Kira, a Destemida e Senhora do Destino escrita por Larissajau


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

História original. Diga não ao plágio!



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Kira, entediada como sempre e aprisionada no castelo de seu pai.  Sir. Henry, um belo nobre de bom nome. Grande homem, destemido, com diversas posses e fama pelas bandas do norte da Inglaterra. Sim, caros e curiosos leitores, como irão descobrir, em pouco tempo, as terras de sir. Henry desbandavam praticamente boa parte das praias do litoral nacional. Mas, afinal, porque Kira estava entediada e com tão forte teimosia? Queridos, isso é não é apenas uma história; em realidade uma lenda deveras interessante de se acompanhar. Insuportável ironia? Quem sabe dos segredos de Kira é o incrível e poderoso ser vivo que enfiar os olhos nestas insuportáveis (talvez não?) páginas de livro e ler atentamente sobre essa tão querida lenda. Então, vamos ao que realmente interessa...

            Segundo conta a tradição, a lenda se iniciara por volta dos anos 1220 a 1224, como já mencionado, em território inglês. Todavia, ninguém sabe, em íntegra, sobre a verdade. Sabe-se que era Kira uma destemida mulher para sua época; odiava vestir aqueles longos vestidos desconfortáveis e, conforme suas palavras, eram “ridiculamente desajeitados para um ser humano livre”. Adorava correr solta pelos campos e florestas, andar a cavalo, praticar com arco e flecha e desfrutar da maresia do mar. Mais parecia um pequeno camponês, um pobre menino a tentar desprender-se das correntes da fome. Certo, mas não era deste tipo de fome que a pobre jovem padecia.

            Por melhor pai que pudesse ser sir. Henry, era arredio com o comportamento da filha. “Mais parece um moleque parvo do que uma bela dama! ”, era o que exclamava furioso a todos do interior do castelo. Era verdade real, forte e concreta que Kira era uma bela moça nobre. Mas não queria o ser! A bela “dama”, de cabelos longos e negros gostava da brisa tempestuosa dos bosques verdejantes. Os olhos de cor de mel gostavam de se volver para aventuras, andanças; insanidades, ora! Nunca desejava qualquer nobre, sequer camponês, criado ou mesmo escravo. Parecia completamente assexuada! Desejava ser uma honrosa guerreira, ou quem sabe, uma cavaleira, algo tão, tão impossível... talvez uma mulher em um corpo de homem? Ainda não sabemos, mas sim! Descobriremos!

            Estava na idade de se casar, ela, Kira, e realmente não tinha olhos para ninguém. Quando conversava com rapazes, normalmente era para contar sobre suas pequenas aventuras e sonhos. Muitos repudiavam sua postura, porém naturalmente grosseira, soltava impropérios completamente indecentes à uma dama e seguia adiante. “Ora, mas que moços entediantes, todos tão engomados em suas ridículas vestimentas! Como pensar em colar meus lábios com humanos terrivelmente tolos, de mente irritadiça e tão, como dizer... comuns?! Isso não está certo, seus cães de uma figa! ”, comumente pensava a moça e comentava a sua irmã e poucas parentas que diziam horrores a pobre Kira. “Querida Kira, precisa-se se casar com urgência, já se passou tempo demais para isso”, aconselhava a irmã mais nova”. “Credo, isto são modos de se portar uma nobre tão bela? ”, repreendia a prima. “Pare de agir como bárbaros! Mais parece você com aqueles dinamarqueses horríveis. ”, dizia o pai, em chamas, quando a rebelde Kira aparecia com as bordas de seus vestidos rasgadas e enlameadas ou, pior, quando via nela arranhões sérios e, não raro machucados ainda piores.

