Sentimos um cheiro de queimado e nos afastamos no susto. Ele se vira rapidamente e desliga o fogão, nos olhamos e rimos. Viro e pego a panela.

— Acha que ainda tá bom? - ele pergunta nas minhas costas.

— Não sei, o cozinheiro aqui é você.

— Ai! - ele fala e eu viro assustada - Doeu!

— O que? - reviro seu corpo com o olhar e não encontro nada que se assemelhe a um ferimento.

— Sua resposta - faço careta e passo por ele, que me puxa de volta, me abraçando por trás. -  O molho está ótimo e pelo visto - ele beija meu ombro - o Fred também.  - olhamos para o cão que está na porta da cozinha sentado apenas nos observando. Ele recomeça os beijos em meu ombro, subindo para o meu pescoço e eu me viro, ele me toma  a boca pondo as mãos em minha cintura e eu o empurro contra a parede. Suas mãos passeiam pelo meu corpo e deixam um rastro fervilhante em minha pele, ele me empurra e eu apenas o deixo fazer isso, me levando para a mesa e me pressionando contra a mesma. Sem que eu perceba sua intenção, ele aperta minha coxa me dando impulso para subir e me senta, me deixando de frente para ele. Seus beijos descem para o meu pescoço e para o meu colo enquanto minhas mãos chegam a barra de sua camisa, puxando - as para cima. Ele se afasta um minuto e a tira, voltando a me olhar.

— O que ? - pergunto ao homem corado a minha frente.

— Você é linda - sorrio e nosso beijo se recomeça. Ele passa a mão pela minha blusa, me fazendo tirá-la sem notar enquanto ele entrelaça minhas pernas em sua cintura, me levantando e carregando para o quarto, fechando a porta em seguida. - É melhor deixarmos o Fred fora disso! - sorrio entre o beijo e ele senta na cama me deixando em seu colo. Não paramos o beijo e sua mão caminha até meus cabelos puxando-os um pouco para trás, deixando o meu pescoço e colo expostos para seus beijos e carícias. Eu o empurro na cama e em pouco tempo não há mais roupas, ele para ao me analisar e gosto do que vejo em seu olhar. - Não estava preparado para isso, senhorita! - ele diz em um sorriso presunçoso. Não dura muito e estamos nos movimentando em uma bela sincronia, todo o meu corpo está em chamas e as borboletas no meu estômago já se tornaram fênix, que morrem ao queimar mas nunca deixam de ressuscitar, é nesse pensamento que chegamos ao nosso ápice. 

— Disse que iria me preparar algo pra comer, mas não pensei que eu seria o almoço - comento e sinto o seu peito descer ao rir. Ele me beija os cabelos enquanto acaricia meu braço.

— Claro que não - ele me faz olhá-lo -  Ainda estou com muita fome e eu não sairei daqui sem te mostrar os meus dotes culinários! - levanta me levando junto com ele. Confesso que fico um tanto com vergonha por estar assim naturalmente nua, e ele nota isso, já que eu trato de pegar a toalha que estava perto da cama para me cobrir. Ele veste a calça e vai para a cozinha sorrindo de lado - Te espero lá, senhorita. - sorrio com o comentário e vou recolhendo minha roupa até chegar na cozinha, onde encontro um moreno de costas. 

 - Acho que vou pôr uma musica, alguma preferência? - pergunto indo até a sala e me aproximando do som. Para minha sorte, ele é eclético e eu coloco Capital, uma das minhas bandas preferidas, e em pouco tempo estou cantando a música e esperando o almoço ficar pronto. Resolvo ir até a cozinha mas paro no meio do caminho quando vejo uma luz brilhar, me aproximo do braço do sofá e vejo seu celular tocando. Penso em chamá-lo mas minha voz morre na garganta quando leio o nome " Mirella baby" , que porra é essa?! Ele tem alguém e eu aqui fazendo papel de idiota? Não acredito que ele é um canalha como todos os outros que já passaram pela minha vida e das minhas amigas.

— Distraída? - sua voz chega aos meus ouvidos e eu jogo o celular no canto do sofá tentando disfarçar. A única coisa que eu não quero agora é parecer que bisbilhotei seu celular.

