Witchland escrita por Phantom Lord


Capítulo 1
I. Rowena




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Os rabiscos surgiam no pergaminho com uma precisão contínua. Paredões, nem um pouco pequenos, mas não desesperadoramente altos. Janelas amplas por onde a luz penetraria, torres e escadarias, passarelas e um imenso jardim. Os desenhos avançavam para a borda de um lago desenhado em tinta negra no papel pardo e recuavam à sombra dele. Rowena gostava do lago. Estava às margens dele naquele exato momento. Quando ergueu os olhos, viu Salazar caminhando.

  Vinha do leste, com a varinha erguida, apontando para as águas. Parte daquilo frustrava Rowena. Ela e Helga estavam comprometidas com a elaboração de um castelo enquanto ele divertia-se ajudando os sereianos a colonizarem as profundezas daquelas águas escuras. Mas ainda que tivesse ocupações tolas, Salazar era alguém cuja personalidade ancorava admiração até mesmo nos frios corações dos sereianos. Ela não pôde evitar sorrir quando ele agitou a varinha e fez surgir um filhote de lula. A criaturinha foi descendo lentamente até submergir e desaparecer de vista. Salazar sorriu, agradado de si mesmo.

 _ Antes mesmo que haja um castelo haverá um povo para assisti-lo se erguer do chão.

   Os sereianos se esgueiravam para fora d’água, com metade do corpo submerso. Celebravam com um escarcéu agudo e nada agradável a chegada do filhote de lula que era do tamanho de um filhote de elefante.

 _ Onde está Godric?_ perguntou a dama.

  Salazar desviou o olhar para a outra margem do lago, onde se fazia a orla de uma densa floresta.

 _ Barganhando com os centauros. Não está sentindo o cheiro de bosta de cavalo?

  Nenhum deles riu daquilo e, não pela primeira vez, Rowena pensou como Salazar tinha o costume de fazer as coisas soarem como piadas, embora não fosse essa sua intenção. Ela abriu a boca para retrucar, mas algo urrou nas profundezas da floresta e viu-se um clarão de chamas erguendo-se entre as árvores altas.

 _ Centauros?

  A sobrancelha de Rowena transformou-se num arco de desconfiança. O mais discreto dos sorrisos arrastou-se pelo canto da boca de Salazar.

 _ Salazar._ ela soou como uma mãe que pressiona o filho para que diga a verdade.

 _ Ele encontrou um dragão dormindo na floresta.

  A dama demorou-se num suspiro sonoro que precedia seus surtos de impaciência. Quando se levantou e agitou a varinha para recolher o mapa do castelo, Salazar seguiu-a em seus passos. Rumava para as bases de pedra, os primeiros alicerces da grande construção que estava para ser erguida pelo quarteto de bruxos.

 _ Está a procurar por Helga? Não vai encontrá-la aí.

  Outro urro do dragão ecoou por entre a floresta, fazendo um punhado de gralhas erguerem-se dos galhos. Subitamente, Rowena mudou de direção. Estava atônita e irremediavelmente irritada, mas isso não a impedia de ser sempre Rowena. Em passos duros e uma expressão de pedra, ela rumou para a margem do lago, e no instante seguinte, estava dentro da floresta.

 _ Aqui, dragão!

   Eles estão brincando, caiam os Céus.

  Havia a clareira. Deveria ter sido aberta fazia tempos, pois as árvores que cresciam eram antigas e muitas delas tinham as marcas de garras e queimaduras centenárias. E embora seu raciocínio acompanhasse aquele ambiente, Rowena Ravenclaw estava mais interessada, isto é – incomodada – com a presença de dois de seus amigos ali. O cheiro de madeira queimada e de um perfume ligeiramente adocicado encheram-lhe as narinas enquanto a fuligem caía sobre ela como neve negra e chamuscada.

