Bring Me Home escrita por Luh Marino


Capítulo 8
07


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Eu saí da boate por uma porta de emergência no fim do corredor do camarim. Não voltei para onde meu grupo estava e não dei nenhuma explicação em um primeiro momento. Eu estava muito abalada para sequer pensar naquilo. Precisava descansar, precisava ir para casa. Estava tão desnorteada que eu realmente fui para casa.

Quero dizer, para meu antigo apartamento na cidade. Onde eu morava com meus pais antes de nos mudarmos para Toronto.

Só parei em frente à entrada do condomínio, quando as chaves que eu tinha obviamente não abriram a porta do prédio.

Pensei em ir ao parque do outro lado da rua, mas as lembranças com os dois homens no beco me assombraram e eu fiquei com medo por já estar tarde demais. Então entrei em um táxi que passou na hora certa e fui de volta para os dormitórios da faculdade.

Fazia quase duas horas desde a conversa com Castiel quando eu finalmente cheguei ao meu quarto e me joguei na cama. Meu celular, conectando-se à internet, começou a vibrar e tocar enlouquecidamente com as mensagens. Dei uma lida por cima. Rosa, Lysandre e Alexy principalmente. Me perguntando onde eu fui, se havia acontecido alguma coisa. Respondi aos três com simples “estou bem”, prometendo e explicações mais tarde, apenas porque não queria deixá-los ainda mais preocupados.

Sem sequer trocar de roupa, caí no sono.

Acordei com a porta se abrindo abruptamente. Vi na tela do celular, jogado ao meu lado, que não passava nem das cinco e meia da manhã. A luz foi acesa e gritos fizeram minha orelha zunir:

— O que diabos foi aquilo, Charlotte?

Era Yeleen. Eu devia ter previsto.

Cocei os olhos, não me importando com o rímel que estaria borrando e minha provável cara de zumbi. Sentei-me no colchão.

— Bom dia para você também.

— Não me venha com gracinhas! Me explica agora! — ela jogou a bolsa que segurava na própria cama, e o barulho que ela fazia provavelmente nos renderia broncas dos vizinhos mais tarde.

— Yeleen, sério. Quem é você para exigir respostas minhas?

— Você é a louca que causou a reação mais bizarra no meu namorado, que o fez sair no meio do show, e que o seguiu até o camarim.

Tentei manter o rosto sem reação, mas engoli a seco. Então eles realmente tinham um relacionamento.

— Hein? — ela insistiu.

Novamente, passei a mão pelo rosto. Eu não tinha tempo para aquelas provocações, então resolvi ser direta.

— Castiel é meu ex namorado. Quatro anos atrás, quando eu me mudei daqui para outra cidade, nós terminamos de uma forma um pouco triste. Nenhum de nós queria, de fato, terminar.

A pose de Yeleen murchou um pouco.

— Eu voltei pela minha especialização e não fazia ideia de como ele estava, nós perdemos contato com o término. Decidi ir ao show porque queria saber como ele estava. Não foi minha intenção causar aquela reação nele. Ou em você. Eu só queria vê-lo e ver se ele estava bem.

Não pedi desculpas, mas acho que deixei implícito. Ela pareceu perceber, pois sua guarda baixou um pouco.

— Ok. — foi a única coisa que ela disse por algum tempo.

Eu desci das beliche, decidindo finalmente trocar de roupa e tirar a maquiagem do rosto, já que o surto da minha colega de quarto havia tirado um pouco do meu sono. Me sentei em minha escrivaninha e passei um algodão com demaquilante no rosto.

— Você… não pretende nada com ele, não é? — ela perguntou após um bom tempo. Olhei por sobre o ombro e ela continuava parada no mesmo lugar onde estava desde que havia chegado. Não me encarava.

— Não.

Eu estava sendo sincera. Retomar um relacionamento afetivo com Castiel não estava nos meus planos, e pela reação que ele teve ao me ver, eu poderia apostar que não estava nos planos dele também.

— Tudo bem.

Dito isso, Yeleen pegou sua bolsa de volta da cama e saiu pela porta novamente.

Eu terminei de me limpar, troquei de roupa e voltei para a cama. Definitivamente eu precisava dormir mais.

Acordei para valer no meio da tarde. Depois de tomar um banho e sair dos pijamas, respondi às mensagens dos meus amigos. Rosa decidiu que precisávamos nos encontrar e me chamou para seu apartamento. Eu aceitei porque realmente queria conversar, não apenas sobre o que tinha acontecido no show, mas também outros assuntos que eu ainda não tinha abordado com ela (com ninguém, na verdade) e precisava tirar do meu peito.

