Ode às Margaridas escrita por Ahelin
Notas iniciais do capítulo
Este capítulo pertence à Rodada 8, cujo tema é "Perdão". Boa leitura!
Com um suspiro, ela ergueu na estante a última moldura. Demorou a perceber o sorriso estampado no próprio rosto, que combinava com a expressão do casal na foto.
Estivera limpando os cantos empoeirados com afinco e recolocando cada peça de decoração qye havia retirado de seu lugar; se antes não conseguia olhá-las, agora as exibia com orgulho. As fotos, as lembranças, todo o carinho que mantivera empacotado por aquele longo período.
Eram parte de sua história; parte dela.
Ao fundo, como uma trilha sonora planejada pelo destino, a música cantarolada por Rodrigo a todo momento logo que se conheceram foi a escolhida pelo modo aleatório do celular.
Subitamente, prestou atenção à letra como nunca havia feito, e só então encontrou seu real significado.
Deixe-me ir, preciso andar. Vou por aí a procurar. Rir pra não chorar.
Parou e deixou-se curvar ao chão. Agatha viu-se deitada de costas no mesmo tapete onde chorara tantas vezes, chorando outra vez, porém por um motivo diferente. Lembrou-se de como havia mudado com o passar dos anos e de tudo que viveram juntos.
De todos os sentidos possíveis, ela escolheu o mais improvável e tomou-o para si como um mantra.
Rir pra não chorar.
Lembrou-se de como o havia culpado, e de como reprimira esse sentimento. Sabia que era errado, mas não entendia antes que precisava aceitá-lo para livrar-se dele.
Mexeu as mãos ao som do violão, sorrindo e chorando ao mesmo tempo, as costas apoiadas na maciez do tapete, os olhos fechados, o coração aberto. Cantou junto, desafinou, riu e tentou encontrar dentro de si o peso que parecia parte dela apenas uma semana antes.
Imaginou-se confrontando-o sobre isso.
"Você me deixou."
"Não pensou em como eu ficaria?"
"Agora eu não tenho mais ninguém."
Não havia mais sentido nessas palavras; pareciam parte de um sonho distante. Todos os cenários imaginários terminavam em risadas e beijos, alegria, tranquilidade.
— Já devia ter feito isso há muito tempo, mas não fiz — sussurou. Mesmo acreditando que não seria ouvida, dizê-lo em voz alta tinha um efeito calmante sobre seu pulso acelerado. — Eu perdoo você.
Divertiu-se com a ironia: mesmo que ele não estivesse, de fato, ali, e que sua morte fosse o motivo de todo o pesadelo, era sua voz que a confortava, seu toque que a consolava.
E, finalmente, ela aceitara; perdoara-o por ir, e a si mesma por tentar apontá-lo como culpado.
Não havia mais nada. Estava livre.
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Os capítulos tão ficando cada vez menores, mas o que pode ser dito com pouco não deve ser alongado :3
Beijão!