Sake – Nossa história oficial escrita por Cínthia Zagatto


Capítulo 5
Capítulo 5




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O relógio marcava mais de onze horas quando Melanie Ritter encerrou a apresentação com um leve atraso e um agradecimento discreto no microfone. Sebastian se levantou e esticou as pernas pela primeira vez em tanto tempo com um ofego de alívio. Levou o violão até a caixa encostada em um canto do palco, depois voltou para recolher o microfone e os cabos e guardá-los em outra bolsa. A parceira já tinha o dela arrumado e fez um movimento de cabeça para convidá-lo a acompanhá-la.

Ele ainda terminou o que fazia antes de deixar os instrumentos sobre o palco e andar até uma das poucas mesas ocupadas do local. Tinha a certeza de que nunca vira tantas pessoas entrarem e saírem de um restaurante em um espaço tão curto de tempo como naquele domingo, mas a rotatividade alta também fazia com que ele sempre parecesse vazio. Talvez gente rica não precisasse aproveitar esse tipo de jantar caro. Se fosse ele, provavelmente ficaria lá a noite toda.

Melanie terminava de abraçar o irmão quando ele finalmente conseguiu se aproximar dos dois. Ela esticou uma mão em sua direção, ao que mantinha o rosto voltado para Jake, e explicou a ele:

— Eu mal podia esperar pra apresentar vocês dois. Esse é Sebastian, meu novo sócio de palco. — Então inverteu a posição da mão para continuar. — Seb, esse é Jake, meu irmão.

Antes que pudesse responder, o mais velho dos Ritter arqueou as sobrancelhas e deu um passo à frente. Esticou a mão direita para ele e se virou levemente na direção da irmã em uma falsa discrição:

— Eu sei quem ele é. Sebastian Invade-Quartos.

Sebastian apertou a mão que lhe era oferecida. Assentiu de imediato, como se concordasse com a apresentação, então se apressou a olhar para Melanie também. Completou por cima do apelido que recebia, a fim de afirmar que o irmão dela tinha certa razão:

— Sim. Jake Escuta-Atrás-De-Portas.

Jake estreitou os olhos e virou o rosto em sua direção. Soltou sua mão ao que ele começava a fazer o mesmo, e Melanie alternou o olhar entre eles. O sorriso dela cresceu gradativamente e, por fim, ela se virou para o irmão:

— Vocês se conhecem? Ele não conhece ninguém na cidade e decidiu conhecer logo você, assim, do nada? Você se importa de não espantar justo ele? Ele é o melhor guitarrista que eu conheço por aqui.

Sebastian disfarçou com a atenção no chão e esboçou um sorriso de canto. Tomou cuidado para que um riso maldoso não se fizesse audível, enquanto deixava que ele levasse a bronca. Não sabia exatamente por que Melanie julgava que ele a merecia, mas assim se sentia vingado pelo apelido estúpido que acabara de receber.

Jake entreabriu os lábios e apontou para o próprio peito com as duas mãos. Notou que Sebastian se divertia com a situação, então controlou a voz esganiçada para que não soasse alta demais para o ambiente tranquilo, mas, ainda assim, divertida:

— Eu venho comemorar o seu aniversário sozinho e é isso o que eu ganho em troca?

Melanie não abafou o riso. Esticou-se para deixar um beijo de batom claro em sua barba de tom castanho-médio. Ergueu a mão para esfregar qualquer marca que pudesse ter deixado na região, então se voltou para o amigo:

— Não deixe ele te assustar. Por que vocês não se sentam? Eu vou pedir pro Bill me ajudar a levar as coisas pro carro.

— Você não quer ajuda? — Sebastian apontou na direção do palco, mas logo recebeu um sorriso e teve a mão dela repousada em seu ombro.

— Não, são só umas caixas.

Melanie lançou mais um olhar na direção do irmão e agora a expressão já não parecia amigável. Um resto de sorriso em Jake terminou de sumir aos poucos, enquanto tentava novamente descobrir o que ela lhe dizia. Desta vez, o estalo veio. E, no lugar de recuar um passo sob aquela ameaça muda, lançou-se em uma corrida breve na direção da cadeira do outro lado da mesa. Aos tropeços, puxou-a para Sebastian, enquanto a irmã pegava o celular e ligava para o motorista que a esperava em algum lugar ali perto.

