabelos e Marlene sentiu seu coração acelerar. Sabe-se lá o que não tinham feito quando estavam invertidas. Marlene se lembrava de chocolates e beijinhos e Lily só conseguia lembrar-se do membro intumescido de James.

— A culpa foi minha professor. — Marlene prontificou-se. — Eu pedi que Lily me ensinasse o feitiço porque tinha faltado a aula pela manhã.

— E eu não tinha aprendido como executá-lo direito, já que tive problemas para me concentrar em sua aula. — confessou Lily sentindo as bochechas queimarem.

— Tudo bem, eu conheço bem o feitio das duas. Sei que não fariam de propósito. — Flitwick sorriu. — Mas não serei tão compreensivo caso aconteça uma próxima vez.

— Não acontecerá. — ambas garantiram rápida e imediatamente.

— Certo. Mas de qualquer forma, vocês aprenderam o contrafeitiço que eu ensinaria na próxima aula. — ele finalizou com uma risadinha. — Agora se me derem licença, preciso aproveitar uma boa caneca de cerveja amanteigada. — e, com isso, saiu porta a fora deixando as duas sem saber onde se enfiar.

Elas se entreolharam e não sabiam se riam ou se gritavam de nervoso.

Marlene bufou em descrença e fez um som típico de uma risada, sentou-se em cima de uma das mesas e colocou as mãos na boca, pensativa. Lily, por outro lado, passou a mão na testa sentindo seu rosto inteiro ferver.

— O que nós fizemos? — inquiriu a ruiva sem esperar realmente por uma resposta.

— Acho que é mais fácil saber o que nós não fizemos. — Marlene fitou-a com uma das sobrancelhas erguidas. — Eu me lembro de tudo o que eu fiz e você?

— Também. O estranho seria se não lembrássemos já que apenas invertemos o nosso modo de agir. — concluiu Lily pensando no tempo em que passou com James.

Marlene fazia o mesmo.

Precisavam esclarecer as coisas com James e Sirius o mais breve possível. Se sobrevivessem até lá.

— Eles até que foram bem compreensivos. — Lily opinou encarando Marlene.

— Deviam é estar entendendo nada. — completou o pensamento. Foi então que as duas não se seguraram e começaram a gargalhar sem controle.

Ficaram rindo até a barriga começar a doer e algumas lágrimas escaparem-lhes pelos olhos. Tinha sido uma loucura completa e só que restava era rir de tudo o que acontecera.

— Mas vamos fingir que não nos lembramos. — Marlene sugeriu. — Vai ser melhor.

— Também acho. — Lily suspirou recuperando-se do riso.

— Além disso, vamos deixar que eles pensem que nós não sabemos da passagem secreta e que não vamos começar a usá-la por aí.

~***~

No início Lily parecia ter tudo sob controle, mas agora não sabia como resolver as coisas com James. Não o via desde ontem, o louco dia em que trocara de personalidade com sua melhor amiga. Ela tinha consciência de que precisava falar com ele. Precisava dizer que mesmo pensando de uma outra forma, gostara dos beijos dele. Do modo como ele fora fofo o tempo inteiro.

Lily foi até o lago negro para pensar no que diria. A calmaria das águas sempre a ajudava a refletir melhor. Estava nervosa, mas seu coração acelerou ainda mais quando chegou até lá e deparou-se com o próprio James Potter, deitado na grama, com um braço tampando-lhe os olhos.

Será que ia até ele? Será que deixava por isso mesmo? Não, com certeza não. Lily limpou a garganta e foi até James.

— James. — chamou no que ele não fez nenhum movimento. — Posso conversar com você?

— Sempre. — respondeu sem retirar o braço da face.

Lily suspirou e sentou-se ao seu lado no que ele levantou-se depois. Ficaram um pouquinho em silêncio com Lily tentando pensar no que diria. Era estranho estarem “afastados” quando até ontem beijaram-se muitas vezes. Só de pensar Lily sentiu um frio na barriga.

— Olha, desculpe pelo embaraço de ontem, eu juro que não fazia ideia do que estava acontecendo. — começou já se sentindo corar e seguindo com o plano da amiga de fingir não saber. — Marlene e eu… Não tínhamos a intenção.

— Sem problemas. — James respondeu. — Essas coisas acontecem.

O silêncio novamente. Lily não sabia se ele estava chateado. Não sabia mais o que dizer, mas amou o jeito como ele fora tão compreensível. Ao mesmo tempo Lily queria que James soubesse que ela se lembrava sim dos beijos que trocaram. E que foram muito bons.

— E, sobre nós dois…

— Foi um erro. — James finalizou por ela. — Sei disso também. Não se preocupe, Evans, tudo voltará a ser como antes.

— Não. — Lily disse com firmeza. — Eu não quero que volte a ser como antes. Eu estava com a personalidade de Marlene mas em nenhum momento deixei de ser eu. Então, quando eu disse que era quase como um crime não ter cedido à você ainda, falei a verdade. — achou justo confessar aquilo.

— Você se lembra? De tudo o que fez? — perguntou, espantado.

— Não de tudo. — apressou-se a dizer. — Mas eu me lembro disso e dos nossos beijos. — omitiu, ruborizando. — O que eu estou querendo dizer é que quero começar de onde paramos, mas de um jeito menos “Marlene”. — fez aspas com as mãos no que James riu.

— Você quer dizer um encontro mais decente? — James perguntou chegando mais perto dela.