— Não. O almoço está pronto? - eu simplesmente não sei agir. Sou uma tola por achar que estávamos criando algo mas me confundi total, ele não quer nada sério porque ele já tem algo sério. Eu sou a diversão. Mas olhando agora para ele, com esses olhos negros e sorriso tranquilo, me faz perguntar como ele teve coragem. O que faço agora? O expulso do meu apartamento? Mas o quero tão perto, sou uma idiota.

— Sim na verdade, quer pôr a mesa? 

— Não, não precisa. Pegamos de lá mesmo. - estamos distantes e nos olhando, um clima estranho pairou sobre nós.

— Está tudo bem? - ele pergunta se aproximando de mim e tocando em meu rosto. Confirmo sem dizer uma palavra e tento dar um sorriso, me afastando para ir em direção a cozinha, mas antes de completar o movimento ele puxa levemente meu braço, me fazendo voltar para ele - Olha - ele olha para baixo e passa sua mão em seus cabelos. É agora que ele vai dizer? - Está arrependida? - franzo as sobrancelhas não entendendo o que ele quer dizer - O que aconteceu há pouco. - minha mente clareia - Talvez devêssemos ter ido com mais calma, não ligo para esse tipo de coisa, mas se era importante pra você, poderia ter me dito.

— O que? - ele ta achando mesmo isso? - Não estou arrependida de ter transado com você - meu tom e a escolha das palavras o assusta um pouco. Suspiro - Não é nada disso, tá bom? - sorrio e ele parece relaxar um pouco, mas continua com o ar desconfiado. - Vamos comer agora? - pergunto numa falsa animação e ele concorda. Almoçamos em meio a risos leves e conversas aleatórias, na verdade, eu estou uma bagunça dentro de mim. Em tão pouco tempo, ele me tirou do eixo e eu admito que achava que ele era perfeito, mesmo tendo a certeza que a perfeição não existe. E realmente não existe, o que ele pretende? Não me ver nunca mais? Foi uma despedida de solteiro? Ele quer manter as duas? Estou tensa e ele nota isso, mas como sabe que não vou falar nada, prefere disfarçar. Lavo o que utilizamos e volto para a sala, e é neste exato momento em que Fred começa a pular e latir para o sofá, mesmo não tendo lá e meu único pensamento é em chamar um padre para exorcizar esse apartamento. Mas nada disso é necessário quando descobrimos o motivo real do desespero do meu cãozinho, o celular de Dante que não para de tocar. Quando ele consegue pegar, finjo não ver nada e continuo sacudindo a almofada, mas eu vi o nome dela ligando novamente.

— Oi! - ele atende em uma naturalidade irritante. Não demora muitos segundos quando ele simplesmente desliga. 

— Alguém importante? - pergunto tentando parecer desinteressada e ele me olha.

— Não...Sim, tenho que ir - ele diz para minha decepção e minhas suspeitas só se confirmam. Com certeza a mulher o mandou ir para a casa e ele vai correndo. Se aproxima de mim e eu me afasto indo para o quarto, pegar o meu celular. - Sabe como é, emergências acontecem a todo tempo - diz e eu concordo com a cabeça.

— Claro que entendo.

— Certo - ele recolhe suas coisas e eu o espero perto da porta - Te ligo para saber como passou o dia, tudo bem? - me dá um beijo casto e eu sorrio falsamente.

— Tudo bem, tchau! - aceno e ele se afasta com uma expressão indecifrável em seu rosto. Merda! Jogo meu travesseiro longe quando chego no quarto, me xingando de todas as formas. Claro que ele tem alguém! Bonito, simpático, gentil, fofo, sem contar seu desempenho na cama, só eu mesmo pra achar que dessa vez iria pra frente. Penso em ligar para Jorge e contar da desgraça que aconteceu em minha vida mas não quero ouvir o que já estou falando para mim mesma. Deslizo minhas mãos pela cama na intenção de me esticar e sinto algo duro, olho e vejo que Dante esqueceu seu óculos de sol em cima do meu colchão. Não quero e tento de todas as formas me controlar, mas sem que eu consiga, eu choro. Choro não só por ele, choro pela minha vida, pelo acidente do meu pai, por nunca ter passado um tempo com minha mãe, sem nem mesmo me lembrar como era o seu rosto e como se já não bastasse, ainda tem toda a pressão que sofro na empresa e Dante. O cara que achei que fosse ele, aquela pessoa que eu leio nos meus livros de romance, que faz o coração das mocinhas disparar e tudo mais. Mas pra variar, não foi dessa vez.