Me queira escrita por Marina


Capítulo 1
O depois...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/763542/chapter/1

“Você deve estar bem doida por ter deixado a gente passar pelo cortiço inteiro assim...”

“Você me desalinha, você me desalinha... eu estava morrendo de saudades...”

“Eu também. ”

“... eu não vou mais largar de você. “

...

“Ai! ”

“Ernesto! Não... chega, chega. Eu... tive um espasmo de lucidez. Eu não sou Elisabeta. Se você quiser, você terá que ser direito e se casar comigo para ter outros... banhos quentes. “

“Ema...”

“Com licença. “

...

“Uh. Casar? Ela falou... até nisso?

 

*

 

Após Ema fechar a porta do quarto em que eles estavam abruptamente, recostou-se no batente, recuperando o fôlego. Um enorme sorriso pendia em seus lábios, agora inchados pela força e intensidade dos beijos que trocara com Ernesto segundos atrás. A baronesinha fechou seus olhos, suspirando enquanto acariciava sua própria boca, já sentindo falta dos toques suculentos do homem que estava por trás daquelas paredes.

­­– ­Ema? – Jane apareceu no corredor, exasperando-se ao ver a amiga ali, naquele estado. Os cabelos e as roupas íntimas de Ema ainda estavam molhados, deixando Jane ainda mais preocupada com a morena ao vê-la ali. – Ema, o que aconteceu? Venha, vamos para o seu quarto.

— Jane... tudo bem, eu estou bem. Mais do que bem. – O sorriso enorme teimava em fazer morada em seus lábios, aproveitando a deixa e assegurando Jane de que a baronesa realmente estava bem. Com as bochechas coradas e o coração transbordando de fogo e paixão, Ema nem se importou com seus trajes, ou com o vestido agora esquecido no banheiro do cortiço. Jane a segurava pelo braço direito enquanto as duas caminhavam em direção ao quarto de Elisabeta.

— É impressão minha ou aquele era o quarto de Januário e Ernesto? – Jane sussurrou a última parte, aproximando-se um pouco mais da amiga. Inconscientemente, a loira também sorriu, já tendo um pequeno vislumbre das palavras que viriam a sair da boca de Ema.

— Era... era o quarto de Ernesto. – Ema exasperou, dando-se conta do que estava acontecendo – ou do que acabara de acontecer. Olhou para o seu próprio corpo e para a falta de roupas. – Jane! Oh meu Deus, eu não posso ser vista assim! Mas que falta de modos, Ema Cavalcante! Vamos, vamos...

Puxou o braço da amiga e as duas caminharam apressadamente para o quarto vazio de Elisabeta. Assim que Ema abriu a porta, Jane a acompanhou e a fechou atrás de si. Os olhos de Ema, sempre tão leves e ponderados, agora carregavam em si a mais forte das emoções. Arregalados, eram visíveis o ardor e o fogo que os sustentavam. Jane sorria, sem ser capaz de falar uma coisa sequer para tirá-la de seu transe e estupor.

Ema andava de um lado para o outro no pequeno espaço entre a cama e a parede. Sua mão direita, pousada estrategicamente em seu lábio inferior, acariciava-o delicadamente enquanto seus olhos perdiam-se em algo muito além do presente.

— Ema, minha amiga, não me leve à mal, mas você vai acabar abrindo um buraco enorme nesse chão. – Jane finalmente explanou seus pensamentos, quebrando o silêncio que se perpetuava por alguns minutos no pequeno quarto. Ema devolveu o foco à sua mente e mirou os olhos de Jane, sorrindo.

— Eu falei... – Ema começou, mas foi interrompida por ela mesma, virando-se na direção contrária à loira e recomeçando seus passos.

— Falou o quê, Ema? Por que não mandou me avisar que havia retornado do Vale? – Jane estava sentada na cadeira da escrivaninha de Elisabeta, mexendo em alguns fios soltos de sua trança. – Eu teria preparado um café para recebê-la...

— Para Ernesto, Jane! Eu falei para Ernesto... – Ema parou, sentando-se na beirada da cama e soltando um longo suspiro apaixonado. – Que eu o amo.

— Mas isso eu acho que ele já sabia, não? – Jane levantou, caminhando até onde a baronesinha estava e sentando-se ao lado dela. Depositou a mão esquerda por sobre o joelho de Ema, confortando-a. – Ernesto foi o primeiro a saber, Ema. Ele sempre soube.

— Eu o amo, Jane. Mais do que já amei alguém. – Ema suspirou, devolvendo o carinho na mão da loira. – Eu achava que amava Jorge, mas esse sentimento... essa alegria que eu sinto quando estou com Ernesto, eu nunca senti com Jorge. Quando Ernesto me beija...

— Eu sei. – Jane também suspirou, perdendo o olhar. – Isso é amor, paixão, desejo, todas as mais lindas emoções juntas em uma só. Eu sinto isso quando estou com Camilo.

— Sente? – Ema virou seu olhar e encarou Jane, esperançosa. – Eu não estou louca, então?

— Louca de amor, minha amiga. Está sim. – A loira afirmou. – E eu tenho plena certeza que Ernesto também é louco por você. Se entregue ao amor, Ema. É a melhor coisa do mundo.

— Obrigada, Jane. – Ema se inclinou alguns centímetros, abraçando-a. Assim que Jane foi embora, a baronesa se atirou na cama posicionada no centro do quarto, estirando os braços por cima de sua cabeça. Sorriu ao se lembrar da última vez que estivera deitada assim, com Ernesto por cima de seu corpo molhado, a envolvendo pela cintura e a beijando furiosamente.

