Celle, o retorno escrita por Nany Nogueira


Capítulo 11
A hora do encontro é também despedida




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Alison começou a conversa a sós:

— Belinha, eu sempre te admirei pela força que tem. Não vai se deixar abater agora, né?

— Os fortes também caem de vez em quando.

— Isso é verdade. Mas, levantam-se rapidamente. Você sempre foi decidida e só fez o que quis. O que te impede de mandar esse casamento para o espaço se é o que quer?

— Eu não disse que quero isso.

— Então o que quer?

— Eu não sei o que quero, por isso estou chorando. Isso nunca me aconteceu antes. Amiga, eu to insegura!

— Você ta insegura porque não quer se casar com o Richard, se quisesse, estaria feliz da vida.

— É normal a noiva ficar nervosa.

— Você não está nervosa, está arrasada! Belinha, pare de negar seus sentimentos, você merece ser feliz. Sabemos que o amor da sua vida não é, nunca foi, o Rick.

— Eu amo o Rick.

— Você quer amar o Rick, mas o amor da sua vida é o Cris, sempre foi.

— Mentira!

— Você está mentindo pra você mesma!

— O Cris não merece o meu amor depois de tudo o que ele me fez. Ele me traiu com a minha prima!

— O Cris pode até não merecer o seu amor, mas, sabe quem é a pessoa no mundo que mais merece o seu amor?

— O Rick?

— Resposta errada! Você mesma merece todo o seu amor. Não há amor maior que o amor próprio. Se você não se ama, não pode dar amor a mais ninguém. Você se sente responsável emocionalmente pelo Richard, porque sempre foi o apoio dele, mas a vida não funciona assim. Rick não é o seu filho!

— Eu sei disso, eu não iria para a cama com um filho!

— Pode até rolar uma coisa de pele entre vocês, mas não é amor. Amiga, você conhece o amor, você sentiu isso com o Cris, consulte o seu coração. Você tem certeza de que ama o Rick?

— Não!

— Então, faça isso por você, só por você, por mais ninguém, porque você merece ser feliz. Acabe com esse casamento enquanto há tempo.

— Eu não posso! Estão todos esperando: convidados, familiares, Richard...

— A vida é sua! A felicidade é sua! Antes acabar com uma festa do que com a sua vida! Acredita mesmo que estará feliz com o Richard daqui a 10 anos, com mais de 30 anos, filhos e problemas? O amor que sente por ele será o suficiente para enfrentarem a vida juntos?

— Vivemos juntos há um ano e somos felizes!

— Por um ano pode ser legal, mesmo. A euforia juvenil. A experiência nova de brincar de casinha.

— Está me ofendendo. Não sou criança.

— Claro que não, mas, se continuar com isso, estará se comportando como uma, com medo de assumir o que quer e sente.

— Por que quer acabar com o meu casamento?

— Eu não quero! Você quer! A única coisa que quero de verdade é ver a minha melhor amiga, a minha irmã, feliz de verdade. Eu também acho que o Cris não te merece depois de tudo, mas, nem por isso você precisa se casar com o Rick pelos motivos errados. Você é tão jovem e tão linda! A vida não acaba amanhã. Quem sabe, no futuro, o amor bate na sua porta novamente, você encontra alguém que desperte de verdade uma paixão e que também te mereça.

— Richard não vai suportar se eu o abandoná-lo no altar.

— Mais uma vez está se sentindo responsável pelo emocional frágil do Richard. Ele já é adulto. Você me contou que Jade teve uma conduta absurda no jantar de noivado, porque trata o filho como um incapaz, mas, você está fazendo o mesmo agora! Richard precisa ser frustrado, ele precisa crescer, você não tem que sacrificar o que sente para resguardar os sentimentos deles. Quem é infeliz, não pode fazer o outro feliz, você entende?

— Eu acho que sim.

— Além disso, Rick ainda não deve estar no altar, é cedo. Eu posso conseguir trazê-lo para cá.

— Eu não vou ter coragem.

— Você vai sim! Você é forte, sempre foi. Puxe daí de dentro a Isabelle guerreira e faça o que tem que fazer.

Richard estranhou o chamado de Alison antes do casamento, mas, diante da urgência expressada por ela, achou melhor ir. Chegou ao SPA e logo viu Isabelle vestida de noiva no jardim, dizendo:

— Uau! Você está linda! A noiva mais linda de todas! Pra minha sorte, é a minha noiva! Mas, eu não deveria estar aqui, o noivo não pode ver a noiva antes do casamento. Alison me chamou e...

— Eu te chamei.

— Por que? Falta tão pouco para entrarmos no altar e nos enlaçarmos para sempre.

— Rick, eu não posso!

— Como assim? É uma brincadeira? Já está tudo pronto. Os convidados já devem estar chegando, a festa...

