7 Vidas (Reescrevendo) escrita por Petty Yume Chan


Capítulo 3
Fora Da Minha Realidade


Notas iniciais do capítulo

Acho que já é a terceira vez que acontece de eu postar uma fic e ficar doente... Eu tento muito forte me dedicar mas o destino adora quebrar minhas pernas...
Enfim, nesse capítulo eu vou começar a testar algumas coisas em relação a narrativa, então se vocês puderem me dar o seu feedback eu ficaria muito grata. ~Só dizendo...
Boa leitura !! ^--^



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Depois do que pareceu uma eternidade, a manha de segunda-feira finalmente havia chegado.

Meu celular tocava incessantemente sobre o criado mudo em uma tentativa de me acordar, mas eu, em toda a minha ansiedade, já me encontrava de pé há no mínimo quinze minutos. Encarava-me em frente o espelho, tentando ficar o mínimo apresentável depois de uma noite mal dormida.

Alem do meu rosto cansado o meu reflexo trajava o novo uniforme, esse sendo composto por uma saia rodada em tom marsala, uma camisa social preta que levava em seu colarinho um par de broches dourados em forma de asas sendo interligados por uma corrente, por cima de tudo um casaco preto em uma pegada gótica/steampunk com linhas avermelhadas como decoração e as letras “SA” bordadas em dourado.

Basicamente era um uniforme que gritava aos quatro cantos “sou rica e estudo na melhor e mais cara escola da cidade”, e essa era a pior parte. Não importava o quanto eu me olhasse, era quase impossível me acostumar com aquela sensação, por mais que fosse o meu corpo ali dentro, aquele uniforme carregava uma fama que eu não entendia muito bem, e consequentemente, ainda não tinha toda a capacidade mental para carrega-la.

Meus dedos tocaram a superfície fria do espelho, enquanto eu tentava me livrar daqueles pensamentos paranóicos. Nesse momento eu pude ver de canto de olho um leve brilho que vinha da minha mala – que se encontrava meio desfeita e com algumas roupas jogadas por cima – olhando melhor pude ver o meu pingente de pedra da lua, que pendia para fora de um dos bolsos mal fechados. Do jeito que ele brilhava e balançava era quase como se dissesse “me leve com você, por favor.”.

Eu toquei o cristal sentindo a frieza da pedra em minhas mãos. Aquele colar era uma das lembranças que eu tinha da minha avó. Ela era uma arqueóloga e historiadora que ficou viúva cedo e, desde que eu me lembre, eu frequentemente a visitava.

Uma casa simples e repleta de gatos. Ela dizia que os gatos são guardiões que espantavam as energias negativas e que, algumas pessoas, tinham a sorte de receber a benção da deusa egípcia Bastet, sendo assim sempre protegidas pelos gatos.

Eu me lembro de ouvir muitas pessoas dizerem que o fato de ficar viúva cedo acabou a enlouquecendo. Mas isso é porque elas não viam minha avó como eu a via, olhando no fundo dos olhos dela era impossível não perceber os olhos de uma mulher lúcida. Olhos que me fizeram chegar onde estou agora, olhos que me olhavam com carinho e orgulho enquanto líamos historias na varanda.

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— Vovó, eu queria que os personagens existissem de verdade.

— E quem disse que não existem? Estão todos vivos, bem aqui.

A mulher, que já apresentava seus traços maduros, tocou o lado esquerdo do peito da menor de cabelos pretos e bochechas rosadas, a qual o olhar se encheu de curiosidade.

— Mas como? Eu queria que eles vivessem como nós, indo de casa para o trabalho, fazendo compras, essas coisas. Depois de tantas aventuras eles merecem uma vida normal.

— Pois bem, então vamos fazer uma brincadeira. Feche seus olhos.

A pequena ficou inquieta por um momento, as sobrancelhas se franziram e as bochechas rechonchudas ficaram ainda maiores, mas ela confiava o bastante em sua avó para fazer o que a mesma mandara.

— Ótimo, agora imagine o seu lugar favorito e o descreva para mim.

A escuridão da mente da menina logo começou a ser preenchida por diversas cores e formas. As mesas de madeira clara eram cercadas por paredes em tons pastéis, as cadeiras tinham um estofado fofo que lhe dava a sensação de se estar sentando em nuvens, um cheiro adocicado se espalhava pelo local, junto da luz do sol que entrava pela grande janela.

— É aquela cafeteria que nós fomos no meu aniversario.

— Muito bom, agora olhe para a mesa ao lado e me diga quem está sentado lá.

