O Sexto Comando escrita por Mitchece


Capítulo 24
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Oi gente.

Felizmente as férias chegaram e eu vou voltar a postar regularmente. Se der tudo certo, até o final delas já terei alcançado o final da Parte III!

Nos vemos no próximo domingo ;)



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— Vocês conseguiram algo com eles? – Bixano perguntou.
— Nada demais. Nada além do que cê já disse. Sobre eles venderem umas crianças pra Patrulha e tals.
— E descobrimos que são loucos mesmo – Mirella completou.
— É bizarro pensar nisso. Parece que a Patrulha tá em todo lugar da cidade - Bixano prosseguiu. - Depois de levar vocês lá eu vou voltar pro Vespeiro. Preciso convencer Amely para colocar mais gente nisso.
— Vai ser fácil se cê voltar com uma parada mais choque pra convencer. Foi o que ela pediu. Chegar lá sem nenhuma novidade e ainda com a notícia de que Onze morreu... Ela vai ficar puta pra caralho – Mirella levantou-se. Lince lembrou-se da promessa que havia feito. Ao retornar ao Vespeiro, teria de ser uma soldada de Amely pra sempre.
— A gente precisa ir. Queria ter forças o suficiente pra acabar com essa palhaçada toda – Lince refletiu lembrando de seus amigos.
— A gente pode tentar, mas tá foda o negócio.
— É o único jeito, continuar – a formiga disse decidida. – Se nada der certo, ainda tenho um plano de desespero.
— Qual?
— Me entregar pra Patrulha. Lá dentro eu resolvo o que fazer.
— Ah, era só o que faltava. Não tem noção de como é lá dentro! – Bixano disse com indignação à garota de cabelos ondulados.
— Lince, parece que cê emburreceu com o tempo, isso sim - Mirella bufou.
— Eu sei, por isso se chama medida desesperada, ué.
— De qualquer jeito, Lince, todos que estão lá dentro querem sair desesperadamente daquele inferno. É quase uma ofensa cê querer entrar.
— Não me importa, porque mesmo se não conseguir nada lá, estarei perto dos meus amigos e terei certeza que estão bem ou não – ela disse decidida e um pouco irritada.
— Puta merda, hein? Fizeram uma lavagem celebral na Lince que conhecia. Tudo bem, tudo bem, você é quem sabe...
— Gente, foco – Bixano  interrompeu.
— Exato – Lince continuou dizendo. Tinha uma voz orgulhosa. - Eu tenho que ajudar todos eles. Estou aqui fora, sou uma das únicas formigas que conseguiu não ser pega pela Patrulha. Vivi todos esses anos sozinha, mas só agora, sem eles, que tô me sentindo sozinha de verdade.
— Eu também preciso me empenhar nisso – Bixano concluiu em seguida. – Tenho todos os motivos do mundo pra morrer de medo de encarar a Patrulha de volta ou estar tão próximo dela de novo, mas tudo o que eu passei só me dá mais vontade de ajudar e evitar que mais crianças passem pelo que passei.
— Viram? É a mesma causa. Sempre temos que nos ajudar. Lembram como era antes? Antes dos comandos se formarem pra acolher as crianças da rua?
— Acolher? Você quis dizer usar, não é? É isso que os líderes dos comandos fazem. Nos transformam em delinquentes a força em troca de umas merrecas – Bixano disse.
— Não venha com esse papo louco de novo, Bixano. Mas que seja – Mirella continuou. – Era tudo um caos antes. Cada um por si. Perdi vários conhecidos pras drogas porque eles estavam sem rumo, não conseguiram engolir a situação. Só os mais resistentes continuaram de pé.
Lince lembrou-se das suas jornadas na rua com sua irmã quando eram mais novas e dos perrengues que passaram. Arrepiou-se toda, principalmente quando a cena da morte da garota veio em sua cabeça, e aquela sensação de que poderia ter feito algo para contornar a situação e salvá-la. Tentou afastar os pensamentos e Mirella continuou:
— O que importa é que encontramos segurança e alimentos de verdade depois de tudo isso porque começamos a nos ajudar, a viver aglomerados nos comandos.
— Ok, ok – Lince assentiu. – Temos que ir.
— Pera aí – Bixano mexeu nos bolsos de sua calça toda rasgada. – Tenho algo que trouxe pra nós - ele levantou a mão e mostrou algumas pílulas roxas que lembravam tic tac. – São pílulas de sono.
— Caramba – Mirella surpreendeu-se -, nem sabia que elas existiam mais. Como conseguiu?
— Roubei da enfermaria do Vespeiro quando tava saindo de lá.
— O que são essas coisas? – Lince perguntou sem entender quando recebera uma das pílulas do garoto.
— São remédios que tiram o sono – ele explicou. – São versões, ahn... tunadas daquelas drogas que motoristas usam para ficarem acordados e fazerem viagens mais longas em menos tempo.
— O Vespeiro usava muito antigamente – Mirella continuou a explicação. – Davam pras Vespas que ficavam de guarda ou pras que saiam em missões longas. A Amely não aprovava muito, então quando ela assumiu o poder acabou deixando de lado.
— Eu sempre saia do Formigueiro e ia até o Vespeiro para pegar algumas. Enfim, elas tiram quase uma noite toda de sono dos seus olhos. Achei que precisaríamos.
— E como – Mirella disse engolindo sua pílula. – Eu estou, sei lá, com aquela mistura de sono e cansaço.
Logo em seguida Bixano também tomou. Lince ficou encarando a sua com desconfiança e um pouco de nojo. Nunca havia usado drogas e nem sequer tomado esse tipo de remédio que afeta o organismo. Receosa, deixou o botãozinho roxo rolar garganta abaixo.
— Logo o sono vai sumir ou nem vai chegar. Agora, vamos.