— Se não for pedir muito. — Lily mordeu o lábio superior.

— Pode deixar. — ele garantiu com a voz baixa. Aproximou-se devagar, como se pedisse permissão para beijá-la. Lily recuou um pouco, mas ainda mirando sua boca.

— E eu espero que não se decepcione por eu não ser tão direta que nem ela. — proferiu sentindo seu coração acelerar.

James mirou os olhos verdes dela e sussurrou de um jeito que a desconcentrou por inteiro:

— Gosto de você exatamente como é. Nunca vou me decepcionar com você, Lily Evans. — Ele aproximou-se mais e dessa vez ela não se afastou, selando seus lábios nos dele com calma, do jeito que James imaginou que seria. Ele segurou seu rosto delicado, no que Lily apreciou o toque inclinando-se para a mão dele.

Se afastaram com um selinho e ela depositou um beijo demorado no pescoço dele, causando-lhe arrepios.

— Pensei que queria ir com calma. — James disse, mas nem um pouco incomodado com os beijos dela.

— E quero. — afirmou. — Mas não tenho nada contra beijos no pescoço e você? — fitou-o curiosa pela resposta.

— Eu não. — negou simplesmente. — Não fazem mal a ninguém. — e dizendo isso voltou a beijá-la enquanto agradecia mentalmente à Geràrd Bourbonne e seu feitiço.

 

Feitiço. Era tudo o que Sirius menos queria que Marlene praticasse outra vez sem avisá-lo. Ele entrou na sala comunal da grifinória sabendo que a encontraria lá, deitada no sofá lixando as unhas. Estava com seu pijama que ele tanto adorava. É, a antiga Marlene McKinnon estava de volta. Para a sua alegria.

Ele chegou perto dela, com um sorriso, e logo foi bem recepcionado:

— Nem vem querer deitar no meu colo que eu estou lixando minhas unhas. — disse sem encará-lo. Sirius tirou as pernas dela do sofá e sentou-se mesmo assim. — Ficou surdo ou o que? — Marlene perguntou encarando-o com as sobrancelhas erguidas.

— Quero que você deite aqui. — disse indicando seu próprio colo. Marlene pestanejou. Tinha ouvido direito? — Vem cá. — repetiu, chamando-a com um sorriso. Marlene sequer se mexeu, boquiaberta demais por ter Sirius pedindo que ela deitasse nas pernas dele.

O moreno revirou os olhos e a agarrou, rápido e de supetão, puxando-a para si no que resultou em um pequeno gritinho de Marlene.

— O que é isso? — perguntou, sorrindo, quando ele a deitou. Marlene se ajeitou, agora esticando os pés e acomodando sua cabeça no colo de Sirius.

— To a fim de fazer carinho em você, não posso? — perguntou começando um cafuné nos cabelos loiros dela.

— E desde quando você é quem faz cafuné e não aquele que recebe? — inquiriu, sentindo seu corpo todo arrepiar com os efeitos daquele carinho.

— Desde que eu percebi que você gosta disso também. — ele ficou sério por um instante. — Curte uns gestos românticos de vez em quando.

— Quem disse? — perguntou dando de ombros, embora ela estivesse amando tudo aquilo. — Se você acha que eu me lembro ou que ainda estou agindo como Lily está enganado.

— Tenho certeza de que é você. — Sirius garantiu reconhecendo muito bem o jeito dela. — E sei que quer tentar umas coisas diferentes. Vamos? — sugeriu afagando o cabelo dela, igualmente não se sentindo nem um pouco incomodado.

— E você acha que consegue? — Marlene perguntou sorrindo, duvidando da capacidade dele. — Ser carinhoso de vez em quando?

— Consigo. Posso ter os meus momentos ‘gentleman’. — confirmou com uma voz mais madura no que Marlene achou graça. — Mas só de vez em quando. Ainda gosto de um bom sexo selvagem. — acrescentou.

— Eu não pediria por outra coisa — Marlene garantiu no que Sirius inclinou-se para beijá-la. Foi calmo e torturante para ambos. De um jeito diferente, mas que não deixava de ser maravilhoso.

Marlene estava curtindo tanto, até Sirius separa-se dela e lamber-lhe a bochecha estragando todo o clima.

— Argh! Sirius, fala sério! — ela limpou o lambuzado na sua pele no que Sirius gargalhava divertido. — Essa mania você bem que podia abandonar. — ela levantou-se do seu colo dando-lhe um tapa no ombro, embora estivesse esforçando-se muito para não rir.

— Nem nos seus sonhos, princesa. — ele beijou-lhe os lábios e aproveitou a deixa para deitar-se no colo dela.

Marlene revirou os olhos, mas não o afastou. Tinha que admitir que gostava desse jeito meio cachorro de ser de Sirius.

~***~

E no fim, Mutatio Ingenium não era tão horrível assim, principalmente quando deixava suas ‘heranças’. Heranças essas que foram bem perceptíveis quando às vezes, tarde da noite, James e Lily desciam para a sala comunal, sentavam-se no sofá mais confortável e, por debaixo da capa de invisibilidade, trocavam intimidades de um jeito que nem Marlene e Sirius fariam melhor.

Ou quando o céu estava muito estrelado, Sirius e Marlene se encontravam no alto da torre de Astronomia e ficavam observando as estrelas, agarradinhos, fazendo planos e rindo de coisas só deles.

Mas, é claro, isso tudo muito, muito, esporadicamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Invertidas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.