Os segredos de Eva escrita por calivillas


Capítulo 6
Um dia muito intenso




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Por um longo tempo, Caroline admirou o grande quadro a óleo de Eva Montserrat com os lábios vermelhos e os cabelos louros brilhantes, o ar triste e enigmático de quem esconde algum segredo. O retrato de uma estrela. E sim, ela tinha um segredo muito bem guardado: Caroline.

— Muito bonita, não é? — Murilo parou ao lado dela, como um indisfarçável olhar de admiração.

— Sim, muito — falou com sinceridade.

— Esse quadro estava na casa de Madrid, Ortega deu de presente a Eva, mas ela mandou trazê-lo para essa casa, junto com todos os seus prêmios e fotos. Esse é seu pequeno museu particular.

A garota começou a observar as fotos emolduradas de Eva que recobriam as paredes, onde estava com várias personalidades importantes, tanto do mundo do entretenimento quanto da política, além de cenas de filmes, premiações e programas, que participou durante toda sua vida. Analisava com muita atenção, tentando descobrir em que momento, Eva estaria grávida dela.

Uma das empregadas surgiu na porta e suspirou aliviada, ao encontrá-los ali.

— Murilo, a senhora Ruiz pediu para você ir ao quarto dela, porque não consegue cochilar por causa das dores dos quadris.

— Vou dar um pouco de prazer a velha bruxa — Ele tinha um tom entediado. — Você consegue achar o caminho de volta?

— Pode deixar. Joguei algumas migalhas pelo caminho.

Eles saíram a deixando sozinha, cercada pelas memórias. Cansada de ficar naquele templo a Eva Montserrat, Caroline saiu caminhando pela casa, cada vez mais impressionada com a decoração de bom gosto, reconhecendo alguns quadros de artistas famosos. Passando por uma porta aberta, sua curiosidade a fez olhar lá dentro, era uma sala mais parecida com um pequeno cinema. Olhou para um lado e para o outro e entrou, ficando admirada com a gigantesca TV, as estantes cheias de DVD de todos os tipos, a incrível aparelhagem de som e vídeo, nas paredes cartazes de filmes da estrela, as poltronas grandes e macias, escolheu uma e sentou-se confortavelmente em uma delas e se espreguiçou.

— Você quer assistir algum filme? — Ela se assustou, olhou para o canto de onde veio a voz, encontrou Haikai, que tirou os fones de ouvido e abaixou o livro que tinha nas mãos.

— Desculpe, não queria ser intrometida — respondeu, sem graça.

— Não se preocupe, esse lugar existe para isso mesmo, apesar de quase ninguém usar.

— Então, se não tiver problemas, eu gostaria de assistir um filme.

— Alguma preferência?

— Eu queria assistir um filme de Eva, se você não se importa.

— Jura? Eu não me importo. Qual deles?

— Qual é o seu preferido?

Sem falar nada, ele se levantou, preparou o vídeo e sentou-se ao lado dela.

— Temos uma máquina de pipoca, se você quiser.

— Não, obrigada. Estou bem.

— A maioria dos filmes de Eva não são muito bons. Eles a obrigavam fazer aqueles filmes bobos de amor e final feliz. Mas, esse é o melhor de todos, onde ela mostra todo o seu talento, mas não fez muito sucesso, é quase desconhecido, considerado cult — Haikai explica, antes do filme começar.

Ele tem razão, é um drama emocionante, denso e com um triste final, ambientado no pós-guerra, a história sobre uma moça da alta sociedade, que se apaixona por um jovem imigrante japonês e que são impedidos de ficar juntos, pelo preconceito da época, até se reencontrarem na velhice.

— É, realmente, lindo, Haikai. Nunca imaginei que Eva tivesse tanto talento — Caroline comenta durante os créditos finais do filme.

Ele congela a imagem em um nome.

— Esse é meu pai — ele revela. — Ele e Eva se conheceram durante filmagem desse filme no Japão, se casaram logo depois. Meu pai era viúvo, minha mãe havia morrido, logo depois que nasci, ele era um homem muito solitário. Acho que os dois eram solitários. Eva me adotou após o casamento. Foi estranho.

— E onde está seu pai, agora?

