A primeira vez era para ser apenas isso, a primeira e última vez, mas então ele viu que necessitava de mais, pelo menos para esquecer do dia estressante. Chegava em casa, tomava um assento no sofá já com seu copo de whisky em mãos, bebericava da bebida que descia rasgando por sua garganta.

Na segunda vez, quando sua esposa fora para casa ele comprara uma garrafa de whisky barata e seguiu para casa com a garrafa no banco de passageiro ao seu lado. Só dessa vez. Ele dizia. Chegando em casa, ele repetira o mesmo ato que a primeira vez. Era apenas para esquecer o dia terrível. Ele se convencia disso. E quando sua esposa estava no quarto, provavelmente lhe esperando para dormir, ele estava na sala bebendo do líquido com o gosto amargo, mas logo que descia por sua garganta uma sensação de satisfação passava pelo seu corpo. Ele queria deixar, mas disse para si mesmo “apenas mais um copo”, e foi 5 copos naquela madrugada. Suas pálpebras pesaram, ele não queria dormir, não quando o rosto daquelas mulheres que foram vítimas de um assassino brutal vinha em sua mente, ele não tinha a sensação de dever cumprido depois daquele caso. Mais um copo foi-se naquela noite, contando 6, seu último copo, ele prometera para si mesmo.

As noites de bebedeira foram se repetindo, dia-após-dia, cada copo trazendo uma sensação de alívio diferente, aquele formigamento que sentia em sua língua depois que o líquido descia em sua garganta já virara algo com que ele se acostumou. Ele estava se quebrando aos poucos, mas não podiam mais deixar o álcool, era o seu refúgio agora.

Deitava na cama ao lado de sua esposa e podia sentir o desgosto ao seu lado, mesmo que ela não falasse nada, seu olhar e seu jeito indiferente de trata-lo na última semana já o dizia que ele estava fazendo errado. Ele dormia, e quando acordava de manhã ela já não estava mais lá. Então ele passou pelo quarto ao lado, a cama com evidências de que alguém tinha dormido lá fazendo-o concluir que ela não dormia mais na mesma cama que ele.

Não fora uma semana, não fora dias. Ele não via os dias passarem, já tinha feito meses, e cada dia seu vício aumentava. Quando tentou parar, realmente se esforçou para isso, ele passou pelo quarto de hóspede, onde agora sua mulher dormia, ele a viu chorar e sabia que era por causa dele. Ele não devia ter feito aquilo, mas ele o fez, ao invés de falar com ela, abrir uma linha de comunicação entre eles da qual ele tinha rompido, ele foi para sua “companheira”, e bebeu a metade da garrafa.

Ela gritou para que ele parasse. Ela insistiu. Ela disse que ele estava estragando o seu casamento. Ela disse que ele não era mais o mesmo. Disse-lhe que perdera o seu marido. Disse-lhe que não aguentava mais... Ela gritou. Deus, ela gritou tantas vezes. Ela o implorou. Mas naquele dia ele a fez chorar novamente. Ele deu-lhe uma impressão errada de si mesmo. Ele foi agressivo, não enxergava a razão mais.

No outro dia ela ameaçou ir embora, ela disse-lhe que não podia mais aguentar, que estava cheia, mas ele, totalmente desesperado, prometeu-lhe que iria parar, e ela deu-lhe mais uma chance... Porque o amava e queria que ele fosse melhor, não para ela, mas para ele mesmo porque ele não estava enxergando que, ao poucos, ele estava matando a si próprio.

Ele cumpriu a promessa. Por uma semana ele nem cheirou o álcool, ela acreditou nele, disse que estava orgulhosa e que o amava, ele sorriu e lhe beijou apaixonadamente, eles fizeram amor nesse dia. Outra semana, ele ainda cumpria o que prometeu a ela, mas temia por uma recaída.

Ela pedira que ele fosse para uma sessão no AA, ele recusou dizendo-lhe que não iria passar por essa humilhação. Eles brigaram de novo, ele pediu desculpas e disse que iria fazer o seu melhor. Com lágrimas nos olhos ela concordou com a cabeça e saiu de casa para espairecer... Ela fora encontrar com sua amiga, estava aguentando o quanto podia, assim disse para a sua amiga, por mais que o amasse muito ela não podia mais fazer parte disso.