Seguindo as instruções a mente da garota se voltou à mesa vizinha a sua, o que foi o bastante para seu coração disparar no mesmo instante. Na mesa ao lado se encontrava a sua princesa favorita, trajada em um dos seus costumeiros vestidos amarelos, na cadeira a frente era acompanhada de seu parceiro que, mesmo sendo humano agora, ainda carregava algumas características quase bestiais, mas não necessariamente assustadoras. Ambos sorriam e pareciam se divertir enquanto tomavam chá acompanhado de cupcakes decorados com rosas.

Os olhos da garota se abriram de imediato, as bochechas – por conta da empolgação – se encontravam ainda mais rosadas. Por mais que ela tivesse a consciência que a cena a qual presenciara não era real, apenas uma brincadeira de seu cérebro fantasioso, ainda assim, a ideia de ter os seus personagens favoritos no mesmo espaço que ela já era o bastante para lhe trazer arrepios de animação.

— Vovó! Vovó! Eu vi! Eles estavam lá!

A mulher sorriu enquanto acariciava o cabelo da neta, que se encontrava totalmente inquieta em sua animação.

— Eu te disse, é como se eles estivessem vivendo em um mundo paralelo ao nosso. Se você estiver disposta a parar e ouvir suas historias, você provavelmente será capaz de vê-los.

— Mas e quando eles morrerem? Eu ainda vou ser capaz de ver?

— Enquanto a historia estiver viva, eles vão viver também.

— Então eles são imortais?

— Acho que podemos ver desse modo.

Um sorriso enorme surgiu no rosto da garota à medida que a mesma já começava a formar um plano em sua inocente mente infantil.

— Vovó, isso também serve para pessoas de verdade?

A senhora ficou um tanto confusa com a pergunta da neta, não entendia com exatidão a linha de raciocínio da menor e logo se encontrou sem saber ao certo o que responder, todavia, a neta lhe encarava com um sorriso sapeca e, ao mesmo tempo, esperançoso. Logo, a mulher decidiu que o melhor seria encontrar uma resposta que alimentassem os seus sonhos, mas sem, obviamente, fugir muito da realidade.

— Bem, existem muitas figuras históricas que são conhecidas até hoje, mesmo já tendo morrido a milhares de anos. Seus legados persistem até hoje e provavelmente continuarão por muito tempo, então acho que podemos dizer que são “imortais”.

A essa altura a menina já praticamente dava gritinhos de animação, o sorriso se alargou ainda mais – se é que isso era possível – e os bracinhos rechonchudos envolveram o pescoço da avó em um abraço com o maximo de força que o pequeno corpo conseguia usar, o que não era muito, mas o bastante para se sentir todo o amor que se guardava ali.

— Vovó, quando eu crescer eu vou escrever um livro sobre a senhora, assim você vai viver para sempre.

A idosa não conseguiu esconder a surpresa e o sorriso perante a inocência da neta, mas era impossível não se comover com aquela pequena figura que, ainda na mais pura idade, conseguia ver o mais belo lado da vida com todo animo em vigor. Em seu âmago, a mulher conseguia sentir uma chama, que lhe dizia para proteger aquele sorriso para sempre.

— Aqui querida, pegue isso.

Retirando um cordão de seu próprio pescoço, ela agora o posicionava no pescoço da neta, onde o colar ficou muito mais comprido em sua estatura infantil. A garota envolveu o cristal com os dedinhos, não fazendo o menor esforço para esconder sua surpresa.

— Mas vovó, esse é o seu favorito.

— Sim, é por isso que eu estou confiando ele a você, porque você é minha neta querida.

Em realidade, ela sabia que já não mais precisava daquele colar, aqueles velhos olhos dourados, cheios de passado e historia já haviam tido a proteção que outrora lhe foi prometida, agora aquele cristal refletia em outros olhos. Olhos cheios de vida, de esperança, de futuro, olhos que precisavam de proteção.

Pequenos olhos dourados.

• • • ₪ • • •

Ouvi meu celular tocar novamente em cima do criado-mudo. O fato é que eu sempre tive essa predisposição para me distrair muito fácil, o que resultava em uma grande quantidade de atrasos, logo eu criei o habito de colocar o meu celular para despertar a cada dez minutos até que chegasse o horário em que eu tinha de sair. Como pudemos ver, tem funcionado.

Peguei o pingente que roubou a minha atenção e o pus no pescoço, ocultando-o por dentro da blusa. Senti sua superfície gélida sobre a pele de meu peito, mas de certa forma, aquilo fez com que eu me sentisse aquecida. Juntei as ultimas coisas na minha mochila e calcei meus sapatos, podendo assim sair de casa, isso claro, depois do meu celular despertar pela terceira vez.

Como era o meu primeiro dia de aula e eu não queria correr o risco de chegar atrasada, optei por pegar o ônibus, na volta para casa eu teria mais tempo e sossego para conhecer a cidade, ainda mais porque minha tia não estaria em casa.

