Laços - INTERATIVA escrita por Lubs


Capítulo 2
Capítulo 1 - Boatos


Notas iniciais do capítulo

OII

Eu sei, demorei bolinhas. Me perdoem, meus leitores xerosos, eu realmente não tive tempo. Mass, chego aqui com um capítulo bem graúdo procês!

Queria deixar bem claro que eu posso demorar o tempo que for, mas não pretendo desistir dessa fic.

A todos os comentários que eu recebi e não respondi: eu vou dar uma resposta muito linda a cada um deles ao longo da semana! Pretendo começar hoje, mas talvez não dê tempo.

É isso, aproveitem!



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Os corredores do Instituto St. Clair estavam infestados. Não de pessoas, insetos ou alguma espécie de vírus. Era algo muito mais prejudicial.

Eles estavam infestados de palavras.

Os sussurros se espalhavam rapidamente, como uma praga descontrolada que logo tomaria conta da escola inteira. Os sons de cochichos apressados, exclamações surpresas e conversas animadas sobre o novo assunto do momento formavam uma bela cacofonia que grudava no fundo de cada esquina do edifício. Quem passava nos corredores ouvia todos os boatos correndo igual água, mas sem realmente escutar algo além das palavras que todo e qualquer estudante do St. Clair, veterano ou novato, menina ou menino, ficaria sabendo naquele dia:

Eileen Eaton está de volta

C a p í t u l o  1  —  B o a t o s

Um ruído ecoou nas paredes brancas do banheiro vazio quando Arabella estalou os lábios. Fez um bico e checou no espelho, antes de pegar um papel e esfregar na boca para tirar o batom recém-aplicado. De dentro de uma das cabines, Terri falava sem parar.

—...e você acredita que ele disse que não vai me ajudar com os estudos esse ano? Algo sobre ser independente e coisa e tal. Do que adianta ter um irmão superinteligente se ele não vai te ajudar em nada?

Arabella soltou uma risadinha enquanto vasculhava a bolsa em busca de uma nova cor de batom.

—Mas você culpa ele? Tipo, sem querer te ofender nem nada assim, mas você realmente precisa parar de depender de Andy pra ir bem nas matérias. Ele te ajuda desde quando? Sexto ano? É muito tempo, Terri, e a gente se forma esse ano. Vermelho ou roxo?

—Usa aquele rosa que você comprou outro dia. Fica lindo em você e combina com a blusa que você tá usando.

Arabella estalou os dedos em aprovação e voltou a fuçar a bolsa em busca do tom desejado. Dentro da cabine, Terri suspirou e deu descarga.

—E eu sei que eu não posso depender do meu irmão pra sempre. Não é como se a gente fosse siamês ou algo do tipo, com toda aquela telepatia lá.

Ela saiu da cabine meio cabisbaixa, e sua amiga lhe olhou enquanto negava com a cabeça. Ela parou e franziu o cenho.

—Gêmeos siameses não são telepáticos?

—Não.

Terri piscou um par de vezes, com um semblante meio confuso. Arabella riu e tirou um batom de tubo preto da bolsa, abrindo para checar a cor

—Você tem certeza?

—Absoluta.

A cor estava correta. Terri deu de ombros e deslizou para cima do balcão de pias, sentada com as pernas balançando no ar. O único som do banheiro era o de Arabella aplicando o cosmético, enquanto sua amiga olhava para o teto e se perdia em meio às mil manchinhas pequenas no gesso branco. A loira comprimiu os lábios e checou no espelho, virando a cabeça em vários ângulos diferentes, até que se deu por satisfeita e aproximou o rosto para limpar as bordas com o dedo.

Com um gritinho esganiçado, Terri arregalou os olhos e olhou para a amiga como se houvesse descoberto algo muito importante. Arabella, acostumada com os ataques da outra, continuou o que estava fazendo, indiferente. A morena permaneceu encarando-a, inquieta, com um sorriso grande demais e as mãos tamborilando de maneira incessante no mármore. Parou, respirando fundo, e voltou sua atenção para a outra.