— Nada disso importa, seremos infelizes.

— Como seremos infelizes se nos amamos?

— Rick, eu amo você, mas, não o suficiente para amarrar a minha vida na sua para sempre.

— É o Cris de novo? Ele te procurou? Ele quer acabar com o nosso casamento?

— Eu nem sei do Cris, não o vejo há dias. Minha mãe disse que ele está com problemas com Mabel, ela está com a saúde frágil ou algo do tipo. A tia Melanie está vindo para ficar com ela. Mas, isso não importa, é problema deles.

— Se não é o Cris, o que é?

— Sou eu! Eu sinto muito, Rick, de verdade. Você era a última pessoa do mundo que eu gostaria de magoar, mas, pela primeira vez, estou colocando o que eu sinto em primeiro lugar.

— Eu já entendi, Belinha – disse ele, tirando a caixa com as alianças do bolso do paletó e colocando sobre uma mesa, perto de Isabelle, saindo a passos largos na sequência.

— Espera, Rick! Aonde você vai?

— Não importa, Belinha. Nada mais importa – foi tudo o que ele disse, antes de sumir das vistas da moça, que caiu em prantos novamente.

Alison foi até a sinagoga e avisou aos presentes que o casamento havia sido cancelado, mas que a festa estava mantida, com Buffet, banda e tudo mais, já pago.

Os pais dos noivos e os noivos, obviamente, não foram à festa, tampouco Alison, que sentiu que precisava amparar a amiga.

Enquanto isso, no Bushwell, Cris observava as estrelas do terraço, profundamente triste, via o rosto sorridente de Isabelle na sua frente. Lembrou-se de vê-la vestida de noiva no provador da loja. Não fora ao casamento devido ao estado de Mabel e também porque não conseguiria assisti-lo sem sofrer ainda mais. Não se sentia no direito de atrapalhar a vida da moça depois de tudo o que já a havia feito sofrer, tampouco do melhor amigo, que sabia ser boa gente, apesar do tempo e da distância.

A ele restava a dor silenciosa de quem se arrepende das más escolhas de vida. As lembranças dos bons momentos que não voltavam mais. A responsabilidade por aquilo que assumiu para si.

À Isabelle desejava a maior felicidade do mundo, ainda que não fosse ao lado dele. Afinal, o verdadeiro amor não requer posse, requer abnegação. Pensou que se ela estivesse feliz, todo o seu sacrifício de viver por anos com uma ferida aberta no coração valeria a pena. Se pudesse escolher entre a própria felicidade e o da sua amada, escolheria a dela sem pensar.

Pensou que nunca mais sentiria o calor do corpo dela, o seu perfume, a maciez da sua pele, o gosto do seu beijo, a textura dos seus cabelos loiros. Não ouviria a doçura de sua voz lhe dizendo palavras de amor. Não veria o brilho do seu olhar nos olhos amendoados e expressivos. Não poderia admirar aquele sorriso especialmente direcionado a ele. Parecia muita coisa para um homem que carrega tanto amor no peito tolerar. Mas, por outro lado, se não a teria fisicamente com ele, teria ela para sempre em seu coração, porque dali, ninguém a poderia tirar, nem mesmo ela.

Ainda divaga sobre isso quando ouviu passos e se virou. Era Carly, afobada e sorridente:

— Você não sabe o que aconteceu, filho!

— Se não me contar nunca vou saber.

— Pode ir desfazendo essa cara de tristeza, porque a Belinha desistiu do casamento!

Cris ficou surpreso, foi invadido por uma onda de alegria. Pegou Carly no colo e a suspendeu no ar:

— Essa foi a melhor notícia dos últimos tempos, mãe!

— Eu sabia que você ia ficar feliz desse jeito. Por isso, deixei seu pai e Sophie irem para a festa e corri pra cá.

— Festa?

— Sim, já estava tudo pago mesmo.

— Entendi.

— Tá esperando o quê para ir atrás da Belinha?

— Eu não posso.

— Por que não?

— Mabel...

— Eu cuido dela por essa noite. Você prometeu ampará-la, o que não significa que não posso ir atrás da sua verdadeira felicidade. Pense em você pelo menos uma vez. Você já fez muito por Mabel.

— Você tem razão, mãe! É agora ou nunca! – saindo correndo.

Carly acenou sorrindo, contente.

No apartamento do décimo terceiro andar, Isabelle havia acabado de sair do banho e já havia vestido o pijama quando Sam entrou:

 

— Cris está na sala, quer falar com você.

— Eu não sei se é um bom momento, mãe.

Cris não ficou esperando na sala, adentrou ao quarto e disse:

— Eu não posso mais esperar, Belinha, já esperei tempo demais!


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