 A voz que chamara o dragão era de uma donzela de aspecto gentil. Era pouco mais baixa que Rowena e ostentava o mais caloroso dos sorrisos. Os cabelos da cor do cobre estavam entrelaçados com uma varinha e a raiz-do-brejo, o que explicava o perfume adocicado. Helga parou subitamente e olhou diretamente para Rowena.

 _ Está sendo indelicada, Rowena.

  Era difícil esconder os pensamentos de Helga, já que ela era legilimente. A oclumência era um estudo que Rowena começara a desbravar com mais assiduidade desde que descobrira que Helga era perfeitamente capaz de ouvir seus pensamentos mais íntimos. Naquela ocasião, porém, estivera pensando em como a raiz-de-brejo deixava os cabelos lindos. Mas caiam os Céus, aquele perfume doce...

 _ Helga!_ Godric e Rowena gritaram juntos. O dragão virou-se muito abruptamente na direção da mulher e escancarou a boca cheia de dentes.

  O fogo a teria consumido, mas ela desvencilhou-se.

 Por que ela não usa a varinha?, perguntou-se Rowena. Irritava-lhe o fato de que uma bruxa como Helga Hufflepuff estivesse usando a varinha como acessório para os cabelos e não empunhando-a como deveria ser. E é claro que Helga lera sua mente mais uma vez, pois ela reapareceu ao seu lado, ofegante e ainda sorridente.

— Eu e Godric fizemos uma aposta. Capturá-lo sem usar magia. Quem o fizer primeiro fica com a taça dourada.

  Pouco importava-lhe que taça dourada era a que Helga se referia, mas Rowena precisou desaparatar a uns metros além de onde estava, pois o dragão irou-se em sua direção. Estava pronta para questionar toda aquela loucura até que percebeu: Godric estava a alguns passos. Não tinha a varinha nas mãos, assim como Helga, mas tinha uma espada incrustada de rubis.

 Os olhos reptilianos da fera piscaram na direção de Helga por um instante, e então se demoraram sobre a ruiva. Ela soltou um urro longo e o ruído engraçado arrancou, inesperadamente, um sorriso de Rowena.

  O dragão choramingou lúgubre e a bruxa ruiva respondeu-o com outro urro.

 _ Ele está irritado porque você o acordou._ esclareceu à Godric.  

  Ele também estava sorrindo, mas Salazar limitava-se à escorar-se numa das árvores enquanto assistia o momento estranho; o dragão inclinou-se respeitosamente para Helga e bufou um hálito fétido e quente que encheu a clareira. Reuniram-se os quatro, bem em frente à fera para encará-lo de perto em sua longa e solene reverência dracônica.

 _ Monstro fedorento._ Salazar murmurou atrás deles.

 _ É engraçado que pense isto._ Helga soou enquanto acariciava o imenso focinho escamado._ É exatamente o que ele pensa de você.

 Todos riram, até mesmo Salazar. Ele se aproximou e deu uns tapinhas bem acima das narinas do dragão. A criatura resfolegou e eles dispararam para longe de seu alcance, quando ele soltou um espirro barulhento. Serpentes de fogo rastejaram para fora de seu enorme nariz.

  Ocuparam-se todos em acomodar o dragão dentro de uma arca mágica que cabia no bolso de Godric. Depois de um punhado de encantamentos, a criatura coube no espaço magicamente ampliado da arca e eles caminharam para fora da clareira. E embora se sentisse incapaz de se ajustar ao espírito aventureiro e quase selvagem que acompanhava seus três amigos, Rowena sentia-se bem em acompanhá-los, mesmo nestes momentos em que um deles despertava um Barriga-de-Ferro ucraniano no meio de uma floresta.

 _ É, você é mesmo uma domadora de dragões._ Rowena ouviu Godric dizer amavelmente e estendeu uma taça dourada que tirara das vestes à amiga.

— É, sou._ sorriu a moça._ E há uma lição para se aprender aqui.

 _ Nunca acordar um dragão adormecido?

  _ Não._ ela respondeu-o enfaticamente._ Caiam os céus, você precisa aprender a usar esta espada.


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