O ponto de ônibus era praticamente na entrada do prédio onde minha tia morava, ao lado tinha uma arvore que eu particularmente não conhecia a espécie, provavelmente estava lá para fazer sombra, o que era um tanto inútil, uma vez que por estar próximo de diversos prédios sempre havia uma sombra que cobria praticamente a rua inteira.

Não demorou muito para o ônibus chegar e a viagem, por sua vez, também não era longa, até o momento tudo conspirava para um dia sem maiores problemas. Nos meus fones de ouvido tocavam uma musica baixa a qual eu não dava muita atenção, mas que se misturava – e combinava muito bem, diga-se de passagem - a paisagem que corria do lado de lá da janela.

Na minha frente duas senhoras conversavam sobre suas vidas pacatas e o orgulho que tinham por suas famílias. Não que eu tivesse o costume de ouvir as conversas alheias, mas aquelas duas pareciam tão brilhantes e de certo modo me lembravam do passado. Levei a mão até a altura do peito, sentindo o relevo do cristal que agora se encontrava quente por conta da cobertura de roupas.

”Enquanto a historia estiver viva, eles também vão viver.”

Foi o que eu repeti em minha mente, como um mantra, à medida que o ônibus seguia a sua rota.

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Quinze minutos e o ônibus havia chegado a minha parada, era na esquina da rua da escola, sendo assim, já era possível avistar outros alunos que trajavam o mesmo uniforme que eu. Eles se espalhavam pelas lanchonetes e pelas sombras das arvores naquele sol da manhã, conversavam entre si e consigo mesmos.  Nada muito diferente de qualquer outra escola.

Seguindo o fluxo de estudantes logo cheguei à rua da escola, já sendo possível avistar o prédio em toda a sua plenitude, e bem, ele também não fazia qualquer questão de ser discreto, mas já era meio que algo esperado.

O terreno era todo cercado por um meio muro de tijolos pretos que chegava a altura da cintura, sendo completado por uma grade em estilo gótico da mesma cor. Mais a frente se encontravam dois grandes portões, um sendo para veículos, de onde entravam e saiam diversos tipos de carros luxuosos e, no interior, era possível ver o estacionamento onde mais alunos – e provavelmente alguns professores – perambulavam. O portão seguinte era destinado a pedestres, sendo ligado por um calçamento de paralelepípedos acinzentados à entrada do grande prédio, esse que, por sua vez, parecia ter saído de algum filme medieval.

Era um verdadeiro castelo, constituído por tijolos em seu mais puro tom de laranja queimado. As janelas góticas possuíam telas em sua totalidade e o telhado era levemente pontudo, não tão exagerado quanto os de torres de castelos, mas ainda era possível identificar a sua tendência ao formato de triangulo. Tudo isso era cercado por um pátio arborizado, quase como um parque.

Passei timidamente por entre os diversos alunos ali presentes que, por mais que trajassem todos o mesmo uniforme, ainda era possível notar a alta classe de cada um. Moças bem maquiadas, rapazes com diversos cortes de cabelos, joias aqui e ali e sons de saltos altos contra o concreto. Em uma visão panorâmica, eu era só mais uma em meio à multidão, mas mesmo assim eu não conseguia tirar da minha cabeça que os olhos de todos naquele momento estavam concentrados em mim.

Depois do que pareceu uma eternidade eu cheguei ao pé da escadaria de, no maximo, uns seis degraus. A porta de entrada parecia que iria me engolir a qualquer momento, grande e robusta, de uma madeira escura, me lembravam das catedrais que outrora vi na televisão. Respirei fundo uma ultima vez, antes de seguir.

Aquele lugar era, definitivamente, fora da minha realidade. 


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Notas finais do capítulo

Sim, esse capítulo foi basicamente flashback, mas eu queria já começar a dar leves indícios do futuro plot (bem leves mesmo he')
Outra coisa, em relação a essa mudança de primeira para terceira pessoa que presenciamos aqui hoje. Vocês gostaram? Ficou confusa? Ficou incomoda?
Eu pretendo usar ela em mais alguns capítulos daqui para frente, então me digam agora o que acharam pois aí ainda dá tempo de mudar. Uma das minhas maiores preocupações é trazer um conteúdo de qualidade para vocês ♡
Aos interessados, caso queiram uma referência, o uniforme escolar é inspirado no uniforme do anime/mangá Vampire Knight. O prédio escolar eu me inspirei em alguns museus cá de São Paulo como o Catavento e a Pinacoteca, até mesmo o Ema Klabin (esse mais por causa do jardim).
Bem, acho que é isso ^^
Obrigada pelo seu comentário.
Até de repente !!
Kissus da yume ♡