            Quisesse ou não haveria de se casar em breve, afinal. Sir. Henry não queria comprometer ainda mais a imagem de sua nobre, importante, tradicional e promissora família com sua filha desajustada. Resolveu, por bem, que arranjaria um casamento com lorde Robert, conhecido por ser um belo jovem rico e de boa linhagem. “Assim, quem sabe, concerto a cabeça daquela desmiolada da Kira, não é? É um bom partido, gentil e não fará mal algum a ela”, pensava sir. Henry, com as melhores das intenções. Por aqueles dias, manteve-se um pouco afastado da filha, matutando sobre suas decisões. Achava, o pobre pai, que lorde Robert corrigiria de vez o comportamento de Kira. Ah, quanta ingenuidade teve sir. Henry... Deus (ou deuses?!), sua filha era realmente uma espada de dois fios.

            Ocorreu que, numa determinada noite, sir. Henry finalmente revelou a Kira o acordo que armara com lorde Robert. Não seria nenhuma surpresa dizer que a jovem virara um lobo feroz fronte ao seu pai.

            — De jeito nenhum! Mal conheço esse Diabo de gente! — vociferava Kira, em seu quarto, junto a sir. Henry.

            — Ora, não diga isso de Robert! — disse, furioso. — Não é um mal partido e deixará seus dias tão mais felizes. — Tentava agradar, o pai.

            — Vi e conversei com esse rapazinho apenas uma vez na minha vida. Empolgada, fui contar a ele sobre um dia que praticava com o arco e que apanhara um belo mamífero e, nada! O filho de uma mãe riu de minha aventura e disse que parecia um dinamarquês em corpo de mulher! Não sei como são os habitantes da Dinamarca, mas têm fama de bárbaros! Isso foi um insulto à minha pessoa! Nem imagino como seria conviver com esse cretino e seu provável ridículo pênis! Jamais tocaria em Robert, nem sob pena de morte!

            Uma chama ardente acendia-se cada vez que sua filha falava áspera sobre ele e o inocente lorde Robert. A lenha aumentava, se acrescia, fulminava! Sucedeu-se na mais terrível cena que sir. Henry já havia feito contra a filha.

            — Então é assim, sua malcriada de uma figa?! Pois ficará trancada em seu quarto até o dia de seu casamento! — Estapeou Kira, que tentou reagir, em vão. — Ficará neste maldito cômodo e só terá direito de receber água e comida das criadas. As velas? — riu, com sarcasmo —, ficarão apagadas por todas as noites! Hei de tratar-te feito um cão para aprender a parar com esse comportamento esculachado e rebelde de prostituta! Vá, seu castigo começa neste momento, já! — Empurrou-a contra a parede de seu quarto.

            Sir. Henry bateu a porta com voracidade e trancou-a no mesmo instante. Os murros e urros de Kira eram inúteis. Só serviam para estragar a madeira da porta e deixa-la com punhos latejantes.

            — Não ouse desobedecer-me! — gritou, com efeito, seu pai.

            Nunca Kira o vira tão cruel.

[...]

            Nada deixava Kira mais furiosa. Não se amedrontava pelo castigo, porém, ali, trancada naquele bestial quarto de castelo, de nada podia satisfazer-se. Passara-se semanas e a feroz garota grunhia feito animal selvagem todas as vezes em que as criadas vinham dar-lhe alimento. Segundo por segundo, minuto por minuto, hora por hora, dia a dia, sentia que estava a chegar o tão repudiável casamento. Tinha de escapar dali, nem se fosse para virar prostituta! Cogitava planos, contudo tudo era impossível de o fazer. Nem mesmo a janela lhe dava escapatória, pois seu pai havia serrado e pregado a próprios punhos três pedaços de madeiras absolutamente impossíveis de serem quebradas a porrada. E, para piorar, a janela tinha diversos ornamentos em madeira maciça. Estava mesmo ferrada. Andava por um lado, pelo outro e nada. Ah! Mas como fora tão tola! Maior das idiotas, pior que o Parvo de Gil Vicente! (ler “Auto da Barca do Interno”) Logo se lembrou de uma rota de escapatória supercuriosa. Pasmem! A danada tinha uma arma de bárbaro escondida entre seus vestidos!

