O Sexto Comando escrita por Mitchece


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas.

Perdão pelo hiatus - é que me dei umas férias. Agora voltei e os capítulos também (yay!). Mas, a partir dessa nova parte, os capítulos serão postados apenas uma vez por semana - provavelmente nas quartas. A história está crescendo e ficando mais complexa de escrever, então a linha de produção precisa ser mais cuidadosa.

Os capítulos também serão maiores a partir de agora. Alguns leitores manifestaram essa vontade e eu realmente senti necessidade de acatar.

Por favor, não se esqueçam de deixar um comentário ou um sinal de vida após lerem os capítulos. É o que me motiva a continuar postando a história aqui para vocês acompanharem.

Boa leitura!



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— Eles pegam o nosso gene. Mexem nele. Misturam com... coisas. E depois nos devolvem.

— Como assim?

— Eles fazem experiências genéticas com a gente – Bixano disse ríspidamente.

— Mas que tipo de experiências?

— Eu acho que pra criar uma espécie de soro, vacina – ele fez uma pausa para soltar aquela tosses horríveis, retomou o ar e voltou a falar: - Testaram dois em mim. O primeiro me deixou forte, alargou meus músculos. Aquela porra ardeu pra caralho. Cada pedacinho do meu corpo gritava, meus músculos pareciam estourar enquanto iam crescendo. E ai veio a segunda vacina. A dor passou na hora, como se tivesse me anestesiado, tá ligada? Foi um alívio, mas dai... dai eu fiquei assim.

— Isso é...

— Sim, parece coisa de filme. Eles nos criam em uma prisão que nem bicho, como se fosse um canil. A gente fica lá preso o dia todo. Só saímos para comer e tomar banho. De resto, é só esperar a hora pra ser testado.

— Tem muitas crianças lá? Todas de rua?

— Sim. Não têm adultos. Não sei te falar quantas, mas é bastante. Sempre chegam mais, todos os dias. E também vão. Algumas são chamadas pelos guardas e nunca mais voltam pro quarto.

— E onde fica? Você sabe?

— Olha, faço a mínima ideia. Mas tenho uns palpites.

Um excitação tomou conta do garoto enquanto ele continuava a contar:

— O lugar parece ser subterrâneo, a prisão. É úmida, abafada. E tem câmaras diferentes, umas quatro. Separam os meninos das meninas nelas. Cada câmara tem um corredor com umas vinte celas, sei lá. No meio é que onde nos levam para comer. Nos alimentam bem. Se preocupam com o nosso corpo, nossa saúde. Mas às vezes era difícil deixar tudo no estômago. E... Cada câmara tem um banheiro enorme, e acho que os laboratórios ficam na outra extremidade do... lugar. Talvez em cima.

— E quantas crianças são levadas pra testes por dia?

— Quase todo dia a maioria vai pro laboratório. Tiram sangue, e uma outra parada que eles falam. Esqueci o nome. Acho que é... medola. Medula! Acho que é daí que tiram material para estudar as vacinas.

— Deve ter sido horrível...

— Foi. Acho que não quero falar sobre como realmente são algumas paradas lá.

— Tudo bem...

— Mas tiveram outros testes antes de mim. Os meus resultados agradaram eles, os cientistas, então imagine só o resultado que os anteriores tiveram... Muitos não devem ter suportado. Depois dos testes somos levados pra fazer mais experimentos, pra analisar o resultado dos soros. Teste de força, habilidade. Eu acabei me desgastando muito e desmaiei. Eles pensaram que eu estava morto. Foi aí que consegui fugir.

— Como!?

— Iam desovar o meu corpo em um rio. Eu acordei dentro de um furgão, na parte de trás. Um igual ao que me sequestrou. Dai eu fiquei lá, imóvel, fingindo que tava morto ainda. Tinham dois caras na frente. Ouvi que antes de jogar na água iam me jogar num tanque com ácido. Me tiraram do furgão e me arrastaram. Tinha um cheiro de bosta ou coisa podre e som de água. Era o rio Tatuí, tenho certeza. Com todo aquele cheiro podre... Não pode ser outro. E dai, bem, eles me pegaram o colocaram no chão, na grama. Ouvi eles se afastando. Nem pensei direito. Só levantei e corri no sentido contrário do barulho da água.

— Acha que os laboratórios e a prisão da Patrulha ficam por ali?

