Os segredos de Eva escrita por calivillas


Capítulo 23
Sweet Caroline




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— Como assim? Descobrir minha identidade? Mas, por quê? – Caroline indagou, assustada com aquela informação, imaginando ser caçada como uma presa rara.

— Notícias. Sensacionalismo. Todos gostam de uma história improvável, como a sua, de criança rejeitada e abandonada a uma mulher milionária, ajuda a enfeitar a vida monótona da maioria das pessoas.

— E agora, o que devo fazer? Como devo agir? —   quis saber, aflita.

— Aja naturalmente, continue levando sua vida como sempre, não se exponha, nem revele a ninguém a verdade sobre quem é, assim temos chance de levar essa situação até quando for preciso. Avise seus pais para manterem o silêncio.  Aquela história de prêmio de loteria foi muita boa, sendo assim, a sustente.

Ao encerrar a ligação, Caroline sabia que seria só uma questão de tempo, que a rede de mentira que se formara em torno dela, estava se desfazendo, de maneira lenta e ameaçadora.

Sábado amanheceu ensolarado e fresco, perfeito para o passeio ao ar livre, combinado com tanta antecedência, Caroline e Tom se encontraram um parque da cidade, nas primeiras horas da manhã, aproveitando o local quase vazio, usando roupas casuais e discretas, bonés e óculos escuros para não serem reconhecidos, tudo isso fazia parte da paranoia que os cercavam. Chiffon, o cãozinho de Eva, usando uma coleira bem estilosa de pedrarias de uma marca italiana conhecida, que fez Caroline achar graça.

— Não tinha outra, essa era a mais discreta — Tom respondeu, sem jeito, passando a mão na nuca, diante da expressão divertida dela.

Tentaram começar a caminhar, mas o cãozinho resistente empacou, com medo do desconhecido e vasto mundo a sua volta. Por fim, vencido, Tom o segurou, no colo.

— Acho eu ele não está acostumado a todo esse espaço, quase nunca saía de casa para o ar livre — revelou.

— Então, será melhor irmos com calma, para que se acostume.

— Deu para perceber que esse passeio era só um motivo, para ficar com você?

— Não tem importância, porque eu também queria estar aqui, com você.

Ele alcançou a mão dela e seus dedos se entrelaçaram, andaram assim por algum tempo, de mãos dadas, conversando sobre assuntos banais, então a densidade de pessoas ao seu redor, começou a aumentar.

— É melhor a gente sair daqui — Caroline ponderou, já um tanto tensa, olhando em volta, não queria correr riscos. Tom sacudiu a cabeça, concordando. Eles voltaram, apressados, cabeças baixas, sem olhar para os lados, até se aproximarem do carro dele,

— Foi uma pena, que passou tão rápido — Caroline lamentou, diante da despedida.

— Não quero me separar de você, podemos ir para algum lugar mais tranquilo.

— Eu não sei, mas pode ser arriscado.

— Gosto de correr risco. Além disso, não estamos fazendo nada de errado.

Ela hesitou, sabia que era desonesto e perigoso, no entanto, não queria deixá-lo, assim confirmou com a cabeça.

— Vamos para qualquer lugar.

— Antes, preciso deixar esse amiguinho em casa – disse, esfregando ao dorso do cão.

O loft de Tom, situado em um edifício de luxo em uma discreta rua de um bairro nobre, não era muito grande, um apartamento praticamente sem paredes, com uma cozinha americana bem montada, salas de estar e jantar conjugadas e, em um piso mais elevado, separado por três degraus, o quarto com uma grande cama de casal, tudo em sombrios tons de cinzas e marrons, com alguns quadros de cores mais fortes nas paredes. O lugar era sofisticado e descolado ao mesmo tempo, tinha o cheiro dele impregnado no ar.

Assim que chegaram, Tom colocou Chiffon no chão, que correu para a sua vasilha e bebeu água com sofreguidão, em seguida, deitou-se na sua caminha, com a língua de fora e um ar feliz.

— Apesar de tudo, acho que ele gostou do passeio — Caroline admitiu, observando o cachorro.

— Ele fica muito sozinho aqui. — Tom disse, enquanto enchia a outra vasilha de ração e depositava no chão. — Quer beber algo?

— Só água, por favor.

— Sente-se um pouco.

Ela hesitou, não era sua intenção demorar muito tempo ali, mas acabou se instalando em um dos sofás forrado por um macio tecido cinza. Ele lhe entregou o copo com água e se sentou próximo a ela, porém, a uma distância segura. Cada vez menos, sentia-se confortável ao lado dele, lembrando-se que o estava enganado, com receio da sua reação quando descobrisse a verdade.

— Queria mostrar uma coisa a você. — Tom pegou o telefone e o som da música encheu o lugar. Escutaram os primeiros refrãos calados. — Sweet Caroline de Neil Diamond, é uma música antiga, mas bem famosa na época, foi regravada várias vezes, até por Elvis Presley — ele declarou.

— Eu sei, sempre a ouço, lá em casa. Foi a primeira música que meus pais dançaram juntos, quando eram adolescentes. Por causa dela, eu me chamo Caroline.

— Eles estavam certos, pois tem muito a ver com você. E agora eu olho a noite. E isso não parece tão solitário. Bons tempos nunca pareceram tão bons — ele recita a letra da música, com os olhos afundados nos delas. Aqueles olhos azuis transparentes e brilhantes. Ela sente um nó na garganta. Ah! Se ele soubesse!

— Enfim, acabamos não falando sobre o livro — Caroline afirmou, mudando de assunto.

Tom afundou, o seu olhar perdeu o brilho, soltou um doloroso suspiro, ela sabia que era um assunto delicado, se arrependeu de tocar nele, naquele momento, mas já estava feito.

— Você leu o que falaram sobre mim?

— Sim, mas é tudo uma imensa bobagem.

— É muito estranho e incomodo ver a sua vida, seus amor e sofrimentos expostos, assim de uma maneira tão errônea e sem cuidado, por alguém que não entedia de nada sobre aquilo.

— Então, explique para mim — ela pediu com suavidade.

— Como poderia falar do amor por uma outra mulher com você, doce Caroline.

As mãos dele alcançaram a dela.

— Eva está morta, não estamos disputamos o seu amor, mas eu sou curiosa.

— Uma curiosidade um tanto mórbida — Tom lhe deu um sorriso triste.

— Pode ser, só quero saber mais sobre você.

— Não há muito para saber sobre mim, só não acredite no que falam, não sou um homem tolo e encantado por uma grande estrela. Posso até ter sido no começo da minha relação com Eva, porque estava completamente apaixonado, não conseguia enxergar os defeitos dela. Até que um dia, caiu a venda e eu vi a verdadeira Eva, uma mulher que buscava ser amada desesperadamente. Talvez por não reconhecer isso, ela não percebeu quando foi muito amada.

— Foi assim com você?

— Sim, e de ima certa maneira, também, com primeiro marido, Ortega. Mas, Eva não entendia, talvez, tivesse medo de amar e ser amada.

— Ela devia ser alguém muito complicada

— Sim, pode se dizer que sim.

Ele pegou seu telefone e, novamente, Sweet Caroline encheu o ar.

Quem teria acreditado que você viria — Ele repete uma frase da música, olhando direto para ela.

            Nesse momento, o telefone dela toca.


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