Zoe andou na direção da tenda de Ártemis, ela puxou seu casaco fechando melhor para manter o calor, ela olhou para cima, os flocos brancos continuavam caindo apesar das poucas nuvens, a lua estava brilhando em crescente no céu negro da noite, suas botas afundando na fina camada de neve recém-formada. Ela se abaixou e abriu a tenda para achá-la vazia, onde estaria sua deusa?

Ela saiu para procurá-la e um lampejo prata chamou atenção, ela se moveu para mais perto, silenciosa como uma caçadora deveria ser, se esgueirando pelas sombras e pelas árvores da floresta… no alto de uma pedra, Zoe encontrou aquilo que havia atraído sua atenção… era um animal magnífico, com pelo prata e de profundos olhos amarelos.

Ela se aproximou do lobo cinzento que olhava para a lua no céu, não demorou para sua presença ser sentida, o animal se virou e a encarou com aquele olhar que sempre deixava Zoe sem fôlego de tão intenso que eram.

“Minha deusa” ela disse ainda meio perdida no olhar de Ártemis, lhe faltava adjetivos para usar, era selvagem, forte, rigoroso, sábios e ainda sim, inocente e gentil quando sua deusa assim queria que fosse.

Mas Zoe a conhecia bem, podia dizer com precisão que ela estava meio melancólica naquela noite apenas pelos seus olhos.

O lobo balançou sua cabeça como quem estava convidando Zoe a senta-se junto dela, e Zoe foi. Ela subiu na pedra e sentou-se ao lado da deusa em forma de lobo voltando seus olhos para o céu, na mesma direção que ela, ambas contemplam a lua. Aquele silêncio confortável se instaurou entre elas e Zoe pensou em como ela se sentia bem ao lado de Ártemis.

“Eu gosto de olhar a lua, me lembra você.” Zoe disse e o lobo se virou para encará-la, mas ela não olhou de volta, ela continuou com sua face voltada para cima admirando a lua com um sorriso tolo no rosto.

Ela se surpreendeu quando sentiu pelos macios roçando em seu rosto, Zoe virou para ver Ártemis em sua forma de lobo acariciando seu rosto com seu focinho, ela sorriu e se inclinou para descansar sua cabeça junto com a da deusa.

Depois de uma quantidade de tempo que Zoe não conseguia medir, poderia ter sido alguns minutos ou quem sabe, algumas horas, ela sentiu Ártemis mudar de forma a seu lado, ela olhou quando seu corpo se transformou em luz prateada e quando a luz se foi, a deusa estava de volta a sua forma de menina.

Ela abriu seus olhos. Era simplesmente inacreditável com não havia diferença entre seus olhos humanos e seus olhos animais, ainda tinha aquela mesma ferocidade fascinante, a mesma inocência e sabedoria e… a mesma beleza imensurável.

“Obrigada” disse Ártemis e Zoe ficou confusa, parecia que ela havia entrado no meio de uma conversa e ficou sem entender qual era o assunto. “Pelo que?” perguntou se virando para sua deusa. “Por sempre está ao meu lado.” respondeu e Zoe se sentiu estranhamente emocionada e tímida naquele momento. “Não é mais do que minha obrigação”

Ártemis levantou uma sobrancelha cética. “Tenho motivos para crer, que seja um pouco mais do que mera obrigação, minha valente caçadora.”

Zoe a olhou sem poder evitar um leve rubor que surgiu em suas bochechas. “Talvez seja, sim.” conversou em voz baixa.

A deusa estendeu sua mão e puxou suavemente o queixo de Zoe até seus lábios se encontraram em um beijo casto e puro, quando se separaram, Ártemis disse: “Eu não estava olhando para a lua, e sim para as estrelas, por que elas me lembram de um sentimento que ainda me é estranho, mas quando estou com você, esse mesmo sentimento é bem mais simples.”

Zoe ficou um tempo atordoada sentindo a neve ficar mais forte naquele momento, ela viu a deusa se levantando e saindo na direção do acampamento onde as outras caçadoras a esperavam. “Está frio esta noite, junte-se a mim, em minha tenda.” Artemis disse olhando para trás, e Zoe se levantou e a seguiu, ainda com as palavras de sua deusa reverberando em sua mente, mas ela sentia que não era o momento para pensar em coisas tão difíceis de se lidar, ela apenas aproveitaria o momento precioso que estava em suas mãos.