— Não sei. Nós nos mudamos de país por causa dos trabalhos de Eva, mas meu pai não conseguia mais nenhum papel, Eva nos sustentava, o que era uma desonra para ele, então, começou a beber, depois, vieram as muitas brigas e quando se separaram, eu fiquei e nunca mais vi meu pai.

— Eu lamento.

— Eu falo demais, perdi essa boa característica do meu povo. Mas, valeu pela companhia.

— Valeu, Haikai.

Ele se levantou e sumiu pela porta. Caroline achou melhor fazer o mesmo, nessa hora, as luzes da casa começaram a serem acesas, com a prematura chegada da noite, devido as pesadas nuvens de chuva no céu vespertino. Queria se preparar para o jantar, descansar um pouco, mas para onde ficava mesmo o anexo? Se, pelo menos, encontrasse alguém, mas todos haviam desaparecido, assim, andou a esmo. Até quase se chocar com uma pessoa no meio de um corredor.

— O que está fazendo aqui? — A pergunta soou ríspida.

— Estou perdida, não encontro o caminho para o anexo — Ela se sentia intimidade diante do arrogante Tom Miller.

— E quem é você?

— Fomos apresentados essa tarde, sou a secretária do doutor Lutz, Caroline.

— Ah, sim, eu me lembro de você, no almoço.

— Estava assistindo um antigo filme da senhora Montserrat com Haikai — explicou sua presença ali, ele ficou visivelmente surpreendido.

 — Eu a levo ao anexo — concluiu de um modo mais suave.

— Não será preciso, não quero incomodar, só me diga o caminho.

— Não seja boba! Você não encontrará o caminho, facilmente. Essa casa é um labirinto, muito grande.

O homem começou a andar e Caroline o seguiu, com certa dificuldade de alcançar seus passos largos.

— Essa casa é muito bonita.

— Obrigado. Fui eu quem a planejou e construiu, foi assim que conhecia Eve. Eu sou arquiteto, ela viu alguns dos meus trabalhos e me procurou. Tinha esse sonho de construir uma casa em uma ilha, para se esconder do mundo. Quando começamos o projeto seria bem mais simples, mas depois...Eu vivia dizendo que a casa estava ficando enorme e muito cara, mas ela queria saber de cada detalhe. A todo momento, vinha com uma ideia diferente: uma sala de exibição, um jardim de inverno, um canteiro de plantas exóticas, mas ela não se importava com os custos, Ortega estava pagando por tudo, então, dinheiro não era um problema.

— Mas, ela ficou muito bonita.

— Você já disse isso antes. — E ele poderia ser um pouco menos rude. — Desculpe, mas estou irritado por estar aqui, com toda essa gente.

Estavam no jardim de plantas exóticas, Tom se sentou em um dos bancos, ombros caídos, encarando o chão de bridas, Caroline ocupou o lugar ao seu lado.

— Eu amava Eve, de verdade, mas ela veio com toda aquela bagagem que a cercava, todos aqueles segredos, fatos da sua vida que não revelava. Eu sentia que tinha me casado com uma personalidade pública e não com uma mulher. A minha mulher. Porém, quando ela morreu... — Ela parou de falar e passou a mão no rosto, estava chorando.

— Eu lamento muito, não sei o que dizer.

— Não diga nada, não é preciso. Vá para o seu quarto e me deixe um pouco sozinho, por favor.

Por alguns segundos, Caroline hesitou, não queria deixá-lo ali, sozinho com sua tristeza, mas por fim, se decidiu e foi para o seu quarto.

 

 Foi um dia muito intenso, tantas revelações sobre a sua mãe, mas nenhuma lhe ajudou a entender aquela mulher, que a gerou e a abandonou. Procurou o seu telefone pensou em ligar para casa, mas não tinha sinal. Era de se imaginar em um lugar no meio do nada. Mesmo assim, poderia ter uma noite tranquila, tomar um longo banho de banheira com sais, que planejou, em seguida, dormir, esquecendo-se do jantar e de toda aquela gente.

No entanto, o telefone da casa tocou, relutou em atender, mas era melhor que sim. Do outro lado da linha estava Gustav.

— Já está pronta?

— Acabei de voltar para o meu quarto, estava pensando em tomar um banho e descansar um pouco.

— Por favor, Caroline, apronte-se e não se atrase para o jantar.

Ao desligar, deu um longo suspiro e foi para o banheiro, ciente que não haveria uma noite tranquila para ela.


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