Olhos no Passado escrita por Asas de Prata


Capítulo 1
Capítulo 1 - Zzyzx Road


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. Agradecimentos especiais a minha mana da Liga Musa por ser essa beta maravilhosa. ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/763645/chapter/1

     Não reconheci o nome na placa de sinalização:

      "Zzyzx road — Estrada de Zzyzx"

     Não havia nada familiar nem simpático naquela estrada. As gramíneas ralas junto com o deserto imponente combinavam com o cenário caótico da solitária casa. Tábuas cobriam as janelas. A porta da frente era um buraco escancarado. Fiquei arrepiada e só queria estar bem longe dali, onde quer que “ali” fosse.

     Caminhar parecia mais difícil do que deveria e eu tropecei no calçamento frio. Fiz uma careta quando o cascalho pontiagudo se cravou nos meus pés.

      Descalços?

   Parei e olhei para baixo. No meio da sujeira, entrevi meu esmalte — carmim e descascado... e sangue. Havia lama nas minhas calças, as barras estavam duras. Fazia sentido, já que não usava sapatos, mas o sangue... Por que havia sangue nos joelhos do jeans que vestia?

   Minha visão se anuviou, ficou escuro do nada, como se tivessem passado uma película cinzenta sobre meus olhos. Fitando o asfalto a meus pés, vi as pedrinhas miúdas darem lugar a pedras grandes e lisas. Uma coisa escura e oleosa escorria pela rocha, desaparecendo nas rachaduras.

   Com a respiração ofegante, eu pisquei e a imagem sumiu.

   Ergui as mãos trêmulas, também cobertas de terra e arranhões. As unhas estavam quebradas e ensanguentadas. Um anel de ouro circundava meu dedo anelar.

     Casada?

  O ar congelou no meu peito quando estudei atentamente meus braços. As mangas do suéter estavam rasgadas, deixando-me ver a pele branca, coberta de hematomas e cortes. Minhas pernas começaram a tremer a cada passo. Tentava lembrar como aquilo havia acontecido, mas minha cabeça era um vazio.

    Um vácuo negro onde nada existia.

   Passou um carro, que foi desacelerando e, com o motor já desligado, parou alguns metros adiante. Em algum lugar no buraco escuro do meu inconsciente, reconheci o pisca-pisca azul e vermelho como polícia. Desenhadas com elegância por toda a lateral preta e cinzenta da viatura, destacam as palavras: Condado de San Bernardino”.

    Condado de San Bernardino?

    Califórnia!

  Tive um vislumbre de familiaridade, que logo passou.

    A porta do motorista se abriu e um policial saiu do carro. Disse alguma coisa ao microfone que trazia no ombro antes de olhar para mim.

   — Senhora Crampbon?

  Ele começou a contornar a viatura, experimentando alguns passos. Parecia jovem para um policial. Recém-saído do ensino médio e já podia portar uma arma de fogo — não parecia certo.

  — Recebemos chamadas na central por sua causa — falou com delicadeza. — Você está bem?

  Tentei responder, mas só saiu um chiado rouco. Limpei a garganta e fiz uma careta ao sentir o repuxo e o arranhão do pigarro.

   — Eu... Acho que sim. Não tenho certeza.

   — Tudo bem.

  O policial ergueu as mãos ao se aproximar de mim, como se eu fosse um animal assustado prestes a sair correndo.

   — Eu sou o policial Tayler. Vou ajudá-la. Sabe o que está fazendo aqui?

   — Não.

Comecei a sentir um aperto no estômago. Eu nem sequer sabia onde era aqui.

Ele forçou um sorriso.

— Mariana Crampbon. Esse é seu nome, certo?

Meu nome? Todo mundo sabia o próprio nome, mas, olhando para o policial, não consegui responder. O aperto no estômago piorou.

— Eu não... não tenho certeza, senhor.

Ele piscou e o sorriso se desfez.

— Senhora, não se lembra de nada?

Tentei mais uma vez concentrar-me no espaço vazio entre minhas orelhas. Era essa a sensação que tinha. E sabia que não era nada bom. Lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos.

— Está tudo bem. Vamos cuidar de você. — Ele estendeu a mão e me segurou de leve pelo braço. — Vai ficar tudo bem…

O policial me fez contornar a traseira da viatura. Eu não queria me sentar atrás do vidro pois sabia que não era bom. Só os malvados se sentavam atrás do vidro nas viaturas da polícia. Quis protestar, mas, antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele me acomodou no banco e jogou um cobertor áspero sobre meus ombros.

Antes de me trancar ali na parte do carro reservado aos malvados, ele se ajoelhou e sorriu para mim.

— Você ficará bem.

Mas eu sabia que ele estava mentindo, tentando fazer com que eu me sentisse melhor. Não funcionou.

Como eu poderia ficar bem se eu não sabia meu próprio nome?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem. ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Olhos no Passado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.