As Raízes de Yggdrasil escrita por The White Searcher


Capítulo 2
Capítulo 2 - Um Nome




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/763397/chapter/2

O fruto primordial diminuía seu brilho, de modo a fazer cair a noite em Midgard. Ao mesmo fruto que traria o dia horas depois, as pessoas chamavam de lua, quando fraquejava assim, e dava lugar aos frutos menores de brilharem como milhões de estrelas no céu. Aquela era a árvore da vida, que podia ser vista a norte, emergindo da terra até o céu, fazendo parte de todo o cenário. A copa, que segurava os frutos, era o céu, tão longe que acabava perdendo sua coloração verde para a mais forte azul e pura. Mas nem todos conseguiam contemplar este cenário belo e mágico de Midgard. Na verdade, quem conseguia ver, era agora a minoria, tomados por serem loucos ou bruxos, e em terras menos desenvolvidas como a cidade situada no centro do deserto de Sograt, queimados como bruxos que trariam infortúnios.
E pelas ruas tomadas pela quietude e silêncio perturbador, assim como a escuridão, ecoava os soluços e urros de um recém-nascido. Seus cabelos rubros como o sangue, com um corpo pequeno e frágil, e olhos que ainda não estavam prontos para encarar o mundo e a casa em que vivia. Era feita em barro, numa coloração marrom em seu interior, apesar do exterior ser dourado pelas areias que a cobriam e desgastavam o material primário. Pequenas rachaduras enfeitavam as paredes, também com marcas de pequenas mãos, talvez, feitas pelo garoto que se encolhia no canto do único compartimento do recinto que não teria mais do que cinco metros de espaço. Seus cabelos tinham a tonalidade oposta ao garoto que nascera. Eram azuis e escuros como a noite, assim como os da mãe que pacientemente segurava o bebê em seus braços, o embalando em pequenos e gentis gestos, o balançando.

— Shhh… Não queremos acordar toda a vizinhança, pequeno. – Dizia a mulher em tom brando, com uma voz tão suave quanto a brisa que entrava pelo buraco ao qual chamavam janela, com a cortina verde vibrante, balançando com o vento.

— Ele é um chato. – Reclamava o rapaz, abraçando as próprias pernas. Suas roupas rasgadas e maltratadas, com a pele coberta de pequenos hematomas. Os cabelos também estavam cheios de grãos de areia e terra, e seus olhos eram afiados como os de um predador numa cor dourada, mas com aquele pequeno corpo, de nada adiantaria um olhar feroz.

— Calma, calma… Caelum. – Os olhos igualmente dourados da mulher que não parecia ter mais do que vinte anos, se direcionaram ao outro filho, o qual não parecia ter mais do que cinco anos. – Seu irmão vai crescer, assim como você. E te ajudará bastante!

— Se ele não calar a boca, não vai nem passar de hoje. – Levantou-se do chão coberto de areia, mas nem se preocupou em sacudir as vestes já gastas com o tempo, de forma a perderem qualquer tipo de cor. De forma rápida, espreitou para a rua escura, iluminada parcialmente pela vela que queimava no interior da casa.

Aos poucos a criança se tornava mais branda, procurando tatear o rosto da mãe com as pequenas mãos curiosas, mas logo se cansando e cedendo ao sono. Sua boca se abriu num bocejo preguiçoso, e despreocupado, começou a sonhar. Mas com o que sonharia um recém-nascido? Sequer conhecia o mundo. Sequer sabia com o que sonhar. A mulher lentamente o repousou sobre um amontoado de tecidos que serviriam de cama para a criança, e descansou os braços. Tirou debaixo de si a bacia recheada de sangue e os restos do parto, e suspirou pesadamente. Caelum, voltou a sentar-se em seu canto, abraçando as pernas com os joelhos ralados, numa crosta que se feria diariamente.

— Olhe por seu irmão, sim? – Pediu calmamente, levantando o corpo ainda fraco das dores sentidas, e limpando com uma toalha, os lábios feridos de os ter mordido durante o parto. Pegou em silêncio a bacia, e a pousou entre o braço e a cintura, começando pesadas caminhadas em direção à porta, que também era coberta por uma cortina rasgada.

— Mãe… - O rapaz se levantou apressadamente, correndo para a mãe que amava, e lhe segurando a saia longa, do vestido roubado a uma verdadeira dama da corte, numa cor branca.

— Sim, Caelum? – A mãe pausou a caminhada, para se virar para o pequeno rapaz, deixando que a destra repousasse em seus cabelos, e os acariciassem com um sorriso ameno, aquele que apenas mães conseguem proporcionar aos filhos. O reconforto, o abraço sem toque.

— Se eu vou olhar por ele… Preciso saber como chamá-lo. – E desviou os olhos que pareciam conter ouro puro em seu interior, para o pequeno que descansava entre os panos e cobertas reaproveitadas.

— Cyprianus… - A mulher vincou os lábios secos e feridos num sorriso, com a palavra que saíra quase como um sussurro.

— Cyprianus? Que nome estranho.

— Nero Cyprianus será o nome dele.

— Um nome de família? – Soltou a saia da mãe, permanecendo em silêncio, e deixando que o olhar pesasse até o chão. Seu coração acelerava, como se sentisse um pouco de raiva do próprio irmão, que recém-nascido, já tinha direito a um sobrenome. Era inveja, algo que sabia ser impuro, mas tudo era naquela cidade, então não se importava. Encolheu os ombros, indo lentamente para perto da criança.

— Quando eu sair, apague a vela, certo? – Notou a reação do filho, chateado com toda a situação. Um sobrenome era algo caro naquela época, algo que apenas nobres tinham, e sempre tinham significados especiais. Naquele caso, não era diferente. A criança em si era especial, pela coloração de seus cabelos, e também, pelo nome que um dia revelaria seu significado. – Caelum.

— Certo, mãe. – Puxou uma coberta para si, se envolvendo na mesma, e se aproximou da vela para a apagar. Sim, uma coberta, pois os dias no deserto são extremamente quentes, mas a noite espelhava esse efeito, se tornando tão frio quanto nos polos.

E a mulher saiu, segurando a cortina para a saída segura, e desaparecendo pelas vielas inseguras noturnas. Só quando as passadas não puderam mais ser ouvidas pelo rapaz de cinco anos, que este soprou a pequena chama, se recostando à beira do pequeno irmão, e o encarando por vários minutos, como se o sono o rejeitasse, e não o oposto.

— Você não é nenhum nobre, entendeu? Você teve azar em nascer aqui. Você teve azar em nascer. – Reclamou a criança, que apesar dos sentimentos negativos, estava feliz por não ter que estar mais sozinha durante as noites. Ao fim de alguns minutos, fechou seus olhos, e dormiu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Um nome naquela época, e neste mundo, possui bastante significado, principalmente se possuir um sobrenome.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Raízes de Yggdrasil" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.