            Uma vez, enquanto saltitava pelas areias da praia, vira, por ocasião, um barco, demasiado diferente a partir da costa do mar. Queria saber de que se tratava, mas já era tarde quando chegou. Abismada, enquanto corria, tropeçou em um pedaço de pau e caiu de costas contra a areia. Examinou aquilo e viu que não era, exatamente, um galho qualquer. Era uma arma ensanguentada, de caráter diferente, curioso e realmente bonita! Era um machado dinamarquês! Era óbvio que, na ocasião, não soube identificar o que era e de quem fora. Mas achou a arma tão bonita e bruta — assim como ela! —, que a agarrou e golpeou fortemente uma das pobres árvores do bosque. O dano foi imenso! Aconteceu que, assim, Kira entrou sorrateiramente pelos fundos do castelo e guardou o machado entre seus vestidos, sim, consigo! Pois deste modo, definitivamente teria uma arma de verdade. E, por conseguinte, esquecera-se dela... tão parva e geniosa era nossa estranha Kira.

            Pegara, a moça, com nostalgia a arma e pensara na melhor maneira de escapatória. Se quebrasse a porta, o barulho ruiria por todo o castelo. Do mesmo modo, se tentasse esmagar a janela, todos os servos se assustariam. E realmente começou a pensar até atentar-se a um barulho intrigante. Alguns servos trabalhavam nos reparos do moinho de vento não tão longe de seu quarto e, fora aí que surgira uma fogueira em meio de suas trevas. “Afinal, confundir-se-iam facilmente ambos os tumultos”, pensou. Antes de tudo, traçara um plano para escapar dos guardas. Já que a janela de seu quarto dava vista aos fundos do castelo, seria fácil para ela enganar os protetores das muralhas e, logo, iria partir para a escalada do muro. Preferia morrer de infecção ou com ossos quebrados a ficar presa naquele inferno.

            Era matina e os servos já trabalhavam duro com o moinho. Era a hora. Kira apanhara a arma e começara a destruir as tábuas, assim como faziam os trabalhadores. Sir. Henry, ao pensar que o barulho se tratava dos reparos, pouco se importou com o tumulto. Kira era realmente forte. Com poucas machadadas, destruíra boa parte da janela e assim o fazia como se aquilo, de fato, fosse sua maior aventura. E, em pouco tempo, destruiu completamente a janela. Fugiu, mas não podia hesitar. Seria suicídio tentar enfrentar os guardas e a muralha de dia. Escondeu-se na sombra mais escura e oculta do belo jardim de sir. Henry até ao anoitecer. Foi apenas de madrugada que resolveu se arriscar.

            Empunhando a arma bárbara, correu sorrateiramente até um dos guardas. Atacou-o de costas e arrancou-lhe violentamente a cabeça. O pobre homem sequer pôde reagir. O corpo caído atraíra a atenção de um segundo guarda. Kira escondeu-se nas sombras das árvores e, logo, o protetor imaginou que alguém invadira as terras de sir. Henry. Saiu a procura do provável “ladrão”. Os arqueiros mal enxergavam com toda àquela escuridão. Os outros guardas sussurraram algo entre si e avidamente deixaram o muro para procurar o invasor. O muro estava livre para ser escalado. Kira não sabia se largava a arma no jardim ou se levava consigo, algo arriscado e impossível porque era demasiadamente pesada. Resolveu lançar o machado para os fundos do terreno, algo que chamou a atenção dos guardas que, velozmente, correram em direção ao barulho. Assim, ganhara mais vantagens. E começou a escalada. A muralha de pedras era árdua para ser escalada, pois era excessivamente alta e um pouco escorregadia. Porém, a bela Kira pisava nas pedras mais irregulares e, assim, alcançara o topo. Certo, mas era risco de vida pular daquela altura sem quaisquer ajudas. Insana, deu o bote. Caiu para o outro lado, como havia previsto. De uma forma ou outra, entre outras contusões, quebrara feio um dos ossos de seu braço esquerdo. Nunca havia sentido dor tão aguda.