Quando Melanie se afastou na direção dos instrumentos, Sebastian já mantinha um sorriso silencioso nos lábios por notar, outra vez, o quanto seu irmão era atrapalhado.

— Você disse que tá aqui pra comemorar o aniversário dela?

— Eu tô. — Jake apoiou um pulso sobre a mesa. Lançou uma risada divertida para ele e bateu levemente o polegar e o indicador juntos na madeira, em um ato distraído, enquanto mantinha a atenção em seu rosto. — Ela brigou comigo o dia inteiro porque não me viu andando pela festa. Como se fosse fazer alguma diferença pra ela, mas... Eu não sei se você conhece a Melanie. Ela consegue o que ela quer e aqui estou eu.

— Que aniversário caro — Sebastian resmungou com a voz entalada na garganta. — Que bom que ela não sentiu a minha falta por lá se esse for o castigo pra todo mundo.

Uma risada sonora escapou do fundo da garganta de Jake. Ele pousou os olhos em seu rosto, embora não fosse retribuído, e notou que Sebastian parecia desconfortável com o ambiente agora que havia descido do palco. E Jake conseguia entendê-lo, por mais que não tivesse realmente um motivo para isso, após frequentar tantos bistrôs e festas em mansões ao lado dos pais. Diminuiu a voz em uma tentativa de agradá-lo:

— Bizarro, né?

— Desculpa. Bizarro? — Sebastian respondeu com o cenho franzido, enquanto finalmente se virava para ele. Devia ter perdido alguma parte do que ele dissera, enquanto olhava os lustres em formatos de castiçais dispostos pelas paredes.

— É. Como um lugar assim faz a gente se sentir como um peixe fora d’água.

Sebastian abriu a garrafa da qual vinha bebendo pelas últimas horas. Ela ainda estava cheia pela metade e já não era suficiente para saciar qualquer tipo de necessidade. Agora que a garganta não estava seca ao cantar, o estômago revirava com os poucos petiscos que beliscara o dia todo. Em geral, costumava comer direito, mas aquele não era um dia como no geral. Aquele fora um dia para relembrar como havia se sentido por cerca de dois longos meses, antes de decidir pela mudança para Los Angeles. Ergueu os ombros, tampou novamente a água e retornou à parede em que vinha prestando atenção.

— Na verdade, eu tava pensando em como queria poder ficar mais tempo.

— Oh! — O rosto de Jake lutou entre qual expressão demonstrar primeiro. Os lábios queriam sorrir, mas a resposta o deixara surpreso demais para isso. Talvez o tivesse lido errado e Sebastian fosse tão acostumado com lugares caros quanto ele e a irmã. Apenas não era o que suas roupas diziam, embora fossem muito bem escolhidas. — Nós podemos ficar. Melanie logo volta.

— Vocês podem ficar. — A risada que rolava leve pela boca de Sebastian parecia realmente mais divertida do que ofendida. — Eu estou a alguns minutos de vomitar meu estômago e não é como se eu fosse deixar todo o meu pagamento em um prato daqui hoje. Além das minhas calças e talvez os sapatos.

Ali estava o esclarecimento para a questão de antes. Um riso levemente mais sonoro pulou pela garganta de Jake, enquanto a cabeça tombava para trás. A honestidade do garoto beirava a falta de educação. Ele podia enxergar os pais ali, torcendo o nariz para a resposta que poderia ter usado algumas palavras mais bem selecionadas. Não ele. Ele gostava de pessoas espontâneas.

— Nem me diga nada sobre isso. Ainda tô pensando se é possível fazer um bom acordo.

