Mistérios de Frost Ville - II escrita por Isa Holmes


Capítulo 8
Manet, Sisley e Degas.


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi. Me desculpe a demora. Obrigada a vc que está lendo, é muito importante.



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O nariz de Merida ardia absurdamente conforme respirava. Os segundo pareciam passar devagar e, quando olhou para trás mais uma vez, percebeu que Mike Butcher ainda estava atrás dela, correndo que nem um velho com dor nas costas. Mika e Kalel já não estavam mais com Mike, e por um segundo Merida pensou que pudessem ter cortado caminho ou (que pelo amor de Deus tenham ido embora) estivessem escondidos esperando um sinal de Butcher. 

A rua estava tão deserta que parecia que Mike havia pagado para que as pessoas sumissem (talvez Kalel tivesse feito isso por ele). As casas pareciam trancadas, como se alguém estivesse dormindo profundamente ou viajando para visitar o museu de Sherlock Holmes, em Londres, na Baker Street. O barulho dos carros parecia muito longe e os pássaros pareciam cautelosos em piar, como se soubessem que Butcher pudesse tentar atacá-los com um estilingue se ousassem. 

— Volta aqui! Eu ainda não terminei, porra!

O coração de Merida tamborilava no peito e a voz estrondosa de Butcher lhe brotava calafrios. Ela aumentou o passo, e depois de olhar mais uma vez pros olhos cheios de ódio de Mike, Merida virou na rua Wade e desceu até chegar na Praça dos Caçadores. Ela seguiu na rua Waldrich e correu até chegar na entrada da floresta. Sem muita opção, Merida desceu em um barranco, sujando a blusa e rasgando a calça, e enfiou-se entre as árvores da reserva. 

Conforme diminuía a velocidade, Merida apenas conseguia ouvir seus passos. Engasgada com a própria respiração e saliva, escondeu-se atrás de uma árvore caída. Ela tentava conter a respiração pesada, querendo evitar o barulho de suas narinas zumbindo. Mesmo assim, parecia que seu coração a entregaria de tão nervoso que batia. Podia-se até pensar que ele havia se transformado num tambor.

Tremendo, Merida pegou o celular do bolso e

— Eu te encontrei! 

sentiu os cabelos serem puxados por cima do tronco que estava encostada. Mike cantarolava repetidamente

(eu te encontrei eu te encontrei eu te encontrei)

e obrigou Merida a levantar. Soltou seus cabelos e agarrou seu pescoço por trás. Mike pegou o canivete do bolso com a outra mão e apoiou na bochecha de Merida, fazendo um corte com a ponta.

— Isso está ficando mais pessoal do que você pensa, gracinha — Butcher disse, quase cuspindo — Vou perguntar só mais uma vez. O que você encontrou lá dentro?

Merida negou com a cabeça, novamente sem ar. Ela tentava arrancar o braço de Mike de volta de seu pescoço, mas apenas conseguia provocar vergões vermelhos em sua pele.

Mike Butcher segurou a bolsa de Merida e sentiu uma dor aguda no alto da cabeça. Inclinou-se para frente e soltou ela, que caiu de joelhos e se afastou de Mike, tossindo a procura de ar. Butcher, numa mistura de dor e surpresa, passou uma das mãos na cabeça e viu seus dedos pintados com sangue, e, assim que olhou pro chão, achou uma pedra enorme. Quando ergueu o olhar e virou na direção que suspeitava ter vindo aquele trambolho, encontrou Soluço Haddock. Butcher olhou para ele sem acreditar.

— Seu desgraçado! — rugiu ele.

Soluço estava com um punhado de pedras na mão.

— Eu posso fazer de novo, Mike. E eu juro que eu vou tentar acertar essa sua cara de merda.

Mike tateou os bolsos a procura de seu canivete e lembrou que estava com ele nas mãos enquanto segurava a piranha desgraçada. Quando Butcher olhou para ela, se encontrou ameaçado com o próprio brinquedo.

— Cai fora daqui, Mike — Mike ouviu a piranha dizer.

A boca de Mike mexeu, mas nenhum som saiu. Mais uma pedra caiu perto dele, desta vez entre seus pés, o fazendo dar um salto.  Mike encarou Merida e ela jogou seu canivete no chão, perto das pedras.

— Deixa a gente em paz, Butcher.

Mike pegou o canivete do chão e sentiu mais uma pedra acertar o seu braço.

— Fica longe dela e dá o fora! — Soluço gritou mais uma vez — São dois contra um, Mike. Eu estou avisando.

Mike hesitou. Gritou mais uma vez, raivoso, e saiu correndo. 

Soluço largou as pedras e pegou os livros que estavam jogados perto de seus pés. Desceu o pequeno barranco que estava e correu até Merida, que o abraçou. 

— Obrigada. Muito obrigada, Soluço.

Ele a soltou do abraço e segurou seus ombros.

— Eu estava aqui perto lendo um livro. O que diabos aconteceu?

Merida começou a explicar para Soluço. Começou a contar que foi à casa de Leide Brown e terminou explicando como havia dado de cara com Mike Butcher. No progresso da conversa, Soluço levou Merida para casa. Ele cuidou de seus ferimentos, limpando o sangue de seu nariz e do corte de sua bochecha.

— Sua cara vai ficar um pouco roxa. Seus pais não vão falar nada?

Merida negou.

— Vou ficar sozinha a semana inteira.

Soluço guardou a caixa de primeiros socorros e sentou no chão, de frente para Merida.

— Mike é louco. Acha que ele tem alguma coisa haver com a morte do professor? 