Os três jovens partiram para a estação de trem mais próxima e pegaram a linha que partia para a estação mais perto da margem da zona norte. O oeste não ficava tão distante de lá, mas aquele trem passava por duas estações do centro, fazendo uma enorme curva. Por isso, demorou mais que deveria.
Quando construídos, os metrôs de Alpha tiveram alterações tão suspeitas na verba que as obras paravam por completo sempre e depois voltavam por alguns meses. Várias das empreiteiras largavam as obras ou faliam; algumas até eram fechadas por denúncias dos partidos concorrentes sobre os esquemas de corrupção.
Depois de sete anos de muita confusão, desaparecimentos e acusações de todos os lados, o enorme complexo dos metrôs foi completamente construído, resultando em uma obra arquitetônica e funcionalmente esquisita e difusa. E ainda diziam que a reta final das obras foi financiada pelo tráfico, que viria a usar alguns vagões trancados para carregar cargas durante a madrugada. Mas tudo história. Ou não.
Da estação pegaram um ônibus até atingir o bairro onde Mirella encontrou Bixano perdido. Ele era bem suburbano, com casinhas idênticas de financiamento e iniciativas da prefeitura. Anos antes aquele lugar provavelmente era um deserto completo. Algumas ruas eram tão esburacadas que dava medo de cair em uma das crateras e nunca mais voltar pra superfície.
O clima estava seco e o calor tomou conta dos três jovens. Todos retiraram suas jaquetas, menos Bixano, que continuou com elas para deixar escondidas as armas que conseguira recuperar no covil dos Patrícios. Estavam com medo e muita pressa, então acabaram pegando apenas as que estavam por cima. Havia uma pistola para cada e a faca de Lince. O garoto não apresentava problemas com a longa caminhada, ao contrário das garotas.
— Eu odeio calor – Mirella desabafou muito descontente.
— Nem me diga – Lince puxou todo o cabelo e prendeu num coque para sua nuca tomar um vento.
Era realmente muito afastado. Estranho pensar que Mirella fora até ali para assaltar casas. Quinze minutos depois chegaram até a casa da senhora onde Bixano estava. Prosseguiram e entraram em um matagal meio ralo, de onde o garoto dissera sentir ter corrido.
— Bem, se eu alcancei a casa da velha nessa linha – ele esboçou o caminho com o braço e apontou para o outro lado -, provavelmente vim daqui. Tentei correr o mais reto que pude. Achei que os riscos de dar de cara numa árvore eram menores.
Eles seguiram a linha apontada por ele. O ar ficou mais úmido e fresco conforme seguiram, diferente da secura que o norte normalmente tinha por causa de suas fábricas que vomitam fumaça no ar o dia todo.
— Acho que estamos chegando no rio Tatuí – Mirella disse.
— Sim. Quando me tiraram da van, eu ouvi o barulho do rio bem forte. E o chão tava bem molhadinho.
Logo alcançaram uma estrada fina de asfalto velho e maltratado, mas Bixano disse que o carro não viera dali, pois ele sentira com os pés a estrada apenas depois de um tempo correndo, um pouco distante da direção de onde a van viera e estacionara.