—O que foi, criatura?

Terri tomou fôlego e, rapidamente com uma expressão de ansiedade, soltou:

—Você viu que Eileen voltou?

Arabella abriu a boca, mas fechou logo em seguida. Voltou-se novamente para o espelho e, sem olhar para a amiga, respondeu:

—Eu vi.

Terri franziu o cenho, confusa. A loira costumava ser muitas coisas, evasiva não era uma delas. Algo estava errado, mas resolveu ignorar e agir como se não houvesse percebido nada.

—E você não achou, tipo, muito estranho? Ela saiu por um ano inteiro sem falar com ninguém, e voltou assim, sem mais nem menos.

Parou um pouco, mordendo a bochecha, antes de iluminar o semblante novamente. Ela adorava fofoca. Arabella havia retirado o batom da bolsa novamente e estava passando uma nova camada nos lábios – era uma mania dela. Não saía até que estivesse completamente satisfeita.

—O que você acha que aconteceu pra fazer ela ir e voltar desse jeito?

Com um clique alto, Dean fechou o cosmético e respirou fundo, audivelmente.

—Sinceramente, eu acho que o motivo dela ter ido pra puta que pariu e voltado é o mínimo dos nossos problemas.

Terri se calou, confusa. Até aquele momento, não tinha parado para pensar que Eileen no St. Clair novamente poderia ser visto como um problema e ainda não enxergava o porquê de sua melhor amiga encarar a situação daquela maneira.

—Por quê?

—Eu tô preocupada com Savanna.

Fez-se silêncio por alguns segundos, até que Henson riu um pouco para si mesma. Arabella, mesmo não aparentando, era uma amiga muito coruja.

—Nate terminou com Eileen, Arabella. Ele escolheu Savanna, acho que ela consegue entender isso e não ficar com ciúmes. Não sei se você já se tocou, mas Sav não faz exatamente o tipo agressivo.

—Não é ela que me deixa preocupada, ô cabeça de vento.

Terri, mais uma vez, franziu a testa. Parou de balançar as pernas, que penderam do balcão, inertes por alguns segundos, antes de serem puxadas para cima e cruzadas. A morena fitou um ponto fixo da parede enquanto o silêncio ecoava entre as duas. Em alguma pia, uma torneira pingou. Terri voltou sua atenção para Arabella, que continuava aperfeiçoando seu batom no espelho, sem aparentar nenhuma alteração de humor.

—Eu não acho que Eileen seja sem noção o suficiente pra se jogar pra cima dele quando ele tem uma namorada, ainda mais depois de passar um ano fora.

A loira riu, se apoiando no mármore por um minuto, antes de assumir uma postura séria, mesmo que o fizesse enquanto voltava a trabalhar nos lábios. Terri diria que já estava bom, mas sabia como a amiga funcionava. Era melhor deixa-la terminar sua “tarefa”.

—Você não entende, né? O problema não tá em Savanna, nem em Eileen. O problema é Nate.

Terri se empertigou, subitamente desconfortável com o rumo dos pensamentos de Arabella. No fim das contas, aquele era o namorado de uma de suas melhores amigas, ela não deveria tratar as coisas daquele jeito.

—Como assim?

Arabella soltou um risinho sem ânimo, jogando o tubo preto de batom dentro da bolsa. Estava quase terminando.

—Não é óbvio? Ele ainda ama ela.

As palavras foram como um tapa na cara de Terri. Savanna era uma amiga da qual gostava muito, e jamais falaria uma afirmação como aquela em voz alta, a maioria das pessoas não o faria. Mas Arabella não tinha os rodeios e floreios da maioria das pessoas. Tentando aliviar o clima, a morena soltou uma risadinha nervosa, com o intuito de parecer normal.

—Que? Não, Bella, você ‘tá viajando. Claro que ele ama Savanna, tá louca, menina? Desculpa aí, mas dessa vez você errou, amiga.

Ela apenas deu de ombros, ajeitando o cabelo.

—Sinceramente, espero que sim. Mas não conte pra ninguém, porque se não for verdade, eu sairia como errada.