Mais uma vez, Merida negou.

— Ele perguntou o que eu descobri lá dentro, mas não parecia exatamente a par da situação. Acho que a pessoa está pagando ele para fazer isso.

— Quem?

— Eu ainda não sei.

Soluço virou e pegou um dos livros de sua pilha.

— Punzie e eu encontramos o dicionário, se quiser ficar com ele.

Merida pegou o livro. Ele era grande e gordo, com uma capa azul. Ela levantou e colocou o livro em cima da escrivaninha.

— Valeu, Haddock.

— Não foi nada. 

xxx

Quando Merida subiu a rua Wade novamente naquele dia (noite), conseguia ouvir Clair de Lune sair de alguma casa. Ela imaginou que naquela casa havia um garoto de sete anos admirando a mãe tocar o piano e que eles estariam num suposto jantar de negócios. Depois, imaginou um homem solitário, bebendo um espumante vagabundo com a camisa aberta e os olhos vazios, lembrando da esposa falecida, ou da quebra de namoro recente. Merida respirou mundo e olhou para a casa. A música parou na metade e ela notou uma nota fora da entonação. Depois, sonata ao luar começou e ela seguiu adiante, deixando a música cada vez mais distante.

Merida apertou o passo e ajeitou a mochila nas costas. Quando chegou na casa de Leide Brown, suspirou, satisfeita, assim que viu que o lugar estava mergulhado na escuridão. Merida subiu na varanda da frente, pegou o molho de chaves que encontrou na sala do professor e abriu a porta depois de quatro tentativas de diferentes.

Quando ela subiu para o quarto de John Brown, checou a janela. Dois dedos de distância estavam erguidos, como havia deixado assim que saiu. Ela não entrou aqui depois que saímos. Teria fechado a janela, pensou e largou a mochila em cima da cama do professor.

Merida pegou o abajur da mochila e olhou para os quadros pendurados na parede. Ela acendeu a luz negra e sentiu a nuca arrepiar quando viu todos aqueles rabiscos da parede novamente. Merida colocou o abajur em cima da cama e se aproximou um pouco mais dos quadros de Manet, Sisley e Degas. Igual a toda criança curiosa no meio de um museu, passou a mão pela borda de A ferrovia. Quando ergueu os olhos, viu os números (1875) brilhando (1883) por cima dos (1873) quadros.

Ela passou a mão na nuca e sentiu como se alguém estivesse sussurrando em seu ouvido para que tirasse o quadro da parede. Por um momento achou que seus ombros estavam pesados e que, de um lado havia um anjo, e do outro um diabinho com rabo e chifres pegando fogo. Merida deixou o pensamento de lado e tirou A ferrovia da parede. Por segundos o quadro atrapalhava sua visão para qualquer lado que tentasse olhar, de tão grande que era, mas assim que colocou o quadro de Manet em cima da cama e virou-se para a parede do quarto novamente, aonde, no mesmo lugar que o quadro jazia por quase uma década, Merida encontrou um cofre.

Seu coração palpitava com entusiasmo e, quando também retirou os quadros de Sisley e Degas da parede, encontrou mais dos cofres idênticos embutidos no concreto.

Merida se aproximou do primeiro cofre (o de A ferrovia), olhou para o número que estava em cima dele (1875) e tentou colocar na troca de segredos, mas os algoritmos deram errado. Merida pulou para o próximo cofre (o de Sisley, route to versailles) e tentou o seu número (1883). Outro erro. Quando foi para o último (aonde estava Bailarina Inclinada), tentou a sua numeração (1873) e errou mais uma vez. Merida resmungou e suspirou fundo, pensando.

— Números só podem ser datas. Datas de quê? — disse para si mesma, andando de um lado para o outro, uma vez ou outra olhando para os quadros — Datas de...

— Pintura.

Merida ergueu os olhos, numa mistura de susto e adrenalina. A porta fez um som aguda ao ser empurrada e logo ela viu a silhueta de

— Deus, estão malucos? Quase me mataram de susto.

Soluço sorriu e deu uma piscadela. Jack fechou a porta.

— Como vocês

(sabiam que eu estava aqui?)

têm certeza?

— A data é muito vaga. E eu estudo muito arte. A ferrovia é de 1875, route to versailles é de 1873 e A bailarina inclinada é de

— 1883 — completou Merida e olhou mais uma vez para os quadros deitados na cama.

Jack aproximou-se do último cofre. Soluço aproximou-se do primeiro e Merida alojou-se entre os dois, de frente para o segundo. Os três depositaram os segredos nas trancas dos cofres

1875

1873

1883

e depois de um tempo cada cofre abriu e deixou suas portinholas pendendo, abertas.

Quando Soluço abriu e enfiou a mão dentro do cofre, não achou nada além de poeira.

Quando Jack abriu o seu cofre, não achou nada além de papéis em branco.

Quando Merida abriu o seu cofre, achou um amontoado de pastas, blocos, caixas e fotos. Soluço e Jack aproximaram-se dela. A primeira coisa que ela retirou de dentro do cofre fora uma foto solta e velha. O fundo parecia um lugar quente e um grupo de (arqueólogos) pessoas estavam posando e passando muito calor. Quando eles viraram a foto para a luz, viram o professor, talvez trinta anos mais novo, junto de homens esbeltos, mulheres de saias e calças e brancas e, no meio de todos, ao lado de John Brown, de uma forma tão íntima e apaixonada, parecia


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Notas finais do capítulo

Me descuuulpe o final misterioso. Prometo postar o próximo logo.



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