            Largada em meio às folhas, refletia sobre o cruel assassinato que consentira em fazer a um dos guardas do castelo. Deus, era a primeira pessoa que matara em sua vida e de forma tão traiçoeira e cruel! Não se lamentava, afinal, pois seu pai era o maior responsável por tudo. Ainda com o braço imóvel e sangrando, resolveu ir até a praia, praticamente se rastejando, porém valente e destemida. Algum barco poderia ingressar por lá e, com algumas mentiras, conseguiria tirar vantagem sob alguém piedoso. É claro, se tivesse sorte.

            Desviada, Kira mal vira um barco aportar sobre solo inglês. Com visão borrada, viu, com dificuldade, homens deveras estranhos descendo de navios com cabeças de dragões. Foi tudo o que viu, até que, completamente esgotada, desmaiou-se.

[...]

            A primeira coisa que vira, fora de um homem completamente estranho. Ele, com barba e cabelo longo e louro como o sol, impropriamente vestido para ser um inglês qualquer. Logo reparou que seus olhos azuis reluziam fixamente aos seus, com preocupação. Chamejava em uma cama de palha improvisada, aconchegada e coberta a um tecido grosso e áspero. O desconhecido levantou-se e berrou: “a jovem está viva! ”. Vários urros de felicidade seguiram e o belo guerreiro dinamarquês apresentou-se:

            — Oh, bela jovem, estou muito feliz em vê-la de olhos abertos. Sou Rasmus, viajante dinamarquês, viking! Por favor não me estranhe ou olhe a mim com maus olhos. Vi-te jogada, praticamente sem vida, em beira da praia e preocupei-me com seu estado. Eu e outros homens trouxemos você até aqui para vermos se, como pobre moça, ainda havia vida. Realmente preocupei-me deveras. O que te aconteceu? Algum saqueador?

            Gargalhara e não respondera. Apenas pensou o quão erótico era aquele peito praticamente desnudo e seu rosto de faces austeras, completa de pelos faciais e capilares bagunçados e selvagemente sensuais. Nunca havia visto um homem seminu e, aquela imagem, por mais chocante que parecera, deu-lhe boa impressão. Rasmus! Ah, que homem maravilhoso, voluptuoso! “Como podiam dizer-me que um homem daqueles era um bárbaro?! ”, pensara consigo. Era a primeira vez em sua vida que sentira luxúria.

            — Então, o que houve? Por que você ri?

            — Tirando a horrível dor que sinto em meu punho sangrento, ossos expostos e terrível cansaço, você é encantador! Seu longo cabelo e barba são temivelmente arrasadores! Digno de cavalgar comigo, todos os dias, sim! Você e eu, em sua, deduzo, confortável cama. Rasmus... é esse mesmo o seu nome? Pois é deveras sensual. Abaixe-se! ­— sugeriu ela, e ele obedeceu assim, desta maneira, Kira sussurrou em seu ouvido — Durma comigo! Abuse de minha pobre virgindade!

            — Bem, gosto de suas palavras tão sinceras e selvagens! Mas, primeiro, teremos que cuidar de você. Isto te consola? — Deu-lhe um avassalador e sensual beijo em sua boca. Logo, a garota, que nunca havia beijado, correspondeu-o como se fosse muito familiar a ela beijar homens vikings. Kira adorava aqueles pelos roçando seus lábios e rosto, de feições tão diferentes. Aquela saliva desconhecida instigava-a e sentia-se sexualmente excitada. Se não estivesse completamente ferrada, com certeza envolveria selvagemente aquele homem e saciaria sua lastimável e repentina fome sexual sem quaisquer pudores.

            Certo, mas seu braço esquerdo continuava terrivelmente ferido. Rasmus e algumas curandeiras se esforçaram ao máximo para juntar seus ossos novamente. Por dias, Kira ficara em repouso naquela cama improvisada, dentro do barco viking. Por sorte, o céu estava limpo e Rasmus agradecia a Odin, fervorosamente, por isso. Aqueles foram os dias em que Kira mais demonstrara sua fragilidade.