Assim, comprei um salgadinho em uma máquina de vendas no corredor do dormitório e em menos de uma hora estava tocando a campainha da casa de Rosalya. Além dela e do namorado, estavam também Alexy e Lysandre. Todos eles me abraçaram com vontade. Leigh, antes de partir para trabalhar na loja de roupas, me avisou que tinha sobras do almoço deles e eu aceitei um prato de bom grado. Nos sentamos no sofá.

— Como está? — claro, foi Lysandre quem perguntou.

— Levando a vida.

Minha resposta os fez rir. Depois do gelo quebrado, contei tudo que havia acontecido a partir do momento em que eu reconheci minha música sendo cantada. Cada mínimo detalhe, narrei passo a passo, desde Yeleen gritando comigo na plateia até Yeleen gritando comigo no quarto. Meus amigos ouviram tudo silenciosa e atentamente, sem uma única interrupção que fosse. Lysandre tinha um braço sob meus ombros, Rosa estaca com a mão em minha perna, Alexy me olhava no fundo dos olhos. Eu me sentia apoiada.

No fim de tudo, Lys tossiu levemente e senti seu braço atrás de mim se mexendo.

— Preciso dizer que já sabia.

Todos nós olhamos para ele no mesmo instante.

— Castiel me disse. — explicou.

Eu suspirei, entendendo. É claro. Eles ainda eram melhores amigos, afinal. Lysandre deve ter percebido a reação estranha de Castiel saindo do palco no minuto em que aconteceu, e eu devia saber que ele perguntaria ao amigo o que tinha acontecido. E o ruivo contaria.

— Você sabia do namoro dele com Yeleen esse tempo todo? — Alexy questionou, levantando mais um ponto que sequer havia passado pela minha cabeça. Lys confirmou com um aceno de cabeça. — E por que não contou? — Alex apontou para mim. “Por que não contou a Lottie?”, foi o que ele quis dizer.

— Não é exatamente um namoro. Eles têm esse relacionamento, é algo meio em aberto. Pensando melhor agora, acho que falta diálogo ali. — Lysandre parecia pensativo conforme falava. — Castiel definitivamente não vê como um namoro. Mas Yeleen não parece estar na mesma página que ele.

Suspirei novamente. Tinha mais essa, agora.

Rosalya estava quieta. Me virei para ela com um olhar questionador. Ela não era do tipo que ficava quieta, ainda mais com um assunto como aquele na mesa.

— O que foi, Rosa? — perguntei. Ela me olhou no fundo dos olhos.

— Você tem certeza do que disse a Yeleen?

Eu quase travei.

— Sobre o namoro? — perguntei. Ela assentiu. — Por que eu não teria certeza?

Rosalya se aproximou ainda mais, pegando minha mão e segurando entre as suas.

— Do jeito que você falou, Lottie, sobre o seu encontro com Castiel. Como você se sentiu. Não parece que foi nada.

Eu quis rir. De verdade, eu quis rir. Rosalya estava me analisando? Isso não era considerado anti-ético no código dos psicólogos? Contudo, me mantive séria.

— Rosa. Ele foi meu primeiro amor. Para falar a verdade, o único até agora. Eu tenho carinho imenso por ele. É claro que vê-lo me causou sentimentos… diferentes. Não quer dizer que eu o quero de volta.

— Se você diz. — foi a resposta da minha amiga. Eu soube que não tinha mais conversa com ela.

— Lot. Queres que eu fale com Castiel? — Lysandre me perguntou. Eu sorri para ele.

— Você é um doce. — toquei seu rosto e ele também sorriu. — Mas não. Me sentiria mal se o pressionasse a qualquer coisa. Se formos conversar, quero que ele tenha essa vontade por si só.

Ficamos em silêncio por um tempo e eu decidi ir ao banheiro. Antes de sair e voltar para a sala, minutos depois, me encarei no espelho. Tinha grandes e roxas bolsas abaixo dos olhos, apesar de ter dormido a manhã inteira e quase metade da tarde. O encontro realmente havia me afetado mais do que o que eu esperava. Pensei no que Rosalya disse, e me senti um pouco mal.

Ela não poderia estar certa.

Não, eu definitivamente não queria que ela estivesse certa.

Finalmente voltei ao encontro dos meus dois amigos. Eles estavam ainda no sofá, jogando conversa fora e bebendo um refrigerante que Rosa provavelmente foi buscar na cozinha. Me sentei na mesma posição de antes.