Arabella estalou os lábios e sorriu, satisfeita com o trabalho que tinha feito.

—E eu nunca erro. Bora, não quero me atrasar pro terceiro horário.

Terri ergueu as sobrancelhas, enquanto descia da bancada da pia e seguia a loura em sua frente.  Ao andar nos corredores da escola, lado a lado, recebendo olhares diferentes de pessoas diferentes, não pôde deixar de pensar que, amando-a ou odiando-a, ninguém poderia discordar:

Não havia ninguém no St. Clair como Arabella Dean.

=+=

Aquela aula era um saco.

Lyra gostava de várias matérias, é verdade, mas química definitivamente não era uma delas. Tudo naquela aula lhe tirava do sério: os alunos mauricinhos daquela escola, sentados em duplas e cheios de frescuras, o tom monótono da professora e o próprio assunto. Ela nunca iria entender a lógica por trás de calcular o nox de um elemento químico.

Em sua cabeça, ela pensava em mil e uma piadas e respostas malévolas e desrespeitosas que poderia falar em qualquer momento daquela aula, mas apenas mordia a língua e se recolhia. Não podia se dar ao luxo de perder a bolsa que tinha naquele Instituto, ou poderia acabar em um internato do outro lado do país. Respirou fundo e revirou os olhos, se recostando na parede atrás de si. Lyra estava sentada no último balcão do lado esquerdo, o banco que deveria conter um outro aluno, do seu lado, estava vazio. Era a única pessoa na turma inteira que não tinha uma dupla, e não fazia questão.

Olhou em volta, analisando toda aquela estrutura de maneira desinteressada. Era um ótimo laboratório, com equipamentos e móveis de primeira, e para os amantes da química, deveria ser um sonho em forma de sala de aula: as paredes brancas, revestidas por armários lotados com produtos variados, cadáveres em conserva e ferramentas diversas; a grande tabela periódica colada atrás da mesa da professora e as bancadas com tampo de mármore, com dois bancos altos de madeira em cada, espalhadas pela sala. Lyra suspirou e deitou a cabeça na mesa, desejando estar de volta em sua escola, com seus amigos. Aquela aula definitivamente não estaria tão quieta e silenciosa se fosse o caso.

Passou um tempo com a cabeça encostada da pedra fria, as palavras entediantes no tom sem emoção entrando em seus ouvidos sem serem absorvidas. Embora parecesse, para Lyra, que haviam se passado horas, ela sabia bem que provavelmente não havia ficado mais que cinco minutos ali. Mal podia esperar pelo sinal, para poder ficar livre daquele inferno de aula.

Um barulho.

Ergueu o olhar, curiosa. Sentada ao seu lado, lhe encarando com olhos divertidos, estava uma menina bonita, que logo encheu seus olhos e despertou seu interesse. Tinha estatura mediana e corpo esguio, com um belíssimo tom de pele e cabelos negros repicados na altura do ombro. Lyra ajeitou a postura e, com um sorriso ladino de predador, ergueu as sobrancelhas. A garota apontou para o local onde a professora ainda fazia seu interminável discurso e falou:

—Insuportável, né? Toda aula dela é assim.

Lyra rolou os olhos, rindo de leve.

—Nem me fale, essa mulher é mais morta que meu último peixe dourado.

A menina franziu o cenho, com um sorriso de estranhamento, mas resolveu ignorar. Percebeu que seu humor negro não era de agrado da outra e fez uma nota mental de ser mais suave com ela, pelo menos inicialmente. A beldade sacudiu a cabeça de leve e estendeu a mão.

—Ravena Black. Nunca te vi aqui.

Lyra aceitou a mão que lhe fora oferecida e, do modo mais simpático que conseguia, respondeu:

—Lyra Carter. Sou nova aqui, ainda não conheço nada nem ninguém.

Ravena sorriu e fez um pequeno gesto de reverência brincalhona.

—Então é seu dia de sorte. Posso te mostrar o espaço, se quiser.