Sebastian arqueou uma sobrancelha. A modéstia dele o teria irritado se estivesse em uma fase de pior condição financeira, como logo antes de encher a poupança no banco com seu maior pagamento por um trabalho, dois anos antes, ou após chegar em Los Angeles com a conta novamente zerada. Escutar um Ritter reclamar sobre gastar dinheiro, nessas situações, faria com que se levantasse e o deixasse livre para enganar outro trouxa. Suspirou sozinho e colocou a mão sobre o peito.

— Eu imagino. A conta deve ser um sofrimento pra você.

Jake ainda demorou alguns segundos com a atenção fixa no garoto que não a correspondia mais. Demorou um instante para entender que tipo de ironia era aquela, até que a resposta se encaixou lentamente e desapareceu com o sorriso que tinha no rosto.

— Não, você acha que eu... Não. — Chacoalhou a cabeça e trouxe as mãos para a frente do peito, no intuito de enfatizar a negativa ao abaná-las também. — Não, eu não sou a Melanie. Quer dizer, é óbvio que eu não sou a Melanie, mas eu não moro mais com os meus pais. Eu não tenho o dinheiro deles, agora eu sou só... Eu.

— E você, só você, anda por aí de blazer no inverno?

Jake baixou o rosto para as próprias roupas. Levou um instante para descobrir como responder à pergunta, então espiou os arredores. Estava mais ou menos vestido como a maior parte das pessoas ali. Endireitou o corpo ao escutar uma risada de deboche. Ela soava como uma adaptação levemente desafinada da voz de Sebastian e o incentivava a se apressar, antes que ele pensasse tudo ainda mais errado:

— Eu gosto de blazers. Não significa que eu possa passar uma noite aqui e acompanhar a Mel. — Fez uma pausa para esperar que ele compreendesse, mas a única coisa que recebeu foi um olhar divertido de soslaio e os lábios de Sebastian puxados em um sorriso arteiro. Ele parecia comemorar algo, e Jake imaginava que era ter conseguido fazê-lo se sentir obrigado a se explicar tanto. Foi quando o próprio sorriso passou a tomar mais e mais conta do rosto. Não importava se havia acabado de ser sacaneado. — Me deixa te pagar alguma coisa. Uma cerveja, uma taça de vinho?

— Não, cala a boca. — Sebastian se desencostou da cadeira para conseguir virar por cima do ombro e enxergar o palco agora vazio. — Por que ela tá demorando tanto?

Os equipamentos já haviam sido retirados, e ele nem sequer havia visto o motorista passar por trás de si. Esticou o rosto na direção da porta, sem conseguir ver carro algum estacionado na frente do restaurante. Melanie também não estava no balcão ou falando com o gerente do local para receber seu pagamento, uma bagatela de oitenta e cinco dólares para cada, quase o dobro do que fazia por noite em barzinhos. Talvez tivesse ido ao banheiro. A voz de Jake logo veio tirá-lo dos pensamentos.

— Como vocês se conheceram? Ela parece gostar de você, mas vocês não parecem se conhecer de verdade.

O comentário fez o músico se encher de um sentimento caloroso. Também gostava muito de Melanie, mas não sabia como ele podia afirmar aquilo com tanta propriedade. A não ser que já houvessem conversado sobre ele em outra ocasião, o que não parecia ser o caso, aquilo se assemelhava mais a um chute baseado no quanto ele conhecia o comportamento da irmã.

— Foi meio aleatório, em um karaokê, no último domingo. Eu tinha fechado a apresentação de hoje, mas queria uma garota comigo. Eu acho que não tava confortável em cantar aqui, aí escutei a Mel. Eu não fazia ideia de que ela tava se graduando em música, eu só queria convidar pra uma noite. Mas eu acho que nós somos melhores do que isso.

— Você é muito melhor do que uma noite.

Sebastian estacou. Travou os ombros contra a cadeira e esperou que ele se envergonhasse do que havia dito e implorasse desculpas, mas só o que ele fazia era manter o rosto sério. Sebastian não tinha paciência para cantadas como aquela. Estava a ponto de pedir licença e dizer que iria embora quando os olhos de Jake se arregalaram. Então ele voltou a fazer movimentos agitados com as mãos:

— Eu não quis... Eu quis dizer que é melhor pra ela!