Foram três semanas sem beber. Era sábado e tinha um jogo do qual ele queria ir, chegou lá e pensou “por que não?”, bebeu uma cerveja e tentou se divertir com os seus amigos. No domingo seu amigo, Donald Flack estava na sua casa, o olhando com desaprovação, ele olhara para as mãos e se perguntou o que tinha feito. Stella gritou com ele, histérica, dizendo-lhe que ele estragou tudo. Então foi quando lembrou, ele teve uma recaída. Pediu desculpas, mas Lindsay interviu dizendo-lhe que não era suficiente enquanto abraçava Stella para leva-la longe dele. Olhou o seu reflexo e assustou-se com o seu olhar escuro, seus olhos caíram em Stella, ela chorava, depois olhou em volta ao seu apartamento e tudo estava quebrado, parecia como ele estava por dentro.

Ele já não era mais ele.

“Me perdoa...” Ele sussurrou olhando para ela, sabendo que não merecia o perdão dela, não era suficiente para reparar os danos que causara.

“Estamos acabados, Mac!” Stella gritou, dor presente em sua voz.

Seu coração apertou em pensar que ele era quem estava causando essa dor.

“Eu te amo, mas não posso aguentar isso mais. Não vou ficar para ver o homem que eu amo se matar aos poucos.” Disse ela com angustia. Lindsay a abraçava forte.

Deus, o que ele tinha feito para ela que Flack e Danny estavam lá? Ele a feriu? Por que não se lembrava?

“Eu sinto muito, não queria estragar o nosso casamento.” Lamentou-se ele mesmo sabendo que não seria o suficiente.

“Você tem razão, estragou o nosso casamento sim. Você me quebrou quando era suposto a juntar todos os pedacinhos do meu coração, mas você destruiu a única coisa a qual eu presava mais... O meu amor por você.” Lindsay a puxava para leva-la longe de lá, do seu próprio apartamento que ela estava deixando, mas ela ficou lá para dizer tudo o que estava guardando por dentro. “Nós fizemos um juramento: Na saúde ou na doença. Na alegria ou na tristeza...”. Ela soluçou ao lembrar de seus votos. “Eu não vou desistir de você, as coisas só estão complicadas agora, mas eu não vou desistir de você.” Deu ênfase na última frase. “Porque fizemos aqueles votos, e porque eu te amo. Mas você tem que melhorar, você ficou agressivo. Lembra disso?” Sua voz mudou de tom, mesmo com a voz rachada ela conseguiu.

Mac ficou calado, merecia o desprezo dela e de seus amigos. Cabeça baixa, ele ouvia tudo o que ela dizia.

“Fica melhor.” Ela pediu, sua voz saiu imploradora e um pouco suave. “Por nós. Por tudo o que tivemos. Pelo nosso futuro.” Sua voz rachou, ela não podia mais continuar, então apenas deixou as lágrimas caírem de seus olhos e rolarem em suas bochechas rosadas.

Lágrimas começaram a cair dos olhos dele. Queria fazer o certo, iria fazer o certo, por ela. Se quisesse ter um futuro com a mulher que ama ele iria parar, iria ser um homem melhor, iria se esforçar, iria para uma reabilitação se necessitasse, porque, Deus, ele queria estar com essa mulher mais do que tudo, apenas demorou muito tempo para perceber isso... Talvez a bebida não só o fez esquecer os seus problemas, mas o fez esquecer da pessoa que estava ao lado dele, chorando e implorando que ele melhorasse. Mas agora, sóbrio, ele sabia o que fazer, e iria fazer o certo.

“Eu te amo...” Ele sussurrou quando ela saíra com suas malas com a ajuda de seus amigos e o deixara no apartamento vazio onde seus móveis estavam completamente destruídos.

Uma semana depois chegou um envelope, seu coração quebrou quando viu o que tinha dentro. As suas chaves e os papéis de divórcio. Ele chorou, e caiu no chão, ela estava o deixando, era só nisso que pensava, sentado no chão encostado na porta e com a chave dela e o papel de divórcio nas mãos, ele pensou em buscar conforto na bebida, mas fizera uma promessa a ela. Tirou a nota que estava com os papéis, colocou a mão na boca para abafar o choro enquanto as lágrimas desciam descontroladamente de seus olhos.

“Foi mais complicado do que pensei”

Estava escrito no papel, era as suas letras, ele reconhecia muito bem.

“Fica bem, estarei esperando por você.

Love, your Stella”

Ele leu as últimas linhas e não evitou que mais lágrimas caíssem. Ela merecia melhor, e ele não era o melhor para ela. Procurou nos bolsos uma caneta e quando achou, com as mãos tremulas, ele assinou seu nome nas linhas, e então estava acabado...

Seu casamento estava acabado.

#####