Celle, o retorno escrita por Nany Nogueira


Capítulo 25
O tenso julgamento




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Chegou o dia do julgamento. Cris e Isabelle haviam acabado de se mudar para o novo apartamento. A moça ainda dormia, mas o rapaz não havia pregado o olho a noite inteira. Então, resolveu levantar-se, ainda que o relógio na cabeceira da cama marcasse 5h45 da madrugada.

Ele caminhou em passos leves para fora da suíte do casal, certificando-se de que Isabelle não seria acordada. Entrou com os mesmos passos no quarto de Ellie, ao lado, que dormia profundamente na sua cama infantil rosa com duas grades de proteção, uma de cada lado, a fim de que esta não caísse. Observou a pequena, que dormia como um anjo, com os dois braços para cima e a barriga subindo e descendo numa respiração calma e contínua. Admirou cada pedacinho dela, sentindo um aperto no peito só de imaginar que ela poderia ser arrancada dele para sempre.

A dor que sentia era realmente física, sentia como seu coração pudesse parar naquele momento de tanta dor. Mas, entendia que seu músculo era forte e continuava no seu incessante trabalho de bombear o sangue. A dor não vinha dele, mas, para ele. Seria ela proveniente do seu cérebro ou daquilo que chamam de espírito?

Cris nunca fora muito religioso, mas, naquele momento, olhou para o céu escuro através da janela do quarto de sua filha e acreditou que além dele havia um Deus que poderia lhe escutar. Iniciou uma prece sincera, como jamais se lembrava ter feito antes, pedindo ao Pai de todos os homens que olhasse para esse pai em desespero na Terra e que não permitisse que lhe levassem sua única e amada filha. Fez o sinal da cruz, limpou uma lágrima e voltou para a sua suíte.

Deitou-se com jeito e sem movimentos bruscos ao lado de Isabelle a fim de não acordá-la. Mas, sem que ele tivesse percebido, ela já estava acordada e indagou:

— Perdeu o sono, amor?

— Só tive sede. Fui à cozinha beber um copo d’água – mentiu ele.

Ela se sentou na cama e começou a acariciar os cabelos de Cris, virado de costas para ela:

— Está tudo bem, meu amor. É normal ficar inseguro de vez em quando. Isso não te faz fraco, mas apenas sensível diante de uma situação realmente difícil.

Cris sentou-se na cama e olhou para ela:

— Na boa, Belinha, você não precisa ser a minha psicóloga! Eu não sou o Rick para correr chorando para você o tempo todo. Eu sou um homem!

— Você está nervoso, Cris. Mas, não precisa falar assim comigo. Eu só estava tentando ajudar.

Isabelle pegou o seu travesseiro e se levantou da cama. Ele questionou:

— Aonde vai?

— Vou respeitar o seu momento. Vou dormir no quarto de hóspedes. Se não quer a minha ajuda, tudo bem.

Cris correu até ela e a abraçou:

— Por favor, me perdoa! Eu fui estúpido com você. Eu nunca senti tanto medo antes e não sei como agir.

Isabelle também o abraçou e disse:

— Você deve ter sentido o mesmo medo quando perdeu sua mãe, seu tio e seus avós no acidente de carro.

— Eu não me lembro do acidente.

— O seu racional não se lembra, mas, o garotinho que ainda vive dentro de você, lembra-se. Ele está com medo agora. Medo da perda que ele bem conhece. Mas, como você mesmo falou, você é um homem agora e pode superar tudo. Você não vai perder a Ellie, porque agora pode lutar por ela. O garotinho não pôde fazer nada por sua família, o homem pode brigar até o final pela sua filha.

— Você é incrível! Mesmo bancando a psicóloga – rindo - A melhor companheira que eu poderia ter escolhido. Nem sei se te mereço.

— Merece sim. Você é incrível e também merece a Ellie. Coloque isso na cabeça, espante esse medo e vá firme para esse julgamento que ocorrerá dentro de poucas horas.

— Eu vou ter coragem. Mas, só se você estiver comigo.

— Você sabe que sempre estarei.