Se existia uma coisa que nunca havia acontecido em toda a história, era o mau humor de Sebastian Davies desaparecer em um estalar de dedos. Naquele momento, só precisou que o outro chacoalhasse a cabeça debaixo do sutil topete virado para o lado esquerdo para que sua risada voltasse a explodir. O modo como ele o olhava, se não cômico, era a coisa mais engraçada que já vira.

— Assim, já? — brincou, agora que sabia que o comentário não havia sido desagradável, mas também achou melhor mudar o rumo da conversa. — Você é ator, ou só fã de teatro?

— Ator. Iniciante — Jake disse, modesto, embora a informação lhe escapasse. — Agora você pode imaginar o quanto eu não posso gastar numa noite dessas.

Sebastian ergueu os ombros. Não conhecia os últimos trabalhos dele, mas sabia que ser ator iniciante, ao menos em alguns lugares, não significava exatamente ganhar pouco. Ainda mais quando Jake parecia ser um pouco mais velho do que ele, e isso o fazia questionar o quão iniciante ele era de verdade.

— Diga isso a alguém que tenha acabado de estrelar o primeiro filme em Hollywood.

Jake baixou os olhos para a mesa e demorou um momento com eles fixos na mancha que o copo de água gelada havia deixado sobre a madeira. Ofegou forte, como um riso contido, então esfregou o dedo indicador pelo círculo esbranquiçado, como se pudesse ajudar o tempo a apagá-lo mais depressa. Sebastian logo voltou a falar, para tirá-lo de nenhum pensamento específico:

— Algum filme ou peça de que eu possa ter escutado falar?

Jake ergueu novamente o rosto e negou de prontidão. Nas últimas semanas, tinha sido assim. As poucas pessoas que o reconheciam, ou pareciam reconhecê-lo sem saber de onde, faziam isso de imediato. Em outro caso, elas só não sabiam quem era.

Sebastian torceu o nariz e voltou a olhar ao redor. Melanie estava desaparecida pelos últimos vinte minutos. Tentou se lembrar da conversa e checar se ela dissera qualquer coisa sobre demorar. Então a cabeça voou para duas noites antes. E, quando a imagem do homem na cadeira da frente voltou a se formar diante de seu rosto, soube que a amiga tinha parte de razão. Não podia falar por Jake, como ela havia feito, mas ele era alguém que gostaria de conhecer. Encarou-o por alguns segundos, em silêncio, então desviou os olhos com um riso fraco.

— Ela não vai voltar, não é?

Ainda viu de relance quando Jake negou com a cabeça. Ele tinha um sorriso puxado no canto dos lábios, que não chegava a indicar qualquer sinal de malícia ou de que já soubesse sobre os planos da garota até aquele momento. Talvez ele só conhecesse melhor a irmã para ter entendido isso havia um pouco mais de tempo, enquanto tentavam arranjar assunto para cobrir o vazio. A verdade era que nem sequer precisaram se esforçar tanto, mas a situação havia acabado de ficar esquisita para Sebastian. Era hora de colocar as mãos sobre a mesa e se levantar devagar:

— Melhor eu ir. Fiquei sem carona e não posso me dar ao luxo de pagar mais um táxi depois da mudança. Preciso correr e descobrir onde pego um ônibus pro outro lado da cidade.

— Estamos entre duas avenidas. Devem levar pra todo canto, mas eu posso te dar uma carona. Querendo ou não, acho que é um pouco minha culpa. Eu sou responsável por ela.

— Não mais. — Sebastian ergueu um dedo em tom de deboche, enquanto Jake fazia um gesto para que o garçom lhe trouxesse a conta. — Agora ela já tem idade pra comprar bebidas.

Sem que Jake pudesse rir ou responder, Sebastian seguiu até o caixa para conversar com a atendente. Recebeu o total do pagamento em dinheiro e pensou em voltar até a mesa em que sobrara o último Ritter da noite e lhe dizer tchau, mas, ali de longe, deparou-se com ela já vazia. Quando atravessou o salão e chegou à porta de vidro, pôde vê-lo parado ao lado de fora, sob o vento frio. Ele se virou em sua direção e puxou um sorriso no canto dos lábios, como a maioria dos que já lhe oferecera:

— Vamos? Eu aposto naquela avenida, mas você vai ficar me devendo uma bebida se não me deixar te pagar nada.