            Por infortúnio da garota, as curandeiras vikings disseram-na que teria de amputar parte do seu braço esquerdo, um pouco a cima de seu punho, por consequência de seus ossos estarem completamente expostos, mesmo que envolvidos em faixas e curativos. Diz a lenda que Kira não derramara sequer uma lágrima de dor enquanto mexiam em seu ferimento exposto. Grunhia, fazia caretas, enfim, urrava demasiadamente baixo, mas não se entregava-se ao choro tão desonroso a ela.

            Quando, enfim, as curandeiras anunciaram que cerrariam seu punho, a garota pouco se exaltou. Reza a tradição que Kira não chorara nem nessa ocasião. Espremia seus olhos de dor, gritava, mas nenhuma lágrima saíra de seus olhos. O viking Ramsus observava atentamente a todo o procedimento. A lenda conta que o pobre guerreiro é que chorava ao presenciar a terrível cena. Afinal, apaixonara-se por sua beleza quando a socorreu na praia e ainda mais com seu modo bruto e sincero de seduzi-lo. Sim, um nobre guerreiro como ele deixara seu coração se amolecer sob a valente Kira. Sua insistência em parecer forte o maravilhava. Seja por que causo passara, era uma mulher digna de empunhar um machado, uma espada e até escudo para ir bravamente às batalhas de seu povo. Parecia, Ramsus, ler os desejos de Kira.

[...]

            — Desculpe-me, não houve outra maneira — dizia Ramsus, arrasado.

            O punho de Kira estava definitivamente cortado e amputado. Era estranho para a garota ver seu braço tão deformado. Não poder mexer sua mão esquerda nem a ter para sempre não lhe agradava em nada. Mas, dado meses que estava abrigada no barco viking, já havia contado todas as suas insanidades, inclusive a de ter fugido do castelo de seu pai.       Todas as histórias de Kira surpreendiam de forma positiva Ramsus. No fundo, era apenas um pobre ser humano fora de seu verdadeiro ninho. Admirou a coragem dela, depois de saber sobre sua aventura-mor. Dizia a ela sobre a religião nórdica e afirmava que o machado viking achado à beira da praia era um grande sinal de Odin. Se não fosse pelo deus, jamais haveria de conhecer os nórdicos advindos da Dinamarca e, em especial, a ele, Ramsus. Cada vez mais Kira acreditava no poder daqueles deuses tão incomuns.

            — Quero beijar-lhe novamente! — disse Kira ao guerreiro, com expressão demasiada luxuriosa. — Agora que estou miseravelmente curada, entrego todo o meu corpo a ti, meu amado. — sussurrou, sensualmente, e para que os outros do barco não ouvissem, — se é que você vai querer uma rebelde, geniosa e humilde estrangeira amputada.

            — Geniosa e humilde?! Não acha muito ambíguo, Kira? — riu Ramsus. — Gostaria de beijar não só sua boca, mas até certas partes encobertas — continuou, malicioso. — Veja! — E beijou selvagemente seus lábios e, carinhosamente, seu punho amputado. Kira adorou.

            — Bem, gostaria de dizer-lhe, querido, que não seria muito adequado fazer esse tipo de coisa dentro de um barco lotado de gente, por mais pervertida que eu possa parecer — falou com sarcasmo, a jovem.

            — Pois então, vamos em meio aos bosques! Lá, só os animais iriam nos ver.

            — Apenas com uma condição! — disse ela.

            — Ora, mas não era você quem queria isso?! — Espantou-se ao ver a repentina mudança comportamental de Kira.

            — É como um pacto! Seja fiel apenas a mim. Não preciso de casamentos ou outros convencionalismos, apenas seja meu másculo viking para todo sempre, é claro, até que viremos esqueletos desfalecidos.