Os dois deram um beijo estalado nos lábios e a moça levou o rapaz de volta para a cama, dizendo:

— Você não quer que eu cuide de você, porque já é um homem. Mas, eu sendo a sua mulher, me dou a esse direito. Pode ir se deitando, que eu te cubro, apago a luz e te abraço, até que adormeça. A audiência é só à tarde e você precisa descansar.

Cris obedeceu, deixando-se levar pelo aconchego de Isabelle.

Às 1h da tarde, a Corte de julgamento estava pronta para dar início aos trabalhos.

Ellie havia ficado com Sophie, já que praticamente todos estavam lá: Carly, Gibby, Sam, Freddie, Spencer, Audrey, Marissa, Charles, Coronel Shay e Pamela Puckett. Todos nos bancos destinados ao público.

Isabelle estava ao lado de Cris no plenário, até então, sendo convidada pelo advogado do rapaz a ir se sentar na platéia quando a Juíza entrou no recinto. No lado oposto, já se encontravam Mabel e Melanie, a qual, como sempre, estava muito segura de si e com o característico olhar intimidador.

A Juíza, uma jovem senhora de pouco mais de 40 anos, morena clara, abriu os trabalhos e determinou que todos se sentassem. Iniciou a leitura do pedido de Cris de guarda e na sequência o de Mabel. Então, abriu um envelope no qual continha o exame de DNA, lendo em voz alta o que todos já sabiam: Que Cristopher Shay não era o pai biológico de Elena Puckett Gibson Shay.

Em seguida a Juíza indagou:

— Sr. Shay, mesmo diante da verdade biológica o senhor quer continuar com o pedido de guarda da menor Elena Shay?

— Sim, Meritíssima. Eu sou o pai da Elena de qualquer forma.

— Com base nos precedentes dessa Corte, a verdade biológica seria o suficiente para o indeferimento de plano do seu pedido de guarda. Mas, vou dar chance para que o senhor apresente os seus argumentos.

Melanie manifestou-se:

— Protesto, Excelência! Essa Corte nunca decidiu contra a verdade biológica. Não há porque prolongar esse julgamento. Minha filha e cliente Mabel é a mãe biológica, como pode ver no exame de DNA, ela tem direito à guarda exclusiva e mais ninguém.

A Juíza respondeu:

— Ocorre que eu tive acesso aos relatórios de acompanhamento psicológico da menor Elena Shay e eles são bastante conclusivos no sentido de que a menina reconhece no Senhor Cristopher Shay o pai, tendo afinidade e proximidade emocional com ele até maior do que com a mãe biológica, a Senhora Mabel Puckett Gibson. Nesse contexto, pelo melhor interesse da criança, vou ouvir toda a história. Eu mesma estou curiosa para entendê-la.

— Eu posso impugnar a sua decisão de prosseguir com isso na instância superior, Excelência – ameaçou Melanie.

Foi a vez de Doug, advogado de Cris, especialista em direito de família e indicado por Freddie, manifestar-se:

— Excelência, acredito que a vossa decisão é a mais acertada no momento, até porque se a Senhora Mabel sabia que o Senhor Shay não era o pai biológico de Elena, estamos diante de falsidade registral, que é crime na nossa legislação e que precisa ser melhor apurada nestes autos.

Mabel gritou:

— O Cris também sabia que a Ellie não era dele. Não posso responder por isso sozinha!

Melanie mandou a filha se calar e a Juíza pediu ordem no Tribunal, falando na sequência:

— Ao meu ver, muitas coisas precisam realmente ser esclarecidas. Vou prosseguir com a audiência. Caso ainda haja oposição da advogada da mãe da menor, posso suspender o ato, porém, o caso da falsidade registral será encaminhado à Promotoria para providências e a questão da guarda também permanecerá suspensa.

Melanie então teve que ceder, temendo a acusação criminal contra a filha e o prolongamento da questão da guarda:

— Eu não faço nenhuma oposição, podemos prosseguir.

Cris não estava certo se a sacada do seu advogado, levantando a fraude do registro de nascimento, poderia lhe ajudar ou lhe afundar ainda mais. Mas, sabia que Mabel responderia da mesma forma, o que não a colocava em vantagem.

A Juíza deu a palavra à defesa e Cris sentiu que estava suando frio. Sabia que devia confiar no seu advogado, que até então, já havia conseguido uma acusação criminal contra ele.


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