— Olha, não sei te dizer. Acordei já dentro do carro. Não tenho noção do caminho. Mas, assim, o cheiro do rio era bem forte, então aquela região não fica muito distante da cidade, não é? Sei que tava longe de casas porque tinha muita umidade, sabe? De árvores, mato. E pelos pés senti apenas gramas e terra por vários passos. Senti asfalto muito tempo depois de começar a correr. Foi lá que por sorte despistei os caras. Trombei com muitas árvores e tropecei em várias coisas, mas consegui escapar. Quando bati de cara em um muro, fui socorrido por uma senhora.

“Depois disso foi Mirella quem me achou. Graças aos deuses ela assaltou a casa da senhora naquela noite e me reconheceu. Tava acompanhada com uns amigos e eles ajudaram a me tirar de lá. Foi ai que percebi minha inutilidade. Tive que ser arrastado o caminho todo até aqui. Eu ainda conseguia ficar de pé, me mover e tal, mas minhas pernas e braços me trapaceavam, além de eu, bem, não enxergar quase nada”.

— Caramba, Bixano... E-eu sinto muito por você.

Ele retornou a tossir.

— Tá de boa. A Geni é ótima e tá cuidando bem de mim, mas, sabe, tá na cara que minha hora tá chegando. Se pudesse eu acabaria com tudo isso de uma vez. Não aguento mais ficar aqui com todos com pena e cuidando de mim.

— Desculpa fazer mais perguntas, mas eu preciso...

— Tudo bem.

— E como você foi capturado?

Bixano respirou fundo e pelo seu olhar, sua mente parecia ter ido longe. A pele arrepiou e ele tremeu um pouco para aliviar, e então prosseguiu:

— Foram uns Patrícios, tá ligada? Aqueles filhinhos de ricos que vêm pro centro fazer putaria e fingir que são que nem a gente. Mas eram diferentes dos outros. Eram mais violentos, psicóticos...

— O que fizeram com você?

— Eles me torturaram um pouco. Se divertiram pra caralho. Era doentio. Tenho completo nojo só de lembrar. E depois me venderam pra Patrulha em troca de drogas, acho. Eles são insanos, Lince.

— E onde eles te cataram?

— Aqui no oeste mesmo. Tava perseguindo um cara que tava me devendo numas ruas atrás do Chinliú, o bairro chinês. Eu vacilei, mano. Era tarde, umas quatro e meia da manhã. Aquele lugar é um breu de madrugada. Ninguém anda de boas nas ruas de lá por causa da Mafinesa. Mas, olha, queria mil vezes que aqueles chineses putos que tivessem me pegado. Sabe como eles torturam as pessoas né?

— Óleo quente – Lince respondeu. Já tinha ouvido algumas histórias da máfia do bairro chinês e poucas delas eram amigáveis. Na verdade, por experiência própria, não achava os caras da Mafinesa tão bad boys assim. Tudo bem que metiam medo sempre com as caras fechadas, armas imensas nas mãos, corpos cheios de tatuagens... Mas não mexiam com ela quando passava pelas feiras do bairro. Pareciam fazer mais a linha “estamos resolvendo nossas tretas aqui de boas, só não se meta que você não terá problemas”, afinal, quase a cidade toda sabia da cocaína que passavam pelas cozinhas tradicionais do Chinliú e ninguém era frito vivo por causa disso.

Mas as histórias que contavam sobre eles eram diferentes. Cruéis ao extremo. Talvez fosse só mais uma lenda urbana de Alpha para botar medo nas crianças desavisadas nas ruas – a Mafinesa era um dos únicos grupos criminosos que não usavam mão de obra jovem. Talvez não as quisessem por perto.

— É, eles jogam óleo quente nas pessoas. O mesmo óleo de fritar pastel e camarão. Preferia isso do que tudo que passei, na moral. Enfim. Os Patrícios vieram por trás e me levaram pra uma garagem lá por perto. Era o covil deles.

— Você pode me dizer exatamente onde ficava essa garagem?

— Posso. Mas, Lince. Cê tá com cara de que tá afim de ir atrás dele, mas manda se foder, por favor. Esquece isso.

— Eu preciso ir, cara.

— Eles vão te matar, ou pior: te mandar pra Patrulha. Eu tô assim por culpa deles... Tudo culpa deles, Lince...

A voz dele fraquejou mais que o normal e parecia esboçar um choro.

— Eu vou preparada e tomar cuidado, juro – ela disse decidida e também um pouco irritada. Mal conhecia esse tais de Patrícios e já queria enfiar uma faca nos cus deles.

— Eles são conhecidos pela região, mas andam mascarados o tempo todo. Máscaras de gás. Um grupo de cinco pessoas, acho. A garagem fica na Rua 15 com a Avenida Lemes, por lá. É uma rua sem saída.