— Tem… mais uma coisa.

Todos me encararam curiosos, é claro. E, depois de respirar fundo, eu os disse sobre minha primeira noite na cidade. Contei que quando estava voltando do encontro no bar com Rosa, Alex e Priya, dois homens me abordaram em um beco escuro e pareciam querer fazer mais do que me assaltar. Não consegui impedir que lágrimas enchessem meus olhos ao relembrar aquele momento, que foi realmente traumático.

— Meu deus, Lottie, por que não me disse antes? — Rosa perguntou, passando o dedo em minha bochecha para secar uma lágrima que escapou.

— Eu não tive coragem. Não conseguia.

— O que aconteceu então? — Lysandre questionou.

— Nathaniel apareceu e os afugentou.

Rosa ficou em silêncio, pareceu pensar.

— Então aquele dia em casa vocês já tinham se encontrado?

— Sim. Ele literalmente salvou minha vida. — eu consegui sorrir em meio às lágrimas. Lys me puxou para mais próximo dele, apertando o abraço.

— Me lembre de agradecê-lo. — brincou. Rosa, ao meu lado, sorria fracamente.

A conversa não durou muito mais depois daquilo. Beliscamos alguns petiscos que Rosalya ainda tinha guardados e falamos sobre outros assuntos. Eu ainda queria falar sobre a fazenda com Lysandre, mas ele realmente não parecia aberto a esta conversa, o que me preocupava um pouco. Mas novamente não quis insistir para não magoá-lo.

Foi uma tarde proveitosa, de qualquer forma, e eu sentia como se uma pesada bigorna tivesse sido retirada dos meus ombros. Eu conseguia até respirar mais facilmente. Era bom tirar aquilo do peito, finalmente.

Quando cheguei no dormitório já era noite. Havia jantado na casa de Rosa antes de voltar para a universidade. Estava exausta, mas ainda precisava passar no quarto para pegar roupas e tomar um banho antes de poder dormir. Ainda teria aulas no dia seguinte.

Porém, ao abrir a porta do dormitório, Yeleen estava sentada em sua cama olhando para baixo, e sua atenção voltou para mim quando entrei. Ela se levantou, e eu entendi no mesmo instante que teria que conversar com ela além de tudo que já havia acontecido.

— Charlotte, eu vou ser direta. — foi o que ela disse. Eu quis rolar os olhos e mandá-la para um local não agradável, mas me segurei.

Deixei minha bolsa na minha cama e separei um pijama do guarda roupa, bem como peguei minha necessaire com produtos de higiene. Por fim, me virei para encarar a colega de quarto, que parecia querer minha total atenção antes de falar qualquer outra coisa.

— Eu aprecio sua honestidade e a conversa que tivemos hoje cedo me deixou tranquila quanto ao que você irá fazer em relação ao meu namorado, o que eu espero que seja nada. — novamente segurei meus impulsos e não ri diretamente na cara dela.

O que diabos ela queria?

— Mas a sua presença por si só me deixa desconfortável. E visto que a gente sequer se dá bem, e imagino que a convivência não vá melhorar depois do episódio de ontem… eu gostaria que você se mudasse.

Minha surpresa se fez notar.

— Tá bem, Yeleen, mas me mudar para onde?

— Não me importa.

Bufei alto. Ela não poderia estar falando sério.

— Se você quiser pagar o aluguel de um apartamento pra mim, sem problemas. Até lá, eu não vou sair desse dormitório.

Peguei minhas coisas e comecei a sair do quarto.

— Você pode trocar de quarto com alguém, sei lá. Você realmente quer me deixar desconfortável com a sua presença?

— Se é você quem está desconfortável, por que você não se muda? — foram minhas palavras finais.

Saí do quarto em direção ao banheiro no fim do corredor querendo explodir de raiva. Essa garota não fazia a menor ideia do que ela estava fazendo. Claramente ela não sabe como se comportar de maneira responsável e não sabia de jeito algum ser uma adulta. Fala sério!

No banheiro, quase quebrei o registro ao ligar a água do chuveiro, de tanto ódio que sentia e acabei descontando na torneira. Aproveitei a água quente para tentar me acalmar antes que voltasse ao quarto e cometesse um homicídio. Depois do banho em si, também levei um bom tempo para me arrumar, querendo me dar o maior espaço possível para que me acalmasse. Estava terminando de escovar os dentes quando a porta se abriu Chani apareceu entrando no banheiro.