— Eu sinto muito em te desapontar. Não quero te dar um fora gratuito, mas talvez seja mais como um fora pra sua irmã. Eu disse a ela que não tô interessado.

— É... — Jake assentiu com a cabeça ao colocar as mãos nos bolsos do blazer e olhar o caminho que fazia. — Foi um fora gratuito.

Sebastian não segurou a risada, agora que estavam quase sozinhos em uma rua movimentada apenas pelos carros que atravessavam de uma avenida à outra. Imitou o outro ao proteger os dedos do frio dentro dos bolsos, então virou o rosto para vê-lo melhor.

— Eu aceitaria se não estivesse morrendo de fome. Só quero chegar em casa e enfiar o primeiro pacote de comida congelada no micro-ondas.

Jake contraiu o rosto em uma expressão concentrada. Logo começou a murmurar as contas que fazia, enquanto erguia a mão no ar para dividir, com cuidado, cada pedaço da equação:

— Você mora do outro lado da cidade, o que vai te tomar pelo menos uma hora até lá. Mais uns vinte minutos pra descobrir qual é o ônibus e, com um pouco de sorte, meia hora pra pegá-lo. São mais quinze minutos até a comida ficar pronta, então eu acho que você devia me deixar pagar o jantar.

A risada de Sebastian saiu novamente livre para se misturar ao ar frio de inverno e aos sons dos carros. Virou o corpo um pouco mais para Jake, antes de questionar toda aquela esperteza:

— E onde você pretende fazer isso? Por aqui, tudo o que você vai encontrar deve custar mais do que você diz que pode gastar. Além disso, eu não vou te deixar pagar nada, o que quer dizer que vai custar mais do que eu posso pagar, e eu tô fora.

Jake abriu a boca para dublar as últimas palavras do outro com sons enojados. Franziu o nariz em uma careta descontente e se voltou para ele, que agora começava a rir da implicância inesperada.

— Você pergunta demais, sabia? — resmungou, ainda de nariz torto. — É espertinho demais. Você precisa confiar em mim. Eu posso te mostrar o lugar que serve o melhor macarrão com molho de queijo da região, com vinho, e pelo melhor preço que você pode imaginar.

— Você pode? — Sebastian ainda tinha vontade de rir, mas se esforçou para controlá-la. Sua curiosidade era maior do que a surpresa. Era engraçado pensar em um fast-food, como aquele que ele mencionava, localizado em um dos bairros mais caros da cidade.

Jake assentiu com a cabeça e diminuiu os passos.

— Você vem ou não vem?

Sebastian se manteve em silêncio por um momento. Já podia escutar o movimento e enxergar as luzes fortes da avenida. Cessou os passos em sincronia com o outro e ainda levou algum tempo para trazer o pulso esquerdo à frente dos olhos, a fim de checar o relógio. Passava da meia-noite e suas chances de ir embora dali diminuíam a cada minuto. O pensamento fazia seu estômago afundar ainda mais, até que decidiu erguer o rosto para ele:

— Eu vou precisar de carona depois.

— Não vai ser um problema.

Jake se aproximou de um prédio que mais parecia residencial. Tocou o interfone e o portão logo destravou. Por cima de seu ombro, Sebastian tentava espiar, nas pontas dos pés, em busca de um restaurante instalado no andar térreo ou qualquer outro local visível.

Sebastian o seguiu em silêncio. Como havia imaginado, o lugar parecia absurdamente caro. As chances de eles servirem um prato barato eram pequenas. Ergueu os olhos para o hall de entrada amplo, iluminado com luzes amareladas, em um pé-direito alto. Parecia todo forrado de pedras elegantes, às quais ele nunca saberia dar nome. Seu conhecimento de design se resumia ao mármore. Viu o homem cumprimentar o porteiro meio escondido atrás de um balcão, enquanto se mantinha alguns passos atrás para ouvir a conversa.