            — Como desejar, minha cara. Minhas palavras de honra serão abençoadas por todos os deuses. Que assim se faça!

            E correram em direção ao bosque e se amaram como dois animais no cio, voluptuosos e ardentes. Era verão, ambos suavam em demasia, e urravam de prazer. Tudo isso para dizer que estavam em plena transa multiorgásmica.

            — Bide, ridse, hviske fra mine læber, min modige kriger. Jeg tilfredsstiller dig som du behager mig. Giv mig en stærk orgasme! — berrava Ramsus, em sua língua mãe, para Kira, durante o sexo que faziam em meio a árvores e folhagens, deitados na grama macia das verdejantes colinas daquela esplendorosa natureza.

            — Oh, lick my pussy, that's just the way I like it. Fuck me with your huge dick, give me the best of orgasms, however be careful that I do not suffer from pain, but pleasure, please! — era o que bradava Kira, em inglês, enquanto, fogosa, suplicava ao amante nórdico.

            E repousaram depois de tanto furdunço. Adormeceram, nus, em meio a grama e ao sol ardente.

[...]

            — Sabe, Ramsus, gostaria de ser uma grande guerreira viking. Você me deu vários exemplos de bravas guerreiras que conhecera, mas como posso com esta porcaria de punho cerrado? — E, talvez, pela primeira vez, Kira derramara uma lágrima salgada sobre o desnudo peito de Ramsus. — Dê-me apenas a honra de vestir uma armadura e sentir-me guerreira!

            — Oh, minha cara, mas quem te disse que você não pode tornar-se uma brava e aguerrida viking, honrada e... gurreira?! Vergou as sobrancelhas.

            — Ora, meu maldito punho esquerdo!

            — Mas você não sabe do que os vikings são capazes! Afinal, se canhota, por que não forjar uma espada de dois fios em seu punho?! Seria sua, única e pessoal. Não desgrudaria jamais de sua belicosa arma! E forjaria um escudo pessoal para ti, das mais nobres madeiras conhecidas, para usá-lo com sua mão direita. Basta treino e esforço para que se torne uma bela guerreira! De acordo?

            Um sorriso estampou-se em Kira e esta concordou com mais essa aventura! Abraçou, ela, Ramsus e seus dorsos nus se uniram como o mais puro feitiço fugaz do amor.

[...]

            Canta a lenda que Kira realmente suportou a dor para ter sua espada forjada em seu punho. Tornou-se, de fato, uma poderosa guerreira viking e destruiu impiedosamente seus inimigos. Assim, conquistou glórias ao lado de Ramsus até que se tornou líder dos exércitos marítimos dinamarqueses. Ainda, reza a lenda que eles — os dinamarqueses —, sob liderança de Kira, foram os primeiros a descobrir e pisar nas américas, com seus barcos flamejantes, lá para as bandas do atual Canadá. Mais! Kira e Ramsus foram os primeiros a pisar em solo americano, juntos, como casal e amantes que eram. Hoje, talvez, como contam os mais velhos, jaz os ossos de Ramsus e Kira, petrificados como fósseis e abraçados, já que, em tese, morreram cingidos, desta maneira, em uma batalha. O metal que um dia fora a espada de Kira, dizem os mais suspeitos, que ainda existe entrelaçada nos ossos da velha caveira. E assim, continuam eles, dizem que sir. Henry nunca soube de seu desaparecimento, mas pelo machado que vira no jardim, janela despedaçada por arma viking e sangue do lado de fora de sua antiga muralha, acreditou que um “bárbaro” havia sequestrado e, assim, a matado. Entrelaçam-se as lendas, mais! Segundo elas, sir. Henry suicidara-se de tal arrependimento e amargura de seu ato e possível influência na morte de sua filha.

            E assim completa-se a lenda de Kira, a destemida e senhora do destino. Cabe a você acreditar ou simplesmente ignorar essas páginas traduzidas vulgarmente de um antigo livro de feitos dinamarqueses. 

 


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