Quatro dias escrita por Silmara F


Capítulo 1
Quatro dias


Notas iniciais do capítulo

Uma curta one-shot.
Relacionamento a três.



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                Luna olhou para o calendário na parede com desgosto, os quatros X em vermelho gritante pareciam zombar de qualquer força psicológica que ela poderia ter. Há quatro dias Steve e Bucky saíram em missão do outro lado do país – quatro dias que ela foi deixada em casa, com nada mais que ligações a cada turno do dia. Isso não era suficiente, não quando ela estava em seus dias ruins.

 

                Ela se encolheu na cama, a cabeça entre os joelhos. Respira, Luna. Respira. Falava para si mesma. Está tudo bem. Você está bem, os garotos chegam hoje a qualquer momento e você não quer que eles te encontrem em um de seus ataques. Luna quase chega a rir de nervoso. Se Steve e Bucky a vissem como ela está agora, não a deixariam sozinha nem tão cedo.

 

                Fazia tempo que Luna não tinha outra recaída nesse nível. Pesadelos, sim, mas isso todos os três tinham – Steve, Bucky e ela. O passado dos três não deixava margem para ser diferente. O problema agora era que ela não teve ninguém para acordá-la e abraça-la quando ela gritou no meio do sono na madrugada da primeira noite em que eles saíram em missão. Ela não teve ninguém para ajudá-la quando a lembrança do pesadelo voltou pela manhã e a tirou o ar. E Luna ficou muito envergonhada para contar aos meninos o que estava acontecendo nas ligações que sucederam. Força, mulher! Será que você não aguenta quatro dias por conta própria? Você já passou sua vida inteira sozinha, não vai morrer em menos de uma semana!

 

                Talvez, pensou ela, esse seja o problema. Ela já esteve sozinha por tempo demais e agora não suportava a ideia de perder o que tinha. Parecia que sua vida no presente era o sonho e que os pesadelos que tinha com o passado voltariam a ser realidade. As vezes ela não conseguia acreditar onde estava no momento: que ela tinha escapado da Hydra após anos vivendo lá dentro, como ela era sufocada pelo pai – agente da Hyda, nada menos – e suas expectativas para a filha, como ele queria que ela se tornasse a lutadora perfeita para que pudesse lutar ao lado da Hydra. As vezes Luna não acreditava que estava finalmente livre.

 

                De tempos em tempos, ela costumava se lembrar do dia que os Vingadores entraram na base da Hydra e a resgataram. Hoje em dia ela até ria de como eles pensaram que ela era um dos agentes da Hydra, mas após ela salvá-los os guiando para a verdadeira saída da base, e não para a armadilha preparada pelos agentes, eles acreditaram no lado que ela escolheu lutar.

 

                As vezes Luna não conseguia acreditar que tinha os dois melhores namorados do mundo, os dois super soldados. No começo, ela se sentia confusa pelos sentimentos que nutria por ambos, e chegou a esconder por muito tempo. O que a confundia mais, entretanto, era o modo como eles dois pareciam flertar com ela, até mesmo um em frente ao outro.

 

                Luna riu nervosamente por entre os dentes, lembrando do dia em que Bucky e Steve a tomaram nos braços e disseram que a queriam, que a amavam. Ela não tinha entendido nada e eles riram enquanto explicavam que queriam que os três ficassem juntos. Os três.

 

                E eles vinham se ajudando desde então. Luna entrou para SHIELD usando todos os conhecimentos de luta que foi forçada a aprender pelo pai enquanto estava na Hydra. Normalmente, ela pegava missões mais discretas, enquanto o trabalho árduo de luta envolvia outros agentes – como Steve, Bucky ou até mesmo Natasha. Mas já houve muitas vezes em que a missão que Luna ficou encarregada se transformou em algo perigoso – sempre havia o risco.

 

                Mas agora Luna se encontrava encolhida na cama e com dificuldades para manter a respiração. Ela reconheceu que estava tendo um ataque de pânico, uma herança que carregava do seu tempo em que esteve na Hydra. Normalmente quando isso acontecia Bucky e Steve estavam lá, mas não hoje. Eles chegariam a qualquer momento – quatro dias, disseram eles. E a espera apertava o peito. Luna não queria que eles a encontrassem dessa forma, mas não conseguia formar nenhum pensamento lógico.

 

                Imagens do cárcere, dos gritos do pai, do chicote – meu Deus! O chicote! Passavam em flashes em seu pensamento. Luna colocou as mãos na cabeça, puxando os cabelos. Respire, Luna, respire.

 

                As lágrimas já estavam escorregando livremente pelas suas bochechas. Ela pegou a colcha da cama e se cobriu com ela, em uma tentativa vã de conter os tremores que percorriam o corpo – não era frio o que ela estava sentindo, e ela sabia disso.

 

                Luna não conseguia focar em mais nada enquanto mais e mais imagens passavam pela sua cabeça. Em um momento de desespero, mordeu o braço para conter o grito que saia.

 

                “Luna? Luna!” – ouviu uma voz a distância, mas estava ocupada demais para distinguir se era outra lembrança ou se estava realmente acontecendo.