— Ei! Finalmente estou te vendo. — ela disse. Eu lavei a boca e sorri. — Como você está? Sumiu depois do show.

Eu respirei fundo. Acho que a hora havia chegado.

— Chani, tenho uma coisa a te dizer…

Ela estava indo para os chuveiros, mas parou com minha fala. Se aproximou novamente de mim e me olhou interessada.

— Castiel, o guitarrista da Crowstorm. — ela assentiu, sabendo do que eu falava. — É meu ex. Namoramos durante o ensino médio e terminamos quando eu me mudei após o fim da escola.

— Mentira?

Eu neguei com a cabeça, querendo rir com sua reação. Ela pegou minha mão e sacudiu como uma criança animada com uma boneca nova.

— Garota, isso é uma fofoca e tanto!

Finalmente me deixei soltar uma risada.

— Pois é. E no show, aquela música que ele tocou e eu saí andando, sabe? — ela assentiu novamente, acompanhando a história. — Ele escreveu aquela música pra mim quando ainda namorávamos. E ele me viu na plateia e por isso pediu pausa no show. E ele foi até os camarins, e eu fui atrás.

A boca de Chani estava aberta e seu queixo quase encontrava o chão. Ela estava realmente muito surpresa. Eu já esperava, realmente era algo grandioso, ainda mais para ela que era fã.

— Digamos nossa conversa não foi das melhores. — terminei de contar a história.

— Sério. Eu não tenho nem palavras. — Chani respondeu depois de um tempo em silêncio, provavelmente absorvendo o que havia ouvido. — Muitas coisas fazem mais sentido agora!

Rimos juntas.

— Eu até perguntei aos seus amigos o que estava acontecendo quando você saiu andando como se tivesse hipnotizada, mas todos eles deram de ombros, fingindo que não sabiam. Provavelmente não queriam contar um segredo que não era deles.

— Provavelmente. — concordei, feliz pelos amigos que tinha. Se ainda estivéssemos na escola, havia grandes chances de um deles acabar contando a fofoca. Que bom que todos haviam amadurecido. — Enfim, foi isso. Eu fui embora depois do encontro com Castiel, porque a situação toda acabou me abalando mais do que eu havia previsto.

— Entendi. Obrigada por confiar em mim. — ela ainda segurava minha mão, e apertou um pouco mais forte nesse momento.

Sorrimos uma para a outra. Chani era uma boa pessoa, me deixava feliz poder contar com ela. Sentia que ainda teríamos uma grande amizade pela frente.

— Bom, agora eu tenho ainda mais problemas pra lidar em decorrência desse encontro. — disse, querendo arranjar mais assunto só para não ter que voltar tão cedo para o quarto.

— O que quer dizer?

— Yeleen, minha querida colega de quarto, acabou que ela é o novo relacionamento do Castiel.

Novamente, a surpresa tomou conta de todo o rosto de Chani, assim como havia acontecido comigo quando também descobri sobre aquilo.

— Pois é. E aparentemente ela se sente desconfortável com a minha presença no quarto, sabendo que eu já tive um passado com o presente dela, e agora ela quer que eu me mude.

Chani deu uma risada escandalosa, claramente um pouco forçada.

— Essa garota não pode estar falando sério!

— Foi exatamente o que eu disse! Pois falei a ela que se ela está desconfortável, ela que se mude.

— E está certíssima!

Finalmente nos despedimos e deixei Chani tomar seu banho. Ao voltar para o quarto, Yeleen estava com grandes fones de ouvido enquanto mexia no computador, e ficou claro que ela não queria ser incomodada. Ótimo, pois não estava nos meus planos conversar com ela. Só aproveitei o silêncio para deitar na cama e dormi do jeito que estava e com as luzes ainda ligadas.


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Notas finais do capítulo

Essa atualização foi rapidinha, não foi? Bom, eu continuo com a estratégia de postar um novo capítulo cada vez que termino de escrever um a mais, e eu escrevi um praticamente inteiro só hoje. Aí resolvi fazer esse agrado aqui SHDUHADHA
O que acharam? Esse aí foi bem focado na reação da Lottie depois do encontro com o Castiel. Por ser uma fanfic escrita em primeira pessoa, não tem como a gente saber a reação do ruivo, mas seria interessante.
Como vocês acham que ele está? heheh
Espero postar um novo capítulo em breve!
Não deixem de comentar, viu?!
Beijos, xuxus ♥



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