Era sua oportunidade de ouro. Vestiu o sorriso mais deslumbrante que tinha e se inclinou levemente para a frente, apoiando o cotovelo na bancada.

—Eu adoraria.

—Ei, vocês duas, aí no fundo! Querem pegar detenção no primeiro dia de aula?

Dentre todas as coisas que aquela professora havia feito durante a aula, interrompê-las havia sido a mais irritante para Lyra. Abriu a boca para responder algo petulante que, definitivamente, iria transformar a ameaça da mais velha em realidade, mas Ravena foi mais rápida.

—Não, professora. Sentimos muito por atrapalhar, não vai acontecer de novo.

Lyra revirou os olhos e bufou, cruzando os braços e se encostando novamente na parede. Ravena sorriu de leve para ela, mas se virou para a frente da sala, atenta à professora. Com a atenção presa na química que era ensinada, nem percebeu um par de olhos de cores distintas pregados em suas costas.

Aquela aula era um saco, aquela escola era um saco.

Lyra sorriu.

Pelo menos agora ela tinha um objetivo.

=+=

O refeitório do Instituto St. Clair era sempre barulhento, mas naquele dia, parecia especialmente movimentado. Uma das mesas centrais, normalmente alvo da atenção de muitos por ser a mesa onde se reunia a maioria dos jogadores de hockey, agora recebia olhares atravessados e era o centro do redemoinho de boatos que se espalhavam de ouvido a ouvido.

Sentada no meio de todos aqueles meninos, estava Savanna. Com o braço de seu namorado em volta dos ombros, a postura ereta e o olhar altivo, ela aparentava ser a imagem escarrada da menina perfeita. Comia uma simples maçã e ficava de segundo plano na conversa, entrando apenas quando chamada. Os amigos de Nate, embora muito simpáticos com ela, nunca haviam conseguido se aproximar, e ela se sentia deveras desconfortável ali sem Arabella ou Terri, que infelizmente tinham saído para comprar um hambúrguer e não voltado ainda.

Nate a olhou por um segundo e sorriu, e foi apenas natural para Savanna retribuir. Ele era o homem de seus sonhos, era perdidamente apaixonada por aquele menino desde que se entendia por gente, e finalmente o tinha como namorado. Ele ria de alguma piada que Osmond tinha feito, mas ela não sabia dizer qual, tinha se perdido nos olhos dele por alguns instantes. Foi tirada de seu transe quando Arabella chegou, empurrando Joshua Lee para o lado de maneira apressada, ignorando os protestos do garoto e se espremendo entre ele e Savanna.

—Você acredita que as batatas acabaram? Eles querem o que, que eu coma um hambúrguer sem batata? Inaceitável. Eu tive que comprar um cachorro quente!

Sentado à sua frente, Alexander Misbauer revirou os olhos para o drama de Arabella, que o olhou de cima a baixo e piscou um olho.

—Incomodado, belezura?

Savanna apenas soltou uma risadinha, olhando em volta.

—Cadê Terri?

—Ah, ela? Ficou parada na fila feito uma trouxa, esperando as batatas fritarem. Sinceramente, que falta de noção fazer a gente esperar!

E desatou a falar. Esses ataques por coisas fúteis era o que Savanna e Terri gostavam de chamar de “Arabellisses”, mas eram parte do que tornavam a amiga tão especial. Normalmente, ela tentava prestar o máximo de atenção, por respeito, mas não pôde evitar deixar a mente vagar naquele dia. Não era fã de boatos ou fofocas, mas certas palavras grudam e tomam conta de sua cabeça, lhe obrigando a pensar nelas até cansar.

No caso de Savanna, sua preocupação tinha nome, sobrenome e forma física.

O fim do namoro de Eileen e Nathaniel permanecia, para todos os efeitos, um mistério. Era sabido que tinha sido iniciativa dele, mas os motivos sempre pareceram, para Savanna, muito não-Nate. A atitude de permanecer com alguém por comodidade não condizia com seu namorado, e tudo lhe incomodava ainda mais quando ele fugia de qualquer confronto sobre um motivo mais tangível.