 

                De repente, ela sente braços arrancarem o cobertor ao redor dela. Alguém a abraça por trás, apoiando o queijo em seu ombro. Ela reconhece esse toque, reconhece esse cheiro... Steve!

 

                “Luna, boneca! Ei, ei, ei, calma. Estamos aqui, estamos aqui. O que aconteceu?” perguntou Steve enquanto a abraçava por trás, balançando-a para trás e para frente. De alguma forma, ela já se encontrava em seu colo.

 

                Ao mesmo tempo ela sentiu uma mão afagando seu maxilar, enquanto outra tirava o braço que ela estava mordendo para suprir o grito.

 

                “Calma, amor. Deixa eu tirar esse braço daí, não se machuca. Está tudo bem. Respira, só respira.” Bucky falou enquanto afagava o lugar que os dentes dela tinham cravado a carne.

 

                “Luna” – Bucky retornou a dizer – “quem somos nós?”

 

                Luna só chorou mais forte.

 

                “Luna, boneca, você precisa focar.” – disse Steve em seu ouvido. – “Quem somos nós?”

 

                “Steve Rogers e Bucky Barnes.” – você conseguiu falar.

 

                “Ótimo, doçura, muito bom.” – parabenizou Bucky – “Onde você está?”

 

                Luna fecha os olhos, recusando-se a olhar ao redor.

 

                “Luna, preciso que você responda essas perguntas para sair de qualquer lembrança que está na sua mente. Você precisa vir para o presente, amor. Onde você está?”

 

                Luna abre os olhos cheios de lágrimas e olha ao redor, respirando fundo, quase aliviada.

         

                “Na nossa casa em Nova York. Em nosso quarto. Em nossa cama.”

 

                “Ótimo, bebê.” – falou Steve – “Que ano é esse?”

 

                “2018”

 

                Luna começou a respirar com mais calma, focando no presente, focando nos braços de Steve ao redor do corpo dela, no toque macio de Bucky em seus braços e em suas bochechas, tirando as lágrimas do caminho.

 

                Bucky se inclinou e depositou dezenas de pequenos beijos em toda a sua face.

 

                “Respira, inspira. Faça como eu.” – Bucky disse enquanto demonstrava. “Estamos aqui, boneca, estamos aqui. Está tudo bem agora.”

 

                Luna abaixou a cabeça. Estava tudo bem.

 

                “Desculpa. Eu... Eu não sei porque...” – Luna começou a tentar se explicar só para ser cortada por Steve.

 

                “Hey, você não precisa se desculpar. Todos nós temos isso, todos nós temos um passado que nos assombra. Estamos aqui por você e você está aqui pela gente. Está tudo bem.”

 

                Ela não sabe o quanto tempo ficou ali entre os dois, ouvindo sussurros de que tudo estava bem, sendo balançada docilmente de um lado para o outro. Após alguns minutos, ou até mesmo horas, Steve quebrou o silêncio.

 

                “Luna... há quanto tempo você está ?”

 

                “Piorou essa manhã... no dia que você foram para a missão, eu tive um pesadelo. As imagens continuaram vindo... Eu consegui puxar todas embora, mas depois elas continuaram vindo... Até que hoje eu desabei. Eu...”

                “Boneca, porque não falou conosco? Porque não comentou nada nas ligações?” Bucky perguntou, a expressão preocupada.

 

                “Não queria preocupá-los... Não é como se eu não conseguisse viver sozinha por uma semana, mas o timing do ataque não poderia ter sido pior... com vocês longe...”

 

                “Luna, amor...” – disse Steve – “você consegue passar por isso, você é forte, nós nunca pensaríamos o contrário. E nós te amamos mais que tudo, teríamos voltado em um piscar de olhos para você, se não um, ambos.”

 

                “Luna, você não precisa passar por isso sozinha. Nenhum de nós precisamos. Estamos juntos e ajudamos uns aos outros – é isso que pessoas que se amam fazem...” – Bucky suspirou.

 

                “Eu sei... eu sei...” – Luna se virou e abraçou Steve com toda a força, enquanto ele descansava o queixo em cima de sua cabeça. “Desculpem.”

 

                “Tudo bem, boneca. Mas não pense duas vezes em nos dizer o que acontece com você da próxima vez.” Bucky falou enquanto beijava seu ombro.

 

                Luna só balançou a cabeca afirmamente, enquanto se virava e beijava Bucky nos lábios. Bucky retribuiu com ganância, como sempre era o seu beijo.

 

                “Acho que eu mereço um também” – disse Steve divertidamente.

 

                Luna sorriu.

 

                “Merece sim.” E o beijou com doçura, como sempre era o beijo de Steve.

 

                “Então, o que me diz? Um banho nós três juntos e depois podemos deitar na cama, comer pipoca e assistir algo na TV?” Bucky perguntou se levantando e pegando Luna nos braços.

 

                Luna riu, abraçando o pescoço do namorado.

 

                “Parece uma ótima ideia para mim, Bucky” – disse Steve – “vou esquentar a água.”

 

                “Neh, punk.” Disse Bucky. “O chuveiro está bom. Vamos fazer isso rápido. Quero matar a saudade logo.”

 

                Luna sorriu mais uma vez. Ela estava com eles.

 

                Tudo estava bem.


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Notas finais do capítulo

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