— Esse é Sebastian. Ele vai entrar comigo.

O senhor de feição cansada, embora amigável, cabelos grisalhos e sorriso curto ergueu a cabeça em sua direção:

— Posso ver sua identidade?

Sebastian franziu o cenho e se aproximou do balcão. Deixou que o segurança tirasse uma foto sua para o registro do prédio, então devolveu o documento no bolso para seguir até o elevador. Jake apertou o décimo quarto andar, então finalmente o espiou com um sorriso. Foi só quando Sebastian ouviu o barulho de chaves, que o clique tocou em sua cabeça. Fechou os olhos por um instante e resmungou para dentro:

— Nós estamos indo pro seu apartamento, não estamos?

O riso alto que ganhou como resposta não deixou margem para dúvidas. Com mais resmungos saindo pela garganta, sem sequer saber exatamente o que tentava dizer com eles, sacou o celular do bolso e o desbloqueou na frente do rosto.

— Tudo bem — voltou a falar sozinho. — Mas vou avisar Melanie. E Aaron.

Jake saiu primeiro quando o elevador parou. Sebastian ergueu os olhos da tela até o novo hall, que mais se parecia com a entrada de um apartamento à venda, sem nenhum detalhe, exceto por um visco feito de plástico pendendo da parte superior do batente da porta. Perguntou-se se aquilo ainda eram sobras do Natal, mas estava ocupado demais para verbalizar a questão enquanto digitava a primeira mensagem.

 

Seu irmão me sequestrou pro apartamento dele. Achei que fosse importante saber, caso queira me dizer pra não entrar, ou caso eu nunca mais apareça. Obs.: eu só vou ficar pro jantar, mesmo que hoje já seja amanhã.

 

Continuou com a mesma ideia de texto ao abrir a conversa com Aaron. A esse ponto, Jake já tinha a porta aberta e esperava por ele, encostado na passagem.

 

Você não deve estar em casa, mas vou chegar tarde. Melanie me deixou no restaurante com o irmão dela, e agora eu vim jantar na casa dele. Um completo estranho, eu sei, mas eu tô com fome e não deve ser ruim conhecer alguém na cidade, só pra variar. De qualquer forma, o nome dele é Jake Ritter, caso algo aconteça. Aproveite a noite e use camisinha.

 

Sebastian ergueu os olhos e respirou fundo quando ele escorregou o ombro para o lado, a fim de dar espaço para que entrasse. Escutou-o trancar a porta e ainda checou se a chave havia ficado nela, o que fez seus ombros relaxarem no instante em que viu que sim. O celular vibrou em sua mão. Era Aaron.

 

Não sei o que ele já te deu pra beber, mas você passou a noite de sábado chorando. Hoje é domingo, o que significa que eu não fui a lugar algum. Me ligue se precisar de carona mais tarde. Ou de socorro. Camisinha não será um acessório necessário hoje. Não pra mim.

 

— Aaron é o seu namorado? — Jake não demorou a voltar a falar. — Espero que não seja o cara com quem você tava discutindo no meu quarto.

— Aquele não era Aaron e também não era meu namorado. Aaron é um dos meus colegas de quarto. Quer dizer, não que a gente divida o quarto, mas a gente divide a república com mais um garoto. Eu não tenho um namorado. Eu disse que não tô interessado.

Sebastian seguiu Jake com os olhos. Ainda se mantinha parado na entrada, enquanto ele caminhava em frente por um tempo que parecia nunca ter fim, até sumir por outra porta ao longe. Só então piscou direito e se deu ao trabalho de olhar ao redor. Tinha alguma coisa muito, muito errada naquele apartamento.

 

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Notas finais do capítulo

É isso, gente! Espero que estejam gostando da história. Pra ler mais, o livro tá disponível lá na minha lojinha (link no fim do capítulo). Se alguém tiver vontade de comprar, diga na nota da compra que você é do Nyah pro autógrafo ir bem cheio de corações, como vocês merecem. ♥



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