Mas daí também surgia a insegurança. O medo de que ele estivesse dizendo a verdade e que ela também era apenas uma comodidade, apenas algo certo que sempre estaria lá. Savanna não se sentia assim com ele, como já havia sentido com outros, mas não podia evitar que esses pensamentos obscuros criassem raízes em sua imaginação vez ou outra, porque era assim que ela funcionava. Quantas vezes não havia sido feita de troféu, apenas algo para exibir? Mais do que podia lembrar.

Um assobio vindo de Joshua quebrou toda a sua linha de raciocínio.

—Desconfortável...

Cantarolou, abrindo um sorrisinho logo em seguida. Savanna mal teve tempo de registrar o olhar irritado que Alex lançou ao outro, pois algo muito mais preocupante se seguiu. Ao seu lado, o corpo de Nate tencionou completamente, rígido como ela nunca tinha presenciado. Franzindo o cenho, buscou os olhos de Arabella, que tinha os lábios comprimidos e um semblante apreensivo. Ela percebeu um aumento no burburinho do refeitório, palavras venenosas rastejando feito uma cobra, se enrolando em seu corpo...

Olhou para trás e congelou.

Eileen tinha entrado pela porta do local. Estava sozinha, de cabeça baixa, e fazia tudo de maneira apressada, mas Savanna sabia que não seria assim por muito tempo. Nunca fora do feitio dela se recolher.

Todos a encaravam e, quando olhados de volta, desviavam o olhar.

A cobra subia pelo corpo de Savanna, deixando um trilho gelado por sua espinha, enroscando-se lentamente em torno de seu pescoço.

Com um baque, Eileen bateu a bandeja laranja da escola, ainda sem prato, no balcão de comida. Se virou para todos e, a com a voz tremendo de raiva e pingando o deboche que aquela mesa em específico tão bem conhecia, gritou.

—Tem algum ímã de olhos nas minhas costas, por acaso? Ou eu morri e não sei?

Todos se viraram de volta, começando uma nuvem tóxica de conversas, mas não Savanna. Ela permaneceu de olhos grudados na ex de seu namorado, a cobra apertando seu pescoço, lhe sufocando, tirando seu ar, todas as suas inseguranças gritando, enchendo seus ouvidos...

—Sav?

Piscou e se virou para aquela voz que tanto amava. Nate lhe fitava, o olhar transbordando preocupação. Se aproximou do rosto dela, colocando uma mecha de seu cabelo cacheado atrás da orelha e sorrindo, galante como era habitual.

O aperto afrouxou.

—Não se preocupe com ela. É passado. Eu te amo, ok?

Lentamente, a cobra ia voltando de volta para o chão. Ela assentiu com a cabeça, mas Nathaniel continuou a lhe encarar, com aqueles olhos magnéticos, aos quais ela não conseguia resistir.

—Ok. Também te amo.

Ele sorriu e a beijou. Parecia tão certo para Savanna, mas ela não conseguia calar aquela pequena vozinha preocupada que insistia em sussurrar no fundo de sua mente que ele ainda estava meio tenso.

Nate colocou as mãos em volta dos ombros dela mais uma vez e voltou a participar da conversa de seus amigos. Arabella permaneceu calada, e Sav evitava o olhar da amiga, que lhe fitava ininterruptamente, fingindo estar prestando muita atenção na conversa dos meninos. Pouco tempo depois, Terri chegou com seu hambúrguer, passando as mãos no cabelo. Empurrou Joshua para o lado, ignorando os protestos dele do mesmo jeito que a amiga havia feito e se sentou, assobiando.

—Cheguei! O que eu perdi?

Arabella olhou para Savanna, que tinha uma expressão impassível e transparecia que aquele episódio não havia significado nada. A loira sorriu e respondeu a outra com um tom leve:

—Nada demais. Cadê suas batatas?

Terri piscou e abriu um sorriso meio sem graça.

—Não ficaram prontas, aí eu desisti.