Era isso. Ela finalmente havia sentido. O que ela conhecia como amor, não era propriamente o amor romântico que ela ansiou durante toda a sua vida. Os casamentos que havia arranjado para as amigas e para as pessoas do Vale do Café eram consequência daquilo que ela estava sentindo ali, naquele exato momento. Como pudera cogitar ser feliz com Edmundo, ou com qualquer outra pessoa, era agora uma piada em seu passado. Encontrara em Ernesto o que faltava em sua vida e, agora que sentira o doce gosto da felicidade, nunca mais iria deixa-la ir embora de sua vida. Nem a felicidade, nem o amor, nem Ernesto.

*

O dia amanheceu como todos os outros, ensolarado e calmo. O que contrastava gravemente com o coração e o estômago de Ema, repletos de pequenas borboletas que não a deixaram dormir durante toda a noite.

Permaneceu por mais alguns longos minutos na cama, suspirando e pensando nos próximos passos que daria a partir dali. Ela, sempre tão meticulosa e dependente de planejamentos, se via agora sem a menor noção do que fazer. O desconhecido nunca havia sido tão perfeito. A certeza de que Ernesto estaria por perto a reconfortava.

Ernesto.

Ela iria encontra-lo ali no cortiço em algum momento. O que ela iria dizer? O que ele iria dizer? Ele iria abraça-la? Beija-la? Eles teriam que conversar sobre que o acontecera na noite anterior, não teriam? Ema sentou-se na cama, ajeitando seus longos cabelos ondulados. Vagou seus olhos pelo quarto à procura de seu vestido.

O vestido.

Havia ficado no banheiro, junto com as roupas de Ernesto. Se alguém as visse no chão jogadas uma ao lado da outra, iria tirar conclusões e suposições totalmente erradas. Ou pior, iria reconhecê-las.

— Oh, mas que drog... – Ema levantou apressadamente e, antes que pudesse fazer alguma outra coisa, uma leve batida ressoou da porta fechada do quarto. – Não... – Ela lamentou. Como estava sem nenhum outro traje à sua disposição, tentou se esconder atrás da porta enquanto a destrancava.

— Ema... – Ernesto a cumprimentou com o sorriso mais lindo do mundo preenchendo sua face. Com a mão esquerda apoiada no batente, segurava com a direita o vestido branco que a baronesinha usara no dia anterior. – Bom dia, baronesinha.

— Bom... dia, Ernesto. – Ema sorriu para a figura à sua frente. – Bom dia.

— Vim lhe trazer seu vestido, já que a senhorita o esqueceu no chão do banheiro público do cortiço ontem. – Ernesto arrumou sua postura, oferendo o traje para que ela pegasse. Sem saber como fazer para alcança-lo afim de evitar que ele à visse novamente em seus trajes íntimos, Ema o encarou, indicando com a cabeça na direção da cama.

— Pode deixa-lo na cama, por favor? – Ela arqueou as sobrancelhas, ainda sorrindo.

— Ora, Ema! Não me diga que a baronesinha está com vergonha de mim? – Ernesto entrou no quarto, parando no meio do pequeno espaço que havia entre a porta e a cama. Cruzou os braços, ainda segurando o vestido. Com um sorriso presunçoso nos lábios, Ernesto continuou a provocá-la. – Não é como se eu ainda não a tivesse visto assim. Se quiser seu vestido, terá que vir até aqui.

— Argh. – Ema revirou os olhos. – Você é insuportável, Ernesto.

— E pelo o que eu bem sei... palavras ditas por você, não se esqueça... – Ele segurou o vestido com as duas mãos, ajeitando a parte de cima. – Você está apaixonada por esse insuportável que vos fala.

— Você pode, por favor, deixar meu vestido ali e sair para que eu possa me trocar? – Ela disse entredentes, segurando o riso e a vontade de caminhar até ele.

— Se quiser... – Ernesto disse, sentando-se na cama. – Terá que vir até aqui buscar. Se você não vier, eu não irei sair daqui.

— Seu turno na fábrica irá começar logo, portanto o senhor deverá sair daqui em poucos minutos. – Ainda ofuscada pela porta, Ema recostou-se na parede, cruzando os braços em teimosia. – Eu consigo esperar.

— Pedirei demissão de for necessário. – Ernesto arrulhou.

— Você não faria isso...

— Faria sim. – Ele sorriu, brincando com o tecido do vestido.

— Ernesto! – Ema saiu de trás da porta, correndo em direção ao homem que a mirava apaixonadamente. – Vá já para o trabalho!

Antes que ela pudesse alcançar o vestido, Ernesto a pegou primeiro, depositando suas mãos na cintura da baronesa, puxando-a para perto de si.

— Eu irei, baronesinha. – Ele abaixou a cabeça, deixando seu hálito roçar com a boca de Ema. – Mas antes, preciso fazer uma coisa...

Assim que seus lábios se encontraram, Ema sentiu toda a sua tensão esvair de seu corpo lentamente e um formigamento lhe tomar conta aos poucos em lugares que ela nem mesmo sabia que eram possíveis. Ernesto aprofundou o beijo ainda mais, pegando-a pela nuca e massageando seus cabelos macios. Seus lábios moviam-se freneticamente, guiados pelo prazer.

— Isso foi... – Ema começou assim que o beijo foi interrompido. Ernesto recostou sua testa com a dela, esperando que suas respirações se normalizassem.

— O verdadeiro bom dia que eu esperava receber. – Ele disse com um sorriso bobo pairando nos lábios avermelhados.

— Bom dia, Ernesto. – Ema sussurrou, levantando o olhar e cruzando com o dele.

— Bom dia, baronesinha. - Ele depositou um pequeno beijo em sua bochecha e caminhou até a porta aberta, piscando um última vez para a mulher que permanecia no mesmo lugar, atordoada. – Muito bom dia para a senhorita.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!