O Jogo do Diferente escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 6
Consultor informal




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― Ah – Miiko, surpresa, encarou Tatsuo. – Bom... É que...

― “É que”?

― É que esta madrugada recebi uma mensagem estranha.

― Que tipo de mensagem?

Miiko mostrou a Tatsuo a tal mensagem. Intrigado, o jovem a leu e encarou a irmã.

― Será que é o tal do “Jogo do Diferente” que tanto falam, Miiko?

― Tá parecendo. Lembro que a Eimi uma vez se descuidou e vi no telefone dela algo do tipo... Mas vi muito por alto, ela tomou o telefone da minha mão na hora. Só que foi o suficiente para saber que era o tal jogo.

― Você se lembra do conselho do superintendente Ohta?

― Sim, eu me lembro. Ele disse que deveríamos avisar caso aparecesse alguma mensagem estranha.

― Então é melhor seguirmos o conselho dele.

― Você acha que a gente deveria mesmo ir à polícia? É só uma mensagem.

― Na dúvida, é melhor a gente ir. – Tatsuo disse. – Pode ser uma pista importante para ajudar a polícia a pegar quem está provocando esses suicídios... E pegar o assassino de Eimi-chan.

Miiko encarou o irmão por alguns segundos, ponderando o que ele dissera. Releu a mensagem e repensou. Fazia sentido, talvez pudesse ser de fato uma pista que levaria ao assassino de sua melhor amiga.

― Tem razão, Nii-san. – a garota fechou o aplicativo do smartphone. – É melhor a gente ir lá.

*

― Superintendente Ohta – um policial adentrou a sala. – Uda Takeru.

Um jovem entrou na sala e, sem fazer cerimônia, se sentou na cadeira à frente de Hiroji, cuja expressão não se alterou. O recém-chegado vestia calça jeans, camisa xadrez aberta sobre uma camiseta branca e um boné preto, enterrado em sua cabeça, deixando escapar algumas mechas de cabelo e escondendo seus olhos.

Um sorriso divertido se desenhou em seu rosto para dizer:

― Ohta-san, eu sabia que uma hora iria me procurar.

― É – Hiroji disse a contragosto. – Mas estou fazendo isso porque não tive alternativas. Tive que pedir permissão aos meus superiores para recorrer a um detetive amador, por ser um caso de grande repercussão.

― Pegaria tão mal assim a imprensa noticiar a ajuda de um detetive amador? – Takeru questionou de forma meio irônica.

― Justamente pelo fato de você ser um detetive amador é que iriam nos massacrar. – o mais velho disse enquanto limpava as lentes dos óculos de grau.

― Mas eu não iria querer ficar com os méritos. Só quero espantar o meu tédio com algum caso interessante. Você sabe, Ohta-san, que só faço isso por hobby.

Sim, ele sabia. Hiroji conhecia Takeru de alguns casos que ajudara a polícia a solucionar. Aquele jovem aparecera pela primeira vez, quando houve um intrincado caso de assassinato, em que não havia nada que conduzisse o crime ao possível culpado. Um policial – que já fora transferido para outra cidade – o indicara para dar uma consultoria, elogiando sua inteligência e suas deduções rápidas. Houve também outro crime que parecia solucionado, mas, com suas deduções, gerara uma reviravolta, evitando a prisão de um inocente e prendendo o verdadeiro culpado.

O jovem Uda, até onde sabia, cursava faculdade de artes visuais e trabalhava como ilustrador freelancer. Ele gostava de observar cada detalhe da cena do crime e possuía uma espécie de “memória fotográfica”, a qual usava não só para desenhar, mas também para fazer retratos falados informais de quem ele interrogava e para se recordar de detalhes que, aparentemente, eram insignificantes, mas que poderiam ser importantes.

Ele tinha um ar bastante compenetrado e, ao mesmo tempo, relaxado. Possuía uma personalidade meio fechada. Entretanto, Takeru era um tipo incomum, que o fascinava.

Jovens da idade dele almejavam profissões prestigiadas, que lhe agregavam status. Ele, não. Era o oposto do arquétipo de um universitário, que geralmente ficava preocupado com estágios, pontos do semestre, trabalhos para entregar, e ficavam estressados com tudo isso e mais a pressão da família.

Parecia não se importar com isso, e investigar casos era sua diversão. Era uma espécie de detetive particular amador, que escolhia em quais casos queria atuar e ajudar.

Segundo ele dissera certa vez, só queria espantar o tédio e desafiar sua mente. Nada mais do que isso.

― Bem – Hiroji disse. – Chamarei Inagaki-san para podermos inteirá-lo do assunto.

*

Tatsuo estacionou sua moto em frente à delegacia de Sakumachi e, junto com Miiko, adentrou o local. Os irmãos Kanasawa pediram para ver o superintendente Ohta, ao que disseram para que eles aguardassem. Sentaram-se em um dos bancos, a fim de aguardarem a vez de serem atendidos.

Os minutos se passavam, e os irmãos aguardavam pacientemente. Foram avisados de que o superintendente estava em reunião, e que por isso demoraria a atendê-los. Enquanto isso, manuseava seu telefone, para fazer com que a espera fosse suportável.

Neste momento, o smartphone de Miiko vibrou e emitiu um sinal sonoro. Era uma notificação, mas não era qualquer coisa. Ela possuía o hábito de configurar o alerta de WhatsApp com um toque diferente do toque padrão para notificações.

Abriu a mensagem e viu que era do mesmo número misterioso:

“Visualizou e não respondeu... Está com medo, minha criança?”

Não iria responder. Não iria fazer nada antes de apresentar aquela mensagem a Ohta-san.

Entretanto, sentiu novamente seu smartphone vibrar, para depois emitir um novo toque de notificação. Era uma nova mensagem no WhatsApp.

“Não tenha medo. Este jogo irá mudar sua vida... Acredite. Não há nada a temer.”

Sem esconder a tensão de seu rosto, Miiko fechou o aplicativo. Sentia um misto de curiosidade e pressão, diante da insistência daquele desconhecido ou desconhecida. O que tinha nela, para que quisessem a sua participação em um suposto jogo?

― É o “remetente misterioso” de novo? – Tatsuo indagou.

― É, sim.

Nisso, os dois foram chamados à sala do superintendente. Entraram no local, onde encontraram não somente Hiroji, mas também Takeru e Ruriko. Os dois irmãos ficaram meio intimidados, mas logo Ohta tratou de tranquiliza-los:

― Não se preocupem, eles também estão ajudando nas investigações. Em que posso ajudar?

Miiko desbloqueou o telefone, abriu o WhatsApp e apresentou-o ao superintendente:

― Ohta-san, conforme seu conselho, vim junto com meu irmão mostrar as mensagens que recebi.


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