—Eu disse que não valia a pena! Mas, sério, é uma falta de respeito com o cliente. A gente paga tão caro por essa escola, aí chega na hora e as batatas acabam!

Nate olhou para a namorada, um grande sorriso pintando a face. Ela sorriu de volta, um sorriso pequeno. Ele lhe deu um beijo na testa e encarou seus olhos mais uma vez, antes de retornar ao que estava fazendo. A mente se Savanna continuou nos olhos.

Aqueles malditos olhos.

=+=

Eileen tinha esquecido sobre como os armários do St. Clair eram apertados demais para a quantidade de livros pedidos. O seu primeiro dia de volta tinha acabado, e fora tão estressante e cansativo quanto ela havia antecipado. Tinha vontade de sumir de novo só de pensar em ter que passar por aquilo todos os dias. Estava lutando para conseguir encaixar o módulo gigantesco de biologia no cubículo apertado quando uma voz conhecida soou atrás da porta de seu armário, carregada de sarcasmo:

—Você adora uma entrada triunfal, hein? Tarde demais, já perdeu a coroa do lugar.

Ela fechou a porta do armário à força e se encostou nele, voltando sua atenção para Alexander Misbauer. O corpo esguio do garoto tinha uma postura relaxada e despreocupada, e ele portava na face um sorriso maroto.

—O inferno continua meu, Alex. Já você, perdeu o namorado pra Savanna Pierce.

Ele deu de ombros e passou a mão pelos fios negros.

—Se Nate prefere ela, quem sou eu pra julgar?

Se encararam por um tempo antes de cair em gargalhada. Alex bagunçou os cabelos curtos de Eileen; sentira falta daquela piada. Surgira quando ela lhe disse que Nate passava mais tempo com ele que com ela, e que se fosse assim, eles que deveriam namorar.

—E aí, sumida, como vai? Mudou de visual, né?

Leen riu um pouco e fitou os próprios sapatos. Mexia os pés, como sempre fazia quando tocavam em um assunto sobre o qual ela não queria tratar.

—To indo, né. Tava cansada do cabelo comprido, resolvi cortar.— ela olhou em torno do corredor —E aqui? Tudo tranquilo no St. Clair?

Debochado, Alexander riu e fez um gesto que mostrava o fluxo de alunos que se dirigia para a saída.

—Tava tudo ótimo, mas a madame resolveu se fazer de desentendida e voltar sem falar nada. Causou a maior confusão.

Ela riu e comprimiu os lábios. Passou um período de silêncio desconfortável, em que Eileen ponderava se era ou não uma boa ideia externar o questionamento que rondava sua mente desde o almoço. Se fosse fazer essa pergunta para alguém, teria que ser para Alex.  Sabendo que se arrependeria profundamente depois, olhou para ele e começou, hesitante:

—Você... Você sabe se...

Se interrompeu. No corredor, Courtney andava com passos rápidos e ritmados, checando algo em seu celular. Ela tinha ignorado todas as suas tentativas de aproximação durante as aulas e fugiu do refeitório assim que a viu entrar. Precisava dela, necessitava de sua melhor amiga para enfrentar o início daquele ano. Alex ergueu as sobrancelhas, curioso.

—Se...?

Eileen ergueu o dedo e, já começando a andar para a saída da escola.

—Eu falo com você depois, pode ser? Realmente preciso resolver um negócio. Foi bom te ver, Alex!

Sem esperar resposta, disparou atrás de Courtney. Nunca fora a pessoa mais rápida e atlética, mas estava movida pela simples força do desespero. A outra caminhava em direção ao estacionamento, e Eileen sabia que, uma vez que entrasse em seu carro, Courtney não pararia para ouvi-la.

—Courtney!

Gritou quando ela entrou no meio dos veículos. A garota mal olhou para trás, apenas apertou o passo, enquanto Eaton continuava a correr atrás dela, suplicando. Quem passava, diminuía a velocidade para olhar, todos famintos para saber o que estava acontecendo ali. Normalmente, ela se irritaria e gritaria alguma resposta irônica, e Courtney explodiria. Mas uma só queria falar, enquanto a outra só queria se esquivar.

