Atsushi nunca pensou que sua vida mudaria de forma tão rápida em tão pouco tempo. A princípio, quando se viu sendo obrigado a trocar de lados em uma aliança desesperada com a Máfia do Porto, a primeira coisa que sentiu foi desespero.

Nunca conseguiria se adaptar a um lugar que, ao contrário da Agência de Detetives, cometia crimes de todas as espécies.

Eles já estiveram lutando juntos por um objetivo em comum antes, é claro, mas ter o cenário aonde Atsushi seria obrigado a trabalhar permanentemente com a Máfia nunca havia passado por sua cabeça.

Mas então, de repente, ali estava ele.

"De novo"

Sentiu seu corpo ir de encontro com o chão de forma bruta pela milésima vez naquele dia. O dono da voz, o qual havia ordenado para recomeçarem o que estavam fazendo, estava ali em pé a sua frente.

Atsushi não perdeu tempo pensando nas pontadas de dor que vinham de seu corpo, se levantando de um salto, totalmente pronto.

Nakahara Chuuya foi um dos motivos pelos quais o garoto havia permanecido na Máfia sem maiores discussões.

Entre toda a obscuridade que aquela organização representava, ele nunca havia cogitado que existiam sim pessoas interessantes ali dentro.

Quando conheceu Chuuya pela primeira vez, Atsushi teve medo dele, depois curiosidade, ao ouvir as histórias de Dazai e a raiva que ele tinha para com o ruivo.

Atsushi sabia que ele era forte, mas ao contrário de Akutagawa, que parecia ter uma sede de sangue e instinto problemático para tudo, Chuuya era surpreendentemente diferente. É claro, não quando envolvia Dazai, visto que o ódio era mútuo entre eles, mas tirando este pequeno detalhe, o executivo da Máfia era sério quando o assunto era trabalho, além de saber muito bem respeitar as pessoas que estavam ali dentro daquela organização.

Não só isso, mas todos ali pareciam ter grande apreço e respeito por ele também.

"De novo!"

Atsushi se levantou mais uma vez ao receber um forte golpe, e com os punhos fechados, tentou se concentrar para poder atacar o homem novamente.

Quando havia chegado na Máfia, Mori deixou Chuuya encarregado de supervisionar Atsushi em sua adaptação. Não somente lhe dar trabalhos, mas também ajudá-lo a melhorar sua habilidade, tanto com o Tigre quanto física.

Foi então que Atsushi pode conhecer mais o ruivo, descobrir que ele não era nem metade das coisas que Dazai havia falado, além de ser extremamente habilidoso.

Era por isso que eles passaram a se reunir quase diariamente para treinar. Chuuya era surpreendentemente paciente, embora aparentasse ser explosivo algumas vezes. De certa forma Atsushi até mesmo se lembrava de Kunikida quando começaram a treinar juntos.

Talvez por isso, entre outros fatores, que sua adaptação à Máfia não foi tão assustadora quando pensava que seria.

Chuuya era fácil de lidar e estava disposto a ajudá-lo, apesar de tudo que enfrentaram estando em lados opostos daquela cidade.

"Tudo bem, vamos parar por aqui" O ruivo decretou depois de derrubar Atsushi novamente com facilidade.

O menino-tigre suspirou aliviado, sentando-se no chão, sentindo as várias dores dos golpes recebidos naquele dia.

"Tome um banho e me encontre mais tarde" e dito isso, Chuuya saiu da sala de treinamento em que estavam, sem olhar para trás.

Atsushi esboçou um pequeno sorriso antes de se levantar para ir tomar seu merecido banho. Mais tarde, encontraria Chuuya no mesmo bar de sempre e ambos apreciariam um bom vinho – ainda que não fosse muito o gosto do garoto, e discutiriam sobre novos treinamentos, técnicas e as habilidades ainda a serem exploradas do Tigre.

Atsushi ainda sentia saudades da Agência de Detetives, mas a verdade é que, apesar de simples e estranha, ele realmente estava se acostumando àquela rotina da Máfia do Porto.

Não era tão ruim quanto parecia.

E ele sabia que devia grande parte disso à Nakahara Chuuya.