— Obrigada, Bixano. Espero que melhore – Lince levantou-se decidida e estava saindo da ala, mas ele a interrompeu:

— Lince...

Ela virou-se para ele.

— Se encontrar esses caras, mate eles por mim.

— - -

Para Lince conseguir processar tudo o que sabia agora sobre a Patrulha, deveria ir atrás desses Patrícios. Eles tinham contato direto com ela. Deviam saber muito mais.

Passou pelo pano branco que isolava a ala de Bixano e deu de frente com Mirella. Ela estava de pé bem de frente ao local e esboçava uma cara séria; estava de braços cruzados. Lince parou assim que a viu e esperou que dissesse algo, mas a garota permaneceu encarando-a.

— O que foi? – finalmente perguntou para a jovem de cabelos bonitos a fim de que dissesse algo logo e pudesse sair dali.

— Você não vai fazer isso – a morena disse seriamente.

— O que? – Lince se fez de desentendida.

— É perigoso, Lince. Não podemos mais ficar vagando pelas ruas, não dá mais!

— Do que cê tá falando? – a formiga tentou fazer-se de desentendida.

— Eu ouvi tudo o que tavam falando ali atrás. E você ir atrás desses caras, dos Patrícios e da Patrulha, é uma ideia completamente retardada.

Mirella ia prosseguir falando, mas Lince colou seu corpo no da amiga e a interrompeu:

— Olha, eu sei o que tô fazendo e...

— Ah, que típica, mesmo. Mario me contava que essa é a frase que você mais fala.

— Se repito tanto é porque é verdade – respondeu bufando um pouco. – O que quer que eu faça? Espere aqui sem fazer nada? Meus amigos foram levados por essa porra de Patrulha e sou a única pessoa que se importa com eles que sabe de alguma coisa pra poder ajudar.

Havia acabado de dizer que se importava com aquelas pessoas. As palavras saíram de maneira espontânea, mas depois a menina sentiu o peso do que disse.

— Bom, já isso vai um pouco contra do que Mario contava sobre você

— Como assim?

— Ele gostava de você, mas... Ahn... Ele viva falando que cê é a pessoa mais egoísta do mundo.

— Ele falava isso? – perguntou levemente ofendida pela opinião do parceiro. Não que ele estivesse errado, mas ouvir isso era chatinho.

— Uhum.

Elas se encararam. Mirella vagarosamente foi abaixando a guarda. Olhou para o chão, respirou fundo e depois voltou para Lince.

— Cê viu o jeito que Bixano falou deles, não é? Você não pode simplesmente... ir!

— Não tenho outra opção.

— Olha, até tem. Se não posso te impedir de fazer essa tonteira, posso tentar fazer com que você tenha mais chances ou... morra menos cedo.

— E qual seria essa opção?

— Pedir uma ajudinha pra Amely.

— O que?

— Vem comigo. Você pode pedir tipo uma... Missão. Igual os bandidos pedem pras vespas fazerem. Mas você mesma vai pedir pra... Você mesma ir.

— Como assim?

— No Vespeiro a grana vem dos serviços prestados pros bandidos, igual no Formigueiro.  Só que aqui tudo é um pouco mais oficial e os serviços são prestados pra quem pedir, e não só pra própria Amely, tendeu? Algumas vespas ficam jogadas no pátio se drogando ou roubando besteiras nas ruas, mas outras são treinadas e escolhidas pra saírem a campo, cumprir as tarefas. As pessoas buscam Amely e ela escolhe as vespas mais preparadas pro serviço e recebe por isso. Muito bem, por sinal. O que você vai fazer não é diferente. Amely sempre manda umas vespas pra investigar algumas coisas por aí, ficar de tocaia, ou ficar de guarda, pelo bem da nossa casa. Dessa vez você mesma pedirá pra sair em missão.

— Mas eu nem moro aqui, como que ela vai deixar? E por que precisamos da porra da permissão dela?

— Porque poderemos usar armas do arsenal do Vespeiro e até conseguir ajuda de vespas. Ela não deixaria você ir sozinha. Por isso vou contigo.

— Mas eu quero fazer isso sozinha.

— Lince, para de ser tão Lince, droga. A coisa tá maior do que a gente imaginava. A Patrulha é muito mais do que imaginamos. Ela... Tá em todo lugar. Sozinhos nas ruas nenhum de nós tem chance.

Lince odiava quando as outras pessoas tinham razão.

— Tudo bem – respondeu revirando os olhos.


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Notas finais do capítulo

Fico extremamente empolgado quando o universo da história começa se expandir aos poucos nos capítulos!

Espero que tenha gostado. :)



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