Justiça escrita por jeancoelho


Capítulo 3
Capítulo III - Obstáculo


Notas iniciais do capítulo

Rodada 3, tema "SURPRISE BITCH!"
Sim, o meme.



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A primeira impressão do Instituto Médico Legal lembra morte. O cheiro inconfundível de defunto, o ambiente escuro e pesado, a desorganização, já que todos os funcionários parecem zumbis trabalhando. Era a minha primeira vez e eu não esperava que o ambiente fosse tão decadente. 

Pelo menos tive a oportunidade de acompanhar a autópsia de perto. O homem estava irreconhecível, porém pude lembrar de seu rosto apenas pelos traços. Ao mesmo tempo que a visão me trouxe nojo e desgosto, me deixou interessada. Parte da profissão consiste em lidar com visões nem um pouco agradáveis e aquela era a primeira vez que eu via um corpo deformado daquela maneira.

Me fez pensar a dor do suicídio. A alma tão deformada que não se importa de deformar também o corpo para que acabe o sofrimento. É duro escolher a vida quando a morte parece muito mais atrativa. Pacífica. Calma. Sórdida. Fria. Preferir seu corpo agitado, pensativo, constantemente em movimento precisa que no final seja recompensado com coisas boas. Se você não acha essas coisas acaba preferindo o outro lado.

A esposa do falecido não fez questão de aparecer assim que o corpo chegou no IML, chegou horas depois quando avisada que a autópsia já havia sido feita. Ela parecia abalada mas necessitava manter a classe, pelo que parece, pois usava óculos escuros e um vestido preto elegante. Também não ficou muito tempo, assim que pegou a papelada, se dirigiu ao carro que a esperava pronta para ir embora. Fui atrás dela disposta a coletar informações.

— Com licença, senhora Oliveira. - Chamei - Tem um minuto?

Ela olhou para mim e foi meio difícil decifrar o que ela pensava. Provavelmente achava ser uma repórter ou curioso, então me adiantei.

— Eu sou policial. - Continuei.

— Claro. Seja rápida, por favor.

— Sim, senhora. Primeiramente gostaria de declarar que a polícia da cidade do Rio de Janeiro está disponível para qualquer imprevisto e assistência. Já indiquei uma assistente social para a senhora, ela te ligará e a senhora poderá trabalhar ela da forma que desejar.

Ela sorriu de canto e pareceu incomodada. Mas esboçou gentileza.

— Obrigada pelo cuidado, mas não é necessário. Nós já tínhamos assistência funerária.

— A senhora acha que não foi tão repentino assim o que aconteceu? - Resolvi soltar de uma vez.

—Claro que foi. - Disse incomodada pela pergunta. - Nunca imaginei que Dado faria uma coisa dessas.

— Ele não tinha sinais de depressão?

— Não, nada disso. Fazia sessões com psicólogo frequentemente, mas agia normalmente para um depressivo... quer dizer, não entendo.

— Você acha que alguém pode ter feito isso com ele?

— Eu não sei. - Ela já soluçava - Querida, ele se matou. Ninguém pode obrigar ninguém a se matar.

— Aí que tá. Pode. Eu posso te ajudar a descobrir o que aconteceu de verdade, mas para isso, preciso compilar mais informações.

Ela levantou os óculos e vi de verdade seu rosto. Uma mulher muito bonita com a maquiagem muito borrada. Seus olhos pareciam buscar conforto nos meus. Ela não parecia bem e por isso me senti mal em buscar ajudá-la apenas para descobrir o que aconteceu de verdade. Porém, descobrir o que aconteceu provavelmente a faria bem, logo de qualquer maneira não estaria fazendo algo errado.

— Se a senhora desejar eu poderia acompanhá-la á sua casa.

— Desculpe. - Relutou um segundo mas continuou. - Eu tenho que ir para a empresa, os acionistas querem discutir o futuro da empresa.

— Apenas quero fazer companhia, e dar-lhe um pouco de segurança. Tem problema ir até...

— Aspirante. - Uma voz chamou.

Olhei para trás no susto. Um homem baixo e encorpado vinha em nossa direção. Ele não estava fardado, mas era inconfundível. O Primeiro Tenente Gian Bartoly estava com as mãos no bolso e parecia irritado, claramente porque não queria estar ali.

— Parece que o Capitão te acha incompentente. - Sacaneou. - Ele mandou ajudá-la, caso você estrague tudo.


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