Os segredos de Eva escrita por calivillas


Capítulo 17
Mais mentiras




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Ao ouvir a ordem de Gustav, Caroline não conseguiu acreditar, olhou para o homem mais jovem, em seguida, para o mais velho, que mantinha o semblante duro e impassível. Sabia que precisaria manter o seu papel, por um certo tempo.

— Sim, doutor Lutz — Abaixou a cabeça e saiu da sala, passando por Gustav, ainda parado na porta, olhando para Tom de um jeito frio, depois, se voltou para ela.

— E não demore, por favor, pretendo sair antes do anoitecer.

Caroline sentiu o peito apertar, seria a última vez que veria Tom? Precisava lhe passar o número do seu telefone, mas como? Então, teve uma ideia, voltou para o seu quarto, arrumou rapidamente os seus pertences, jogando dentro da pequena mala. Anotou seu telefone em um pedaço de papel, saiu do quarto, se esgueirando pelos cantos, fugindo dos olhares dos outros hóspedes, subia as escadas, passou pelo corredor, desceu a escada em caracol, até o escritório de Tom. Olhando em volta, considerou onde poderia colocar sua pequena mensagem para que fosse encontrada apenas por seu destinatário, escolheu o bolso do casaco que o viu usar várias vezes, nesses últimos dias, na esperança que ele o encontrasse. Hesitante, partiu, sua bagagem já estava sendo colocada no barco, quando chegou ao cais, Gustav a esperava.

— Por onde andava, Caroline? Não quero que essa viagem de barco se prolongue noite a dentro — disse, como dissimulada calma.

— Desculpe.

— Já que está aqui, podemos partir.

Ele olhou em volta, esperando por outros passageiros.

— Só iremos nós dois?

— Os outros irão amanhã cedo. Aproveitaremos a oportunidade para discutir o seu futuro.

— O meu futuro?

— Evidente, pois sua vida mudou muito. Precisamos nos planejar em relação a isso. — Ele fitou pelos cantos dos olhos os marinheiros, que preparavam a viagem. — Discutiremos esse assunto depois, quando estivermos no mar, assim, teremos mais privacidade.

Isolados na cabine do barco, Gustav sentou-se diante de Caroline, discorrendo sobre vários assuntos financeiros que desconhecia, a deixando um tanto apreensiva.

— Não se preocupe, todos os negócios são bem administrados. Mas, precisamos pensar no lado prático, imediato, como a mudança de casa.

— Mudança de casa?

— Sim, vocês não pretendente viver no mesmo lugar?

— Não, mas...

— Sendo assim, providenciarei um apartamento mobiliado provisório, poderão se mudar quase imediatamente.

— Tão rápido!

— Vocês não precisarão de muito, só alguns bens pessoais, documentos e objetos de estimação. O restante será arranjado ao gosto de você e da sua família. Sabe dirigir ou prefere um motorista?

— Motorista? Preciso de um motorista?

— Acho conveniente.

— Eu prefiro um carro, para poder ir a faculdade.

— Lógico. Outro detalhe, quanto a essa recente amizade entre você e Tom, suponho que não seja uma boa ideia.

— Por quê? — Caroline o encarou, confusa.

— Porque não sabemos as verdadeiras intenções dele, desconhecemos com andava a relação entre ele e Eva. Mesmo assim, é estranho que ele a queira substituir tão rápido, ainda mais...

— Ainda mais, por uma garota como eu, já que ele teve Eva — ela o interrompeu de modo brusco.

— Não endeuse Eva, Caroline. Essa mulher perfeita só existia nas telas e na mídia. Ela era uma pessoa como qualquer uma, como virtudes e defeitos.  

Assim, eu um piscar de olhos Caroline e seus pais estavam entrando em um apartamento decorado de um prédio de luxo, em um dos endereços mais caros da cidade.

— Eu acho que não vou me acostumara a viver aqui, nesse lugar, minha filha? — sua mãe disse, um tanto acuada, olhando a sua volta para sala, quase do mesmo tamanho da sua antiga casa, o suntuoso chão de mármore, os móveis reluzentes de marchetaria, as cortinas drapeadas, era assustador para quem sempre morou em uma pequena casa suburbana.