No caminho, passaram por um acampamento improvisado e abandonado no meio da mata. Eram lonas pretas sustentadas por galhos de madeira, formando um pequeno complexo de seis casinhas. No centro, marcas de uma possível fogueira. Havia materiais, embalagens e roupas para todos os lados.
— Até pensei ter chego na cidade quando senti esse asfalto aqui, mas continuei correndo mesmo assim e o mato não tinha acabado ainda – ele explicou.
— Se a gente não achar nada lá para frente, voltamos aqui e seguimos por essa estrada mesmo.
— Eu acordei e a van já tava em movimento. Não sei qual a distância percorreram do covil até aqui, mas acho que não foi tão longe. Sei lá também - comentou meio desanimado. Parecia estar meio confuso ao tentar recordar do que tinha acontecido.
Depois atingiram uma clareira as margens do rio. Ele era largo e bem violento, o rio. Suas águas tinha um tom lamacento. Havia uma outra estrada de terra com marcas de pneu quase imperceptíveis que sumiam alguns passos depois porque a terra ficava muito seca. E tinha um mau cheiro. Um puta mau cheiro vindo das águas.
— Tem tanta química nesse rio que a água deve ser mais louca que os soros da Patrulha – Bixano disse rindo. – Ok. É aqui, acho.
Eles olharam ao redor, mas não viram nada de relevante.
— Vamos seguir aquela estrada de terra – Mirella sugeriu cansada. – Tem porra nenhuma aqui.
— Pera. Cê disse que os corredores e celas do covil eram bem úmidos, não é? – Lince perguntou curiosa para Bixano.
— Aham. Disso lembro bem. Certeza que eram subterrâneos. Os corredores eram confusos, faziam umas curvas meio malucas e não tinha janela em lugar nenhum, só os dutos de ar por cima. No refeitório era o único lugar que tinha entrada de luz do sol. É imenso, um circulo. O teto é bem alto e tinha janelas de vidro. Se tem algo na superfície, talvez seja isso. É o que temos que procurar.
— Ok. Se eles não andam muito até aqui para desovar os corpos, pode ser que o covil fica por aqui perto, certo? – Lince disse.
— Sim – Bixano afirmou. – E tem mais uma coisa. O Mario vivia falando disso. Ele falava que ouvia água corrente vindo da parede. Passava um tempo com a orelha na parede e falava isso. Eu dizia que era só a água encanada, mas ele falava que era mais alto, mais forte.
— Certo, certo... – Lince continuou raciocinando. – Atrás desse morro ali, depois de alguns poucos quilômetros, acho que é onde fica a barragem do rio. Olhem como o curso dele é violento nessa área. Não sei como funciona, mas já ouvi falar que quando aquelas portas gigantes tão abertas a água fica mais forte..
— Real, acho que ela fica por ali mesmo – Mirella comentou. – Mas o que tem isso?
Bixano olhou sorridente para Lince. Havia captado o que a garota estava pensando.
— O covil da Patrulha é subterrâneo, úmido e tem som de água – ela explicou. - São os dutos de água e esgoto que vão para o rio antes da barragem.
— Então a prisão da Patrulha é pode ser aqui por perto. Bingo! – Bixano afirmou feliz.
— Melhor que isso – Lince continuou. – Provavelmente estamos em cima dela.


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Notas finais do capítulo

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