Quando ela chegou na porta do próprio carro, Eileen resolveu implorar uma última vez:

—Courtney, por favor! Me escuta, deixa eu falar com você! Por favor!

Harrison parou a meio caminho de entrar no carro e, lentamente, se virou para trás. Quando o fez, a outra já estava lá, ofegando e com o coração cheio de esperanças. Courtney suspirou e, desviando o olhar, endureceu a expressão e cruzou os braços.

—Tudo bem. Fale.

Eileen respirou fundo e olhou para aquela que considerava sua melhor amiga. A pessoa que lhe conhecia melhor que ninguém, e que agora se recusava a lhe olhar na cara.

—Me desculpe, Courtney. Do fundo do meu coração, me desculpe por ter sido uma completa idiota e ido embora sem falar nada com você. Eu senti tanto sua falta, você não tem a menor ideia do quanto eu queria falar com você nesse ano que passou. Todos os dias, não passava um em que eu não pensasse em te ligar. Você é minha melhor amiga, eu não sei o que eu faria sem você na minha vida.

Olhando para o chão, Courtney resmungou:

—Parecia saber muito bem.

Eileen se interrompeu. Exasperada, olhou para o céu antes de voltar sua atenção mais uma vez para a outra.  

—Olha, Courtney, eu sinto muito, de verdade, mas você não tem o direito de ficar puta comigo porque eu falei com Nate antes de falar com você, e nem foi-

Erguendo os olhos com uma raiva bruta, que fez Eileen se calar, Courtney vociferou:

 —Puta porque você falou com Nathaniel antes de falar comigo? Por favor, Eaton, você é mais inteligente que isso. Eu tô pouco me fudendo com quem você fala primeiro! Eu tô puta porque você foi embora! Você diz que é minha melhor amiga, que me ama, mas sumiu sem nem dizer tchau! Eu não tive notícias de você por um ano inteiro, tem alguma mínima ideia de como isso foi terrível? Claro que não, porque você só pensou no que importava pra você! No que seria melhor para você! E agora chega aqui e quer que tudo volte ao normal, sem mais nem menos? Não é assim que as coisas funcionam!

Parou, lhe encarando com tanta mágoa e ressentimento que Eileen teve vontade de chorar por fazer sua amiga se sentir daquele jeito. Depois de uns minutos tentando formular uma frase, voltou a falar, com a voz baixa. Dessa vez, era ela que não olhava a outra nos olhos, e sim fitava os pés inquietos.

—Por favor, Courtney. Me perdoe. Eu preciso de você.

—Então me diga o motivo.

Eileen permaneceu com os olhos fixos no chão. Abriu e fechou a boca algumas vezes, mas nada saiu. Courtney insistiu:

—Por que você foi embora, Eileen?

Ela ergueu os olhos ao ouvir seu primeiro nome. Uma atmosfera tão crua, rudimentar e sincera cercava elas, ela precisava da amiga tão desesperadamente, que quase cedeu.

Quase.

—Eu... Eu não posso lhe contar.

Falou baixinho, derrotada e triste. O rosto de Courtney voltou à expressão fria e defensiva do início.

—Então eu não posso te perdoar.

Entrou no carro, batendo a porta com força, e arrancou rapidamente. Lágrimas silenciosas, aos poucos, escaparam dos olhos daquela que foi deixada para trás.


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Notas finais do capítulo

Espero muuuito que vocês tenham gostado!

Aqueles que não viram os seus personagens ainda, fiquem tranquilos, cada um vai aparecer no seu próprio tempo.

Nesse iniciozinho, tudo se move mais lentamente e de uma maneira mais densa, por assim dizer, porque ainda estamos conhecendo cada um e a volta de Eileen ainda é novidade, mas logo a fic pega gás e tudo anda rapidinho.

Mais uma vez reforço: não vou desistir, não importa quanto tempo demore. Se não por mim, tenho um grupo de amizades muito eficiente que vai me cobrar e não vai me deixar largar Laços.

Até a próxima, meus doce de coco ♥



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