Será que um dia, eles chamariam um lugar como esse de lar?

— Mãe, esse lugar é só provisório. Gustav disse que logo teremos um lugar nosso, que você poderá decorar do jeito que quiser — Caroline tentava tranquilizar a mãe, que tinha uma expressão aterrorizada, com medo até de se mexer para não estragar nada.

Já seu pai estava curioso e empolgado, andando de um lado para outro, abrindo portas, checando armários, desaparecendo e reaparecendo, com um comentário sobre uma nova descoberta.

— Tem um banheiro no quarto, com uma banheira que parece até uma piscina — falava e, em seguida, sumia de novo.

— Como eu vou limpar isso tudo? — a mãe gemia, olhando em volta, desolada.

— Não seja boba, mãe. Teremos uma equipe de empregados. A agência irá mandar amanhã, logo cedo — ela respondia, achando graça.

— Vamos ter um monte de estranhos dentro de casa?! — Agora, ela estava um tanto assustada.

— Sim, é preciso para manter tudo isso organizado.

— Vocês precisam ver! O armário é maior do que o nosso quarto lá de casa, Laurita! — seu pai apareceu, outra vez, todo animado.

— Manoel, para de xeretar por aí!

— Deixa o pai, mãe! Precisamos conhecer o lugar que vamos morar. Pai, esse lugar chamasse closet — Caroline explicou, teriam muito que aprender.

A grande surpresa foi quando ela voltou a faculdade, após alguns dias, pois teve que se ausentar, por causa da viagem e para tratar de alguns problemas legais. Imaginava como explicaria aquela súbita mudança de vida para os amigos e parentes.

— Não fale que ganhou todo esse dinheiro, pois vai chover gente na nossa porta pedido favores e empréstimo — sua mãe a advertiu.

— Mas, eu quero ajudar.

 — Sim, você pode ajudar, um pouco, mas nem com todo o dinheiro do mundo, vai conseguir ajudar a todos. Temos que ser discretos, não quero despertar inveja, nem olho gordo.

Sua mãe tinha razão, seria melhor inventar uma história qualquer, algo para explicar esse inesperado dinheiro, então, decidiram mentir sobre um prêmio de loteria, como a possível causa da sua rápida ascensão social.

— Eu não acredito, Carol! Que sorte, ganhar na loteria! — sua amiga Lia exclamou, ao reencontrá-la com as novas roupas, cabelo e maquiagem, pequenos luxos que nunca pode ter. E até mesmo um carro, nada muito caro ou chamativo, um modelo compacto e moderno, vermelho, como sempre sonhou ter.

— Meu pai sempre jogou — Isso era verdade. — Ganhou um pouco de dinheiro, não tanto assim — respondeu, um tanto culpada, por mentir para a amiga, sem conseguir olhar nos olhos dela, no entanto, Lia estava tão empolgada com a novidade que nem percebeu.

— Muito dinheiro?

— Nem tanto. Por favor, não fica falando isso por aí — pediu, quase sussurrando.

— Pode deixar.

— Vamos para aula? — Não aguentava mais continuar fingindo para amiga.

Se a amiga soubesse a verdade, se descobrisse quem era realmente sua mãe, Lia a perdoaria por mentir para ela? Sequer queria pensar na hipótese de perder a amizade de Lia, de decepcioná-la, entretanto, precisava manter seu segredo, por enquanto.

Na sala de aula, Lucas já estava no lugar de sempre, ao lado de duas cadeiras vazias, seu queixo literalmente caiu ao ver Caroline.

— O que aconteceu com você, Carol? Você está tão... diferente.

— Você quer dizer bonita — Lia o corrigiu de modo ácido, visivelmente enciumada, sentando-se ao lado dele.

— É bonita, mesmo — ele se corrigiu.

Lia olhou para Caroline, esperando sua aprovação, que concordou com um leve aceno com a cabeça.

— O pai dela ganhou na loteria, mas não conte por aí — cochichou no ouvido do amigo.

— Pode deixar — Lucas sussurrou, balançando a cabeça com ar muito sério.

E o professor entrou para começar a aula.

Era muito fácil se acostumar com o dinheiro e as comodidades que ele trazia.


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